Review: Slipknot – We Are Not Your Kind

Por Lucas Santos

Essas duas décadas foram repletas de turbulência e mudanças, que vão desde novos trajes à perdas ainda sentidas. O fato de o Slipknot ter chegado tão longe sem nunca se sentir como uma banda à beira da implosão é milagroso, e mesmo que eles tenham simplificado sua abordagem nos últimos anos eles sempre caminharam no mais alto posto do metal mundial

Lucas Santos

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Gravadora: Roadrunner Records
Data de lançamento: 09/08/2019

We Are Not Your Kind talvez seja o momento de mais destaque que já escrevi sobre desde que comecei com o The Life Rock. Slipknot, também, talvez seja o ato mais importante que eu já escrevi sobre aqui no site. Este é somente o sexto álbum de estúdio, justamente quando a sua estréia homônima faz vinte anos, de uma das bandas mais importantes do século, pioneiras de um estilo totalmente novo e desde então, referência para tudo que veio depois.

Essas duas décadas foram repletas de turbulência e mudanças, que vão desde novos trajes à perdas ainda sentidas. O fato de o Slipknot ter chegado tão longe sem nunca se sentir à beira da implosão é milagroso, e mesmo que eles tenham simplificado sua abordagem nos últimos anos eles sempre caminharam no mais alto posto do metal mundial. Fatores como o crescente status de celebridade do vocalista Corey Taylor, performances ao vivo caóticas que se misturam com atuações teatrais entregando efeitos visuais e sonoros marcantes para qualquer expectador, e a maior propensão à melodia em aversão ao peso, que já provou ser controversa, mas que finalmente ampliou o ranking do grupo entre os grandes do metal moderno se mostrou mais essencial do que seria estimado.

Aqui, a escuridão está firmemente de volta no menu, não exatamente como você imaginamos. Embora claramente criada a partir de um lugar aonde dor e escuridão são presentes, não é uma sequência de músicas deprimentes ou sentimentais, e certamente não está no passado. Tendo usado a catarse de .5: The Grey Chapter para ajudá-los em sua dor, eles permaneceram razoavelmente próxima nesse lugar, mas também conseguiu canalizá-lo algo mais positivo. We Are Not Your Kind volta as origens mas também moderniza o som e tenta tratar de assuntos diferentes.

Insert Coin traz toda a ambiência e te introduz, com uma mistura de leves sintetizadores e uma onda crescente, à tudo que estar por vir. Unsaited, segundo single, entra em formato de coro quase que gótico, cantarolando o refrão, e explode de uma forma extrondosa mostrando já de cara o absurdo trabalho de Jay Weinberg que segue em destaque durante toda a audição. Um single que deu muito certo por ter um refrão muito marcante. Birth Of The Cruel tem uma pegada mais industrial, é pesada de uma maneira diferente, cheia de groove e mais arrastada.

Spiders é algo diferente, a faixa tenta algo pouco explorado, pra mim não funcionou tanto, mas não deixa de ter o mesmo clima sombrio e pesado que o álbum propõe. Orphan é o Slipknot clássico, a faixa não traz nada de novo, mas se propõe a fazer o que eles fazem de melhor e não decepciona, é outro grande momento. My Pain é um daqueles momentos que você espera que a qualquer segundo tudo vai explodir, mas a faixa se mantem segura, com uma atmosfera mais apreensiva e tensa com belo trabalho dos sintetizadores. Aqui vemos o Slipknot mostrando outra forma de trazer peso e aflição.

Nero Forte e Red Flag trazem uma pegada mais direta e pontual, misturando o metalcore com um metal mais raíz e sem rodeios, com refrões bem construídos, interlúdios e passagens eletrônicas bem acertadas. Critical Darling talvez seja a música com mais nuances. Corey se destaca nela por usar sua voz em todos as variações; hora está cantando mais limpo e hora mais agressivo, passagens de rap e o refrão mais melódico, essa é uma das músicas mais ousadas até então. Tudo se finaliza em Solway Firth, o primeiro e também empolgante single, captando tudo que We Are Not Your Kind é, de uma forma bem coesa e prensada e mostrando o melhor de todos os integrantes, agindo mais de que integrantes, como amigos que se importam, mesmo depois de todos os acontecimentos passados.

Os guitarristas Jim Root e Mick Thomson entregam os riffs (dessa vez as guitarras receberam menos destaque o trabalho anterior) da mesma maneira simplista, mas brutalmente eficaz de sempre, mas trazendo algumas atmosferas de estranhezas ao longo do caminho, enquanto Shawn “Clown” Crahan, Sid Wilson e Craig Jones continuam trazendo seus talentos únicos para a mesa. Corey Taylor ainda é um dos melhores vocalista de sua geração.

We Are Not Your Kind é um marco no metal esse ano. Parece tão relevante em 2019 quanto seu álbum auto-intitulado fez vinte anos atrás, com a ideia principal sendo a mesma, mas a execução se sentindo muito mais oportuna, tanto em termos da era atual quanto da própria banda. E para um grupo que poderia descansar sobre seus louros neste momento e confiar apenas no legado, a dedicação do Slipknot para a sua música, fãs e prórpios membros fala muito, e faz com que seu status como lendas do metal seja mais do que merecido.

Nota final: 9/10

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