Revisando Clássicos: Red Hot Chilli Peppers – Blood Sugar Sex Magik

Bem vindos a mais um revisando clássicos, aqui analisamos discos atemporais que, de alguma forma, marcaram a história da música de maneira revolucionária. Traremos uma introdução ao álbum contando fatos que o fizeram importante para a carreira da banda, um faixa-a-faixa e por fim, citações das principais mídias especializadas em reviews. Hoje vamos falar do disco que iniciou a febre ao som do Red Hot Chilli Peppers, Blood Sugar Sex Magik foi aquele que consolidou o nome da banda no mainstream.


INTRODUÇÃO AO ÁLBUM


A década de noventa foi fatalmente a mais agregadora para os subgêneros do rock e o ano de 1991 é logo de cara aquele que catalisa a chegada de novas tribos e representa a magnitude de todos que já vinham em crescente na década de 80. Os anos oitenta preparou o terreno com o hard rock, o glam metal dominou por um bom tempo as paradas e tinha o pós punk correndo por fora. Nesta época também era comum ver os ícones destes gêneros aparecerem nos noticiários tanto pelos lançamentos de disco tanto por excessos de drogas, violência, arruaças… e por decorrência disso, tragédias.

No ano de 1980 em maio, o vocalista do Joy Division cometeu suicídio, Ian Curtis tinha epilepsia e passava por um processo de divórcio. Os remanescentes da banda criaram o New Order e isso diminuiu a dor da perda de um grande ídolo pela chegada de uma boa nova. Em dezembro do mesmo ano John Lennon foi assassinado por um fã na porta do hotel onde residia em Nova York. Em 1987, mais pro fim da década, o Mötley Crüe viu seu baixista e líder da banda, Nikki Sixx, ter uma overdose de heroína e ser declarado clinicamente morto por dois minutos antes de um paramédico reanimá-lo com duas seringas cheias de adrenalina. Eram tempos estranhos em que o rock reinava e as drogas pesadas também. Mas a década de 80 não foi determinada só por tragédias.

Nesse início de década surgia na California por intermédio da Fairfax High School, em Hollywood, Los Angeles, uma banda conhecida como What Is This? Grupo formado por Hillel Slovak (guitarrista), Jack Irons (baterista), e Flea (baixista), 3/4 do que formou a primeira formação Red Hot Chilli Peppers. Eles iam na linha do progressivo que já estava datado e até tinha músicas um pouco introspectivas remetendo ao pós punk. Flea logo abandonou o projeto e entrou de cabeça para uma banda punk raiz, a Fear. Anthony Kiedis nesse ponto da história era só um conhecido e entusiasta dos caras. Até o grupo mundialmente conhecido por difundir o funk com o rap se firmar teve uma verdadeira montanha russa de acontecimentos e falaremos um pouco disso nos próximos parágrafos.

Tinha uma grande pluralidade de influências e músicas vivas rolando na época, Flea estava bem inspirado no Echo And The Bunnymen, por exemplo. Já Anthony Kiedis que ainda não atuava em uma banda expressiva por sua vez estava escutando um novo barato, o hip-hop do Granmaster Flash and Furious Five e era viciado em rap. O vocalista e o baixista começaram a frequentar shows de bandas como Dead Kennedys e Black Flag, o que gerou uma amizade que deu vida a um projeto de banda chamado Tony Flow and the Miraculously Majestic Masters of Mayhem.

O ano era 1983 e a nova banda que contou com Jack Irons e Hillel Slovak logo de cara fez um primeiro show arrasador que quantia só uma música, a faixa chamada Out in LA. Uma swingada porrada, meio punk com rappeado proporcionado por Kiedis. Tal inédita miscelânea sonora contagiante foi responsável por fazer eles serem chamados para voltar mais uma semana para a casa situada em Hollywood; o que fez existir a necessidade de criar um repertório. Nesse estudo de campo, eles compuseram mais um som. Get Up and Jump, música baseada na relação de Hillel com uma garota chamada Rona Frumpkin, nasceu. Com mais músicas próprias no set a banda começou a rodar pela “Cidade dos Anjos”.

Desses pequenos shows, o grupo com o nome gigantesco viu um murmurinho se estender para reconhecimento e tomou a atitude de fazer uma mudança em seu nome para algo mais compacto e que passasse melhor a mensagem da banda. Por intermédio de Flea e Kiedis, a inspiração para Red Hot Chilli Peppers veio através de Louis Armstrong que nominava seu grupo de apoio como “Red Hot Peppers” além disso teve o letreiro luminoso que o vocalista vira na rua. Em sua autobiografia Flea disse que o novo nome transmitia “a mistura de sensações de energia, sabores, cores e som” – Em retrospecto, és um fato.

O agora Red Hot Chilli Peppers chamou a atenção da Enigma Records, filiada da EMI, e assim gravaram seu primeiro álbum auto intitulado que recebeu uma certa valorização midiática, principalmente nas college radios e umas aparições tímidas nos programas da MTV, mas nada descomunal. A proposta do grupo ainda era muito experimental para os veículos bancarem como propenso sucesso e a banda esbarrou com as discordâncias artísticas de cada integrante, com Irons e Hillel mais inclinados a ficarem no What Is This? e Kiedis e Flea bancando o RHCP.

