The Rock list – As melhores cinebiografias do Rock

Por Roani Rock

Cinebiografias certamente viabilizam um maior contato do fã com seu ídolo de uma maneira mais emocional do que em uma biografia ou só ouvindo os discos lendo curiosidades em livros, revista ou na internet. O poder do áudio visual traz a possibilidade de uma aproximação mesmo que em um filme de 1, 2 e as vezes 3 horas com a história do ídolo reduzida ficando difícil de resumir uma vida inteira sem deixar nada de fora. Existe também as questões ligadas a direitos autorais do uso de um nome inviabilizando presença de personagens, fora a liberdade poética do roteiro cortando certos fatos.

Hoje em dia elas ganharam proporções lucrativas e criativas de abordar histórias verídicas ou não tão verídicas assim com maior divulgação e visando cada vez mais trazer não só uma justa homenagem mas também algo interativo e marcante. O estouro de Boheman Rhapsody e o excelente Rocketman tem colido o que a muito tempo vem sendo trilhado nos cinemas. A confecção de cinebiografias abordando história de grandes astros do Rock não é uma ideia resolvida da noite pro dia. Se tem filmes idealizados desde os anos 80, alguns ganhando vida em 90 como é o caso do The Doors, mas, realmente, é do início da década de 2000 para cá que ganharam verdadeiro apreço e financiamento por parte da academia.

Na matéria a seguir lembramos de alguns filmes que fizeram extremo sucesso, seja por recriar registros históricos de maneira competente ou por tratar-se de uma boa produção que viabiliza ver em cenas como aconteceram encontros, confecções de músicas ou filmes que simplesmente serviram para a divulgação da obra de um artista. Também há os filmes que tem justificada sua não fama mediante a erros de roteiro e maneira de abordar os personagens.

Confira a lista:

La Bamba (1987)

Esta é uma das primeiras cinebiografias já feitas. Bem simples e bem no clima dos anos 80, o filme que conta a história de um dos principais músicos da década de 50 é maravilhoso.

O filme fala sobre o jovem cantor Ritchie Valens, descendente de mexicanos e que teve uma carreira breve sendo terminada com um trágico acidente aéreo que o vitimou junto a dois outros que estavam em ascensão, Buddy Holly The Big Bopper. O filme retrata o efeito que a carreira de Ritchie teve nas vidas de seu meio-irmão Bob Morales, sua namorada Donna Ludwig e o resto de sua família.

O filme pode ser taxado de bobo ou leve, mas vista com atenção é notório o acerto da abordagem principalmente da questão xenofóbica e o ponto fraco do cantor com as viagens aéreas junto a problemática ligação de amor e ódio com o irmão encrenqueiro. Por sua carreira ter durado 8 meses e ele ter morrido aos 17 anos, as questões familiares e amorosas do protagonistas foram essenciais para o filme chegar aos seus 108 min de duração.

The Temptations (1998)

Sendo provavelmente a obra cine-biográfica com maior tempo de duração, The Temptations é uma minissérie que a NBC fazia de alguns artistas, além deles teve a do Jackson 5 por exemplo. Mas, esta se torna importante por contar a história do grupo na ótica do único Temptation original vivo, Otis Williams que se mostra como o principal motivo do grupo existir. Esse ponto se destaca para trazer a seriedade quanto ao legado que o grupo da Motown tem e como foi o principal veículo para atingir na década de 90 todos aqueles que não conheciam ou que só conheciam My Girl do repertório.

Não chega a mostrar todas as formações, mas a cinebiografia acerta ao concentrar-se no núcleo considerado clássico e de maior sucesso com Otis (Charles Malik Whitfield), Melvin Franklin (David Bryan “D.B.” Woodside), David Ruffin (Christopher Leon O’Bryant), Eddie Kendricks (Terron Brooks) e Paul Williams (Christian Payton). obviamente a minissérie deu uma visão geral da história do grupo e da Motown, e, graças à conexão de De Passe, o filme conseguiu usar objetos e locais autênticos.

