Review: As catárticas seis horas de celebração do Tributo a Taylor Hawkins

Na tarde deste último sábado ocorreu em Londres no estádio de Wembley o que veio a ser o primeiro de dois shows que os remanescentes do Foo Fighters destinaram para homenagear Taylor Hawkins, segundo e definitivo baterista da banda de rock alternativo, que morreu por decorrência de uma overdose no dia 25 de março deste ano, enquanto a banda excursionava pela América do Sul.

Desde que saiu os respectivos line ups das duas noites, a primeira em Londres no Wembley Stadium, lugar em que a banda provavelmente fez o show mais importante da carreira em 2008 e o segundo na tradicional arena Kia Forum localizada em Los Angeles, EUA, que tem o necessário para um evento deste tamanho, expectativas foram criadas. Tanto pra saber como seria a participação de cada artista quanto para ver quem assumiria as baquetas nas músicas da banda do carismático e visivelmente abatido Dave Grohl.

De antemão, posso definir esse primeiro tributo como a comprovação que Taylor Hawkins era mais que uma referência na bateria, ele certamente era – como músico e pessoa – um cara querido. Ele realmente fez amigos desde que entrou para o Foo Fighters em 1997 e tudo isso foi mostrado no decorrer das seis horas e cinquenta minutos a uma multidão de 75 mil fãs obstinados através de um conceito de união e diversão, pouco visto em celebrações com esse formato de homenagem. Destaco aqui tanto as performances musicais quanto os depoimentos gravados em vídeos por artistas/amigos, com quem dividiu o palco ou não, com direito a um poema recitado por Stevie Nicks, do Fleetwod Mac.

Esta noite, nos reunimos aqui para celebrar a vida, a música e o amor de nosso querido amigo, nosso colega de banda, nosso irmão, Taylor Hawkins. Para aqueles que o conheceram pessoalmente, você sabe que ninguém mais poderia fazê-lo sorrir, rir, dançar ou cantar como ele. E para aqueles que o admiravam de longe, tenho certeza que todos sentiram a mesma coisa. Então, hoje à noite, nos reunimos com a família e seus amigos mais próximos, seus heróis musicais e maiores inspirações, para trazer a vocês uma noite gigantesca para uma pessoa gigantesca. Então, cante e dance e ria e chore e grite e faça algum barulho para que ele possa nos ouvir agora. Porque quer saber, vai ser uma longa noite do caralho!

Dave Grohl anunciando o início do tributo a Taylor Hawkins ao público de Wembley

Tradicionalmente, quando um artista recebe tal tributo, os convidados tocam músicas e composições do homenageado, mas quando as apresentações começaram com Liam Gallagher, ex-Oasis, junto ao Foo Fighters cantando os hits Rock ‘and’ Roll Star e Live Forever, ficou escancarado que não veríamos um show de tributo a obra do baterista e sim ao amor de Hawkins as bandas e músicas que o moldaram para vir a se tornar uma lenda.

Dave Grohl serviu como mestre de cerimônia. Ele passou a maior parte da noite no palco, anunciando os convidados e nas apresentações alternava entre guitarra, baixo e bateria. Após Liam Gallagher um super squad veio ao palco tocar um pouco de David Bowie. Josh Homme (vocal e guitarra, Queens Of Stone Age), Chris Chaney (baixo, Janes’s Addisction), Omar Hakim (bateria, Weather Report) e Nile Rodgers (guitarra, Chic) se unem para fazer o cover de Let’s DanceGaz Combs, do Supergrass, um dos vocalistas mais requisitados da noite, substitui Homme para cantar Modern Love, também de Bowie.

As bandas em que Taylor Hawkins vinha tocando subiram ao palco. Chevy Metal e The Coattail Riders, sobem ao palco para fazer um cover de Psycho Killer do Talking HeadsKesha assumiu os vocais em um cover de Children of the Revolution do T-Rex, It’s Over. Para cantar o material autoral do baterista homenageado teve a presença ilustre e exuberante do vocalista Justin Hawkins do The Darkness, que caiu como uma luva. Em seguida, Justin segue nos vocais para dar vida a hits de uma das bandas que Hawkins mais amava, o Van Halen. Dave Grohl, Wolfgang Van Halen, Josh Freese se unem ao vocalista e Grohl no baixos para cobrirem On Fire e Hot for Teacher de uma maneira bem explosiva.