A banda até o final dos anos 80, devido a esses embates, chegou a ter seis diferentes formações em meio aos quatro discos lançados durante a década. O Red Hot Chilli Peppers a cada lançamento vinha numa crescente formidável apesar das idas e vindas de Hillel e Irons somados a tentativa de identificar seu estilo aos dos produtores nos trabalhos de estúdio, com destaque para George Clinton que os produziu em Freaky Style de 1985. Na humilde, de degrau em degrau, foram se consolidando como relevantes. Principalmente pelas performances ao vivo, especialmente aquelas em que tocavam pelados com apenas uma meia tampando as partes íntimas, o que veio a dar bastante dor de cabeça pra eles no futuro.

Os Chilli Peppers viraram a referência e predecessores de uma nova estética alternativa que veio a ganhar mais adeptos com o Jane’s Addiction, Fishbone e o Faith No More na década seguinte, bandas que ultrapassavam o Hard Rock adicionando o rap e psicodelia ao som. Algo que fez muito sentido para a garotada do Skate e Surf, esportes radicais que eram febre na época. O RHCP por mais que neste início não tenha ido direto pro topo estava no momento certo para alavancar algo e como veremos durante a matéria, foi até melhor não ter vindo o sucesso de imediato.

No terceiro disco The Uplift Mofo Party Plan de 1987, eles estavam muito adictos as drogas. E a coisa era tão braba que eles chegaram a ter um drug dealer pessoal por perto para fazer a divulgação dos discos só porque ele trazia as melhores drogas pra California. Em 1988, um ano após o famoso caso do baixista do Mötley Crüe, Hillel Slovak morre pelas mesmas circunstâncias, só que no caso do guitarrista não teve adrenalina capaz de reanimá-lo. O baterista Jack Irons saiu da banda (mais tarde ele se juntaria ao Pearl Jam), culpando os outros pela morte de seu amigo. Kiedis foi para um exílio auto-imposto em uma pequena vila mexicana em uma tentativa de se limpar, sabendo que em um ponto de sua história recente tinha sido um acerto ou erro se seria ele ou o Slovak quem faria o check-out primeiro.

Passados dois anos, Flea e um Anthony Kiedis renovado, convocaram o jovem nova-iorquino aspirante a guitar hero John Frusciante de 18 anos para as guitarras e o excelente batera Chad Smith vindo do estado de Minnesota ainda a tempo de concluírem o quarto álbum, Mother’s Milk que veio a ser lançado em 1989. O disco foi um sucesso e vendeu 5 milhões de cópias em todo o mundo trazendo os primeiros verdadeiros hits dos Chilli Peppers, Knock Me Down e o cover para Higher Ground de Stevie Wonder.

Chad disse ao Clash em 2010:

Eu venho do Centro-Oeste e parecia muito diferente desses caras. Eu tinha cabelo comprido e uma bandana, e usava camisetas cortadas do Metallica, e eles me olhavam como: ‘Esse é o tipo de cara que anda pela Sunset Strip com Poison e Mötley Crüe. Este não é um cara que estaria na nossa banda’. Mas, para dar a eles todo o crédito do mundo, uma vez que nos sentamos para tocar, tudo foi pela janela; era tudo sobre a música. Então nos conectamos imediatamente. Foi como se uma bomba tivesse explodido naquele quartinho em Hully Gully. Eu me lembro de Flea – tudo era rápido e difícil naquela época, e nós apenas nos empurramos. John quebrou uma corda, (risos) e mudou mais rápido do que eu já vi alguém mudar uma corda na minha vida! E o congestionamento não parou! Foi simplesmente louco. Mas realmente emocionante para mim.

Chad Smith, yahoo!,2021

Foi um trabalho longo e doloroso que serviu para trazer a química aos novos integrantes com os remanescentes deixando tudo fluido, ao mesmo tempo, após desavenças com o produtor e gravadora surgirem, o RHCP teve ciência de que era necessário partirem para uma mudança de ares. Como disse Kiedis: “Teria sido um desastre e uma pena ter dado essa música, da qual estamos incrivelmente orgulhosos, para uma gravadora como a EMI”.

A banda começou a fazer uma turnê mundial, com 150 datas ao redor do mundo, passando pelos EUA, Japão, Reino Unido, Noruega, Alemanha, Suíça, França e México. E o melhor dessa história é que finalmente a banda conseguiu manter a formação, seria a primeira vez que conseguiriam tal feito de um álbum para o outro e os ventos sorriam de forma positiva para os Chilli Peppers no início da nova década.

A década de 1990 tem certa similaridade com os 80’s. A nova década veio com o rock ainda mais em alta e com tragédias chegando junto a lançamentos de forte impacto também. O Guns N’ Roses era a maior banda do mundo e estava para lançar o álbum duplo Used Your Ilusion. O Nirvana, Pearl Jam e uma turma de Seatle começava a dar as caras e dominar o gosto popular também. Na Inglaterra o Shoegaze e o som eletrônico das Acid Houses junto a turma da madchester faziam a cabeça da galera britânica. Na parte trágica, Freddie Mercury, vocalista do Queen, estava no estágio final da AIDS e gravou o álbum Innuendo, aquele que seria o último com a formação clássica da banda inglesa, o músico veio a falecer em novembro daquele ano.