A questão mais elogiável deste projeto é a dedicação dada para representar de maneira rítmica – mas não apressada – todos os acontecimentos importantes da história dos Temptations. O despertar para a música dos garotos, rivalidades, novas formações, a entrada na Motown e todas as mortes que afetaram significativamente o grupo e sua existência. Entretanto, uma série de incongruências históricas foram tomadas para que o filme/minissérie tivesse maior dramaticidade. tais atitudes – como mudar locais das mortes, motivações, até alteração de datas e distorção de fatos – fez o filme tornar-se o mais polêmico dentre todos resultando em processos por parte das famílias de Franklin e Ruffin a Otis Williams inclusive.

Certamente os melhores momentos ficam a cargo das interpretações dos grandes hits e o momento em estúdio. O processo seletivo para hits da Motown é divertidíssimo e serve para mostrar a evolução do grupo assim como a de Smokey Robinson (Erik Michael Tristan) que se desenvolveu como compositor no ponto de apresentar aos Temps a maravilhosa My Girl. Em seguida uma representação da canção feita na tv inglesa mostra sua grandiosidade. Outras canções como Ain’t too Proud The Bag, (I Know) I’m Losing You, The Way You Do the Things You Do, papa was a rolling stone, just my imagination (running away with me), beauty is only skin deep, You’re My Everything ganharam cenas, podendo até chamar de clipes, épicas e bem emotivas todas com relação ao momento vivido pelo conjunto no filme. O filme/minissérie, apesar dos pesares, é pura música e bom entretenimento.

BackBeat: Os Cinco Rapazes De Liverpool (1994)

Este filme é um bom exemplo do conceito de reviver um registro histórico. A turnê selvagem dos Beatles por Hamburgo é sempre apontada como algo que todo o fã gostaria de vivenciar, seja em áudio ou vídeo e porque não em ambos. Apesar de não ter tido um grande orçamento e ser tratado como um filme independente, o filme tem sua verdade.

Backbeat nos apresenta ao primeiro baixista dos Beatles, Stuart Sutcliffe (Stephen Dorff) e como este conseguia ser um artista/pintor de quadros de Londres, sem saber tocar seu baixo para entrar na banda de seu melhor amigo John Lennon (Ian Hart) e viajar em turnê para se encontrar no mundo. O filme aborda essa ligação de Stu e John até a ida para Hamburgo onde o baixista conhece o amor de sua vida, a fotógrafa Astrid Kirchherr(Sheryl Lee). Com a chegada de Astrid e Claus Voormann(Kai Wiesinger), conhecidos como os únicos amigos dos Beatles na cidade alemã, surgem as questões a serem resolvidas pelo protagonista que passou a não saber se viveria sua paixão ou se continuava com os rapazes de Liverpool para se tornar uma estrela conhecida do Rock.

O roteiro original foi escrito por Iain Softley com base em uma série de entrevistas de 1988. Depois de não conseguir financiamento, o roteirista Stephen Ward foi trazido para reescrever completamente o roteiro em 1993. Ward entrevistou Astrid Kirchherr e outros que estavam próximos dos Beatles durante seu tempo em Hamburgo. O projeto foi iluminado naquele ano.

Ver os Beatles antes da fama e poder conferir as versões feitas por uma banda composta por David Grohl (Nirvana), Mike Mills (REM), Thurston Moore (Sonic Youth), Greg Dulli (Afghan Whigs), Dave Pirner (Soul Asylum) e o produtor Don Fleming também é um ponto positivo da ótima escolha da produção de recriar o som já que aquela época dos Beatles é taxada como punk pela crueza, vestimentas de coro e os locais deficientes de boa estrutura sonora.

