Os Stones completaram este mês 60 anos de história. Por mais que agora a banda não possa mais contar com o icônico baterista Charlie Watts, que morreu em agosto do ano passado por decorrência de um câncer, como bem disse o marketing para a nova turnê Sixty: “The Stones just keep on rolling!“, a banda resolveu seguir e chamou, a pedido do finado amigo, o baterista Steve Jordan para assumir o legado e completar o processo de um novo disco.
Os Rolling Stones tiveram ao longo da vida que travar diversas batalhas, passaram por problemas de drogas e judiciais, morte de integrantes importantes como a do primeiro líder do grupo até de fãs em pleno show e rupturas. Mesmo assim tem seus líderes aptos para continuar tocando o bom e velho rock ‘and’ roll não só em casa de shows, mas também em grandes arenas e estádios de futebol, isso com a mesma animação de 60 anos atrás.
Tendo tudo isso em mente, resolvemos procurar algo que englobasse todas as referências a banda, abordando a variedade de estilos que exploraram durante os anos, fazendo jus a história. Chegamos ao denominador comum de trazer essa lista com dezesseis faixas que representam Mick Jagger e Keith Richards – principalmente por serem os líderes e compositores -, além da importância de Brian Jones, Mick Taylor, Bill Wylman, Ronnie Wood e claro, do saudoso Charlie para a confecção das músicas.

As Tears Go By (1965)
Esta foi uma das primeiras música composta pela dupla Jagger & Richards a fazer sucesso. A primeira que fizeram foi Tell Me, mas como essa nem fez cosquinha nas paradas, achei interessante começar a lista por As Tears Go By que foi cantada primeiramente por Mariane Faithfull que pouco tempo depois se tornou namorada de Mick Jagger.
De repente, ‘Oh, nós somos compositores’, com o tipo de música mais totalmente anti-Stones que você poderia pensar na época, enquanto estávamos tentando fazer uma boa versão de Still A Fool do Muddy Waters. Quando você começa a escrever, não importa de onde vem o primeiro. Você tem que começar de algum lugar, certo? Então Andrew trancou Mick e eu em uma cozinha neste pequeno apartamento horrível que tínhamos. Ele disse: “Vocês não vão sair”, e não havia saída. Estávamos na cozinha com comida e algumas guitarras, mas não conseguíamos chegar ao banheiro, então tivemos que ter uma música. Foi aí que Andrew deu sua grande contribuição para os Stones. Essa foi uma ideia tão flatulenta, uma ideia de peido, de repente você trancando dois caras em um quarto, vai torna-los compositores. Por mais que eu pensasse esqueça isso, funcionou.
Keith Richards para o Guitar Player, 1992
Já Mick demonstrou uma opinião mais voltada ao sentido poético do som.
Eu escrevi a letra e Keith escreveu a melodia. É uma música muito melancólica para um jovem de 21 anos escrever: “A noite do dia, assistindo as crianças brincarem” – é muito idiota e ingênuo, mas tem uma coisa muito triste sobre isso, quase como se só uma pessoa mais velha que poderia escrever isso. Você sabe, é como uma metáfora para ser velho: você está assistindo crianças brincando e percebendo que não é uma criança. É uma música relativamente madura considerando o resto da produção na época. E não pensamos em fazer isso, porque os Rolling Stones eram um grupo de blues masculino. Mas a versão de Marianne Faithfull já era um grande e comprovado sucesso… primeiras coisas que escrevi.
Mick Jagger para a Rolling Stone em 1995
The Last Time (1965)
Esta foi a primeira música que Mick Jagger e Keith Richards escreveram que virou um single de lado A. Os Stones tocaram muitos covers antes de aprenderem a escrever músicas e The Last Time foi um ponto de partida para alçarem voos mais altos.
No livro de 2003 According to the Rolling Stones, The Last Time foi apontada como uma espécie de ponte para pensar em escrever para os Stones.
