Por Roani Rock
Na noite de ontem para a madrugada de hoje foi celebrada mais uma edição do Grammy Awards e o que chamou mais a atenção foi a cantora Billie Ellish, de 18 anos, ganhar as quatro principais categorias da noite: Gravação do Ano, Álbum do Ano, Música do Ano e Melhor Álbum Pop e ainda conquistou o premio de revelação.
E então ocorre a pergunta, como que essa jovem vinda de Los Angeles nascida em 18 de dezembro de 2001 conseguiu conquistar de forma tão rápida não só fãs no mundo todo mas também todo o mercado fonográfico? Esse texto vai inclusive bandas de rock que faz ela poder pertencer a uma analise deste site.
Irmãos O’ Connell

Billie Eilish Pirate Baird O’Connell é um fenômeno. Mas estes não crescem sozinhos. É inegável seu talento e as composições, coisa que ela começou a fazer aos 11 anos e a amadurecer aos 15 neste processo. Mas o que ocorre de sucesso em sua vida, vem de 50% ou mais da participação do seu irmão Finneas, multi-instrumentista que produziu o álbum de estreia da cantora e a acompanha nos shows. Eles lembram um pouco os irmãos Karen e Richard Carpenter dos maravilhosos The Carpenters que também foram sensações pop na década de 60 e 70.
O som da garota é moderno, não é inovador, mas é feito de uma forma nova. Com a união de conceitos e compassos de jazz a experimentação que o trap e o pop propiciam, os irmão O’Connell conseguiram conquistar o mundo com algo simples mas despojado, complexo de tão fácil executar. Sua chegada com músicas tão pessoais e sombrias traz na memória o início da Adele e da Amy Winehouse, claro que no caso de Billie o que chama a atenção é mais a presença e aparência do que um poder vocal.
Da pra dizer que Eilish seria como uma Avril Lavigne dos anos 2000 do pop por dialogar tão bem com sua geração. As letras de suas músicas feitas com Finneas batem de frente e a colocam como uma mulher forte que questiona e tira sarro ao invés de se fragilizar como ocorreu em diversos hits das citadas anteriormente.
Finneas O’ Connell apareceu primeiramente como ator no filme Bad Teacher (2011) e na série de TV Glee (2015), entre outros papéis na adolescência – antes de receber elogios no final de 2010 por ser indicado ao Grammy. Ele é o principal responsável por sua irmã começar a cantar profissionalmente e se eles se apoiarem podem ter uma carreira longa e muito mais premiada!
Ele disponibilizou e gravou uma música na voz de Billie que era originalmente de sua banda adolescência, a Ocean Eyes foi a faixa, isso em 2016. Esse foi o pontapé inicial, facilitou com que a irmã quatro anos e meio mais nova buscasse inspiração e começasse a se ver tocando as pessoas com sua visão de mundo. Finneas a acompanhou ao ponto de lançar seu próprio álbum solo também em 2019, o Blood Harmony que segue o estilo do premiado When We All Fall Asleep, Where Do We Go? de Eillish.
BAD GUY

Colocando suas características de lado, a música do ano para o Grammy foi Bad Guy. Taxada como um pop-trap de instrumentação minimalista lançada pela Darkroom e Interscope Records como o quinto single do álbum de estreia de Eilish, When We All Fall Asleep, Where Do We Go? em 29 de março de 2019, Bad Guy é o super trunfo que muito artista gostaria de ter.
interessante nessa música é que dá para colocar como influência outras canções gravadas por artistas como The White Stripes, Lorde e Fiona Apple. Seja pelos graves do instrumental composto por por baixo, sintetizador, bumbo, estralos de dedo amplificados, 808 graves e a voz de Eilish abrangendo um intervalo de F3 to C6, ou seja, notas bem baixas ou a questão da letra e formato da canção.
