Review: Smith/Kotzen – Smith/Kotzen

Por Luis Rios

Esses dois exímios guitarristas somaram esforços recentemente e formaram uma dupla de peso, com o intuito de gravar um álbum que tivesse como base suas influências e seus gostos musicais evidenciados. Algo que fosse descontraido e livre. Conseguiram… Ouvindo Smith/Kotzen, logo de cara, fica fácil perceber que tudo saiu a contento e que em todas as canções, os caras conseguiram colocar toda a sua espontaneidade e parceria, de modo direto, simples e ao mesmo tempo, com uma competência atroz!

Luis Rios

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Gravadora: BMG
Data de lançamento: 26/03/2021

Gênero: Hard Rock
País: Estados Unidos/Inglaterra

Adrian Frederick Smith, amante de Deep Purple, Pete Travers e Johnny Winter, começou a tocar guitarra aos 16 anos, incentivado pelo seu colega Dave Murray. Este lhe comprou de presente a primeira guitarra por 5 libras. Anos de amizade se passaram e um pouco depois de terem sido colegas na banda Urchin que acabou em 1979, ele foi convidado pra substituir Dennis Straton no Iron Maiden… o resto da história você já sabe, não é verdade? Ritchie Kotzen, amante de Kiss, começou a aprender piano aos 5 anos e aos 7, guitarra. Sendo um músico muito profícuo, teve experiências variadas na música. Dentre elas, substituiu Paul Gilbert na banda Mr. Big, gravou um disco com a banda Poison, sendo o principal compositor, foi convidado a formar uma banda por Stanley Clark, faz parte hoje da banda The Winery Dogs e finalmente, pode-se dizer que a sua carreira solo de mais de 20 discos, continua “de vento em popa”.

Esses dois exímios guitarristas somaram esforços recentemente e formaram uma dupla de peso, com o intuito de gravar um álbum que tivesse como base suas influências e seus gostos musicais evidenciados. Algo que fosse descontraido e livre. Conseguiram… Ouvindo Smith/Kotzen, logo de cara, fica fácil perceber que tudo saiu a contento e que em todas as canções, os caras conseguiram colocar toda a sua espontaneidade e parceria, de modo direto, simples e ao mesmo tempo, com uma competência atroz!

O álbum que gravaram não se pendurou em um virtuosismo etéreo. E sabemos bem o quão virtuosos eles são. As canções representam não as suas características individuais como instrumentistas. Elas passam de maneira muito genuína, aquilo que eles entendem por música, por melodias e guitarra, por como dois caras que tocam o mesmo instrumento e cantam, podem consorciar isso naturalmente e sem nenhuma pressão. As músicas tem uma cadência bluesy que ancora as melodias perfeitamente e tudo isso é montado e desenvolvido com uma simplicidade tal, que parece que eles já são parceiros musicais há tempos.

Ambos estão cantando com gosto e puxando da alma suas vocalizações. Nota-se uma descontração que embala as canções de forma equilibrada e com todo um balanço musical, que certamente vem da bela parceria que aconteceu entre ambos. O disco é muito surpreendente e tocante. É aquele disco que você balança a cabeça e bate o pé no chão instantaneamente já na primeira música. Ele vai te levando com seus solos básicos e bem construídos, através de uma levada que tem groove e peso na medida. O disco apresenta características próprias do rock feito nas décadas de 70, 80 e 90, sem que isso se torne uma miscelânea sem sentido. Pelo contrário. Depois de ouvir o álbum algumas vezes, percebemos uma multifacetada influência presente nas canções. UFO, ZZ Top, Soundgarden, Led Zeppelin, Whitesnake, Grand Funk Railroad, Creedance Clearwater Revival, Lenny Kravitz, Rod Stewart e Steve Ray Vaughn estão muito bem lembrados e homenageados aqui.

Há nisso outro ponto positivo. Dentro de uma mesma música eles encontram com facilidade a possibilidade de unir elementos dessas décadas. Seja na melodia aliada a sonoridade dos solos, seja nas vocalizações duplas e alternadas, mescladas com o instrumental feito pra duas guitarras harmonizarem em tons parecidos, mas diferentes. De fato, a união desses dois guitarristas de gerações diferentes, proporciona uma mescla que ficou interessantíssima. Os dois são bluseiros, sendo que Adrian puxa mais para esse lado e para a coisa do metal e “Ritchie” (Adrian o chama assim), traz uma influência R&B e Jazz Fusion bem forte. Esse blend ficou perfeito. Um músico complementou o outro e as composições saíram com um músico dando início a uma idéia e o outro terminando isso.