Paul McCartney que foi interpretado por Gary Bekewell deu sua declaração sobre o filme:

Um dos meus aborrecimentos sobre o filme Backbeat é que eles realmente tiraram o rock ‘n roll de mim. Eles dão a John a música Long Tall Sally para cantar e ele nunca a cantou em sua vida. Mas agora está definitiva em cimento. É como as histórias de Buddy Holly e Glenn Miller . O Buddy Holly Story nem sequer menciona Norman Petty , e The Glenn Miller Story é uma versão em capa de açúcar de sua históra. Agora Backbeat fez o mesmo com a dos Beatles. No entanto, fiquei bastante impressionado com o desempenho de Stephen Dorff como Stu.

Não se sabe da opinião de George, mas Pete Best que era o baterista deles na época e o filho de John, Sean Lennon foram grandes fãs. Sabendo disso tudo deixaria de assistir esse filme?

Hysteria – The Def Leppard Story (2001)

Certamente era a banda que mais merecia um filme sobre a sua trajetória. Eles reúnem vários clichês do Rock e temos que levar em consideração o fator histórico de ser a banda do baterista de um braço só. O caso do acidente de Rick Allen, a superação e apoio incondicional de todos os membros entre si é icônico de mais.

Os atores são muito parecidos com os membros da banda. Orlando Seale representa bem a liderança e todos os visuais do vocalista Joe Elliott, Tat Whalley  tem seu destaque cativando o público trazendo toda carhga dramática que Rick Allen necessitava, assim como Karl Geary interpretando o problemático guitarrista Steve Clark que tem graves problemas com bebidas por conta da baixa estima. Esteban Powell encarnou de forma singular o guitarrista de destaque da banda Phil Collen e Adam MacDonald não tinha muito o que apresentar já que seu personagem, o baixista Rick Savage, sempre foi o mais contido.

Uma das cenas mais interessantes – fora as tragédias – é certamente quando a banda está gravando os vocais para a música Bringin’ On the Heartbreak com o produtor Mutt Lange (Anthony Michael Hall) para o álbum High n’ Dry. A cena da banda de volta aos palcos após a recuperação de Rick Allen também é emocionante.

24 Hour Party People (2003)

Essa cinebiografia é interessante pois não é focada em uma banda e mostra grandes fatos do rock da década de 80 e 90. O filme aborda a vida do, primeiramente, festeiro Tony Wilson (Steve Coogan), apresentador de um programa de música que cria festas homéricas com bandas independentes em Manchester. Depois de notar sua vocação para a coisa, vira empresário musical assessorando bandas como Joy Division, A Certain Ratio, Vini Reilly e Durutti Column.

O filme é uma dramatização de eventos reais e simbólicos: Wilson, foi um repórter da TV Granada, e após assistir a um show dos Sex Pistols em Manchester no ano de 1976, decide organizar a noite da Factory, festas que ocorriam no Russel Club. Pós ver a capacidade de empreender festas e agenciar as bandas citadas, Tony se junta com Alan Erasmus e convoca o produtor Martin Hannett para a criação da gravadora Factory Records.

Com o suicídio de Ian Curtis, no auge do Joy Division,ele começa a buscar novos sons já que o punk não tinha a mesma força tendo sido ultrapassado. Começa então o cenário das Acid Houses com as músicas dance/tecno. Tony cria a boate Fac 51 Haçienda ou simplesmente Haçienda. Pós essa mudança drástica em sua vida, a história leva o empresário a conhecer no fim dos anos 80 os garotos que viriam a se tornar a banda Happy Mondays. Eles representaram a parte mais lucrativa e louca da Factory records como também o principal motivo da decadência, tanto do nome da gravadora quanto da questão financeira. E o filme acaba com o produtor se refazendo e vendendo sua gravadora.