Não achamos difícil escrever músicas pop, mas foi MUITO difícil – e acho que Mick vai concordar – escrever uma para os Stones. Pareceu-nos que levou meses e meses e no final chegamos a The Last Time, que era basicamente uma readaptação de uma música gospel tradicional que havia sido cantada pelos Staple Singers, mas felizmente a música em si remonta às brumas do tempo. (…) Nos deu algo para construir, para criar a primeira música que sentimos que poderíamos apresentar decentemente para a banda tocar… nos deu um nível de confiança, um caminho de como fazê-lo. E uma vez que fizemos isso, estávamos no jogo. Aqui não havia misericórdia, porque então tínhamos que inventar o próximo hit. Tínhamos entrado em uma corrida sem nem saber.
Keith Richards
Curiosidades interessantes: Phil Spector ajudou na produção. Você pode ouvir sua abordagem “Wall Of Sound” na gravação; Muitos fãs de gospel sentiram que os Stones a roubaram, os The Staple Singers nunca receberam royalties pelo menos. em contra partida o ex empresário da banda não deixava nada passar.
Uma música de 1997 chamada Bitter Sweet Symphony de The Verve sampleou uma versão orquestral obscura desta faixa gravada pela The Andrew Oldham Orchestra em 1966. Oldham era um dos empresários dos Rolling Stones e, seguindo uma sugestão do produtor dos Beatles, George Martin, ele lançou um álbum chamado The Rolling Stones Songbook que continha esta faixa e outras versões instrumentais de sucessos do grupo. The Verve obteve os direitos da amostra em si da Decca Records, mas eles não obtiveram os direitos de publicação de The Last Time até pouco antes da música ser lançada.
O ex-empresário dos Stones, Allen Klein, que detinha esses direitos, conseguiu adiar o lançamento até que The Verve assinasse 100% da publicação da música, dando-lhe royalties extensos, já que “Bittersweet Symphony” foi um sucesso de rádio e até usou em um comercial da Nike.
(I Can’t Get No) Satisfaction (1965)
Mesmo querendo fugir da mesmice, não tem como falar de The Rolling Stones e não falar de (I Can’t Get No) Satisfaction; incontestavelmente o maior hit da banda, diria atemporal. Essa associação já está enraizada e não se tem o que reclamar.
Em 6 de maio de 1965, após uma apresentação caótica para cerca de três mil pessoas no Jack Russell Stadium em Clearwater, Flórida, durante a primeira turnê da banda pelos Estados Unidos, foi feita despretensiosamente a faixa por Keith Richards através do riff improvisado de guitarra e com a letra “Can’t get no bliss” na cabeça. Ele gravou em um toca-fitas portátil, voltou a dormir e trouxe para o estúdio naquela semana. A fita continha seu riff de guitarra seguido pelos sons dele roncando.
As pessoas ficam muito blasé sobre seu grande sucesso. Foi a música que realmente fez os Rolling Stones, nos mudou de apenas mais uma banda para uma banda enorme e monstruosa. Você sempre precisa de uma música. Não éramos americanos, e a América era grande, sempre quisemos fazer sucesso aqui. Foi muito impressionante a maneira como essa música e a popularidade da banda se tornaram uma coisa mundial. É uma música de assinatura, na verdade, em vez de uma ótima pintura clássica, “porque é apenas uma coisa” – um tipo de assinatura que todo mundo conhece. Tem um título muito cativante. Tem um riff de guitarra muito cativante. Tem um ótimo som de guitarra, que era original na época. E captura o espírito da época, o que é muito importante nesse tipo de música… Que era alienação. Ou é um pouco mais do que isso, talvez, mas um tipo de alienação sexual. Alienação não é a palavra certa, mas é uma palavra que serviria.