Bad Guy foi um sucesso comercial, alcançando o número um na Billboard Hot 100 dos Estados Unidos, bem como nas paradas na Austrália, Canadá, Estônia, Finlândia, Grécia, Hungria, Islândia, Nova Zelândia, Noruega e Rússia. Ela recebeu diversos certificados de venda incluindo platina sêxtupla pela Music Canada e Australian Recording Industry Association (ARIA). “Bad Guy” recebeu vários prêmios e indicações ao 62.a edição do Grammy Awards, incluindo Melhor Desempenho Solo de Pop, Gravação do Ano e Canção do Ano onde venceu os dois últimos.
Claro, essas informações você pode encontrar no wikipédia e outros lugares relacionados a artista. Mas esse texto serve para além de pontuar as conquistas avaliar um trabalho excepcional que foi elogiado por Dave Grohl, Thom York do Radiohead, David Byrne, Flea e Billie Joe Armstrong do Green Day, esse último, por sinal, apareceu com a novata em uma matéria da Rolling Stone USA e fez o seguinte comentário sobre as composições de Eilish e bate com um consenso geral.
Eu sei que parece estranho, mas eu sempre me vejo indo na direção de música que soa como liberdade. E é o que eu sinto da sua música. É como uma pessoa sincera que está se expressando e incorporando novos sons. Alguns trechos parecem meio jazz pra mim, se for de boa falar isso? Mas as letras também são muito reais. Isso é muito importante quando você está cercado de coisas que soam sintéticas e pouco reais.
Billie Joe Armstrong, Rolling Stone 2019
When We All Fall Asleep, Where Do We Go?

Este álbum é, basicamente, o que acontece quando você dorme. Para mim, em cada canção do disco, há paralisia do sono. Há terror noturno, sonhos lúcidos. (…) Eu sempre tive terrores noturnos muito, muito ruins. Eu tive paralisia do sono cinco vezes. Todos os meus sonhos são lúcidos, então eu os controlo. Eu sei que estou sonhando o que estou sonhando, então eu nem sei. Às vezes eu sonho e a coisa que aconteceu no sonho acontece no dia seguinte. É muito estranho.
Eilish, em entrevista a Zane Lowe, sobre como seus sonhos foram fonte de inspiração para o disco
O álbum do ano não foge muito da canção do ano. Contém músicas de fácil apreciação. A balada Xanny tem vários momentos de silêncio e grave, tem distribuição de vocais especial e quando engrena com suave piano te entorpece. A faixa só cresce durante sua execução.
“Eu sou a fumante passiva / Bebendo só uma latinha de Coca / Eu não preciso de um xanny para me sentir melhor“
refrão de Xanny
o termo “xanny” é uma gíria, que refere-se ao medicamento. Ao gravar a música, o par de irmãos criou um som inspirado pelo barulho que Eilish ouviu quando uma garota soprou fumaça de cigarro em sua face, além de um loop à base de bateria e com inspirações no jazz, de maneira a replicar a sensação de “ser fumante passivo”.
Dave Grohl chegou a dizer que Billie surgir é a prova que o rock está intacto e que ela é como o Morrisey do The Smiths. De certa forma ele não está errado, Billie tem um jeito particular de composição que assim como Morrisey e tantos outros consagrados faz as vivências ruins ou ideologias ressoarem em suas músicas de forma bem direta e real. Ao exemplo de All The Good Girls Go To Hell e Wish You Were Gay.
A forma como o instrumental dialoga com o canto também é algo impressionante, pegando como exemplo a faixa When The Party’s Over, até o último toque de piano podemos sentir facilmente a agonia de Billie. Já em “8” ela faz uma vozinha manipulada de forma a fazê-la soar como uma criança pequena ao som do ukulele. Quando ela entra firme na parte do bumbo e percussão, a seriedade em seu canto fica evidente e até quando a voz diferente volta e se alia a plena e suave o clima fica bom, é uma das melhores do disco e possui um quê de Arctic Monkeys pelos arranjos de guitarra cheios de efeitos de pedais.