A cinebiografia termina sendo uma das primeiras a usar a framing narrative tipo de meio para se contar uma história que foi usado recentemente para o filme Rocketman que conta a vida de Elton John. Apesar de deixar alguns grupos de fora e dar pouco espaço para o New Order o filme retrata fielmente a Manchester da época e os Happy Mondays ficaram muito fidedignos. Bom filme para se entender como funcionava não só uma geração, mas duas. os anos 80 e 90 foram bem registrados.

É um registro histórico que a crítica viu com bons olhos, representatividade de uma época que de obscura ficou iluminada pelas drogas e mudança do cenário da música em três décadas diferentes.

Ray (2004)

Uma obra de arte da década de 2000. O premiadíssimo Ray dispensa comentários. Abordando Ray Charles desde a infância complicada quando perdeu o irmão mais velho e desenvolve a cegueira, a descoberta de sua vocação para a música até chegar ao ponto em que foi o artista negro mais impactante de sua época tanto para o R&B americano quanto para o público mundial, Ray é a personificação da cinebiografia perfeita.

O filme consegue ser abrangente em diversos temas, não só a questão do músico Ray Charles, mas também do homem e a representatividade que tivera de desempenhar por ser não só negro mas também cego, ou seja, parte de dois grupos seletos de excluídos da sociedade que na época sofriam com a questão segregacionista.

Há um equilíbrio impactante no roteiro de Taylor Hackford (que também dirigiu o longa) e James L. White para a formação do personagem Ray Charles. Sua carreira de músico bem sucedida e o preço da fama, com acesso a drogas, que fazem o homem transformar-se completamente em um viciado em heroína sem muito amparo, tornando-se um solitário mesmo que casado e com (muitos) filhos. O drama do filme é intenso, o que justifica Jamie Foxx ter recebido o Oscar de melhor ator.

Também é importante falar do empenho de Jamie para interpretar as músicas realmente tocando e cantando elas. Para tal, teve o acompanhamento do verdadeiro Ray Charles. o personagem central acompanhar o ator dando feed back foi essencial para o sucesso do filme. O sucesso também se deve ao fato da infeliz questão de que o verdadeiro Ray Charles haveria de falecer no mesmo ano da estreia do longa nos cinemas.

Walk The Line ou Johnny e June (2006)

Na onda de Ray que faturou o primeiro Oscar para uma cinebiografia, Walk the Line ou Johnny e June – no título em português – veio com a missão de potencializar este tipo de vertente da dramatização cinematográfica.

Incrivelmente a proposta de ter um longa sobre a vida de Johnny Cash foi recusado por 6 produtoras: a Sony Pictures, Focus Features, Columbia Pictures, Universal Pictures, Paramount Pictures e Warner Bros. O filme demorou 8 anos para sair do papel. Um dos motivos da demora foi a questão da liberação dos direitos de adaptação para o cinema pedido pelos produtores ao autor James Keach, que era amigo pessoal da família Cash, isso durou quatro anos. Após isso, demorou 4 anos para que o filme fosse feito.

Assim como Ray, Walk the Line segue os moldes de uma biografia padrão. Começa mostrando a infância do personagem central Johnny Cash (Joaquin Phoenix), um drama marcante que influenciaria o resto de sua vida, aqui no caso a morte do irmão mais velho que era o xodó da família e por fim seu primeiros contatos com a música na voz de June Carter. O pulo para a ida de Cash ao exército na adolescência é importante porque mostra ele desenvolvendo seu lado compositor e seu encontro com sua primeira esposa.

A maior diferença mediante ao filme do Ray Charles que era negro e cego – o que levava a história a ter certa carga mais pesada por essas questões – é o fato de que Johnny Cash era branco e caipira e não ter a questão racial e preconceito. Isso pode levar Walk The Line a explorar questões mais sentimentais. Apaixonado desde a infância por June Carter – uma celebridade gerada muito cedo como cantora e comediante – faz Cash ao se encontrar com ela em uma turnê da Sun Records ao lado de figuras como Elvis Presley e Jerry Lee Lewis, ficar fora de si e o filme passa a tomar uma aura de romance além de drama.