Mick Jagger em 1995
Richards não queria ela como single, mas foi convencido de que era pra ser. Jack Nitzsche trabalhou com os Stones nisso, tocando piano e ajudando a produzi-lo. Ele também tocou a parte do pandeiro porque achava que a tentativa de Jagger não tinha alma. Nitzsche foi um produtor de sucesso que trabalhou em muitos dos primeiros sucessos dos Stones, incluindo Get Off My Cloud e Paint It Black. Ele morreu em 2000 aos 63 anos.
Os Stones não possuem os direitos de publicação desta música. Em 1965, eles assinaram um acordo com um advogado americano chamado Allen Klein e permitiram que ele fizesse algumas manobras contábeis criativas para evitar os altos impostos britânicos. Ele acabou controlando a maior parte de seu dinheiro e, para sair do contrato, os Stones assinaram os direitos de publicação de todas as músicas que escreveram até 1969. Klein, que morreu em 2009, ainda teve que pagar royalties ao compositores, mas controlava como as músicas eram usadas.
Algumas curiosidades interessantes: Ela tem uma forte inspiração na Motown e em Chucky Berry pelas músicas Dancing In The Street e Thirty Days respectivamente da Martha e The Vandellas e a de Berry respectivamente; Vila Sésamo fez uma versão chamada “(I Can’t Get No) Cooperation“, que é sobre uma criança na escola tendo problemas para encontrar alguém para brincar de pular corda ou andar de gangorra; A música tem um grande número de regravações que vão de Otis Redding a Britney Spears e Devo.
Paint It Black (1966)
Essa música foi escolhida por representar a tentativa dos Stones de entrar na onda lisérgica do meio pro fim dos anos 60. A genialidade de Brian Jones, que na época era fundamental para essa parte instrumental experimental da banda e do disco Aftermath, se faz bem presente. Ele utilizou instrumentos como cítara, dulcimer dos Apalaches, koto japonês e marimbas, violão e gaita. Para a faixa extremamente hipnotizante em questão ele tocou a citara, indo de encontro a tendência protagonizada pelos Beatles de usar instrumentos indianos.
Interessante pensar que os Rolling Stones escreveram isso como uma música soul convencional, muito mais lenta. Tal formato foi alterado por conta de experiências de Bill Wyman que começou a brincar no órgão durante as sessões, fazendo uma “decolagem” do original, como uma paródia divertida de músicas tocadas em casamentos judaicos. O co-gerente Eric Easton (que havia sido organista) e Charlie Watts se juntaram e improvisaram um padrão de bateria duplo, ecoando o ritmo, ouvido em algumas danças do Oriente Médio. Este novo ritmo mais otimista foi então usado na gravação como um contraponto às letras mórbidas.
Mick Jagger sobre o som psicodélico da música:
“Aquela era a época de muito ácido. Tem cítaras. É como o início de uma psicodelia miserável. Foi assim que os Rolling Stones começaram – talvez devêssemos ter um renascimento disso.”
Jumpin’ Jack Flash (1968)
Essa faixa mostra o quanto a banda poderia produzir após a catástrofe que foi o lançamento de Their Satanic Majesties Request onde a banda tentou entrar na onda lisérgica famosa na época por conta do álbum “Sgt. Peppers” dos Beatles. Agora eles trazem seu blues rock tradicional, Mick fez uma letra que solta frases fortes como “I was born in a cross-fire hurricane”. Segundo ele, para fazer uma metáfora para afastar todas as coisas ácidas, incluindo o produtor de shows Andrew Loog Oldham.
Bill Wyman escreveu parte dessa música, mas ainda foi creditada apenas a Mick Jagger e Keith Richards, com os quais Wyman nunca ficou feliz.
Nós chegamos cedo ao estúdio uma vez e… na verdade eu acho que era um estúdio de ensaio, eu não acho que era um estúdio de gravação. E havia apenas eu, Brian e Charlie – os Stones NUNCA chegam. ao mesmo tempo, você sabe – e Mick e Keith não vieram. E eu estava apenas brincando e apenas sentei ao piano e comecei a fazer esse riff, da-daw, da-da-daw, da-da -daw, e então Brian tocou um pouco de guitarra e Charlie estava fazendo um ritmo. Nós estávamos apenas brincando com isso por 20 minutos, apenas preenchendo o tempo, e Mick e Keith entraram e paramos e eles disseram: ‘Ei, isso soou muito bem, continue, o que é isso? E então no dia seguinte nós gravamos.