Para os californianos ocorreu uma mudança de rotina e popularidade. Como foi dito anteriormente, a consolidação da nova formação fez eles se tornarem ainda mais referência e era necessário se reposicionaram na carreira. O primeiro ato estratégico foi definir a nova gravadora, saíram da EMI e foram para Warner. Em seguida, foi necessário encontrar alguém que conseguisse trazer a nova sonoridade da banda mais pra frente, para potencializar o talento do prodígio John Frusciante. Tal constatação mostrou inviável a sequência de trabalho com Michael Beinhorn. Os atritos em Mother’s Milk do produtor com o guitarrista e a real falta de experiência dele em lidar com esse tipo de som tornou a continuidade da relação impraticável. Era unanime, era preciso manter o peso, sem perder os grooves, deixando o jovem fenômeno das guitarras brilhar.

Rick Rubin se tornou a bola da vez. O jovem barbudo com cara de mal mas coração grande que tinha no catálogo de suas produções junto com sua empresa Def Jam o Beastie Boys, The Cult e Slayer, era o sonho de consumo dos Chilli Peppers desde o terceiro álbum, mas como o produtor achava os caras muito junkies, ele preferiu esperar os moleques atingirem a maturidade para trabalharem em um ambiente mais saudável. A procura por reabilitação de Kiedis e a forma como lidaram com a morte de Hillel o convenceram e assim foi o início de uma grande amizade que perdura até os dias de hoje.

Na década de 1980, eles estavam em péssima forma com relação às drogas. Eu entrei na sala pensando: ‘isso é ruim’. Não queria fazer aquilo. Então, quando os encontrei para fazer ‘Blood Sugar…’, era como se fossem uma banda diferente, completamente no controle, prontos para fazer algo bom.

Rick Rubin, Rolling Stone

O produtor teve uma ideia megalomaníaca para a produção deste novo trabalho, ele não queria que os californianos gravassem em um estúdio convencional, ele pediu para que os caras o acompanhassem para um certo casarão de dez cômodos que ele havia comprado situado em  Laurel Canyon, Los Angeles. Rubin estava montando ali seu estúdio de 24 canais e decidiu que os Chilli Peppers, conhecidos por serem bicho solto, iriam estrear o local. The Mansion, como veio a ficar conhecida, vinha cheia de histórias sobre o mágico Houdini, The Beatles em ondas de ácido lisérgico e Jimi Hendrix nomes que inspiravam os Peppers, mas também tinha as histórias de assombrações, que incomodaram Chad Smith que preferiu não passar suas noites por lá.

Foram sete semanas de gravação entre maio e junho de 1991 de extrema fluidez que fizeram a banda ter um repertório de ao menos 27 músicas com qualidade que fizeram Rick Rubin acreditar na possibilidade de um álbum duplo. A gravadora Warner de Mo Ostin enxergava os Peppers como o grande nome do selo, tanto que fecharam três discos em um contrato milionário, entrando na frente da Sony que já até tinha anunciado eles, mas arriscar um álbum duplo era ousadia demais para o primeiro vínculo e vetaram as pretensões do produtor e banda. Assim sendo, o RHCP selecionaram 17 músicas e Blood Sugar Sex Magik estava definido.

Blood Sugar Sex Magik foi um verdadeiro divisor de águas para o Red Hot Chilli Peppers, ele praticamente definiu a sonoridade que a banda seguiria dali por diante e os credenciaram como gigantes mundialmente. Lançado no mesmo dia que The Low End Theory do A Tribe Called Quest e Nevermind do Nirvana, Blood Sugar Sex Magik estreou em 14º lugar na parada de álbuns da Billboard. O álbum ficou no top 50 por seis meses e chegou ao terceiro lugar em 16 de maio de 1992. Além disso eles dominaram as paradas em países como Canada, Austrália e Nova Zelândia. A Rolling Stone listou o disco entre os 500 maiores álbuns da música. O hall da fama do Rock and Roll também listou, em 2007, o disco como um dos top 200 álbuns da história, na posição 88.

Trinta anos após seu lançamento, Blood Sugar Sex Magik continua fascinante e absolutamente convincente.

Estar no Red Hot Chilli Peppers se trata de ser livre e não estar restringido por nada. Não se trata de encaixar em uma moda, estilo ou categoria. Enquanto o estilo de vida afeta a forma que olha, fala e age. Qualquer um que coloque todo tipo de clichê do rock em sua vida não se encaixaria na banda. Mas qualquer um que tiver paixão natural e amor pela música, particularmente pela funk music, poderia ficar conosco.

Flea, Funky Monks,1991

FAIXA-A-FAIXA


Um faixa-a-faixa se torna conveniente. Seguiremos a ordem numérica já que elas todas tem sim a sua importância, não só em termos mercadológicos, mas também para a história dos aqui envolvidos.

THE POWER OF EQUALITY

Essa música é um ataque ao racismo e à desigualdade. É no estilo dos grupos de rap como o Public Enemy, que por sinal é mencionado no terceiro verso: “Eu tenho fitas, tenho CDs, tenho meu Public Enemy”.

