Review: Willow – Lately I Feel Everything

Por Roani Rock

É até difícil de falar sobre a grandiosidade desse trabalho da WILLOW, como pessoa e artista ela vive em mudanças. Ser o Travis Barker assumindo as baquetas já é uma segurança sobre a qualidade do instrumental, mas ver a variedade de sons que vão do pop punk ao rock alternativo com um pouco do hip-hop tradicional da artista é digno, expande a mente para as possibilidades. Trata-se de um disco criativo de fácil assimilação, boas músicas e bom gosto.

Roani Rock

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Gravadora: MSFTS
Data de lançamento: 16/07/2021

Gênero: Pop Punk/Rock alternativo
País: Estados Unidos


Willow Simth é uma das artistas mais interessantes que surgiu da última década. Mesmo quando apareceu seu hit Whip My Hair, uma música que é praticamente um refrão com uma batida forte e que fez bastante barulho por vir de uma jovem de dez anos com um vozerão e num caminho não tão óbvio, se levarmos em consideração quem são seus pais, ninguém menos que o ator Will Smith e Jada Pinkett Smith. Só por isso deveria já existir de forma geral uma descrença, uma aspiração ao meio artístico e questionar qualquer sucesso do hit, mas quando uma música é boa, ela simplesmente é, independente de quem canta.

Se passou mais de uma década desse primeiro e elogiado hit e a jovem nesse período mostrou que foi muito mais que um capricho de uma jovem deslumbrada que podia usar da influência e fama dos pais para se promover. Já em seu primeiro EP lançado em 2013 ela mostrou comprometimento e que sabia se virar, ela o produziu praticamente sem ajuda. Em 2015 voltou ao mundo da música com o seu primeiro álbum completo, o ARDIPITHECUS onde se encontrou no r&b e no pop e teve êxito com o single Wait a Minute!, mas como ela mesmo coloca pra justificar o título do álbum, estava em transição com experiências da sua idade.

Ardipithecus Ramidus [ sic ] Sahelanthropus tchadensis é o nome científico dos primeiros ossos de hominídeos encontrados na Terra. Queria nomear minha compilação musical com esse nome porque, enquanto fazia essas músicas, estava em um estado de transição. Cavando fundo no solo do meu coração e encontrando pedaços e pedaços do meu antigo eu que contam histórias, que acabam sendo as letras das músicas.

Em seguida veio o álbum The 1st, um trabalho orquestrado, cheio de vocais que canalizava os sons de músicos alternativos dos anos 1990, rendendo comparações com Tori AmosTracy ChapmanAlanis Morissette e outros, demonstrando o crescimento da pessoa e da artista WILLOW. Chegado o terceiro projeto no ano de 2019 que recebe seu nome, encontramos uma WILLOW passando pelo processo de separação dos pais, a jovem sentindo o peso da maturidade e amadurecimento de ideias, para a confecção do álbum ela contou com a parceria de Tyler Cole que participou da confecção de 4 músicas do disco incluindo U Know cantada em parceria com Jaden Smith irmão dela. Sonoramente parece o tipo de trabalho que Lauryn Hill faria.

Já no projeto que ela desenvolveu em dueto com Tyler Cole em 2020 no período pandêmico tivemos um deslumbre do que é essa menina no universo do rock. Bom lembrar que o rock não é um “terreno baldio” para ela, na verdade, seu fascínio pelos sons mais ásperos do rock parece uma progressão natural, que combina a história musical de sua família com seu amor declarado pelo gênero. Willow cresceu vendo sua mãe, se apresentar como uma rara vocalista de nu-metal com a banda Wicked Wisdom. Foi marcante, de forma significativa, ao ponto de Willow assumir a frente da banda em uma surpresa pra mãe em seu programa de tv no episódio em que a filha falou sobre o papel da mãe em sua vida.

Nesse projeto chamado THE ANXIETY temos um pouco do punk rock e do pós grunge graças ao efeito de megafone colocado na voz da vocalista ao menos nas 4 primeiras músicas. Mis uma vez ao apoio da MSFTS Music e Rock Nation, como parte da promoção do registro, a dupla iniciou um evento ao vivo de 24 horas no The Geffen Contemporary Art, que chamaram de “uma personificação do espectro emocional dentro da mente humana” para ilustrar as “oito fases da ansiedade”. São elas: paranoia, raiva, tristeza, indiferença, euforia, interesse intenso, compaixão e aceitação.

