Por Roani Rock
Trazendo pouquíssimo do som da banda de seu pai e tio, Wolfgang faz um trabalho poderoso tendo todos os instrumentos gravados completamente por ele. Numa vibe bem anos 2000, há resquícios do rock alternativo praticado por bandas como Foo Fighters e Stone Temple Pilots. Um deleite, nem moderno demais para o rock atual, mas ao mesmo tempo nem tão criativo, na medida certa.
Roani Rock
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Gravadora: EX1 Records
Data de lançamento: 11/06/2021

Gênero: Rock Alternativo
País: Estados Unidos
A “boa genética” nos últimos anos tem mostrado que faz toda a diferença para um artista que está começando a ter seu norte. Principalmente se seu familiar é um astro do rock consagrado que após a morte virou um mito e uma santidade. Primeiramente ele vai ser pressionado para continuar os passos do pai, as vezes até pela família. Muitas vezes a iniciativa é dele pela circunstâncias da criação em âmbito musical, ele naturalmente vai pelo rumo artístico. Em seguida vem outro tipo de pressão: a de superar ou ser igual ao pai ou mãe musicista.
Todos os filhos dos integrantes dos Beatles por exemplo passaram por esse processo de descoberta. Muitos se desvinculando do som de John, Paul, George e Ringo, seja o dentro da banda ou carreiras solo. Mas as vezes, somam ao seu produto final formulas conhecidas feitas por estes com uma estrutura diferente, mais moderna. Até porque não adianta, o sobrenome que está ali chama atenção e a influência é muito mais direta, devido até a pressões externas de gravadoras, midiáticas e até sociais. É o clássico: “Você sendo um Lennon tem que ter aquele timbre na voz psicodélico, você sendo um Starr tem que ser fera na bateria.”
Mesmo com uma pressão absurda para virarem a banda de seus pais, eles dão sua cara ao som. O de maior destaque é o de Sean Lennon, segundo filho de John, guitarrista e vocal dos Beatles, com o projeto The Claypool Lennon Delirium que é uma onda lisérgica com muita tecnologia. Muitos diriam que seria o tipo de som que seu pai faria e que o mesmo ficaria orgulhoso se escutasse. Agora, entrando no contexto do álbum do Wolfgang, ele conseguiu algo um tanto diferente do que os filhos dos Beatles. Ele integrou a banda do pai no ano de 2007 e do posto não saiu mais. Ele virou o baixista do Van Halen!
Mas esse processo não foi simples, como ele mesmo falou em entrevista a Ultimate Classic Rock. Os fãs encaravam como um “era uma criança substituindo um integrante de longa data”. E não é qualquer integrante, Michael Anthony é uma lenda e uma das grandes forças da banda saindo do núcleo familiar, que ficava em pé de igualdade com o vocalista David Lee Roth nos backing vocals e em performance e carisma se iguala a Sammy Hagar, vocalista da década de 80/90 a quem deu preferencia a seguir apoiando após sair do Van Halen para fazer parte de projetos como Chickenfoot e a carreira solo do vocal. Ele queria uma vida de esbórnia enquanto Eddie tentava parar de usar drogas e isso que culminou na saída, não Wolfgang.

De 2007 pra cá Wolfgang fez inúmeras turnês e gravou o disco A Different Kind Of Truth em 2012, Já em 2019 o pai dele efervesceu o boato de que o primeiro álbum solo de seu filho seria lançado. Infelizmente só se tornou possível agora em 2021 com o nome “Mammoth WVH”, tanto para o nome profissional dessa “banda de um homem só” quanto para o nome do primeiro disco.
Foi batizado dessa forma em homenagem ao primeiro nome da banda Van Halen, antes de seus integrantes adotarem oficialmente o sobrenome dos irmãos Eddie e Alex. “Sempre gostei desse nome, ‘Mammoth’. Quando meu pai me contou sua origem, prometi a ele que o usaria quando tivesse minha própria banda”, afirma Wolfgang à ISTO É. Também foi revelado pelo músico que o álbum foi gravado no 5150 Studios , onde os álbuns do Van Halen desde 1984 até o já citado A Different Kind of Truth foram gravados.