O vínculo formado entre RHCP e Rubin durante a produção de Blood Sugar Sex Magik provou ser forte, mas Anthony Kiedis ficou cético por um período antes de firmarem com ele. segundo o vocalista: No começo, pensei: ‘Uau, Rick Rubin, não sei. [Eu pensei] Ele gosta de todas essas bandas negativas como Slayer e Danzig. O Red Hot Chili Peppers sempre foi totalmente energia positiva. Nunca vai funcionar.. Ainda bem que ele estava errado.

IF YOU HAVE TO ASK

Embora um single tenha sido feito para esta música, ela foi banida das estações de rádio porque a linha depois de “Se você tiver que perguntar, você nunca saberá” era “funky motherf-kers not tell to go”. “Os funky filhos da mãe” eram os Red Hot Hot Chilli Peppers. A música tinha também uma semelhança com uma faixa anterior do grupo Hollywood (Africa), esta de 1985.

As palmas no final da música são para o solo de guitarra improvisado de John Frusciante que por sinal é um dos mais impactantes do álbum ao ponto de ser nomeado um dos maiores solos de wah wah de todos os tempos, ocupando o 18º lugar na lista de 2015 da Guitar World.

BREAKING THE GIRL

Esse foi um dos singles do álbum uma música sobre uma separação que resultou em um dos momentos mais memoráveis ​​do álbum. A banda falou sobre essa impactante balada em uma entrevista recente ao Los Angeles Times.

Flea: “John estava estudando alguns acordes de Duke Ellington, e ele estava tipo, “Os primeiros quatro ou cinco acordes dessa música de Ellington combinam muito bem”. Acho que os primeiros quatro acordes acabaram sendo o verso ou o refrão de Breaking the Girl.”

 Frusciante: “Breaking the Girl foi uma das primeiras músicas que escrevi antes mesmo de começarmos a ensaiar para o disco, e todos ficaram muito animados logo de cara.”

 Eu estava em um relacionamento que azedou. Horrivelmente, terrivelmente azedo. Por alguma razão, talvez por causa de minha própria doença mental inerente, muitas vezes me sinto atraído por mulheres que também têm uma disfunção mental muito forte e bonita. [“Breaking the Girl”] foi um momento em que percebi que estou entrando nesses relacionamentos e pegando tudo o que quero, mas o resultado final é que haverá dor – nesse caso, mais para ela do que para mim.

Kiedis, Los Angeles Times, 2021

 sentados ao pé da escadaria principal, a banda batia em calotas e uma batedeira de leite vazia para o meio-oito estridente de Breaking The Girl. O clipe é uma onda lisérgica que potencializa o impacto dilacerante da letra.

FUNKY MONKEYS

Funky Monkeys é uma das faixas funk do álbum perceptível tanto pela batera de Chad Smith quanto pelo riff e backing vocals de Frusciante. A faixa não é um dos grandes destaques do álbum, mas nomeou o filme que mostra os bastidores do álbum. O documentário revela, em preto e branco, a evidente camaradagem do quarteto (e da equipe), as contribuições individuais de cada membro para diferentes faixas, seus hábitos de audição (incluindo Led Zeppelin e The Velvet Underground) e os pensamentos internos de cada Pepper, cortesia de entrevistas íntimas, que revelam seus sentimentos ao longo de todo o processo criativo.

No documentário feito em 1991, Frusciante pondera sobre a decisão do RHCP de gravar o álbum em um ambiente tão diferente. Ele descreveu a escrita e a gravação dentro dos limites tradicionais de um estúdio como “estéreis”, refletindo que a mudança de cenário atuou como um catalisador para a mudança dentro da banda – embora os álbuns anteriores tenham sido escritos pesadamente através de jam sessions, eles começaram a se concentrar fortemente na estrutura de suas canções, analisando meticulosamente a forma.

“John realmente se viu como músico naquela época”, disse Kiedis ao Clash. “Ele sempre foi esse tipo de tempestade incontida de inteligência, talento e desejo. Ninguém trabalhava mais horas no dia praticando seu instrumento e aprendendo sobre música do que John, mas ele era meio indefinido durante ‘Mother’s Milk’, e acho que a experiência de trabalhar com um produtor que queria que ele fosse de uma certa maneira, isso não era necessariamente quem ele sentia que era, o levou ainda mais fundo a querer expressar a verdadeira natureza de sua música. E acho que isso floresceu profundamente em ‘Blood Sugar Sex Magik’, onde ele acabou de encontrar sua voz como guitarrista e cantor; ele deixou transparecer.

SUCK MY KISS

Esta é uma verdadeira pedrada. Uma música que aborda a história de um homem que está tão apaixonado por sua parceira que faria qualquer coisa por ela. Ele também está dizendo a ela que ela é tão sexy, que ele não pode deixar de beijá-la: “Bata em mim, você não pode me machucar – chupe meu beijo / me beije, por favor me perverta – fique com isso. Sua boca foi feita para chupar meu beijo.” Anthony Kiedis explicou à revista Rolling Stone que tais propostas sexuais tinham um significado positivo e não grosseiro.

O destaque notável em Suck My Kiss aparece através do arranjo da banda inteira que ocorre na segunda metade de cada refrão com precisão especializada; no primeiro refrão os Chili’s entregam três toques consecutivos, no segundo refrão dois, e no refrão final apenas um – uma façanha de tempo que qualquer um que suportou as horas de ensaio que qualquer banda exige vai admirar.

