Review: Royal Blood – Typhoons

Por Roani Rock

Tendo acompanhado o surgimento dos caras, desde o primeiro álbum de 2014, confesso que foi um choque ver essa mudança tão repentina na sonoridade. Mas, ao mesmo tempo, percebo ter sido necessária para que enfim cheguem nas massas com um som mais acessível. Lembrando que a obra do power duo está bem no início com agora três álbuns lançados. Ir da obscuridade para um som dançante foi um risco que valeu a pena eles correrem, todavia, não me soa como o melhor trabalho deles como muitos querem pregar.

Roani Rock

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Gravadora: Warner Bros. Records
Data de lançamento: 30/04/2021

Gênero: Rock Alternativo/stoner/garage rock
País: Inglaterra


Royal Blood é uma banda que tem seu som enraizado numa safra dos anos 2010 que construiu sua base a partir do White Stripes e Queens Of Stone Age, estes foram como a fonte de um rio de água bem poluída, diria que se trata de um esgoto. Mas, não quero com isso dizer que o som é ruim, muito pelo contrário, só quero expressar o quanto que a aura desse tipo de rock é melodicamente sujo, com a distorção e graves bem altos coincidindo com vocais mais agudos.

Não dá pra fazer um stoner rock, rock de garagem ou rock alternativo passando uma imagem de bons moços, há um ar e uma realidade dos interpretes terem caras de durões, de pessoas com as quais você não vai querer bater de frente ou se quer esbarrar. O Royal Blood formado pelo baixista/vocalista Mike Kerr e o baterista Ben Thatcher não possuem esse primeiro choque visual, se você os encontrasse num dia normal na rua ia achar eles normais. Mas, quando se presencia as performances ao vivo, devido a todo peso e a presença deles, quebra essa primeira impressão e diria julgamento – o que fazem é intimidador e ao mesmo tempo contagiante.

Ao escutar o primeiro disco autodenominado há uma sensação de estar ouvindo um produto bruto, um pedregulho em queda livre pronto para esmagar e longe de ser uma escultura. Também, voltando para o futuro, dá pra fazer uma analogia a uma faísca acesa no pavio que inicia todo o percurso até alcançar os inúmeros explosivos colocados pelo Coiote em uma de suas invenções ACME para pegar o Papa-léguas. Figure It Out e a brutal Out Of The Black estão ai para comprovar todo esse imbróglio destrinchado.

Podemos seguir nessa linha da pedra, porque no álbum seguinte ocorreu uma lapidação no som, coisa que fizeram de maneira assertiva em How Did We Get So Dark?, os britânicos chegaram direto na jugular para deixar marcas expressivas com músicas que vão de esquisitas como she’s creeping a vitamínicas como a faixa título, I Only Lie When I Love e o hit Hook, Line & Sinker. É um disco mais experimental, baseado nos efeitos dos pedais e ao mesmo tempo com um teor mais pop que indicou a direção do que veio a ser o trabalho de agora.

Typhoons foi lançado no dia 30 de abril após quatro anos sem nada novo e já rendeu frutos. De acordo com a The Official Charts Company (via NME), o novo trabalho da banda britânica está vendendo mais que os outros cinco discos que estão no topo das paradas oficiais de álbuns do Reino Unido juntos. E essa marca não é nem um pouco absurda analisando a riqueza das canções. Em entrevista para definir o que é o álbum eles falam sobre o processo de gravação e sobre o momento difícil do mundo:

Com o mundo caindo aos pedaços ao nosso redor, nos encontramos criando essas soluções para a escuridão, nos libertando do passado e seguindo entusiasmados sem ninguém para nos parar. Acabamos de sair de um momento escuro, e embarcamos em um estado de espírito cheio de luz e energia. Fazendo isso, sentíamos que estávamos no meio de outra tempestade, tendo consciência que isso, também, vai passar.

O novo Royal Blood é um mix de toda as inspirações que os cercam. Diria que eles estiveram atentos ao mercado e fizeram essa mudança de caráter nas músicas para algo dançante, sem perder a essência pesada e distorcida, não só para experimentar coisas novas, mas para se tornarem mais atrativos nestes tempos. Não a toa a maior parte das músicas fala em tom de crítica sobre ter, ganhar e investir dinheiro além de conflitos existenciais.

Há a inclusão de sons eletrônicos, beats apoiando a batera enquanto o baixo de Mike Kerr vai “esmerilhando” por faixas pops criativas. Trouble’s Coming, que abre o álbum, tem a questão do refrão curto que é repetido várias vezes durante a música incluindo a hora de um break proposital que em shows vai ser o momento da galera cantar junto.

O ritmo do álbum é bem fluído, a já comentada Trouble’s coming já é a faixa mais escutada da história da banda em streams, Oblivion traz essa presença diferente dos teclados e muitos backing vocals. Já a faixa título parece algo moderno que os Stones fariam. Bons riffs para o refrão e a batera eletrônica na marcação precisa. Já Who Needs Friends é a faixa com o DNA do primeiro álbum. O sintetizador em Million and One a coroa como a mais empolgante entrando numa vibração semelhante a das canções do Muse.

Fica perceptível a longas distâncias a influência do Muse neste momento da carreira do Royal Blood. Em Typhoons ao escutar até mesmo a faixa Limbo, que apresenta momentos intensos e de bastante destaque para a bateria nos versos, o que deixa com certo insight pra sacar que são eles, os conterrâneos da terra da rainha como eles se faz presente no refrão, terminaram ficando tão pop que tirou um pouco do brilho, soam meio como Arctic Monkeys também, caras que ajudaram eles no início da carreira os colocando como banda de abertura. Algo semelhante ocorre com a faixa Either You Want It, você sabe que é o Royal Blood, mas não parece com eles.

Boilermaker tem uma grande chance de se tornar um dos maiores hits do disco, é a faixa mais suja e pesada, francamente essa parece que eles fizeram para o fã raiz. Já Mad Visions te deixa em transe dançante durante algum tempo, é fácil balançar a cabeça e ver isso tocando até em haves. Hold On é mais uma daquelas músicas de pura adrenalina perfeita pra tocar em festas. E o momento surpreendente de se despedir vem através de uma balada ao piano e voz, All We Have Is Now – Um plot twist para essa história toda tão inesperada.

Nota final: 8/10

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