Por Luis Rios
Fazendo uma análise, ao passar por sua extensa discografia e finalizando com a audição de Royal Tea, percebemos que o que ele fez foi uma volta ao que o motivou a ser um guitarrista de Blues, lá atrás, no início de sua trajetória. Ele relembrou seus heróis emulando-os na sua terra natal. O vemos “voltar” às origens e homenageá-los, mesmo hoje, já sendo um artista consagrado.
Luis Rios
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Gravadora: J&R Adventures
Data de lançamento: 23/10/2020

Gênero: Blues Rock
País: Estados Unidos
O guitarrista, compositor e cantor americano Joe Bonamassa, que através do Blues e do Rock nos brinda desde seu maravilhoso debut álbum New Day Yesterday (2000), acaba de lançar mais um trabalho de extrema qualidade. Royal Tea, lançado neste ultimo dia 23 de outubro, traz, em suas 10 canções, o peso e a intensidade do Blues Rock inglês. Bonamassa pegou algumas de suas centenas de guitarras icônicas (ele tem uma coleção de mais de 400 guitarras e 400 amplificadores – algumas peças são bem raras), seu produtor Kevin Shirley (sim, aquele do Iron Maiden, Europe e Journey) e sua inspiração ancorada no bom e velho lamento do Blues e aportou no antológico estudio Abbey Road em Londres para gravar seu 14°álbum de inéditas.
Buscando a sonoridade dos artistas que representam a nata do Blues Rock inglês, como Eric Clapton, Jeff Beck, John Mayall, Cream, Led Zeppelin e outros, o afamado, competente e multifacetado guitarrista realizou algo grandioso. Potente, profundo e enraizado de fato nas entranhas do riquíssimo solo musical inglês, Royal Tea nos leva a um passeio enternecedor pelas notas vigorosas e elegantes das guitarras e violões de Bonamassa. Para acompanhá-lo e acessorá-lo na empreitada, ele chamou três personalidades de alta estirpe e com “pedigree” próprio para o trabalho: Foram o guitarrista Bernie Marsden, ex-Whitesnake, Pete Brown, ex-letrista do Cream e o pianista Jools Holland. Só Holland tocou com a banda de Joe. Os outros dois ajudaram nas composições.
Ouvindo e atentando para a pegada mais pesada e com ritmos característicos do som que se fazia na terra da rainha no final da década de 1960 e início da de 1970, nota-se que eles obtiveram sucesso. Fizeram um álbum de Blues, bem puxado pro Rock e com passagens instrumentais incríveis. O guitarrista prodígio tem uma longuíssima carreira, mesmo sendo ainda bastante jovem. Desde seus 4 anos toca guitarra e foi visto e elogiado por B. B. King aos 8. Logo logo, aos 12 anos, estava abrindo os shows do lendário bluesman e se destacando pela sua apurada, incendiária e ao mesmo tempo elegante técnica pra tocar guitarra.

Aos 23, gravava seu 1°disco solo e mostrou na escolha das músicas o quanto amava o Blues Rock inglês e seus ídolos. Eric Clapton, Rory Gallagher, Gregg Allman e bandas como Jethro Tull, Free e Mountain foram lembradas, juntamente com boas composições autorais. Fazendo uma análise, ao passar por sua extensa discografia e finalizando com a audição de Royal Tea, percebemos que o que ele fez foi uma volta ao que o motivou a ser um guitarrista de Blues, lá atrás, no início de sua trajetória. Ele relembrou seus heróis emulando-os na sua terra natal. O vemos “voltar” às origens e homenageá-los, mesmo hoje, já sendo um artista consagrado.
Não que ele tenha deixado o blues de lado nos últimos tempos. Pelo contrário. Mas neste trabalho foi indubitavelmente um objetivo revivê-los com profundidade e riqueza de detalhes. É interessante sentir em cada música todas as influências que ele acumulou ao longo da carreira e perceber também que a participação dos parceiros citados trouxe um ar britânico mais forte. Há muitas timbragens de guitarra que trazem à tona lembranças de outros guitarristas que provavelmente também permearam sempre os ouvidos do músico, como Gary Moore, David Ted Turner e Andy Powell (ambos do Wishbone Ash), Peter Green e outros. Sabemos que eles foram fundamentais para a formação musical de muitos guitarristas. E assim foi também com Bonamassa.
Posso dizer certamente que Royal Tea é um dos cinco melhores da discografia de Joe. E, apesar de ser difícil escolher as melhores canções, destaco as seis principais que são emblemáticas por tudo que já ressaltei. When One Door Opens, Royal Tea, Why Does It Take So Long To Say Goodbye, A Conversation With Alice, I Didn’t Think She Would Do it e Savannah. São faixas que brilham por trazer todas as texturas que acentuam tanto o que é o blues rock britânico e deixam clara a maneira viceral e primorosa de tocar desse guitarrista refinado e que trilha um caminho único no Rock.
As composições são um banquete de riffs cheios de arpegios, órgãos lindamente presentes nas harmonias, solos mais curtos e arrebatadores, repletos de wah-wah e a batida pulsante e firme do Blues Rock nas baquetas de Anton Fig. É latente ver também uma melhora progressiva do canto de Joe Bonamassa. Notamos ainda, claramente, que as linhas de guitarras e os solos não estão exageradamente colocados – nem parece um disco de um guitarrista solo. Parece um álbum de uma banda coesa, que divide o protagonismo de seus componentes e cada um aparece na hora certa. Anton Fig na bateria, Michael Rhodes no baixo e Reese Wynans nos órgãos fazem um trabalho magistral. Banda redonda, que faz um Blues cadenciado, mas com muitas variações e andamentos que trazem o rock and roll e que mudam de acordo com o clima da música.
Há muitas passagens melancólicas e outras mais rápidas e vigorosas. Sempre os solos maravilhosos vem como bálsamos melódicos em meio ao peso que encontramos nas bases harmônicas e na “cozinha“. A construção rítmica ao longo das canções forma um pilar sonoro de respeito. A partir daí, Bonamassa se esbalda nas variações de bases de guitarra e solos realmente garbosos, poderosos e tocantes. É um álbum que vai fluindo e te encantando a cada canção. Surpreende de fato o peso dos timbres e da batida de Fig. Acertou a mão brilhantemente o jovem guitarrista, que ao que tudo indica, será um daqueles artistas que quando estiver velhinho, terá uns 789 discos gravados, dezenas de participações em supergrupos (o excelente Black Country Communion foi um deles), projetos, discos ao vivo (já são mais de 15) e será lembrado eternamente por ser talentosíssimo e fiel as raízes.
Ouça de preferência bebendo algo. Mesmo que seja um simples chá. O sabor não será só o da erva da bebida famosa na Inglaterra, mas sim terá muitos sabores como cada pedaço deste magnífico álbum. A musicalidade de Joe Bonamassa pode ser percebida através de todos os nossos sentidos. Enjoy your tea, milord!!!
Nota final: 9,0 / 10
2 comentários sobre “Review – Joe Bonamassa – Royal Tea”