Após tanta vitalidade e virilidade com o hard rock do VH, sobem ao palco a filha do frontman do Foo Fighters, Violet Grohl, acompanhada de Greg Kurstin, Alain Johannes, Chris Chaney, Jason Falkner para trazer o primeiro momento emocionante em que a cantora, prestigiada pelo pai que está na bateria, canta Last Goodbye e Grace de Jeff Buckley, outro músico que veio a ter uma morte trágica e prematura.

Diferente de um evento como o Live Aid, que também tem um número considerável de artistas de renome dividindo o palco, essa chuva de covers em uma grande jam sassion remete a ideia do festival Cal Jam que o Foo Fighters foi curador nas edições de 2017 e 2018. Surge então o Supergrass apresentando uma penca de hits como Alright que fizeram o público londrino cantar junto.

O roteiro do evento foi muito bem montado com uma boa fluidez, com Supergrass em palco começa a aparecer as bandas, ao fim da performance deles surge Josh Homme, John Paul Jones, Dave Grohl e Alain Johannes, e para quem está ligado sabe-se muito bem o que isso significa. Mas mesmo assim, após fazerem um cover de Goodbye Yellow Brick Road de Elton John, Josh Homme anuncia que quem está no palco é o Them Crooked Vultures, que não se reunia pra uma apresentação ao vivo desde 2012. Tocaram Gunman e por fim Long Slow Goodbye do Queens of the Stone Age trazendo o primeiro fato histórico do dia além do evento em si.

Sobe ao palco Pretenders com Dave Grohl no baixo apresentando um set de três músicas Precious, Tattoo Love Boys e Brass in Pocket. Ao apresentar Grohl no baixo, a cantora Chrissie Hynde comentou: “Existe alguma coisa que Dave Grohl não possa fazer?” A resposta é, obviamente, não.

Em seguida, talvez o momento mais inesperado da noite, que fez valer o ingresso de quem esteve em Wembley, com o mesmo grau de importância que a performance do Foo Fighters com diferentes bateristas ao fim do espetáculo. O James Gang do icônico guitarrista Joe Walsh faz sua primeira apresentação ao vivo desde o fim do grupo em 2006. A importância de tal reunião é explicada por Grohl ao introduzi-los:

Se você já viu uma foto de Taylor Hawkins, provavelmente ele estava usando um maldito chapéu que dizia James Gang nele. Talvez a banda favorita dele entre todas e Joe Walsh talvez seja a pessoa favorita de Taylor em todos os tempos.

Dave Grohl, tributo a Taylor Hawkins, 2022

Eles tocaram Walk Away, o medley The Bomber: Closet Queen / Boléro/ Cast Your Fate to the Wind e por fim Funk #49 com Dave Grohl fazendo uma segunda bateria. A emoção do batera do James Gang foi contagiante. As 14h25 – Violet Grohl estava de volta ao palco para mais uma performance incrível. Desta vez, ela se juntou a Mark Ronson, Chris Chaney e Jason Falkner para fazer o cover de Valerie, popularizada por Amy Winehouse que era amiga dos Foo’s.

 Quando começamos a falar sobre montar algo para Taylor, sentamos e dissemos: ‘Mesmo que sejam seus amigos mais próximos, são tipo 100 músicos. Porque Taylor adorava tocar e gravar com todo mundo. E não há muitas pessoas com quem ele nunca tocou. Esta coleção de amigos, familiares e músicos, tudo isso é reunido por ele. E estamos todos conectados aqui hoje por aquele cara, trazendo músicos que nunca se conheceram, músicos que nunca tocaram juntos, todos em um lugar ao mesmo tempo, com todos vocês, pessoas de beleza.

Dave Grohl, tributo a Taylor Hawkins, 2022

As 14:40 ocorre o momento cataclísmico do rock com a presença do Brian Johnson do AC/DC e Lars Ulrich do Metallica se juntando aos Foo’s para tocarem Back In Black (que sofre com o momento hilário da invasão de Justin Hawkins tentando roubar o microfone de Brian) e e Let There Be Rock do AC/DC que Lars ameaçou não tocar.

Seguem convidados subindo ao palco apresentando o melhor que podem para homenagear o amigo falecido. Stewart Copeland, do The Police, se junta ao Foo Fighters para tocar Next to YouGaz Combs, do Supergrass, então se junta à diversão para cantar em Every Little Thing She Does is Magic, clássico da banda de Copeland.

Geddy Lee e Alex Lifeson do RUSH – uma das bandas favoritas de Taylor Hawkins – tocam 2112 e Working Man, faixa do primeiro álbum da banda, com Dave Grohl na bateria. Lee e Lifeson então encerram sua participação dedicando uma performance de YYZ tanto para Hawkins quanto para seu próprio baterista, Neil Peart, também morto. A significância dessa dedicatória para Hawkins bate com a performance que o baterista fez ao se juntar ao RUSH no palco para tocar ela durante um show em Toronto em 2008.