My Stranger Addiction caberia no repertório de Madonna ou Shakira, mas realmente o que importa na variação de estilos é que todos estão ligados pelo grave do baixo e sintetizador o que faz se ter algo único ali. A dobra de vozes em Bury a Friend, uma música eletrônica ou até industrial musicalmente falando apresenta também uma batida reminiscente a Black Skinhead, do rapper Kanye West, uma linha vocal semelhante a People Are Strange, do The Doors, e melodias dispersas de sintetizadores exboçando assim as variedades de influências.
Neil McCormick, do The Daily Telegraph, ao analisar o canto de Billie.
é capaz de transitar de faceiro a ameaçador, de divertidamente irônico a emocionalmente sincero, em um suspiro,(…) seu modo de cantar de maneira próxima ao microfone é realçado por camadas de harmonias etéreas sem deixar de lado uma sensação de intimidade.
Neil McCormick
Em Threat Level Midnight, eles pegaram diálogos do episódio da sitcom norte-americana The Office. Para poder fazer uso dos áudios, Eilish precisou da aprovação e da autorização de Steve Carell, B. J. Novak, John Krasinski e Mindy Kaling, os membros do elenco cujas vozes apareciam nos diálogos em questão; todos concederam pessoalmente o direito de uso à artista.
O disco é bem pesado, tratando sobre assuntos de muita vivência para crer que foi feito por uma garota de 18 anos e um cara de 22 anos. Os títulos das três últimas canções são lineares; coletivamente, eles leem “Listen Before I Go, I Love You, Goodbye“. Em entrevista à Vulture, O’Connell afirmou que sua irmã “gostou da legibilidade” dos títulos, adicionando que “se relacionam” pois são “diferentes sentimentos em relação a uma despedida“. Os três números posicionam-se ao final do conjunto, de forma a evitar que o disco tivesse um término abrupto.
Listen Before I Go é um afago sonoro, apresenta um acompanhamento de piano “gentil” e claras influências de jazz; Eilish canta da perspectiva de alguém prestes a cometer suicídio, com adição de fracos ruídos de rua e sirenes no início da música, para ambientação – tipo de coisa que Eilish e seu irmão tiveram muita preocupação, fazem ambientações para cada faixa.
I Love You acerta de uma maneira bem “desgraçada” após a primeira ouvida. Ela usa um sample de uma aeromoça a falar e um avião a decolar. De acordo com O’Connell, a letra é sobre como “às vezes é um saco estar apaixonado“. Seu refrão foi comparado com “Hallelujah“, de Leonard Cohen, o que foi recebido com entusiasmo pelo compositor. Por fim está Goodbye, que apresenta um verso de cada uma das canções em sua letra, com trechos dispostos quietamente em sentido inverso, de maneira a representar quando “você cresce ouvindo uma fita e, no final, você a rebobina, para voltar ao começo de uma canção“.
Não faltam motivos para dizer o quanto When We All Fall Asleep, Where Do We Go? foi diferenciado e correu por fora mediante a potenciais rivais já celebrados no cenário. o que esta jovem fez foi sem sombra de dúvidas impressionante.
Frente a todo esse sucesso fica agora a dúvida se este foi um acerto de sorte ou se veremos a criatividade dos irmãos extravasar mediante a tanto reconhecimento. É certo que Finneas continuará sendo um produtor excepcional, mesmo que lhe falte inspiração em composições que superem o primeiro trabalho com a irmã e com esse álbum de estreia, Billie já é inesquecível.
Acústico
Abaixo um vídeo de um show para todo o talento de Eilish ser capitado, muito do que se fala da Billie é que a forma como o álbum foi gravado fica difícil de crer que a moça realmente tenha todo esse talento pelos truque de estúdio utilizados. Então, quando se procura ver o talento da artista e do irmão dela os fãs costumam dizer que as apresentações acústicas conseguem trazer melhor a essência dos envolvidos. aproveite!