Review: Paul McCartney – McCartney III

Por Roani Rock

Assim como o segundo disco inteiramente gravado e produzido pelo eterno Beatle, McCartney III tem que ser apreciado calmamente para ter a percepção correta da obra. Não se trata de um disco que te pega de primeira, não possui grandes hits e possui canções que parecem desconexas, mas é melhor montado que seus anteriores diria. Escutando diversas vezes de cabo a rabo sinto alegria e imagino o quanto Paul se divertiu fazendo ele, é um lindo álbum

Roani Rock

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Gravadora: Capitol
Data de lançamento: 18/12/2020

Gênero: Rock
País: Inglaterra

Em retrospecto aos discos intitulados McCartney da grande obra de Paul McCartney, o III termina por se assemelhar bastante com seus antecessores graças ao modelo adotado de one man band e produção própria. Além disso, o fato das músicas não estarem conectadas, muitas parecem nem se quer fazer parte do mesmo universo, no McCartney II por exemplo tinha canções com influência de rock, new wave e Soft rock. No III isso não é tão diferente, aqui encontramos canções mais folk, blues rock e faixas no padrão pop já desenvolvido no álbum antecessor Egypty Station. Mas por conta deste caráter acústico, se assemelha muito como o primeiro.

Interessante ver que a diferença maior entre as três obras são as circunstâncias e o tempo que foi tirado para cada uma ser idealizada e lançada. O primeiro McCartney foi lançado em 1970 por um Paul McCartney abatido saindo de um estado depressivo pelo fim complicado dos Beatles. Ele foi para uma fazenda na escócia se isolar do mundo e assim que voltou para Londres gravou em seu apartamento com um equipamento simples e caseiro, por incentivo de sua espoa Linda McCartney (que participou das gravações fazendo backing vocals), 13 canções que mostram um misto de muitos sentimentos negativos como tristeza e raiva, com o amor fazendo contraponto exposto na primeira canção e no hit atemporal Maybe I’m Amazing, que finaliza o álbum trazendo uma leveza com essa quebra no ambiente “hostil”.

O McCartney II vem dez anos após McCartney, nesta nova empreitada, vemos um novo encerramento de ciclo, desta vez com a banda Wings. Após o lançamento do que veio a ser último álbum dos Wings Back to the Egg, Paul foi para o norte onde fica sua fazenda na Escócia para começar algumas gravações privadas em julho de 1979. A primeira canção que gravou foi Check My Machine como uma forma de testar o equipamento, daí o seu título. No final das sessões, ele havia gravado mais de vinte canções cheias de sintetizadores. Como dito anteriormente, o álbum é bem experimental e teve o hit Coming Up que atingiu o primeiro lugar em muitos lugares, assim como o álbum, apesar da mídia não ter curtido e nem ter entendido tantos subgêneros estarem presentes.

Já o McCartney III soa mais leve e numa situação tanto musical quanto sentimental mais confortável, apesar do confinamento forçado – desta vez devido a toda ameaça que é a pandemia propiciada pela Covid 19. Ele dessa vez não foi pra Escócia e as músicas estão fluindo melhor do que as dos discos antecessores. Como essa questão das gravações caseiras estarem na moda, mesmo que Paul tenha gravado em um mega estúdio desta vez, o disco pode soar ainda mais cool para uma nova geração que não curte muito superproduções.

A cada dia eu começava a gravar com o instrumento em que escrevi a música e, gradualmente, colocava em camadas; era muito divertido. Tratava-se de fazer música para você em vez de fazer música que tem que fazer um trabalho. Então, eu apenas fiz coisas que imaginei fazer. Não tinha ideia de que isso iria acabar como um álbum.

Paul McCartney sobre o processo de gravação

A faixa instrumental Long Tailed Winter Bird é a porta de entrada para esse evento, ela nos apresenta a um contexto acústico de cinco minutos que parecem uma jam com violão abafado, guitarra suja e bateria esparsa. Cairia bem como trilha de um filme de época. Em seguida vem a bem gostosa Find My Way que soa como trabalhos que conhecemos ao longo dos anos 90 vindos do álbum Off The Ground (1993) e do Flaming Pie (1997), creio que esta faixa encaixaria nessas obras.

O III, que forma a agora trilogia McCartney, é bem diferente do álbum Egypt Station, que em 2018 chegou ao topo da lista da Billboard algo que não aconteceu com Tug Of War de 1982 (álbum que substituiu o McCartney II). Esse é também o primeiro de uma década que não tenta soar comercial. As baladas Pretty Boys e Woman And Wives são prova disso, são bem definidas até, tem seu início, meio e fim, vai na sonoridade desenvolvida em seu som dos anos 2000, como em Drivin Rain (2001) e Chaos and Creation (2005) esse último tem até fatos em coincidência com o três, o baixo que era usado por Elvis Presley também foi usado na gravação da novidade em algumas faixas.

Lavtory Lil e Slidin são a parte pesada do álbum, duas músicas potentes bem alinhadas ao blues rock, para quem esta ligado em alguns trabalhos do Paul em que ele usa o pseudônimo de The Fireman, essas faixas e mais Deep Down vão agradar bastante. Na sequência, a reflexiva mas dançante, Deep Deep Feeling tem os bumbos em destaque e uma onda psicodélica, mas francamente, é a mais fraca do álbum e também é a mais longa com seus um pouco mais de 8 minutos. The Kiss Of Venus traz o ouvinte de volta ao som acústico predominante do álbum, com belo arranjo de violão e junto em uma balada cândida eis que Seize The Day referencia o formato de composições que se assemelham a sonoridade do saudoso Wings.

A última música traz uma colagem. O final da música de abertura do disco que ficou intitulada só como Winter Bird e When Winter Comes uma balada bem suave com mais uma bela melodia de Paul e os vocais soando até bem, provavelmente o melhor vocal do Paul no álbum inteiro. Estas são como Venus and Mars e Rock Show do Wings, ou as faixas do Abbey Road dos Beatles, uma faixa praticamente colada na outra que faz uma introdução, mas que não se parecem em nada que até funcionam unidas.

Paul é um cara que jamais desperdiçaria seu tempo fazendo bobagens, um cara criativo que é um multi-instrumentista de mão cheias, imagino o quanto seja difícil um cara desse ficar sem trabalhar e se ocupou de uma forma maravilhosa. Ele jamais deixaria a oportunidade dada a reclusão da pandemia de fazer experiências no estúdio passar. É o que sabe fazer de melhor e sinceramente fez um bom disco, não chega aos pés dos mais clássicos, não vai superar os primeiros intitulados McCartney – já que não contém potenciais hits, mas pode até se tornar o preferido de alguém.

Nota Final: 7/10

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