Coisas importantes e cruciais na carreira dos dois são mostradas no filme: Como começaram a namorar, conflitos com os antigos conjugues com Johnny sendo colocado a ponta pés para fora de casa, a ida de Johnny para a fazenda de June e fazer lá seu tratamento contra o vício em pílulas, a turnê em presídios e claro o pedido de casamento em cima do palco em um show no Canadá no ano de 1968.

Uma semelhança com Ray é que os atores de Walk The Line tiveram contato pessoal com seus personagens e interpretaram as canções ao vivo sem playback da gravação original. Joaquin Phoenix foi escolhido pelo próprio Johnny Cash para interpreta-lo e Reese Witherspoon foi escolhida a dedo por June Carter Cash. Eles passaram por 6 meses de aulas de canto com o produtor musical T-Bone Burnett e o resultado foi excelente.

Stoned – A História Secreta Dos Rolling Stones (2006)

Perturbador filme que além de ser uma cinebiografia entra fácil no catálogo de investigação policial porque deixa subentendida a verdade sobre a morte do primeiro guitarrista e líder dos Rolling Stones, Brian Jones.

Nem todo mundo sabe quem é o loiro que fez parte dos Rolling Stones durante a década de 60. Quem só conhece Satisfaction ou o Mick Jagger por ser pé frio no futebol então tá mais longe que um fã novato dessa clássica banda de rock. Bem, Brian Jones é a razão pela qual o Rolling Stones foi formado. Ele era conhecido pela sua versatilidade musical, tocando vários instrumentos diferentes, ainda que se tenha notabilizado como guitarrista de Blues. Ele também é a personificação da ignorância e do egocentrismo que, com o abuso de drogas, cresceu em sua personalidade.

Toda via, o filme não se trata só sobre o guitarrista apenas. É uma ficção histórica, tendo como premissa a ideia de que Jones foi assassinado por Frank Thorogood, um construtor contratado pelo empresário dos Stones Tom Keylock para renovar e melhorar a casa de Jones, a Cotchford Farm, cujo o morador anterior foi o escritor AA Milne que escreveu os livros do Ursinho Pooh. Engraçado que ao fim do filme há um epílogo fantasma onde Jones volta à terra, para agradecer ao chofer / motorista Tom Keylock – não Thorogood – por transformá-lo em um mártir imortal. 

O filme traz questões importante como o fato de que Jones ser um nadador olímpico na escola o que não justificaria afogamento natural, apesar da imagem de usuário de álcool e drogas pesadas dele, assim como suas relações bem sexuais com Anita Pallenberg (Monet Mazur) e Anna Wohlin (Tuva Novotny). A presença dos outros Stones é bem pequena, se destacando apenas a cena em que Jones é demitido da banda em 1969. O que de cara considero um erro já que o guitarrista e Keith Richards eram muito amigos. O filme basicamente só mostra o desprendimento de Jones ao deixar Anita se relacionar com Keith.

O filme é bom, poucas músicas dos Stones, mas o lance solo instrumental de Brian Jones para a trilha sonora de um filme é mostrado. É uma obra que tem esse fator de colocar os pingos nos “is” e ao mesmo tempo colocar mais interrogações quanto a misteriosa morte fatídica do fundador dos Stones.

Control (2007)

Control é um filme de 2007 de Anton Corbijn rodado em preto e branco. É um filme biográfico sobre a vida e a morte de Ian Curtis, vocalista da banda inglesa de pós-punk Joy Division. Isso poderia ser o suficiente para falar de um filme tão icônico e diria até perturbador.

As informações são bem explicitadas, os motivos das decisões para o filme, como o caso de ser todo em preto e branco são nítidos, há começar por Ian Curtis não ser um personagem qualquer. Tendo tido a epilepsia como parte de sua vida, desfunção ética e ao mesmo tempo sendo um gênio sombrio, o líder do Joy Division é mostrado no filme como um cara desmotivado, descrente de tudo que só tinha uma paixão que era a música.

