Review: NoSunnyDayz – The Gray, The Black and What We Expect

Uma estreia irresistível com todos os motivos para apreciação: riffs “sabbathicos”, solos de guitarra inspirados, um vocal rasgado com altos decibéis de potência, uma cozinha de baixo e bateria que transformam tudo em movimento e balanço, muita distorção e repleto de alma. O encontro do Clássico com o moderno, para o metal brasileiro rejuvenescer sem perder as raízes.

Roani Rock

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Gravadora: Independente
Data de lançamento: 17/11/2023

Gênero: Metal
País: Brasil


Vivemos numa época bem plural da música, onde o passado e o moderno se conversam de forma dinâmica. No final dos 80 e início dos anos 90, surgiram as primeiras bandas brasileiras de metal que tiveram uma repercussão internacional. Isso ocorreu não só pela novidade da mistura dos ritmos típicos do brasil com o gênero mais bruto do rock do ocidente, mas também por conta de serem músicas cantadas em inglês, o idioma mais falado pelo mundo.

o Sepultura trouxe o que é realmente “roots” com batuques inspirados no Olodum para toda uma geração “trash” e o Angra trouxe ao menos uma “Nova Era“, com referências nordestinas também como baião em diversos de seus sons. Renato Russo no acústico MTV da Legião Urbana elogiou os caras do Sepultura, mas disse que para ele não funcionava aquela fórmula, porque ele achava que “por ser brasileiro deveria cantar em português”. De lá pra cá, diversas bandas exploraram o inglês e estão se destacando, como acontece com a Crypta e o Black Pantera. Essa última fazendo a mescla de músicas cantadas em português e outras em inglês no mesmo álbum.

Todavia, sempre rola essa discussão: “bandas brasileiras que cantam em outra língua representam o Brasil?”. Retoricamente, acredito que sim, principalmente se ela falar sobre o cotidiano e realidade daqui, coisa que a NoSunnyDayz fez dignamente em sua estreia The Gray, The Black and What We Expect. Um álbum visceral que traz questionamentos frente ao compromisso com a liberdade, a criatividade e a natureza humana, conversando até certo grau com a realidade carioca, do Rio de Janeiro, terra onde o quarteto foi formado.

A banda que em sua essência é puro metal setentista, flertando com o som grunge moldado nos noventa (mas ao mesmo tempo soando bem moderno), é composta pelo guitarrista Hugo Rosas, o baterista Raul Fontenelle, o baixista Rodrigo de Andrade (conhecido pela alcunha de Elefante Cinza que foi responsável pela mixagem e masterização), que também gravaram os vocais de apoio na obra. Os caras tem seu “NoSunnyDays” fechado pela frontwoman, da voz fora dos padrões convencionais, Nina Pontes. Uma mescla de pessoas distintas, mas unidas no underground pela mesma vontade de trazer um som autêntico e poderoso.

Sobre The Gray, The Black and What We Expect, cada música presente na tracklist possui uma mensagem potencializada pelo instrumental. Bem construído, o álbum que rola de forma fluida traz em The Jar, Mantra, Meritocracy Wears Boots, An Easy Way (minha preferida) e Contagious uma agressividade regida por riffs brutais com solos de guitarra regozijantes, que aliados ao drive presente no vocal de Nina, fazem as letras irem pra esse lugar questionador com mais força e veracidade.

Guilt and The Shame que é uma das músicas de mais nuances do repertório, About-Human forte faixa com um arranjo industrial moderno e No More Lies algo mais californiano que me levou a linkar ao Red Hot Chilli Peppers, trazem uma agonia em suas letras, num mix de suavidade e potência por parte da interpretação da vocalista, com guitarras cristalinas e solos profundos/apaixonados por parte de Hugo, que conseguem deixar um bom destaque para o baixo e batera, agora bem audíveis tendo seus merecidos destaques igualmente virtuosos, acabando com a falsa impressão de protagonismo da voz e guitarra que rola nas músicas mais pesadas; todos tem sua parcela de prestígio técnico de forma impressionante durante todo o álbum.

Voltando àquela questão explorada no início do review sobre “bandas brasileiras cantando em inglês”, a NoSunnyDayz dá um basta mostrando que essa discussão não leva a nada. A partir do momento em que no mesmo álbum temos a faixa de abertura You Have A Piece On Me e a sua versão em português “Você Tem Um Pedaço de Mim” fechando o disco, trazendo a sensação de “faixa bônus”, chegando na mesma pressão em suas duas versões que na parte instrumental começam de forma “Hendrixiana” inspiradoras por parte do guitarrista Hugo para depois passarem por uma transformação pesada e suja que nos remete ao Alice In Chains, comprovam assim que a mensagem quando vem da alma fica indiferente o idioma, o importante é como direciona o papo e como é recebido o que é cantado.

Nota final: 8/10

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