Estamos na marca de quatro horas do show, e não há sinais de que a música esteja diminuindo, muito pelo contrário, agora é estendido o tapete vermelho pra realeza do rock entrar. Brian May e Roger Taylor do Queen voltam ao cenário que em 1991 eles usaram para homenagear Freddie Mercury. Junto com os Foo Fighters, Rufus Taylor do The Darkness e Luke Spiller do The Struts (banda que abriu vários shows do Foo Fighters), os remanescentes do Queen se unem para cantar We Will Rock You e I’m in Love With My Car, esta última muito significativa por ter sido composta por Roger Taylor e ser “a música do bateristas” dentro da banda inglesa. 

Mais tarde, Justin Hawkins, do The Darkness, volta a dar uma canja e canta Under Pressure dignamente com o Queen liberando o mic para a chegada de Sam Ryder, vocalista bem popular na europa, ter a chance de liderar Somebody to Love, tal como George Michael fez sublimemente quando foi o artista pop do momento para interpretar o clássico escrito por Freddie Mercury. Em seguida, mais um momento emocionante, Brian May pega o violão e toca Love Of My Life relembrando o amigo vocalista quer compôs a música e engrandecendo Taylor Hawkins, com o público reagindo acendendo as lanternas dos celulares fazendo um arrepiante show de luzes.

As 16 horas começa o momento que todos estavam esperando, o início da performance do Foo Fighters tocando sua própria obra. Dave Grohl totalmente emocionado desaba em lágrimas tentando cantar com a voz embargada a poderosa Times Like These que tem em seu refrão a mensagem de tentar um recomeço. Ele repetidamente enxuga as lágrimas de seus olhos e acaba sendo forçado a pausar a performance para se recompor. É definitivamente o momento mais pesado da noite.

Josh Freese (Devo, The Vandals) é o primeiro baterista a se apresentar com o Foo Fighters, participando de Times Like These e All My Life. Em seguida, sobre muita euforia surge Travis Barker, do Blink 182, nas baquetas potencializando The Pretender e Monkey Wrench. Com a banda já pilhada, logo depois, chega num momento fofura, Nandi Bushell, uma das maiores revelações musicais da internet sobe ao palco para assumir as baquetas. Nandi mostrou preparo e muita satisfação em estar ali representando o ídolo na faixa Learn To Fly.

Para quem não acompanha muito o mundo do rock, o próximo convidado que simplesmente destruiu e roubou a cena em These Days e Best of You, tanto pela técnica tanto pela aparência, foi realmente um choque saber que o filho do baterista do Queen era baterista e que tecnicamente se equipara tanto ao pai quanto ao homenageado da noite. Rufus Taylor que é baterista do The Darkness proporcionou momentos orgásticos para o público em firmes viradas na batera.

Paul McCartney que é um grande amigo dos Foo’s aparece de surpresa e proporciona mais um fato histórico pra o evento lendário. Ele resolveu trazer para aquela celebração a primeira performance ao vivo de Oh Darling! que ele gravou com os Beatles no álbum Abbey Road de 1970, apoiado com os vocais da de Chrissie Hynde do Pretenders e a precisão jazzistica de Omar Hakim. O Baixista ainda tocou Helter Skelter. Essa é a 47ª música da noite, aliás, e Dave Grohl esteve no palco na maioria delas o que tirou a seca de longos meses de luto dele e da banda.

Com Omar ainda na batera o Foo Fighters toca “uma das músicas favoritas de Taylor Hawkins do Foo Fighters”, Aurora. Uma faixa que não tem muitos registros ao vivo, um potencial lado b do álbum There Is Nothing Left to Lose, o terceiro álbum de estúdio da banda. Em seguida o momento mais arrepiante e impactante da noite, o filho de Taylor Hawkins, Shane de 16 anos senta na bateria para se tornar aquele responsável por trazer a última performance de um convidado na bateria tocando My Hero. Foi uma catarse, certamente se tornará um grande baterista no futuro, mas com o que já sabe se garante; Principalmente se for levado em consideração o fator emocional ao qual estava exposto.

A música mais importante da carreira do Foo Fighters, Everlong num molde único de voz e guitarra, com apenas Grohl no palco, fecha as festividade que duraram mais de 6 horas e quase 50 músicas.