Introspectivo e bem silencioso, o filme é agoniante até nos momentos em que há uma aura cômica no ar, como na cena recriada com a presença de Tony Wilson (Craig Parkson) na assinatura do contrato da Joy Division com a Factory Records a base do sangue do produtor.

Em julho de 1976, eles vão a um concerto dos Sex Pistols com Bernard Sumner (James Anthony Pearson), Peter Hook (Joe Anderson) e Terry Mason (Andrew Sheridan), que estão montando uma banda; encantado pelo que viu no concerto, Ian se propõe a ser o vocalista da banda. Eles nomeiam a banda Warsaw(que depois termina se tornando o nome de uma música do grupo), e Terry assume o papel de empresário com a adição do baterista Stephen Morris (Harry Treadaway). A banda estreia em 19 de maio de 1977 e muda de nome para Joy Division. Ele gasta suas economia e as de sua namorada Debbie Woodruff para gravar as faixas do primeiro álbum.

A partir dai o filme passa ter mais seriedade. Em dezembro de 1978, Ian sofre um ataque convulsivo na estrada, quando a banda voltava de carro do primeiro concerto em Londres. Ele é diagnosticado com epilepsia e recebe medicações que o deixam sonolento e sem ânimo. Ao saber que uma amiga chamada Corinne morreu após um ataque convulsivo, ele compõe a canção She’s Lost Control maior sucesso do Joy Division. Ian começa a ignorar Debbie, que dá a luz à filha do casal, Natalie, em abril de 1979. Ian deixa seu emprego para sair em turnê e sua mulher Debbie fica só para trabalhar e ao mesmo tempo cuidar do bebê.

Essa relação conflituosa é bem explorada durante o filme todo. O alcançar o sucesso faz Ian entrar em pânico, começa a agir de maneira descontrolada, tratando mal namorada e colegas de banda até o ponto em que, prestes a iniciar uma turnê norte americana, comete suicídio. A agonia persiste neste momento, você chega a captar as vozes que perturbavam Curtis vendo a atuação de Sam Riley.

O filme categorizado como “eletrizante” pelo Empire, “soberbo” pelo The Guardian, “extraordinário” pelo The Independent, traz uma atmosfera que o torna um dos melhores filmes do gênero cinebiografia.

Tim Maia: O Filme (2014)

“Vou pedir pra você voltar.Esse filme é um processo nostálgico e um bom registro biográfico e histórico apesar de haverem inverdades e pontos de discordância. Recria muito bem o Brasil da década de sessenta e setenta, explorando pouco os oitenta. O filme é bem engraçado mas aborda momentos sérios da vida de Tim. A recriação de caras como Carlos Imperial foram importantes para a qualidade do longa, entretanto este filme é mais um caso de exageros a favor do roteiro.

Não se teve a presença de grandes nomes do soul brasileiro, como Hyldon que criticou fazerem uma imagem violenta do Tim. Focaram muito na amizade dele com Fábio e esqueceram de outros como Erasmo e até Jorge Ben com quem Tim chegou a dividir os palcos.

Considero a melhor cinebiografia de um músico dentre as brasileiras já feita. Se teve bastantes mini-séries mas soaram mais como novelas do que um verdadeiro registro para representar a história, muito drama. Teve antes do filme do Tim a biografia de Cazuza que apesar de boa deixa de fora Lobão e Ney Matogrosso (o primeiro grande amigo e parceiro musical e o segundo chegou a ser namorado de Cazuza), faz uma distorção do Frejat e o roteiro é meio farjuto apesar de ter grande interpretação de Daniel de Oliveira como Cazuza e do ator Emílio de Mello que interpretou o jornalista e produtor musical Ezequiel Neves.