No som do projeto há poucos resquícios do Van Halen, apesar de serem nítidos quando surgem. A abordagem escolhida pelo músico não está no hard rock e tão pouco no metal, o rock de arena feito nos anos 2000 com forte teor pop é que o conduz. As faixas tem um caráter de hinos se tornando fáceis de uma platéia cantar junto os fortes refrãos. Nas 14 faixas que nos foram apresentadas que totalizam quase 59 min há uma boa experiência que traz a constatação do notório o esforço de Wolfgang para trazer um trabalho honesto, tanto que apesar de ser um álbum grande nem se sente o tempo passar.
Mammoth WVH não traz nada de original, na verdade é bem clichê, mas isso está longe de ser ruim. Se colocar em comparação com as bandas que claramente servem de inspiração além do próprio Van Halen, há talvez mais riffs e peso do que em qualquer trabalho do Foo Fighters, solos mais técnicos que qualquer um feito por Dean De Leo no Stone Temple Pilots que é um cara mais expressivo e pouca firula, mas claramente essas bandas em especial o ajudaram a desenvolver as estruturas das canções. Se nota até um pouco de Audioslave, o que nos leva a um choque arrepiante ao perceber que Wolfgang canta de forma potente, com grande repertório de variações de tonalidade e bastante extensão.
Em todas as músicas há um pouco de conflito de relacionamento, um conflito pessoal. Com exceção do single Don’t Back Down, bem dançante e com os moldes clássicos do hard e rock alternativo tanto na melodia quanto na letra. O clipe é fantástico pois traz essa questão dele ter gravado todos os instrumentos. O disco parece ser realmente muito da vivencia de Wolfgang, a faixa que abre o álbum, chamada de Mr. Ed, parece uma forma dele lidar com o luto da perda do pai, mas uma que ele deixou bem claro que é dedicada a Eddie Van Halen é Distance a qual colocou uma dedicatória na divulgação do single que por sinal foi o primeiro deslumbre que o mundo pode ter de sua empreitada solo.
Enquanto meu pai continuava a lutar com vários problemas de saúde, eu estava imaginando como minha vida seria sem ele e como eu sentiria muita falta dele. Embora a música seja incrivelmente pessoal, acho que qualquer um pode se identificar com a ideia de ter uma perda profunda em sua vida. Nunca pretendi que ‘Distance’ fosse a primeira música que as pessoas ouviriam de mim, mas também pensei que meu pai estaria aqui para comemorar seu lançamento. Isso é para ele. Eu te amo e sinto sua falta, papai.
Wolfgang Van Halen
Interessante como a maior parte das pessoas categorizou como um álbum de hard rock por conta dos riffs e alguns solos dignamente feitos. Eu percebi muito mais de várias bandas alternativas na sonoridade, em Horribly Right e em The Big Picture se capta até um pouco de Papa Roach. O disco é bem focado em guitarras e na preocupação de trazer mensagens fortes, a outra balada do disco, Resolve, é bem franca e traz um solo intenso. A faixa Mammoth tem o arranjo que mais gostei, lembrando um tanto o som do Van Halen misturado ao Alice In Chains.
Temos outros destaques que vão nessa linha grunge, um dos singles chamado Circle é uma balada bem poderosa que tem um crescimento exponencial com belos vocais. A grande frustração do músico é que os planos iniciais para a turnê de lançamento incluiriam a abertura do show do próprio Van Halen – sonho que a morte de Eddie impediu. Think It Over tem muito do Van Halen, soa como os rocks pops feitos pela banda na virada dos anos 80 para os 90. Já You’re The Blame mostra o quanto o DNA e o sobrenome pesam, aqui Wolfgang traz um solo evocando sustains e brincadeiras nas nota como só seu pai fazia, uma das melhores do disco disparado.
Minha faixa preferida é a chapada Stone. Quase um blues psicodélico, mesmo tendo o som sempre bem preenchido e sonoramente bem determinado desde a primeira música, diria que essa é a música mais diferente do Mammoth WVH junto com Epiphany que tem o baixo como o principal condutor do arranjo. De uma forma geral é um bom disco e vai servir como um belo ponta pé pra arrombar a porta, ele mostrou ao que veio sem a sombra do pai e do Van Halen. De quebra pode ser o influenciador para mais gente se inspirar em fazer projetos criativos sozinhos mesmo sem todo o background que que possibilitou a qualidade absurda da mix.
Nota Final: 8/10
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