Bem, nós nos conhecemos a cerca de dez anos atrás… Periodicamente, ele fazia eventos na casa dele, ele tem um cômodo com todas as guitarras lá e tudo mais, e a gente só tocava… uma das vezes alguém sugeriu que a gente tentasse compôr uma música juntos, então a gente topou e a primeira faixa que eu lembro de surgir foi Running. Eu estou realmente fazendo isso?”, eu tenho que me beliscar às vezes um pouco. Mas é uma grande oportunidade, é muito louco pensar que eu estou aqui fazendo um disco com um dos meus heróis, sabe?

Kotzen

Amigo de longa data e parceiro de turnê de Richie, Tal Bergman, toca bateria nas faixas You Don’t Know Me, I Wanna Stay e Til Tomorrow. Kotzen assume as baquetas em outras cinco faixas. Nicko McBrain, batera do Iron Maiden, bate em Solar Fire. Take My Chances abre o álbum e foi lançada como o 1°single ano passado. De prima, já se nota algo diferente em se pensando no que poderia ser produzido por dois guitarristas sabidamente técnicos e solistas de mão cheia. Rock and Roll básico com pequenos solos entremeados à base harmônica. Ambos dividem o vocal e isso dá uma diferenciação incrível a canção.

Eu acho que Richie e eu, nos complementamos muito bem… “Ele é um guitarrista virtuoso mas tem um enorme senso de melodia.

Adrian Smith

Running é a favorita de Adrian. Uma pegada blues bem sólida em seu riff, com um refrão delicioso e direto, trazendo um frescor e uma modernidade incrível. Um pouco mais acelerada e muito bem cantada pelo guitarra do Maiden. Scars traz um andamento mais lento e soturno, com mudanças repentinas de tempo. Isso com ótimos vocais e um peso que se ajusta muito bem à melodia. É emocionante. Aqui Kotzen segura o baixo e a batera, além de fazer um lindo solo de guitarra.

Some People mostra um pouco do que ambos os guitarristas tem incruado de Whitesnake neles. Tem um riff funky e solos esfuziantes. Isso dá a canção uma característica bem impulsiva e agressiva. É uma grande harmonização entre o R&B e o rock básico. Glory Road é baseada numa troca constante de um com o outro nos vocais. Tem um refrão bem grudento e agradável. Tem um riff básico calcado inteiramente no blues. E aparecem outros riffs complementando. São vários em looping. Que canção…Solar Fire é puro British Blues Rock, a là Rory Galagher. Um peso incrível e ainda como a cereja do bolo, as batidas estão “metronômicas”, estão a cargo de Nicko McBrain! Tem um groove estrondoso e uma base melódica do blues que te gruda nos ouvidos.

You Don’t Know Me é um blues médio tempo, que lembra muito o UFO. Melodia de balada cativante e emocionante demais. Solo espetacular de Adrian e um prato cheio pra improvisações ao vivo. A maior canção de todas. I Wanna Say, essa sim é uma grande balada. Kotzen sola lindamente com uma das Jacksons de Adrian emprestada. Talvez seja a mais pop do álbum, mas sem destoar em nada das demais canções. Eles fecham com a suavemente funkiada Til Tomorrow. Mas que com o desenrolar do riff, vai ganhando peso e os desbundantes solos vem em sequência, dando a impressão que ela não vai terminar nunca.

Esse disco não foi desenvolvido por um supergrupo. Não foi composto com o intento de ser aclamado e tocado em grandes arenas. Ele foi feito em parceria, por dois amigos igualmente talentosos. Eles foram generosos um com o outro e sente-se um clima muito relaxado, enquanto vai se fazendo a audição do disco. Ele me lembra muito a parceria Coverdale-Page que a meu ver é ótima e subestimadíssima. Aliás, até deu vontade de ouvir agora mesmo…

Nota final: 9/10

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