Voltando ao Tim Maia, apesar da escolha de usar Janaína (Alinne Morais) para representar mais de uma mulher que passou na vida do cantor, o longa dá para as pessoas que não viveram a década de 70 e 80 um gostinho do que era estar num show do Tim Maia principalmente na cena em que se canta “Você”. Músicas como ela partiu também se tornaram mais conhecidas graças ao filme. E só isso valeu o ingresso do cinema e vale a assistida.

Love & Mercy (2015)

Este filme é importante para entender como é a transformação de uma pessoa mediante as consequências da vida. É um drama aos moldes clássicos tendo como diferença maior ser sobre o responsável pelo sucesso dos Beach Boys.

Love & Mercy como o próprio título sugere, é íntimo e mais profundo que uma cinebiografia qualquer. Tem a função de trazer uma visão de um caso real na vida de um jovem músico que foi muito afetado por sua década aliado ao que ela poderia proporcionar, contrastando com as consequências em sua vida adulta, a queda e em seguida o reerguer.

Philip Seymour Hoffman diretor que foi um ator premiadíssimo fez essa declaração sobre cinebiografias falando especificamente sobre Love & Mercy.

Você pode ser mais aventureiro com a estrutura do filme pois músicos criam estruturas, personalidades e personagens, porque são artistas… Você não está apenas tentando contar uma história, você está também tentando criar o equivalente cinematográfico da música do homem. 

O filme sobre a vida do músico/compositor Brian Wilson não traz uma narrativa linear, ela intercala a fase bem sucedida do fim da década de 60 dos Beach Boys, quando Brian idealiza criar o “maior disco que já foi feito”, Pet Sounds e fazem questão de mostrar o processo de criação do álbum – algo que qualquer fã gostaria de ter mais acesso em imagens reais de arquivo – mostrando também a relação complicada com seus companheiros de banda que não o entendiam e o pai/gerente que o diminuía, causando traumas e ataques de pânico. Em contraste tem sua versão adulta nos anos 80 como um homem de meia-idade confuso e doente, abandonado pela família e sob o controle médico e legal do abusivo psiquiatra DrEugene Landy.

É mais um filme que trata sobre o homem e não sobre o músico. É legal ver a relação de Brian com sua salvadora, a vendedora de automóveis de luxo Melinda Ledbetter. Ver o amadurecimento do relacionamento e como Brian e ela fazem a jornada do “viveram felizes para sempre” beira a perfeição. Engraçado que é quase um filme renegado que teve pouca divulgação, mas, se levar em consideração que desde 1988 o projeto e ideia estão engavetados, foi bom terem esperado o roteiro de Oren Moverman e direção de Bill Pohlad, chegarem nos anos 2010 para produzirem de forma grandiosa seguindo orientações de Brian e sua esposa.

Get on Up – A História de James Brown (2015)

Poderia ser um filme idêntico ao de Ray Charles por conta de James Brown também vir de uma origem parecida, cada um com sua particularidade. Mas o filme do diretor Tate Taylor para o padrinho do soul é muito diferente e diria que é por conta dele ter sido sempre diferenciado.

O filme já é excelente por ter Chadwick Boseman, que viria a se tornar o herói Pantera Negra, como James Brown. A cinebiografia tenta refazer o trajeto do seu biografado a partir de retalhos sem ordem cronológica.

James Brown é mostrado como um velho louco nos anos 80, como um órfão de um lar disfuncional, como promessa gospel em 1950, como inventor e disseminador do funk nos anos 60 e 70, tornando-se assim o Padrinho do Soul – tudo ao mesmo tempo o que dá abertura para se ter muitos furos de roteiro mas que em outra ótica podem representar como a cabeça dele funcionava.

