Review: Neil Young – Homegrow

por Roani Rock

Uma calmaria em plena tempestade, crueza e sofisticação com o selo Neil Young de qualidade. Certamente, apenas o canadense sabe fazer o igual soar diferente, mesmo que o álbum seja de sua década de sucesso. A repetição que não cansa devido a genialidade.

Roani Rock

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Gravadora: Reprise Records
Data de lançamento: 19/06/2020

Gênero: Folk Rock
País: Canadá

Qualquer bom conhecedor da obra de Neil Young sabe que o velho novo Homegrown não é só mais um álbum, Neil teve seus motivos para demorar tanto tempo pra lançar essa obra prima, divulgar tal aprofundamento de sua alma devia ser doloroso. A verdade é que ele fez bem em ter demorado tanto tempo (45 anos) para lançar o álbum e engraçado que no mesmo dia que Rough And Rowdy ways do Bob Dylan.

Ele teria surgido na mesma época de grandes acertos, se fosse no ano em que foi confeccionado teria vindo depois do Harvest, que é o melhor disco em termos de ranking e que 9 a cada 10 fãs classifica como preferido. Se fosse lançado na época que era previsto, coincidira com o recém lançamento do On The beach de 1974 e no entretêm do Zuma de 1975. No seu lugar foi lançado Tonight’s The Night.

Esses três discos possuem semelhança com o Homegrow, não só na temática – grande parte do material foi inspirada no relacionamento de Young com a atriz Carrie Snodgress , que estava se deteriorando em 1974. Mas as linhas melódicas das canções também, Por isso acredito que tenha sido melhor guarda-lo já que os outros tinham o fator comercial mais forte, canções que caiam melhor para o momento.

Mas porque lançar agora? Chegando a essa contemplação, é importante olhar o momento da carreira atual de Young, ele vem em uma rotina de muitos lançamentos por ano. Seja raridades ou material novo autoral. Ele resolveu voltar a gravar com a Crazy Horse também, acredito que tal momento da carreira o tornou saudosista e por conta disso e o álbum estar completando uma idade significante trouxe a luz para sua mente ver que este era o momento de lançar a preciosidade guardada a 7 chaves.

Canções bem sentimentais como Try, Mexico e Kansas fazem o disco ser um dos mais bonitos e sofridos de Young. A faixa que intitula o disco é bem divertida no jeitão country de solos dissonantes que já estamos acostumados. Tem a psicodélica Florida também que nem deve ser taxada como uma música, é apenas Neil em algum sonho de palavras faladas (impresso, por motivos que ninguém se lembra, no livreto de Tonight’s The Night). A letra de Florida foi posteriormente sobreposta aos créditos de On the Beach na inserção que acompanhava o lançamento original em vinil do álbum

A The Band, banda que acompanhou Dylan durante anos e que começou uma carreira disvencilhada do cantor, tem grande influência no disco. White Line é uma música agridoce que Young gravou em um dueto acústico com Robbie Robertson (líder da The Band) na Inglaterra, alguns dias antes do show de CSNY em Wembley , onde o grupo de Robertson foi um dos artistas de abertura. Young fez também uma sessão no Quadraphonic Sound Studios em Nashville com Levon Helm (baterista da The Band), este produziu Try e Homegrown gravadas no mesmo estúdio.

Dentre as músicas dedicadas a sua ex que chamam atenção está Love Is a Rose uma reformulação de uma faixa anterior de Young, Dance, Dance, Dance, que foi gravada pela Crazy Horse em seu álbum de estréia. Ela apresenta uma remontagem na letra e mais tarde ganharia uma versão de Linda Ronstadt . A primeira vez que Love Is a Rose apareceria seria na coletânea de 1977, Decade. O disco todo já teve faixas tocadas por Neil Young em algum show por sinal.

We Don’t Smoke It No More poderia ter pertencido ao Tonight’s the Night, segundo o Jimmy McDonough, que escreveu a biografia de Young, a faixa pode ser definida como feita por “um vampiro de blues embriagado”. Segundo Young o álbum Homegrow “é o elo que faltava entre  Harvest, Comes a TimeOld Ways e Harvest Moon.”. Já Kansas, é descrita assim como México, sendo ”performances solo – curtas”, fragmentárias e alucinógenas”, engraçado como são as mais profundas e realmente tem um fim abrupto.

O grande hit e a música mais diferenciada do álbum certamente é Separate Ways, a música começa no meio de um acorde de doom; Tim Mulligan apertou o botão de gravação no momento em que Young e a banda mergulhavam na música. Levon Helm faz um lento contraponto enquanto Ben Keith solta um gritado solo de aço no fio que tem que ser um dos sons mais solitários já gravados.

Não vou me desculpar / a luz brilhou nos seus olhos / ela não se foi / e logo voltará novamente

Neil Young

O que há de melhor no disco certamente é a voz de Neil bem limpa e soando como jovem. Ter esse frescor aos ouvidos em sons nem tão novos assim, mas em estúdio inéditos, é gratificante. Isso porque principalmente olhando a ficha técnica fica evidente que antes mesmo de escutar a obra a qualidade do instrumental já seria inquestionável. Não é um dos discos mais representantes da carreira de Neil, é captável a angústia dele, mesmo nas faixas divertidas como Homegrown e na poderosa Vacancy, faz diferença ouvir ele agora, mas fica atrás dos mais conceituados e até do Tonight’s The Night que o substituiu na linha temporal.

Nota final: 8/10

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