Review: Alice Cooper – Detroit Stories

Por Roani Rock

Alice Cooper desde que juntou o Hollywood Vampires entrou em uma jornada não só nostálgica, mas de redescobertas sonoras. Uma onda bem vintage é gerada com sua homenagem a cidade de Detroit no novo álbum e por conta disso encontramos tudo bem coeso e animador.

Roani Rock

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Gravadora: earMUSIC
Data de lançamento: 26/02/2021

Gênero: Rock/Shock Rock
País: Estados Unidos


Uma das maiores virtudes de Vincent Damon Furnier é trazer sua imagem e semelhança para qualquer trabalho em que se envolva. Seja em seus projetos com a banda Alice Cooper na década de setenta que terminou virando seu personagem, sua outra personalidade ou com ele participando de “projetos paralelos” a sua persona, seja algo criado por ele o Hollywood Vampires ou uma participação no disco de um amigo músico como Paul McCartney ou Guns N’ Roses. Sua contribuição sempre é explícita.

Em Detroit Stories, o vocalista traz 15 músicas cheias de vida e de graça. Em toda sua carreira ele sempre focou em mexer com fantasias e ao mesmo tempo em que tratou de assuntos sérios, buscava trazer sadismo no humor do discurso, nunca falava 100% sério. Talvez tenha sido isso que levou sua banda a fazer sucesso com músicas do naipe de School’s Out e I’m Eighteen. E olha que dados os excessos do estilo de vida de Cooper nos anos 70 e início dos anos 80, é surpreendente descobrir que sua voz quase não mudou, permanecendo um coquetel ardente de inspirações, sejam as vindas do cantor ruidoso e bucólico Jim Morrison, o rosnador feroz Iggy Pop e de forma pertinente o sorridente e alegre Frank Zappa. Adepto desses perfis e moldes de canto, “O Homem” entrega no seu 21º álbum vários tons de rock de garagem, soul e blues com desenvoltura.

O disco possui o caráter de Detroit não só por sua presença e de seus ex parceiros de banda, mas por contar com a presença de peças chave para reproduzir o som da terrinha, que em suma se baseia em guitarras sujas e crueza do rock de garagem. Para começo de conversa, o produtor Bob Ezrin que trabalhou com a banda de Vincent há 50 anos atrás. Junto a ele estão os guitarristas Wayne Kramer do MC5 e Mark Farner do influente grupo Flint e Grand Funk Railroad de Michigan, o lendário baterista do Detroit Wheels, Johnny “Bee” Badanjek. Sem contar o baixista de Jazz e R&B Paul Randolph, o Motor City Horns e o virtuoso e influente guitarrista de blues-rock Joe Bonamassa, para dar um ar mais moderno a canções tão retrô.

O álbum literalmente bebe da fonte das origens setentistas entoadas pelos nova-iorquinos do KISS que definiram Detroit como a cidade do rock. É uma celebração ruidosa do cenário de hard rock de Motor City. O disco “fede” a  The Stooges, The MC5, Mitch Ryder e The Detroit Wheels, The Rationals, Bob Seger e, claro, o grupo Alice Cooper. Interessante como os covers do álbum apesar de dizerem muito não foram feitos por bandas da localidade. Our Love Will Change The World é da banda de power pop Outrageous Cherry de Michigan e Rock & Roll que abre o álbum é do Velvet Underground, formada por caras vindos de Nova York. Todavia, nesta última ao menos há a citação da cidade na letra da música e tem uma regravação do The Detroit Wheels, que foi usada como base para o projeto de Alice.

Não se levar muito a sério é o truque de Vincent. Em I Hate You, ele e os outros membros sobreviventes da formação original do Alice Cooper se trocam, acrescentando coletivamente que odeiam o falecido guitarrista Glen Buxton por ter tido a coragem de ir primeiro que seus camaradas a 24 anos atrás. Cooper critica até mesmo artistas que fazem o “levar muito a sério no rock” ao pé da letra na previsivelmente otimista, Shut Up and Rock. “Não quero ouvir sobre sua política”, diz ele por um lado, e por outro, “Não quero ouvir sobre seu passado doloroso, eu não me importo de qualquer maneira”. Sua mensagem, é clara e está estampada no título da música. (Larry Mullen Jr. do U2 toca bateria em Shut Up, talvez o ato mais irônico de protesto do disco).

Interessante como as temáticas das canções vão muito do normal das composições de Cooper, ele não nega fogo para $1000 High Heel Shoes, fala da ostentação sem nenhum pudor. Já em Detroit City 2021 ele faz sua própria “Festa de Arromba” – canção icônica de Erasmo Carlos que cita vários artistas de sua geração – contando o quanto é importante para essa cidade”tocar alto, fazendo a guitarra explodir, tocando como se fosse o último dia na terra“. Social Debris é o tradicional “chute no saco” que mostra o quanto o som do disco perambula pelas sonoridades clássicas do Alice, do Grand Funk Railroad e do MC5. Por sinal, essa ultima ganha uma homenagem ao receber uma releitura da contestadora Sister Anne.

Depois de um ano totalmente miserável e fechado para muitos de nós, é impossível resistir ao descarado joi de vivre que Cooper traz para essas canções.

Nota final: 7/10