A transmissão do show foi disponibilizada pela MTV em seu canal do youtube, mas a gravação completa de todo o tributo ficará disponível em conteúdo on demand na Paramount+, Pluto TV e no site da MTV a partir da segunda-feira, dia 5 de setembro. O segundo concerto nos mesmos moldes que está programado para rolar  em Los Angeles ainda não teve os detalhes de transmissão definidos. As vendas de ingressos e mercadorias do show beneficiaram instituições de caridade escolhidas pela família Hawkins: Music Support e MusiCares .

Setlist:
Liam Gallagher com Foo Fighters – Rock ‘N’ Roll Star
Liam Gallagher com Foo Fighters – Live Forever
Josh Homme, Chris Chaney, Omar Hakim e Nile Rodgers – Let’s Dance (David Bowie)
Gaz Coombes, Chris Chaney, Omar Hakim, e Nile Rodgers – Modern Love (David Bowie)
Chevy Metal e The Coattail Riders – Psycho Killer (Talking Heads)
Kesha, Chevy Metal e The Coattail Riders – Children of the Revolution” (T-Rex)
The Coattail Riders com Justin Hawkins – Louise
The Coattail Riders com Justin Hawkins – Range Rover Bitch
The Coattail Riders com Justin Hawkins – End Of The Line
Dave Grohl, Wolfgang Van Halen, Justin Hawkins e Josh Freese – On Fire (Van Halen)
Dave Grohl, Wolfgang Van Halen, Justin Hawkins e Josh Freese – Hot For a Teacher (Van Halen)
Violet Grohl, Greg Kurstin, Alain Johannes, Chris Chaney, Jason Falkner e Dave Grohl – Last Goodbye (Jeff Buckley)
Violet Grohl, Greg Kurstin, Alain Johannes, Chris Chaney, Jason Falkner e Dave Grohl – Grace (Jeff Buckley)
Supergrass – Go Out
Supergrass – Alright
Supergrass – caught by the fuzz
Them Crooked Vultures – Goodbye Yellow Brick Road (Elton John)
Them Crooked Vultures – Gunman
Them Crooked Vultures – Long Slow Goodbye (Queens of the Stone Age)
Pretenders com Dave Grohl – Precious
Pretenders com Dave Grohl – Tattooed Love Boys
Pretenders com Dave Grohl – Brass in Pocket
James Gang – Walk Away
James Gang – The Bomber: Closet Queen / Bolero / Cast Your Fate to the Wind
James Gang com Dave Grohl – Funk #49
Violet Grohl, Mark Ronson, Chris Chaney e Jason Falkner – Valerie (Amy Winehouse)
Brian Johnson, Lars Ulrich e Foo Fighters – Back in Black (AC/DC)
Brian Johnson, Lars Ulrich e Foo Fighters – Let There Be Rock (AC/DC)
Stewart Copeland with Foo Fighters – Next to You (The Police)
Stewart Copeland, Gaz Coombes e Foo Fighters – Every Little Thing She Does Is Magic (The Police)
Geddy Lee, Alex Lifeson e Dave Grohl – 2112 Part I: Overture (RUSH)
Geddy Lee, Alex Lifeson e Dave Grohl – Working Man (RUSH)
Geddy Lee, Alex Lifeson e Omar Hakim – YYZ (RUSH)
Brian May, Roger Taylor, Foo Fighters, Rufus Taylor e Luke Spiller – We Will Rock You (Queen)
Brian May, Roger Taylor, Foo Fighters e Rufus Taylor – I’m in Love With My Car (Queen)
Brian May, Roger Taylor, Foo Fighters, Justin Hawkins e Rufus Taylor – Under Pressure (Queen)
Brian May, Roger Taylor, Foo Fighters, Sam Ryder e Rufus Taylor – Somebody to Love (Queen)
Brian May – Love Of My Life (Queen)
Foo Fighters com Josh Freese – Times Like These
Foo Fighters com Josh Freese – All My Life
Foo Fighters com Travis Barker – The Pretender
Foo Fighters com Travis Barker – Monkey Wrench
Foo Fighters com Nandi Bushell – Learn to Fly
Foo Fighters com Rufus Taylor – These Days
Foo Fighters com Rufus Taylor – Best of You
Paul McCartney, Chrissie Hynde, Foo Fighters e Omar Hakim – Oh! Darling (The Beatles)
Paul McCartney, Foo Fighters e Omar Hakim – Helter Skelter (The Beatles)
Foo Fighters com Omar Hakim – Aurora
Foo Fighters com Shane Hawkins – My Hero
Dave Grohl – Everlon

Um comentário sobre “Review: As catárticas seis horas de celebração do Tributo a Taylor Hawkins

Deixe uma resposta