Bill Wyman
Como Richards explicou na Rolling Stone , ele está muito orgulhoso de sua parte de guitarra nesta música.
Quando você recebe um riff como ‘Flash’, você tem uma grande sensação de euforia, uma alegria perversa. Eu posso ouvir a banda inteira decolando atrás de mim toda vez que eu toco ‘Flash’ – há esse tipo extra de overdrive turbo. Você salta no riff e ele toca você. Levitação é provavelmente a analogia mais próxima do que eu sinto.
Keith Richards
Sympathy For The Devil (1968)
Mick Jagger passou algum tempo no Rio de Janeiro na Bahia em janeiro de 1968, quando participou de festas populares e sessões de Umbanda. “Passávamos dias deitados na praia ou brincando com crianças de uma casa próxima. Tocávamos tambores com os candomblés”, disse Jagger durante entrevista à revista americana Esquire, no ano seguinte.
Ela perpetuou a imagem dos Stones como bad boys assustadores, em oposição aos Beatles. Foi um grande marketing para a banda, que conseguiu alguma imprensa ao sugerir um interesse pelo ocultismo. Mas Jagger afirma que isso é sobre o lado sombrio do homem, não uma celebração ao satanismo.
A letra foi inspirada em The Master and Margarita, um livro de Mikhail Bulgakov. A cantora britânica Marianne Faithfull era namorada de Mick Jagger na época e ela lhe deu o livro. Faithfull veio de uma classe alta e expôs Jagger a muitas novas ideias. No livro, o diabo é uma socialite sofisticada, um “homem de riqueza e bom gosto“. O título original era “O Diabo é Meu Nome“.
As músicas podem se metamorfosear, e ‘Sympathy For The Devil’ é uma daquelas músicas que começaram como uma coisa, eu escrevi de uma maneira e então começamos a mudar o ritmo. E então se tornou completamente diferente. E então ficou muito emocionante. Começou como uma música folclórica e depois virou samba. Uma boa música pode se tornar qualquer coisa. Tem muitas referências históricas e muita poesia.
Mick Jagger
Alguns dos eventos históricos mencionados nesta música são a crucificação de Cristo, a Revolução Russa, a Segunda Guerra Mundial e os assassinatos de Kennedy. Robert Kennedy foi morto em 5 de junho de 1968, depois que Mick Jagger começou a escrever a música. Sua letra original era “quem matou Kennedy?” referindo-se ao assassinato de John F. Kennedy em 1963, mas ele mudou para “quem matou os Kennedys?”. Outros eventos históricos mencionados na música incluem a Guerra dos Cem Anos (“lutou por dez décadas”) e a Blitzkrieg nazista (“a blitzkrieg se enfureceu e os corpos fediam“).
‘Sympathy’ é uma música bastante edificante. É apenas uma questão de olhar o diabo na cara. Ele está lá o tempo todo. Eu tive contato muito próximo com Lúcifer – eu o encontrei várias vezes enquanto estava mal – as pessoas tendem a enterrá-lo e esperar que ele se resolva e não levante sua cabeça feia. Quando essa música foi escrita, foi uma época de turbulência. Foi o primeiro tipo de caos internacional desde a Segunda Guerra Mundial. E a confusão não é aliada da paz e do amor. Você quer pensar que o mundo é perfeito. Todo mundo é sugado para isso . E como a América descobriu para sua consternação, você não pode se esconder. Você também pode aceitar o fato de que o mal está lá e lidar com ele de qualquer maneira que puder. Sympathy for the Devil é uma canção que diz: Não esqueça dele. Se você o confrontar, então ele está desempregado.
