Review: Norah Jones – Pick Me Up Off The Floor

por Roani Rock

Um som rebuscado e de sofisticação. Jones como de praxe utiliza do clássico Jazz mas agora com grandes doses de folk e country. Não seria exagero dizer que é facilmente um dos melhores discos do ano.

Roani Rock

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Gravadora: Blue Note Records
Data de lançamento: 12/06/2020

Gênero: Pop/Jazz
País: Estados Unidos

Quem não está familiarizado com a discografia de Norah Jones e sua trajetória no universo da música, pode achar que ela se resume a uma cantora exclusivamente romântica repaginada no Jazz. Mas ela ao passar dos anos expandiu sua paleta, já fez parte de uma banda de country rock, a Puss N Boots em 2008, já gravou uma música com o duo de hip-hop Outkast e se aventurou no rock cinematográfico com Danger Mouse em “Little Broken Hearts“, tudo isso em 18 anos de carreira e agora 7 álbuns de estúdio lançados.

Para o seu sétimo álbum da carreira, ela conseguiu unir todas suas experiências sonoras contrastadas em temáticas cotidianas e fortes. O nome do álbum, em tradução literal é “Me pegue do chão” já expõe o que o álbum cheio de composições empáticas traz. Seja cantando sobre o medo existencial, encontrando esperança na escuridão ou a dor do coração partido, Jones graciosamente traduz esses sentimentos em momentos íntimos de ação e emoção pessoais.

Esse álbum surge de um processo diferente do convencional, para sair de maneira natural e espontânea, Norah em 2019 compôs um amplo material reservou sessões de estúdio e foi lançando uma série de singles, um território novo e livre de fronteiras com parcerias ao lado de nomes como Mavis Staples, Thomas Bartlett, Tarriona Tank Ball, o músico brasileiro Rodrigo Amarante do Los Hermanos. E não é que o novo álbum seja sobras, na verdade ela desistiu de usar o formato de lançar apenas singles e aproveitou o material que tinha em excesso. Por sinal, se aproveitou bem, já que trouxe a luz um disco coeso e precioso, coisa difícil de acontecer.

Em cada session que eu fiz, houve canções extra que não lancei. Eu passei os últimos dois anos ‘colecionando’ essas faixas e acabei me encantando por elas. Eu tinha as versões brutas dessas músicas no meu celular e as ouvia enquanto passeava com o cachorro. As canções ficavam presas na minha cabeça e eu percebi que elas eram atravessadas por um fio surreal. É algo como um sonho delirante que se passa em algum lugar entre Deus, o diabo, o coração, o país, o planeta e eu

Pick Me Up On The Floor” traz mais do que canções de pop jazz orquestral e Folk Rock, o álbum está ligado à capacidade inefável de Jones de transmitir grandes emoções com simplicidade. ”How I Weep” é uma boa abertura, da pra dizer que a melodia do piano conversando com a voz de Norah e a orquestração de Paul Wiancko violinos e violoncelos que preenche um silêncio a tornam um destaque e desafiadora. Na sequência o bluesão “Flamin Twin“, uma das canções mais fortes do álbum com presença de teclados mug e guitarra distorcida.

A canção mais moderna do álbum é “Hurts to be alone“, com uma excelente batera de Spencer  Tweedy. “Heartbroken, Day After” é um típico country que poderia ter sido escrito pela The Band, a música mais gostosa e de crescência do disco contendo belos backing vocals e uma slide guitar chorando baixinho. Já na sequência, a mais jazz do disco, “Say No More” é como uma reconstrução do personagem que nas canções anteriores está abatido e sofrendo. Talvez seja por isso que ela é tão animadora e dançante.

É tentador alinhar essa música e outras sob uma perspectiva de protesto ou resposta à presidência de Donald Trump. “I’m Alive” é uma declaração de esperança tão simples e direta quanto muitos são capazes neste momento, certamente a melhor música do álbum. Co-escrita por Jeff Tweedy, de Wilco, a música usa um “ela” sem nome como um substituto para Jones e mulheres em todo o mundo. 

Ela é esmagada por pensamentos na noite dos homens / que querem seus direitos / e geralmente vencem / mas ela está viva/ Oh, ela está viva

Verso de I’m Alive

exala Jones, a fumaça da marca registrada em sua voz tecendo através do piano vistoso, o violão agitado de Tweedy e a bateria ágil de seu filho Spencer. “Ele grita, ele grita / As cabeças na TV se curvam / Eles mordem a isca / Eles espelham ondas de ódio“, acrescenta Jones – um somatório direto, mas não menos afetante, dos últimos anos na política americana.

Viver nesse país, nesse mundo, nos últimos anos, eu acho que há um senso básico de ‘Me levante. Vamos nos erguer e sair dessa bagunça e tentar compreender algumas coisas’. Se há algo sombrio nesse álbum, não é para ser uma sensação de destruição iminente, é mais relacionado ao desejo humano por conexões. Algumas das músicas que são muito pessoais também se aplicam às questões mais amplas que estamos enfrentando. Da mesma forma, algumas das canções que dizem respeito a questões mais gerais, também soam bem pessoais

Norah Jones

O álbum ainda tem seus destaques, “To Live” que tem um naipe de metais e é tão protestante quanto I’m Alive”, “Were You Watching” que é puro soul e lembra o álbum de Paul McCartney destinado ao Jazz com presença forte de violinos. A “Stumble On My Way” que reflete uma melodia tão doce e agradável, extremamente dançante, o que chamaríamos tempos atrás de a “hora do chega mais” e por fim o fechamento com chave de ouro “Heaven Above“, com um belo arranjo de violão, é a hora do perdão.

O disco em termos técnicos é inquestionável principalmente se levar em conta que não foi planejado, não foi montado as pressas e certamente o setlist foi montado com carinho e experiência dos envolvidos. Norah não é uma artista que está em zona de conforto e sabe explorar bem seu dom no piano e principalmente na voz, como filha de Ravi Shankar, grande mestre da sitara que era amigo de George Harrison na década de 60 e 70, época em que fez sucesso, ela conhecendo o meio, sempre soube trabalhar com excelentes músicos e pra esse disco não foi diferente.

Para sua audição, pense que há um clima de faroeste e de viagem para lugares desérticos ou de natureza, não é um disco propício para se ouvir no transito de são paulo ou nova york, mas talvez numa praia do caribe, pela orla de Copacabana ou do aterro do Flamengo em uma corrida ou passeio, num piquenique junto a pessoa que você gosta, tem um que de fazenda também, de mato, tem um pouco de Las Vegas, se pensar em uma festa chique, tem até um que de casamento. É um disco apropriado para se curtir um momento e ser aproveitado com calma e tranquilidade.

Nota final: 10/10

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