Review: Hayley Williams – Petals For Armor

por Roani Rock

Hayley explicou que a inspiração para este álbum é devido a sua crença de que “a melhor maneira de me proteger é ser vulnerável.“, entretanto, o disco está distante de ser inofensivo, está muito mais para arriscado, dançante, expressivo e viajante.

Roani Rock

Confira mais pop punk:
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Gravadora: Atlantic Records
Lançamento: 8/05/2020

Gênero: Pop
País: Estados Unidos

Certa vez li que Roger Watters mencionou que estar em uma banda era estar escravizado e que não trocaria de jeito nenhum sua liberdade “por aquelas correntes (O Pink Floyd)”. Trazendo essa fala para o disco que está sendo revisado, percebo que o álbum de Hayley, totalmente diferente do Paramore, é justamente a libertação de um estilo que precisava ser desvencilhado dela.

O Paramore já tinha deixado de ser “pop punk“, com o After Laughter. Ocorreu uma mudança até aceita pela maioria, mas para os fãs fervorosos das guitarras da banda, feitas inicialmente por Josh Neil Farro (2002 a 2009) e que por último teve Taylor York (2010 até os dias atuais), foi um pouco duro de aceitar. Mas não foi só por uma mudança de gosto no estilo musical que Hayley chegou até a decretar um breve fim pra banda.

Hayley sofreu de depressão, segundo a cantora, a época deste disco foi especialmente difícil enquanto lidava com a doença. Em uma entrevista para Apple Music remediada por Zane Lowe, ela falou do que mais a afetava como a série de divórcios que presenciou e sobre os guitarristas citados anteriormente ela mencionou como a apoiaram.

A maneira como experimento minha raiva é de uma forma visceral. Eu acho que, na maioria das vezes, me aproveito disso sem nenhuma vergonha quando é para o bem de outra pessoa. Quando é para mim, eu fico com vergonha… Taylor foi a primeira pessoa que me disse que a raiva não é uma emoção ruim nem boa. É apenas uma emoção. É um sentimento. É uma coisa. Você não precisa atribuir a algo. Apenas deixe respirar. Apenas sinta isso. Eu tive mais dificuldade em ficar com raiva enquanto escrevíamos ‘After Laughter’ e eu claramente tinha muito pelo que ficar chateada. Mas eu estava deprimida. E acho que muitas vezes a depressão acabada ocultando outros sentimentos aguçados.

Vindo isso a tona, é fácil de cara perceber que o Petals For Armor é um disco bem íntimo. O primeiro single do álbum, a canção Simmer, foi lançado em 22 de janeiro de 2020, acompanhado por um vídeo clipe. Ela entrou de cabeça no que chamam hoje de pop minimalista, tendência entre cantoras e que é o que tem repercutido mais mundialmente e em premiações.

Como é de praxe desta tendência, todas as músicas tem o baixo e instrumentos que fazem o grave em maior destaque, com a voz sendo a única coisa que contrasta, com alguns arranjos de guitarra bem sutis. Todas as músicas terem essa pegada deixa o álbum bem fluído. É como ouvir o som da Billie Eillish sendo cantado pela Hayley Willians, mas não chega a ser um plágio.

O disco foi precedido por um EP, intitulado Petals for Armor I, lançado em 6 de fevereiro e que teve a produção de Taylor York, seu ex companheiro de banda, que também toca no disco. Hayley explicou que a inspiração para este álbum é devido a sua crença de que “a melhor maneira de me proteger é ser vulnerável.“, entretanto, o disco está distante de ser inofensivo, está muito mais para arriscado, dançante, expressivo e viajante.

O que mais da gosto no álbum é as faixas não serem certinhas, as faixas Leave It Alone (que vai num compasso de 2/3 e 2/4, lembra até o som de algumas canções do Paul McCatney no álbum Memory Almost Full), Cinnamon e My Friend por exemplo tem umas excelentes quebrada da bateria, o baixo quase enarmônico de Sudden Desireque tem aquele conceito andrógeno de simular voz de robôs, uma música bem tecnológica diria.

Dead Horse é a música que escancara a questão de sua depressão, o término ruim de um relacionamento. Aqui seria cabível definir de maneira pejorativa como a tradicional “dor de corno”.

Eu disse que bati em um cavalo morto, eu bati como em uma bateria
Oh, eu fiquei com você por tempo demais
Pulando como um disco, eu cantei junto
Uma música de merda sem fim

refrão de Dead Horse

Uma das músicas mais bem trabalhadas e de tirar o folego certamente é Roses/Lotus/violet/Iris. Também tem uma letra voltada ao sofrimento no amor, mas o que impacta mesmo é sua levada, um baixo em progressão e ter a letra cheia de metáforas, não a toa é a música com maior duração. Muito impactante.

Why We Ever vem pra tranquilizar o clima, com uma levada gostosa e dançante e belos arranjos de piano por parte de Hayley e Joey Howard. Por sinal, 50% do sucesso desse álbum deve ser dedicado a Howard. A faixa Pure Love parece ter saído de um álbum do Prince, bem dançante e funkeada. Ainda na parte leve do álbum, Taken é algo bem brasileiro, não sei ao certo se Hayley tem influência do som daqui mas certamente é um samba misturado à música eletrônica.

Agora vem o momento de falar das melhores músicas do disco que por sinal tem o papel de finaliza-lo e todas estão creditadas apenas a Hayley. Sugar On The Rim é até bem estranha, soa como Bowie em Blackstar, mas dialogando ainda mais com as tendências atuais. Essa faixa certamente tem potencial de reinar em festivais de música eletrônica.

Watch Me While I Bloom é possivelmente a mais grooveada da cantora, é como se fosse a Controversy (faixa de Prince do mesmo álbum de mesmo nome lançado em 1981) de Hayley, baixo na pressão e melodia chiclete que com uma big band pode servir para uma fritação jazzistica. É a mais envolvente e dançante.

Já o gran finale, o filé mignon (ou seria a sobremesa?) fica a cargo da bonitinha Crystal Clear. Segundo Hayley a inspiração para esse som foi seu avô. Em relato no instagram ela disse:

longa história, longa – meu avô é um cantor. Eu cresci ouvindo ele tocar suas canções de amor, escritas para minha avó, com quem ele está desde os 12 anos de idade. o meu favorito era aquele que ele nunca gravou chamado “Friends or Lovers”. é uma das músicas mais significativas da minha vida. Um dia, entrei no estúdio onde Taylor estava trabalhando em uma música de amor minha (“Crystal Clear”), ele pressionou o play e ouvi a voz do meu Grandat (forma como ela chama o avô), cantando sua música sobre a minha. ainda não superei a doçura daquele momento de círculo completo da minha vida. É um momento que ficará para sempre comigo e viverá através de quem quer que ouça. 

Hayley no Instagram

Tal inspiração pode até parecer comum, mas torna a canção ainda mais importante e interessante de considerar uma das melhores e favoritas. O álbum é redondinho, não tem o que se questionar do álbum “menos Paramore do Paramore“, se considerar que metade da banda fez parte, isso porque ele recebe o nome da Hayley e como foi visto, por ser tão pessoal, não tinha porque receber o nome da banda e sim o da cantora. É mais um bom trabalho no ano e estamos bem servidos. que essa talentosa cantora se torne mais feliz com os frutos que irá receber com este presente que ela deu ao mundo. Williams confirmou que ela sairia em turnê para ajudar a promover o disco, infelizmente a tour vai ter que esperar. 

Nota Final: 8/10