Review: Alvvays – Blue Rev

A prova de que o resgate do som dos anos 80 está em alta é o fato do Alvvays existir. Por mais que tenha uma fácil associação ao indie, a banda canadense tem muito do Pretenders, My Bloody Valentine, Jesus And Marry Chains e Siouxsie And The Banshees, bandas proeminentes do Post Punk e Shoegaze. Dito isso, não temos nada de muito novo aqui em termos de sonoridade, mas sim, um algo bem agregador. Pela fluidez e processo caótico para a produção, considero um dos melhores álbuns do ano.

Roani Rock

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Gravadora: Polyvinyl / Transgressive
Data de lançamento: 07/10/2022

Gênero: Post Punk
País:
 Canadá


O terceiro álbum dessa banda fantástica que viu seu som amadurecer após o sucesso do hit Archie,Marry Me, de 2014, provavelmente teve o processo de criação mais caótico da história da indústria musical. A frontwoman Molly Rankyn que além de cantar e tocar guitarra também é a principal compositora, se viu numa situação difícil logo após o segundo álbum do Alvvays, o Antisocialites de 2017, ser lançado. Mediante a boa recepção da crítica e público, ela estava inspirada e seguiu compondo, mas parte expressiva das composições tiveram de ser refeitas quando um ladrão invadiu o apartamento da musicista canadense e roubou o gravador onde vinha registrando o material. Soma-se a isso uma inundação que quase destruiu os equipamentos do grupo e a impossibilidade de excursionar por conta da pandemia de Covid-19.

Só por conta desses percalços, ao se manterem firmes e obstinados a trazer a vida essas músicas que incorporam Blue Rev já merecem aplausos. Mas precisamos elogiar também esse trabalho por conta de toda qualidade e cuidado depositados aqui na gravação.

O cenário era bem desanimador, mas o que faria qualquer mente fraca vir a desistir não os abalou de forma determinante. Alec O’Hanley (guitarras, teclados, baixo), Kerri MacLellen (teclados, vozes), Sheridan Riley (bateria) e Abbey Blackwell (baixo) que acompanham a guitarrista Rankyn, não deixaram a peteca cair e produziram um álbum grandioso. Com bom ritmo, com sons encorpados em melodias alegres que como todo bom post punk/indie vem junto de letras tristes/depressivas. O Alvvays trouxe um gracejo que já era esperado desde a audição do single Pharmacist, responsável por abrir os trabalhos do disco.

O álbum é barulhento e cheio de camadas. Pelo teor pop adotado no disco, vai passando o tempo e por conta das músicas serem um tanto parecidas, é sentida tanto uma sensação de fluidez quanto a dúvida se estava sendo repetida alguma música. Mas por mais que isso possa soar desanimador, e pensar que são 14 músicas presentes na obra, são menos de 40 minutos sendo tocados – é um disco rápido. O que me fez pensar no popular ditado “só é ruim porque acaba”.

Os grandes destaques aqui ficam por parte da sequência inicial de cinco músicas bem casadinhas e a parte final do álbum. além da já falada Pharmacist, temos After The Earthquake e Tom Verlaine (fazendo menção ao líder do Television) por exemplo que me levaram a ter uma sensação de clima praiano, de uma viagem.

Mesmo tendo um ar mais pesado em sons como na dura Easy On Your Own? e a crítica ao comportamento masculino feito em Very Online Guy, não destoam da existências agradáveis de Many Mirrors e Belinda Says, que tem uma veia bem Fleetwod Mac e Teenage Fanclub pelas divisões vocais e arranjos de guitarra, elas foram o suficiente para me convencer. Já até adicionei as duas últimas na lista de “melhores músicas que já ouvi na vida” e vão passar a andar comigo pra sempre.

Todas as canções tentam ter um lado épico e as vezes pecam no exagero, ficando um pouco gordurosas pelos excessos de sintetizadores e efeitos eletrônicos, principalmente nas bateras que não trazem a pressão que as músicas merecem. Mas num todo, isso não incomoda. Temos aqui um álbum delicioso para aproveitar pelos próximos dias, meses e até por anos sem ficar enjoativo.

Nota final: 8,5/10

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