Review: Blues Pills – Holy Moly!

por Roani Rock

O terceiro álbum dessa excelente banda de Blues rock é intenso, de extremo bom gosto nas composições, dá pra taxar como a consagração da carreira. Confirma os dizeres deles de que será o disco que eles se orgulharão “até depois da morte”.

Roani Rock

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Gravadora: Nuclear Blast
Data de lançamento: 21 de agosto de 2020

Gênero: Blues Rock
País: Suécia

Lançado na última sexta feira, finalmente conseguimos conferir o novo e audacioso trabalho do Blues Pills, banda sueca de blues rock que apresentamos brevemente ao caro leitor no ‘Banda da Semana’, como pode ser conferido num clique aqui.

Holy Moly! é o terceiro disco dos caras, foi gravado no estúdio próprio da banda, o Blues Pills Studio, com mixagem da lenda Andrew Scheps, que já trabalhou com Red Hot Chili Peppers, Black Sabbath e com o Rival Sons no excelente álbum Feral Roots, um dos melhores lançamentos do ano passado. Tal informação é necessária, já que existem similaridades sonoras entre o Rival e o Blues Pills, e para o produtor deve ter sido um trabalho simples. Sobre a produção, Scheps falou:

“Holy Moly! ” pode ser um álbum enganoso. Na primeira audição, parece um ótimo álbum de blues / rock com músicas clássicas e ótimos vocais. Em repetidas audições, você começa a apreciar as camadas e as nuances. Raramente você obtém um registro que causa uma ótima primeira impressão, mas que ainda é um produto!

Andrew Scheps

A capa de Daria Hlazatova mantém a tradição que vemos desde o primeiro disco, uma verdadeira obra poética, psicodélica, que faz você se atentar aos detalhes enquanto escuta o álbum. Vale dizer que a identidade visual da banda sempre foi algo diferenciado. Voltando ao conteúdo audível de Holy Moly!, sem sombra de dúvidas escutamos algo mais classudo e, ao mesmo tempo, cavernoso. Diferente de Lady In Gold, o álbum anterior, que conseguiu o inacreditável primeiro lugar na Alemanha, não há tanto apelo comercial e menos esquemas de estúdio na mix.

O disco não tem uma quebra de ritmo e mostra o quanto a banda evoluiu em sua qualidade. O blues sueco mais americano que você conhecerá, com os vocais de Elin Larson cada dia mais potentes e impressionantes – arrisco dizer que após as musas dos anos 70, como Janis Joplin (provavelmente maior inspiração dela) e Aretha Franklin, ela chega forte na lista de melhores vocalistas de todos os tempos, batendo de frente com Joss Stone.

Blues Pills foto/divulgação: ELENA DI VINCENZO

Proud Woman, faixa que inicia o disco e que, por sinal, foi o primeiro single, é um hino de poder e demonstra a representatividade de Elin na banda, sendo ela a imagem e principal compositora do Blues Pills.

Escrevemos Proud Woman em apenas uma hora no estúdio do Blue Pilss. Essa música soou muito natural para nós. Do riff da guitarra à bateria bombástica e a mensagem clara. Poder bruto, espero que gostem!

Banda em post no Facebook

Após o momento de empoderamento, o disco segue uma veia sobre qual a banda também falou em matérias que antecederam o lançamento: ele transmite perda, raiva e ansiedade. Tristeza e mudança. Low Road, possivelmente a melhor música do álbum, é brutal, assim como Dreaming My Life Away. Esta última me convenceu de que não estava ouvindo qualquer disco, o trabalho do batera André Kvarnström como um todo em Holy Moly! impressiona, mas nessa música é primoroso. California é um frescor que nos transporta para o rock sulista americano.

Rhythm In The Blood e Kiss My Past Goodbye são algumas que foram lançadas como single e que justificam a escolha por terem levadas mais swingadas, lembrando o Black Crowes em momentos chaves. Aqui, destaque para Kvarnströn mais uma vez: se o solo feito em Kiss não virar o responsável para estimular jovens a se tornarem bateristas, não sei mais o que seria capaz. O fuzz até o talo do guitarrista Zach Anderson também tem seu brilho, mas este membro fica mais em evidência nos blues lentos como Dust e baladas como Wish I’d Know que clamam por uma chorada da guitarra.

Uma separação em reencarnação. Apoiamos cada nota e cada palavra. Este álbum foi criado na escuridão e nos guiou para a luz novamente. Só podemos esperar que isso lhe dê conforto também .

Blues Pills

Bye Bye Bird é a música que mais reflete o som do primeiro álbum da banda, que também soa como o Big Brother and Holding Company, banda que acompanhava Janis Joplin. A guitarra, com os efeitos do pedal tremolo junto ao piano, a repetição nas escalas do solo em pentatônicas… não há nada mais setentista do que isso, fora o título da canção, uma referência direta a banda da saudosa Janis.

A canção mais melancólica do disco, Song From A Mourning Dove, apresenta os vocais mais lindos que Elin já apresentou na vida. Possivelmente a letra mais questionadora da banda também. Ela tem um momento de prestígio e apreciação para solos profundos, com a batera indo numa pegada jazzistica e um piano lindo ditando a melodia. Na letra, podemos citar de bate e pronto o início mordaz.

“Pegue meu corpo, deixe minha alma ir
Sinta a respiração, deus da morte
Prove esse vazio
Não há pressa, tenho minhas preocupações
Mas não há lugar para ir
Para as criaturas mais puras
Eles amam e então nos deixam,
Para que diabos estamos vivendo?”

trecho de Song From a Morning Dove

Longest Lasting Friend também é um blues incrível e bem pesado mesmo sendo apenas voz e melodia da guitarra. Traz um climax psicodélico, difícil vê-la como algo fora da caixinha. Tem um ar de Pink Floyd nessa faixa, por incrível que pareça, mas não chega a flertar com o progressivo – se estivesse sendo tocada ao violão, seria um blues dos anos 40. Acabar o álbum com ela foi de extremo bom gosto.

Até o momento, Holy Moly! soa como o melhor disco do ano, claro, para amantes do gênero. Gosto de pensar que é diferente de tudo que está no mercado e muito similar ao que já foi amado nos anos 70, que não possui mais espaço. Perdem em termos de originalidade? Talvez, acredito que o blues bem tocado e de maneira tão profunda não é fácil e nem pra qualquer um. Acho que o fato de serem suecos torna tudo o que fazem mais excitante… não se espera que um blues de tanta qualidade venha da Suécia e acredito que isso dá maior credibilidade ao Blue Pills.

Nota Final: 10/10

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