Fiz esse background para contextualizar o quanto essas ações artísticas foram importantes para induzirem ao que veio a ser Lately I Feel EVERYTHING. Essa experiência ao lado de Cole principalmente acenderam a possibilidade de se inclinar ao rock e principalmente ao pop punk que ela tem profunda admiração por conta de algumas referências como o Paramore e Avril Lavigne – essa última por sinal participa do álbum na faixa Grow -. São 11 músicas que vão num fluxo perfeito, com mensagens reflexivas, julgadoras e bastante poder.

O álbum abre com um mega hit, t r a n s p a r e n t s o u l. Ele fez a moça alcançar o número um das paradas da Billboard e se tornou uma das músicas mais escutadas dos streamings. É a primeira em parceria com o icônico baterista Travis Barkers, do Blink 182, que nos últimos dois anos tem se empenhado em fazer o estilo voltar as cabeças gravando com muita gente, principalmente possibilitando rappers e referências do R&B de fazerem sucesso com rock, ao exemplo de Machine Gun Kelly com quem gravou um álbum elogiadíssimo e Post Malone ao tocar Nirvana dignamente.

Com Travis veio a segurança na qualidade do instrumental das canções. Com a participação dele temos também a divertida Gaslight (que é minha preferida) que potencializa o amor próprio e a faixa GROW com Avril Lavine, bem nos padrões das composições da ídolo teen dos 2000’s o que possibilita ainda de valorizar o lado compositor da filha caçula dos Smiths. Por sinal, o cast chamado além desses dois nomes de peso também tem seu valor e potencializaram canções. A faixa Come Home com Ayla Tesler-Mabe tem uma configuração que beira o blues rock e o grunge, a carga da letra é descomunal mesmo que bem simples, traz a questão do amor profundo por alguém que se foi. Já em XTRA que tem o apoio de Tierra Wacka encontramos o mesmo contexto da faixa de abertura, onde há uma amargura do eu lírico com um relacionamento.

Toda via, mesmo se o álbum não tivesse esses apoios convencionais seria grandioso devido a força das composições. Ela até na segunda faixa chamada Fuck You, que se trata de um interlúdio previsivelmente explícito de 30 segundos, soube mostrar que está por dentro do “Warped Tour” evocando esta era particular do rock que requer de um senso irreverente de humor. E fora ela, todas as músicas tem a guitarra como pedra fundamental, a guita conduz tudo! Lipstick que é outro ponto alto do disco e a faixa Naïve, uma balada psicodélica nos moldes 80’s, são prova disso. O efeito usado nas guitarras dessa última por sinal me fez relembrar do usado por Prince na versão dele para Creep do Radiohead, por sinal, a faixa soa como Radiohead.

Willow parou com as questões filosóficas e religiosas dos outros trabalhos para uma vivência real de sentimentos. Ela escreve habilmente sobre as experiências com ansiedade, o desejo de afastar seus entes queridos em Don’t SAVE ME, traz isso. A dolorosa autoconsciência e a dependência em Come Home, outros pontos voltando como o amor próprio em Lipstick e a emponderada ¡BREAKOUT! também são um bom pano de fundo marcadamente mais alto para seus vocais. Há situações notórias no casamento de subgêneros díspares do rock também, o que funciona porque sua instrumentação compartilha uma perspectiva comum do início dos anos 2000: as guitarras ecoantes. em XTRA lembramos do pop-rock insatisfeito encontrado nas canções da Pink! ou Kelly Clarkson 

Semelhante a Olivia Rodrigo – uma das maiores revelações do pop rock atual – WILLOW usa o pop-punk como tempero, ao invés do ingrediente principal de seu álbum. Mas diferente dela, Willow tem mais representatividade e nome no mainstream. Em entrevista à Billboard ela revelou que “quer liderar uma geração de mulheres que “detonem” na música”. Pensando bem, acredito que ela seja a figura mais indicada da “Geração Z” para representar esse papel e com o rock ou pop punk como trilha. Uma mulher negra num estilo que basicamente há poucos resquícios de uma representatividade negra ou feminina forte desde seu surgimento no fim dos anos 90.

De fato, é um trabalho muito respeitoso e amadurecido. Ela conseguiu marcar sua presença no novo/velho cenário roqueiro, deixando a todos muito ansiosos por mais uma dose quando essa sair do repeat dos streams ou para os mais ousados e tradicionais, do toca disco. Asseguro que será bem apreciado até lá. Facilmente um dos melhores discos do ano, que chamam mais a atenção pela coragem e diria até “audácia”.

Nota final: 9/10

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