Review: Sound Scars – Legacies

Um disco de metal não tão usual, mas cheio do que faz o metal ser tão precioso. O diferencial está nas letras e em como é conduzida a história. O cuidado de Rubem Barreto com arranjos e na escolha dos interpretes das músicas contrastam a dedicação ao material.

Roani Rock

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Gênero: Heavy Metal/metal progressivo
País: Brasil


A sensação de já ter escutado antes não é por acaso. Em termos sonoros, temos muito do metal tradicional, do progressivo e um tanto do avant-garde que mistura de tudo do metal.

Na primeira ouvida, escutei referências tanto a Dream Theatre quanto a Testament, System Of Down, e porque não ao Avenged Sevenfold. Mesmo se nenhuma dessas bandas tenha sido usada como fonte, pra mim foi como estar escutando ao menos sons agradáveis vindos desses caras. Não necessariamente “comerciais”, mas as músicas que compõem o álbum fazem sentido e atingem o objetivo que é tornar o assunto melodicamente capaz de conduzir as histórias das faixas.

A “brisa” e o diferencial do Sound Scars, trabalho primoroso de Rubem Barreto é o seu conceito, que apesar de cantado em inglês por uma quantidade de vocalistas do underground carioca, tem uma abordagem bem identificável que atinge de forma um tanto reflexiva o ouvinte.

Aqui temos letras que retratam o Brasil. Elas não vem de maneira simples, falam sobre o chamado “pulmão do mundo” e o seu “câncer”, os causadores do seu mal, o ser humano. Um bom exemplo disso está em Ashes to Ashes. As demais músicas, que não tratam sobre o “âmbito nacional”, ainda tem como cerne o que realmente remete a medo e a cicatrização das dores que ficam depois de “saradas”, marcadas na pele. As sensações e situações que tornam o ser humano o pior dos seres que respiram e que fazem “o mundo girar”, deixando o título do trabalho, Legacies ou “legado”, com o sentido tristemente nítido.

Claro que temos potenciais hits aqui, mas Legendary Tales, que aborda o nosso folclore brasileiro trazendo a história do Curupira  e do Pirarucu, é uma daquelas porradas que nos fazem refletir sobre os males dos seres humanos, é a que mais me encantou. O vocal de Anna Porreca cantado em dobra, e ser sonoramente parecido com algo que o Angra faria, com a introdução com um pandeiro tocado por Celo Oliveira (outra figura muito importante em todo o álbum, mas principalmente aqui com solo de flauta inclusive), fazendo menção ao Samba, se distanciando de todo o álbum, simplesmente me faz adorar ser surpreendido.

Os potenciais hits ficam a cargo de Ashes To Ashes que é uma das faixas mais interessantes por ter várias camadas e andamentos, indo da calmaria a tempestade num piscar de olhos, fora a letra que é a melhor do álbum, não só por falar da Amazônia, mas por conta disso também. Wind, Wave and War me fez pensar no Scorpions, uma abertura com bastante cuidado e esse clima medieval que em muitos estágios preparam pra uma porrada com riffs e solos marcantes. Leandro Felicio e Lorena Tato trazem todo o clima da música divinamente também com suas vozes.

Sunrise, por se tratar de uma balada, também me cativou bastante. Tudo encanta, os arranjos de Rubem junto ao piano e teclados de Celo Oliveira, a voz leve e ao mesmo tempo cheia de peso por parte de Gabby Vessioni emociona bastante. Seria facilmente usada para o final de um filme ou anime, e isso está longe de ser algo negativo. A faixa é certamente a mais marcante do álbum, e pra mim pra o único erro é ela não fechar o disco.

De forma geral, Rubem e Celo produziram músicas fortes o suficiente para perpetuar no âmbito do metal. Os vocalistas escolhidos a dedo também dão a apimentada que faz jus ao investimento. Provavelmente é o trabalho da vida de Rubem e isso tem que ser reverenciado.

Nota final: 08/10

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