I COULD HAVE LIED

A letra de I Could Have Lied foi inspirada pela paixão de Kiedis pela cantora Sinead O’Connor, cujo álbum de 1990 “I Do Not Want What I Haven’t Got” a levou à fama internacional.

Eu sabia que ela ouviria porque deixei uma fita cassete dessa música na porta dela. Esse relacionamento estava em sua infância – era mais uma amizade – e acho que na minha mente eu estava tipo, “Oh, isso está prestes a ficar quente e pesado”. Em sua mente, obviamente, não era. Ela acabou deixando a cidade sem sequer um adeus.

Anthony Kiedis, Los Angeles Times, 2021

Essa versão ao vivo foi em 2001 quando a banda adotou os cabelos moicanos punk’s é uma das mais intensas e vai servir para mostrar o diferencial deles ao vivo.

MELLOWSHIP SLINKY IN B MAJOR

Agora vem a parte mais divertida do álbum, em uma sequência de canções com arranjos voltados ao funky e com Kiedis extrapolando no rap em contexto que francamente pouco importava, a letra é o de menos aqui.

Quando gravamos nesta casa estávamos também morando juntos, o que criou um ambiente bem descontraído, e essa foi a chave do álbum. A chave para ser uma grande banda ou um grande músico é ser capaz de relaxar o suficiente para que você possa estar ciente do que está acontecendo ao seu redor e que possa fluir através de você e você possa pegar toda a energia.

Flea, Los Angeles Times, 2021

Em Funky Monks , o vídeo de longa duração do grupo sobre a produção do álbum, fica aparente o quanto o local de gravação os liberou criativamente: em um ponto, Flea toca junto com Mellowship Slinky In B Major e Apache Rose Peacock em dois pianos infantis.

THE RIGHTEOUS AND THE WICKED

Uma vez estabelecido, o quarteto estabeleceu um cronograma rigoroso para a gravação. Rubin passou seus dias aprimorando as músicas com os membros da banda, que estavam ansiosos para absorver o feedback. Estilisticamente, eles estavam prontos para temperar o som de rap-funk, slap-bass que lhes rendeu seus primeiros fãs.

Aqui temos mais uma faixa em que Flea se destaca, mas ao mesmo tempo escutamos as timbragens únicas de Frusciante bem inspiradas no Parliament – Funkadelic com um pouco de metal nos solos do guitarrista. O tom político reaparece aqui também, o lamento social e ambiental junto a uma citação a Marvin Gaye dá o efeito dessa faixa.

GIVE IT AWAY

Certamente a música definitiva do álbum e a primeira que vem a cabeça quando se pensa no Blood Sugar Sex Magik. Em um especial do VH1 Behind the Music , a banda explicou que essa música, que soa como se não tivesse significado, é sobre a teoria: “Quanto mais você dá, mais você recebe, então por que não dar tudo?”

A faixa que tem Anthony Kiedis cantando “Give It Away” 68 vezes é recheada de referências. O vocalista se inspirou na cantora alemã Nina Hagen quando se deparou com uma de suas jaquetas que ele gostou. Ela insistiu que ele aceitasse, explicando que dar coisas cria uma boa energia. Kiedis e Hagen tiveram um breve caso em 1983. Outra fonte de inspiração foi um momento icônico da tv americana, quando Ed Sullivan pediu para o The Doors retirarem algumas palavras de ” Light My Fire ” ao aparecerem em seu show, algo que não foi atendido. Os Chilli Peppers passaram por algo parecido com Give It Away quando foi pedido para que trocassem o trecho “O que eu tenho, eu tenho que pegar e colocar em você” para “O que eu gostaria, é que eu gostaria de abraçar e beijar você”.

O verso da música, “Há um rio nascido para ser um doador. Mantenha você aquecido, não deixe você tremer. Seu coração nunca vai murchar. Vamos lá, todo mundo, hora de entregar” refere-se ao ator River Phoenix, que era um bom amigo do guitarrista do RHCP John Frusciante. Após a morte de River, os Peppers escreveram a música em homenagem a ele, Transcending. Outra curiosidade interessante, Flea reclamou por Give it Away ter sido indicada na categoria hard rock no Grammy : “Se não fôssemos brancos, a música seria classificada como funk”.

Um dos pontos altos de Give It Away é o solo de guitarra tocado ao contrário protagonizado por Frusciante em pura incorporação ao estilo de Jimi Hendrix. Matt Pinfield, um influente programador de estação de rádio que mais tarde apresentou 120 Minutes na MTV, disse ao Songfacts : “Esse vídeo é uma obra de arte. Foi outra maneira de apresentar outro dos discos mais importantes da década de 1990. programador de rádio dizendo à gravadora que a música não era um sucesso e não deveria ser um single. O que, obviamente, provou ser muito errado.”

BLOOD SUGAR SEX MAGIK

Blood Sugar foi produzido bem mais rápido que o seu antecessor. Isso se deu muito pelo fato de que Kiedis e Frusciante organizaram nas suas casas as estruturas das músicas e riffs antes da mudança para a mansão e apresentaram suas ideias para o restante, que iriam, juntos, definir todo o resto do conjunto para formar as músicas, desde os instrumentais até os vocais.