Não se trata de uma obra de arte cinematográfica, mas a parte que condiz como biografia é excelente pela forma de ser contada a história. Filmes que fazem o personagem refletir sobre o passado me soam mais interessantes do que os que se prendem a contar timtim por timtim da trajetória do biografado deixando coisas de fora por não caberem no tempo em que é dado para obra. O filme sobre James Brown é contado em primeira pessoa, o ator Chadwick é filmado sempre frontalmente, vez ou outra dialogando direto com a câmera, isso traz a tentativa de domínio para segurar o enredo todo pra si, isso ao meu ver funciona bem.

Há uma ideia em uso aqui: a do homem que se isolou por aprender cedo a não depender de ninguém. É uma ideia de evidente carga dramática, e de fundo social mas que dificulta a compreensão do filme e não do personagem. Fica confuso se o diretor quis fazer um filme vazio ou se quis mostrar o quanto James Brown era uma pessoa que se isolava. A verdade é que retrata a falência do “sonho americano” mostrando como ter muito dinheiro e sucesso não garantiram a um negro americano sua liberdade.

Unica relação do personagem central com outra pessoa sendo bem estabelecida, podendo causar alguma comoção, é a do padrinho do soul com Bobby Byrd (Nelson Ellis), o cara responsável por tirar James Brown da cadeia e dar o primeiro contato do cantor com o show business. A presença de Dan Aykroyd como o empresário Ben Bart também é muito boa assim como é importante ver Viola Davis como Susie Brown, mesmo que sem muito destaque. O elenco é de peso!

O filme foi patrocinado por Mick Jagger dos Rolling Stones e os fatos históricos mais importantes da vida de James Brown como o show para o exército americano no meio da guerra do Vietnã são mostrados. Sua participação no T.A.M.I SHOW antes dos Rolling Stones, a sua cena na Ski Party, seu histórico show no Boston Garden em homenagem a Martin Luther King, nenhum fato dos mais marcantes foi posto de lado, por conta disso, o filme vale por cada cena.“Sing and loud, i’am Black and proud!”

Lords of Chaos (2018)

Filme biográfico e de terror sobre o líder da banda Mayhem, o guitarrista Euronymous e posteriormente sobre Varg Vikernes, multi-instrumentista que é uma figura central pra trama assim como o guitarrista. O filme foi dirigido por Jonas Akerlund e escrito por Dennis Magnusson e Akerlund. A obra foi Adaptada do livro de mesmo nome de 1998, o filme funciona como um relato semi-ficcionalizado da cena do black metal norueguês do começo dos anos 90, sob a ótica doco-fundador da Mayhem , Euronymous.

A banda é conhecida por ter na capa de seu primeiro disco de 1991 a foto do corpo do vocalista Dead pós suicídio do mesmo. Diz a lenda – apresentada no filme – que Euronymous encontrou o corpo com a cabeça do vocalista estourada com os braços cortados. O guitarrista saiu comprou uma máquina de fotografar, tirou as fotos e comeu alguns miolos do amigo.Só do filme mostrar essa cena já é algo macabro e interessante o suficiente. mas como se isso não bastasse o filme mostra a vida do guitarrista com sua loja de discos para divulgar o Black Metal, a confecção da seita macabra de adoração ao Diabo, a entrada de Varg na vida do guitarrista e a transformação que este teve ao tornar-se um sociopata incendiário de igrejas, por fim sendo o causador do assassinato de Euronymous.

mas como se isso não bastasse o filme mostra a vida do guitarrista com sua loja de discos para divulgar o Black Metal, a confecção da seita macabra de adoração ao Diabo, a entrada de Varg na vida do guitarrista e a transformação que este teve ao tornar-se um sociopata incendiário de igrejas, por fim sendo o causador do assassinato de Euronymous.

O filme é bem agoniante, principalmente se você procurar depois as informações e ver que tudo que Varg fez é real e ler sobre o depois do filme para o Mayhem e seu legado que é cultuado até hoje.

Se gostaram dessa lista leiam também nossa crítica quanto as cinebiografias mais recentes que não entraram nessa lista, clicando em cima de The Dirt e Rocketman.

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