Por Lucas Santos e Roani Rock
Eu gostei muito dos riffs e principalmente da produção de 72 Seasons. (Lançado pelo selo Blackened Recordings que é da própria banda) o que deve ajudar bastante na liberdade criativa e de exploração. Aliás, riffs e mais riffs e mais riffs, nessa altura do campeonato alguém duvida que James Hetfield seja um dos melhores da história nesse departamento? É um melhor que o outro!
Lucas Santos
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Gravadora: Blackened Recordings Inc
Data de lançamento: 14/04/2023

Gênero: Thrash Metal
País: Estados Unidos
O Metallica está com um novo disco de inéditas após passar 7 anos sem lançar alguma novidade. Em meio a um tempo em que o Iron Maiden e Ozzy, que são outros gigantes do metal, lançaram bons álbuns recentemente (Senjutsu (2021) dos ingleses e Patient Number 9 (2022) do príncipe das trevas respectivamente), a banda de James Hetfield, Lars Ulrich, Kirk Hammett e Robert Trujillo estava em meio a tour gigantesca e comemorações das glórias do passado com uma edição especial de aniversário do Black Album, aquele responsável por fazer os americanos se tornarem um dos principais e mais bem sucedidos nomes do Metal.
72 Seasons vem depois dessa ressaca com a missão de botar a banda de volta a boa forma, mas também vem carregado da vida pessoal do vocalista e guitarrista James Hetfield, que nestes sete anos passou por bastante coisa além da trava nos tempos pandêmicos da Covid 19. Ele passou por uma recaída no álcool, reabilitação e depressão após ter se divorciado da figurinista Francesca Tomasi, sua esposa por 25 anos, em 2022. Em função disso tudo, o título do novo álbum, “72 Seasons” (72 Estações), reflete bem o que o frontman abordaria nas músicas. Cada ano tem quatro estações – primavera, verão, outono e inverno – e as primeiras 72 dessas fases de uma pessoa correspondem aos seus primeiros 18 anos: infância e adolescência.
72 estações. Os primeiros 18 anos de nossas vidas que formam nossos ‘eus’ verdadeiros ou falsos. O conceito de que nossos pais nos explicam ‘quem nós somos’. Uma possível categorização sobre qual tipo de personalidade nós temos. Eu acho que a parte mais interessante disso é o estudo contínuo dessas crenças principais e como isso afeta nossa percepção do mundo atualmente. Muito de nossa experiência adulta é uma reencenação ou reação a essas experiências da infância. Prisioneiros da infância ou libertados daquelas amarras que carregamos.
James Hetfield em release do álbum presente no site da banda, 2023

Roani Rock:
Muitos podem considerar o álbum como “mais do mesmo” ou como colocou a Folha de São Paulo “caricatura de si mesmos“, mas ao meu ver o disco é tudo menos caricato. Mas na verdade, temos aqui um trabalho mais despojado e cheio de significado. Em termos de riffs e harmonias não parece tão inspirado quanto álbuns anteriores e mais marcantes, me parece até uma continuidade do que foi feito em Hardwired…To-Self Destruct (2016), mas ao mesmo tempo soa mais garagem. Acredito que a ideia de Hetfield foi trazer vitalidade as canções e por isso temos solos bastante inspirados por parte de Kirk Hammett e na faixa final do disco Inamorata uma forte presença de Trujilo, por sinal, essa pra mim é a faixa determinante do novo trabalho.
As letras tem algo bem intrigante, You Must Burn! por exemplo usa a metáfora da “caça às bruxas” para falar do diferente, do que foge do padrão, seja ele qual for. Lux Æterna, que foi o primeiro e principal single do álbum, versa sobre a adrenalina que a música e os shows ao vivo trazem e que são capazes de ser as válvulas de escape ideais contra a depressão e outras questões psicológicas. Não a toa ela fica de forma estratégica no meio do álbum para dar uma balanceada na pegada do álbum.
Infelizmente sentimos o quanto Lars hoje em dia sofre para tocar, mesmo que tenha muita presença não há tanta precisão, o que deixa soar tudo mais natural ao menos. Dá pra sentir a inspiração de Motorhead e Thin Lizzy de forma bem estridente. Além das já citadas, fiquei fã absoluto da faixa título e das raivosas Sleepwalk My Life Away, Room Of Mirrors e Chasing Light que me remeteu a Fuel, música presente no álbum Reload (1997), por começar com a voz potente de Hetfield e também ter um refrão forte.
Lucas Santos:
Metallica… Como é difícil falar, opinar e escrever sobre. A fato de que eles lançaram o último trabalho de grande impacto lá nos anos 90, mas que mesmo assim só apresentam um aumento de popularidade nos anos seguintes, sempre me intrigou muito. Seja pelo fato de Master Of Puppets aparecer em Stranger Things, ou as imensas turnês mundiais que perpetuam há bastante tempo, ou até pelas “tretas” de bastidores, que seguiram a destrutiva carreira da banda em seu início, mas de que alguma forma parece que nunca foram esquecidas pela imprensa ou pelos fãs. O fato é que o Metallica sempre seguiu muito relevante nos holofotes do metal, mesmo que musicalmente não tenha registrado nenhum trabalho para tal nas últimas décadas.
Sim, 72 Seasons é muito bom. Há alguns requícios de Hardwired… To Self-Destruct (2016) – que também é um excelente álbum. – Me lembro de na época ficar muito empolgado com o disco. Eu gostei muito dos riffs e principalmente da produção de 72 Seasons. (Lançado pelo selo Blackened Recordings que é da própria banda) o que deve ajudar bastante na liberdade criativa e de exploração. Aliás, riffs e mais riffs e mais riffs, nessa altura do campeonato alguém duvida que James Hetfield seja um dos melhores da história nesse departamento? É um melhor que o outro! Eu destaco a dobradinha de entrada 72 Seasons, Shadows Follow (minha favorita de todo o álbum) e Crown Of Barbed Wire.
Lars, Trujillo e Kirk seguem muito coesos, e as músicas funcionam bastante. A vibe oitentista é nítida, e as referências citadas pelo Roani em sua parte do texto são bem claras e muito bem vindas também. James Hetfield, disse que seu 11º álbum de estúdio está enraizado no passado, e seu título é uma referência aos “primeiros 18 anos de nossas vidas, que formam nosso verdadeiro ou falso eu… Grande parte de nossa experiência adulta é reencenação ou reação a essas experiências de infância”. Em 2019, Hetfield entrou na reabilitação novamente, uma experiência que informa claramente uma parte das letras de 72 Seasons. “Temptation, temptation” ele continua repetindo enquanto If Darkness Had a Son entra em ação. Too Far Gone?baseia-se no princípio dos Alcoólicos Anônimos de abordar a recuperação um dia de cada vez. Chasing Light traz um sentimento mais profundo de isolamento.
Ainda com tempo para digerir, mas certo que 72 Seasons segue a que eu chamo de: “Segunda melhor fase do Metallica“, muito consistente. Uma dose de nostalgia que vai do Black Album até os anos 80, e com uma vibe e energia muito fartas e prazerosas. Será que 72 Seasons consegue fazer o Metallica ser maior do que já é? Será que isso é possível?!
Nota final: 8/10