A letra desta música foi escrita por Anthony Kiedis e retrata o sexo em uma variedade de formas vivas e explícitas, mas metaforicamente dirigidas de meios espirituais. De acordo com a autobiografia de Kiedis, Scar Tissue, várias das letras foram escritas sobre ele e sua namorada da época.

Essa música é uma das mais pesadas do álbum Blood Sugar Sex Magik . Uma batida característica de bateria gorda conduz a introdução e os versos e uma batida igualmente poderosa apresenta no refrão, com vários acentos de bumbo e uma sensação de batida pesada. Um riff de guitarra muito escuro e acordes de baixo (um dos poucos exemplos na música RHCP) complementa a batida do verso e o crescendo em uma melodia extremamente pesada, quase uma parede de som no refrão. As letras baixas de Kiedis e o refrão animado contrastante complementam a dinâmica também.

UNDER THE BRIDGE

Depois de folhear um caderno no quarto de Kiedis, o produtor Rick Rubin encontrou um poema que Kiedis havia escrito sobre suas lutas contra o vício em drogas e a solidão que se seguiu. Embora Kiedis tenha hesitado em mostrar o poema para o resto da banda, pois considerou a letra muito sensível para uma faixa do Red Hot Chili Peppers, ela se tornou Under the Bridge .

Rick estava na minha casa em Beachwood Canyon e ele disse, “Diga-me algumas das ideias que você tem”, e eu mostrei a ele algumas coisas meio escritas e outras completamente escritas. E ele fica tipo, “Legal, legal. Algo mais? O que é isso no verso desta última página?” E eu fiquei tipo, “Ah, isso não é nada. Eu estava me sentindo um pouco mal no início da sobriedade”, e ele disse: “Bem, como é isso?” Tenho certeza de que a cantei completamente desafinada. E ele disse: “Eu amo isso. Vamos trabalhar nisso”.

Anthony Kiedis, Los Angeles Times,2021

Rubin corrobora com a informação na mesma matéria do Los Angeles Time:

Encontrei o poema em um dos cadernos de Anthony e perguntei o que era. Ele disse que não era para os Chili Peppers. Perguntei por que, e ele disse que não é o que eles fazem. Isso iniciou a conversa sobre remover quaisquer limitações e se tornar mais experimental com o que a banda era capaz.

Rick Rubin, Los Angeles Times, 2021

Rubin em entrevista para a Newsweekem em 2013 proferiu a seguinte opinião: “Meu pensamento era que os Chili Peppers não se limitavam a ser uma banda de funk com rap. E lembro que Anthony ficou com vergonha de mostrar a música para os outros caras da banda. Mas ele cantou para John [Frusciante , guitarrista] e John veio com sua parte. Então ele tocou para Flea [baixista] e Flea veio com sua parte. E acabou sendo uma música muito boa – mesmo que eles não percebessem o quão boa era até pessoas começando a responder a isso.”

“O que eu estava me referindo na música”, revelaria Kiedis em Funky Monks, “era um ponto da minha vida, cerca de cinco anos atrás. Tudo o que eu tinha era esse contato chamado Mario, que era da máfia mexicana, ex-presidiário. E uma tarde em particular, estava muito quente no meio do verão, e eu estava acordado há dias, e então nós encontramos o que estávamos procurando. Fomos para essa ponte que ficava no centro de Los Angeles, nesse gueto, essa ponte de autoestrada, e uma pequena passagem que você tinha que passar para poder ir por baixo da ponte, e apenas alguns membros dessa gangue mexicana tinham permissão para entrar lá. E nós mentimos apenas para que pudéssemos entrar e fazer o que queríamos fazer… E isso sempre ficou no meu cérebro como um ponto baixo na minha vida.”

Uma das coisas mais marcantes na música é justamente a inspiração para o arranjo, em particular da guitarra. As faixas Andy Warhol de David Bowie e Rip Off do T-Rex (de onde pegou o acorde E-major-7th) foram as principais fontes de Frusciante. Ele em uma entrevista da época falou um pouco como foi o processo específico para a composição da parte instrumental dessa música da qual todos amaram a letra.

Ao longo de ‘Under The Bridge’, cada músico respeita a natureza introspectiva da música; Flea é discreto, mas quente e arredondado, enquanto os rimshots de Chad são suaves, mas insistentes. À medida que a música atinge seu clímax, um coro – a mãe de John e seus amigos – ecoa o refrão arrepiante: “Under the bridge downtown / Is where I draw some blood”, seu som celestial pontuando o despertar espiritual de Anthony e sugerindo que a salvação está próxima.

John Frusciante, 1991

Provavelmente, além de ser um dos maiores sucessos dos Chilli Peppers, o clipe de Under The Bridge potencializou ainda mais o sucesso da música e por consequência da banda. O videoclipe foi dirigido por Gus Van Sant, que passou a dirigir os filmes Good Will Hunting e Finding Forester. A ponte no vídeo também aparece no vídeo “By The Way”.

NAKED IN THE RAIN

Essa faixa fala basicamente sobre as questões que envolviam a nudez do grupo. O fato de não fazerem o ato pela falta de pudor e sim pela liberdade do ato. Em sua biografia, Anthony Kieds escreveu:

 Você é jovem e ainda não está cansado, então a ideia de ficar nu e tocar essa música linda com seus melhores gerar tanta energia, cor e amor em um momento de nudez é ótimo. Mas você não está apenas nu, você também tem essa imagem gigante de um falo para você.

Anthony Kieds, Scar Tissue, 2004

Os slaps de Flea no seu ápice, além de ser, também, uma das faixas mais agressivas do álbum. Em uma entrevista de 1991 à Guitar Magazine, Flea apresentou sua versão numa abordagem em que a faixa o destaca por ser o único momento em que “se soltou”:

Eu conscientemente evitei qualquer coisa difícil ou extravagante, tentei me conter o suficiente para entrar na música, ao invés de sair por aí e dizer: Flea, o puta baixista.’ Eu quase não bato no novo disco, tirando ‘Naked in the Rain’.

Flea, Guitar Magazine, 1991

APACHE ROSE PEACOCK

Essa história se passa no fundo do Big Easy, uma cidade onde os bons tempos rolam livremente, e até Anthony Kiedis – um homem que não se surpreende facilmente – está prestes a ficar pasmo nas ruas de Nova Orleans. Imbuídos do espírito da Louisiana, os Chilis mais uma vez tiram uma folha do livro dos The Meters (colocando duas referências diretas a eles na própria música)

Essa é mais uma faixa que fala sobre sexo. Anthony Kiedis estava inspirado no tema, tanto que em ao menos outras três o vigor sexual está presente e explicitado. Frente a isso, em matéria para o Yahoo! o vocalista disse que essa exploração do tema não era para chocar e sim pra celebrar o ato:

O Red Hot Chili Peppers sempre teve orgulho do amor e da sexualidade humana, e queríamos celebrar isso desde o início sem sermos analíticos ou tentarmos ser corretos ou incorretos. Nós só queríamos mostrar que há uma bela relação entre a energia sexual humana, a música, a dança, a diversão, a liberdade e ser criança.

Anthony Kiedis, Yahoo!, 2021

THE GREETING SONG

Na autobiografia de Anthony Kiedis, Scar Tissue , ele diz que sempre odiou essa música. A música veio do produtor Rick Rubin, que queria que ele escrevesse uma música divertida sobre garotas, carros e coisas frívolas. Kiedis não gostou da ideia na época, e nunca gostou, mas ele escreveu a música mesmo assim.

A Chevrolet fez uma série de anúncios impressos que apresentavam trechos de músicas que mencionavam a Chevrolet de alguma forma. Eles abordaram Anthony Kiedis sobre usar a parte do primeiro verso onde Kiedis canta “My Chevrolet rollin’ to another play day. Este é o som que eu escuto para o meu amor”. Kiedis, porém, não deixou a letra aparecer no anúncio, pois não acreditava nela.

Ela é a faixa que tem mia influência de Punk Rock no álbum.

MY LOVELY MAN

Essa é a melhor homenagem groovada feita para um amigo falecido que você escutara na vida. My Lovely Man foi uma carta de amor que Kiedis enviou para Hillel: ‘Bem, estou chorando/Agora meu adorável homem/Sim, estou chorando/Agora e ninguém pode/Nunca preencher o buraco que você deixou, meu homem/Eu ‘Vejo você mais tarde/Meu lindo homem, se eu puder…’ Ele gravou seus vocais para a música à noite em uma cabine improvisada montada em uma janela com vista para os jardins maravilhosamente invadidos, com um quadrado de velas acesas ao longo das paredes a seus pés.

Em 1992, a Rolling Stone entrevistou o vocalista Anthony Kiedis , que disse o seguinte: “‘My Lovely Man’ é sobre meu amor por Hillel e o fato de que eventualmente eu o encontrarei. É como se quando eu morrer, pudesse estar contando com ele para salvar-me e ele me conduzir ao nosso lugar. Sempre que canto essa música, Hillel está completamente no meu mundo.”

 Na letra é expressada a tristeza pela morte do amigo que na época tinha 26 anos. O trecho “Now and no one can/Ever fill the/The hole you left my man” (Agora e ninguém poderá/Nunca preencher/O buraco que você deixou, meu homem) e o sentimento de amor em “Just in case/You never knew/I miss you slim, love you too” (Apenas no caso/De você nunca ter sabido/Sinto tua falta, magrelo, Eu te amo também).

SIR PSYCHO SEX

Correndo por volta dos 8:17 minutos, esta é a música mais longa que os Chili Peppers lançaram em um álbum de estúdio até então. Esta faixa fala sobre um personagem fictício chamado Sir Psycho Sexy, embora muitos a vejam como uma versão exagerada de Anthony Kiedis, o vocalista da banda. Sir Psycho Sexy está contando uma série de histórias de encontros sexuais bizarros ao longo dos anos.

A música é carregada com muitas insinuações sexuais, mas também tem sua parcela de frases diretas menos inteligentes (incluindo Kiedis dizendo diretamente “Suck My D-k”). As letras sujas diretas são muito parecidas com a música da banda de 1987 “Party On Your Pussy”.

O sexo foi uma experiência de aprendizagem contínua. Eu não estava necessariamente completamente saudável com meu comportamento sexual. Eu nunca fui abusivo ou terrivelmente egoísta, mas não entendia claramente a responsabilidade de ser extremamente cuidadosa sobre a vida sexual. Eu estava aprendendo no trabalho. Eu ainda estou.

Anthony Kiedis, Yahoo!, 2021

THEY’RE RED HOT

As referências a artistas negros são várias em BSSM: Bob Marley, James Brown, Count Basie, The Meters, Louis Armstrong… Cabe agora mencionar a última faixa do álbum: uma versão para They’re Red Hot, clássico do bluesman Robert Johnson. Em Mother’s Milk, os Peppers haviam soltado uma versão para Fire, de Jimi Hendrix. O guitarrista de Seattle volta a ser homenageado em duas faixas bônus de BSSM, Little Miss Lover e Castles Made of Sand. Se essas referências não bastarem para mostrar o amor da banda pelo guitarrista, acumulando 73 minutos e 55 segundos de música em um CD, Blood Sugar Sex Magik curiosamente é exatamente um segundo mais curto do que a obra-prima do álbum duplo de Jimi Hendrix de 1968, Electric Ladyland.

Se pararmos pra pensar que ainda tinham ao menos mais 10 músicas que ficaram de fora, vale mencionar uma em especial que terminou se tornando single apenas em 1993, tendo inexplicavelmente ficado de fora do Blood Sugar Sex Magik. Trata-se da belíssima Soul To Squeeze, mais uma que trata sobre a tentativa de largar as drogas por parte do vocalista Anthony Kiedis.

Vale comentar também a importância da ilustração da capa feita por Henky Penky – não vamos esquecer que esta é a banda que ao vivo já usou um saxofonista chamado Tree – que se inspirou fortemente no trabalho dos excêntricos artistas ingleses Gilbert & George, transformando as línguas entrelaçadas da banda em espinhos tatuados. Ela aumentou o culto a esse álbum tão celebrado.


O Que disse a Mídia?


A recepção da crítica foi simplesmente excelente para o álbum. Jornais/portais como Allmusic Mojo deram nota máxima, por exemplo. A maioria dos elogios foram em relação o maior cuidado com as faixas, sem exagerar nos riffs de heavy metal, como fizeram no álbum anterior, e focando mais nas composições e suas texturas, sabendo construir fases distintas nas suas músicas.

Blood Sugar foi incluído em muitas listas, especialmente naquelas referentes aos anos 90. A revista Spin colocou o álbum no número 58, no seu “90 Álbuns dos anos 90”. O registro foi colocado em slapnpop Magazine em “Os 101 mais importantes álbuns de guitarra” e incluído no livro “1001 Discos Para Ouvir Antes De Morrer”. Blood Sugar Sex Magik ficou em 310 na “Lista dos 500 melhores álbuns de sempre da revista Rolling Stone” e em 19 nos “100 Maiores Álbuns dos anos noventa”. O álbum ficou em terceiro lugar na Billboard 200 e recebeu disco de platina sétuplo pela Recording Industry Association of America (RIAA). O grupo produziu vários singles, sendo que o primeiro deles, “Give It Away”, foi o primeiro da banda a atingir a primeira posição na Alternative Songs. Também está na lista dos 200 álbuns definitivos no Rock and Roll Hall of Fame.

A violenta “Give It Away” e a incendiária “Suck My Kiss” estabeleceram um modelo para o rock pontuado pela implacabilidade beatcentric do hip-hop que seria apropriado por todos, de Limp Bizkit a Dr. Dre. Mas foi o material mais introvertido – a dura e tríplice “Breaking the Girl” e o confessionário de drogas de Kiedis “Under the Bridge” – que revelou novas dimensões. A seção rítmica exibiu uma curiosidade crescente sobre textura e nuance de estúdio – interesses que exploraria nas baladas expansivas dos subsequentes multiplatinados Californication (1999) e By the Way (2002).

Tom Moon, Rolling Stone, 2003

Por todo o sarcasmo que Kiedis’ – digamos – únicoo lirismo atrai, ele era incomparável entre os cantores de rock em encadear pensamentos solecistas, aparentemente dada-esque, em versos melodicamente sem esforço, inspirados no rap. Embora os Chili Peppers inevitavelmente inspirassem o “rap-rock”, aquele espectro acorrentado na carteira assombrando o final dos anos 90, a entrega emborrachada de Kiedis, cheia de inflexões duras para pegar seu ouvido, suavizou o que poderia ter sido um choque feio de estilos. “Give It Away” foi certamente o melhor exemplo desse talento virtuoso.

Jeremy Gordon, Pitchfork, 2016

Falar de Red Hot Chili Peppers e não lembrar de Blood Sugar Sex Magik chega a ser um insulto. Tudo que ele representou para a época e a forma como envelheceu fala por si só. Até hoje, ele é totalmente aclamado pelos fãs e pela crítica, por nos apresentar, de certo modo, o ápice e a verdadeira essência da banda. Mesmo com os vários problemas que aconteceram pós lançamento da obra, a verdade é que a conexão entre todos esteve em um momento ímpar, seja fisicamente ou espiritualmente, com tudo muito encaixado. O disco é um verdadeiro marco no rock alternativo, tanto que segue sendo muito comentado até hoje. As escolhas para sua construção foram impecáveis, além da forma como tudo foi conduzido nas composições. O legado do álbum é gigantesco e ainda será lembrado por muitos e muitos anos.

Gêra Lobo, Rock N’ Bold, 2021

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