Keith Richards, 2002
No Expectations (1968)
Quando o fundador dos Rolling Stones, Brian Jones, morreu em 1969, essa música ganhou um novo significado, por conta de versos como “Nosso amor é como nossa música, esteve aqui e depois se foi” ela se tornou uma elegia adequada. O slide guitar de Jones na música foi uma de suas últimas contribuições significativas para o grupo; depois de anos de vício em drogas e brigas com a banda, ele foi demitido do grupo em junho de 1969 e morreu menos de um mês depois.
Esse é Brian tocando slide em sua guitarra de aço. Estávamos sentados em círculo no chão, cantando e tocando, gravando com microfones abertos. Essa foi a última vez que me lembro de Brian realmente envolvido em algo que realmente valeu a pena fazer, ele estava lá. É engraçado quando nos lembramos – mas esse foi o último momento em que me lembro dele fazendo isso, porque ele havia perdido o interesse em tudo.
Mick Jagger
Abaixo a fantástica performance ao vivo da música feita no especial da BBC Rolling Stones Rock and Roll Circus, com os Stones sendo os anfitriões e atração em destaque, onde apresentaram seis de seus clássicos atemporais. Em termos de diferença está na despretensão e até desleixo da banda com um vocal de Mick Jagger melhor que o da versão original.
Gimme Shelter (1969)
Essa faixa aborda a agitação política e social da época. Houve a guerra no Vietnã, distúrbios raciais e Charles Manson. Essa é uma das faixas politizadas do grupo ao lado de Street Fighting Man, entretanto, fez muito mais sucesso e não falta nos setlists da banda até nos dias de hoje. Mick Jagger canta sobre a necessidade de abrigo desta “Tempestade” embalada pelos riffs de Keith e os solos de Mick Taylor, um dos primeiros trabalhos do guitarrista com a banda.
Merry Clayton é aquela que acrescenta um poder vocal a Mick Jagger na versão tão conhecida de estúdio. Ela é uma cantora gospel que fez backing vocals para vários artistas, incluindo Ray Charles. A cantora teve um papel regular no programa de TV dos anos 80 Cagney and Lacey, e interpretou uma empregada no filme Maid To Order.
Essa música foi escrita durante a Guerra do Vietnã e, portanto, é muito sobre a consciência de que a guerra está sempre presente; estava muito presente na vida naquele momento. Mary Clayton, que fazia os vocais de apoio, era uma cantora de fundo conhecida de um dos produtores. De repente, queríamos alguém para cantar no meio da noite, e ela estava por perto. Ela veio com seus bobes, direto da cama, e teve que cantar essa letra muito estranha. Para ela, foi um pouco estranho – para qualquer um, no meio da noite, teria sido estranho. Ela foi ótima.
Mick Jagger
Das outras grandes curiosidades da música, os Stones gravaram ela usando amplificadores Triumph velhos e desgastados para obter um som distinto. Gimme Shelter é o título do filme que documentou a turnê dos Stones em 1969, incluindo o show em Altamont, onde um fã foi esfaqueado por um segurança do Hells Angels. O filme foi lançado às pressas em 1970 para sair antes do documentário de Woodstock. Foi lançado em vídeo em 1992 e relançado nos cinemas em 2000 para o 30º aniversário. George Lucas, famoso por Star Wars , estava na equipe do filme.
Nos shows, a interpretação ficou a cargo de Lisa Fischer que excursionou com os Stones de 89 a 2015, trazendo uma identificação dos fãs a cantora devido a sua performance visceral. Na atuais tours, Sasha Allen assumiu o posto dignamente.
Wild Horses (1971)
Já falamos sobre o discaço que é o Sticky Fingers no nosso especial Revisando Clássicos. Foi um verdadeiro sucesso de vendas e crítica, muito por conta da entrada do talentoso jovem guitarrista Mick Taylor e os compositores da banda estarem em momentos inspirados no fim da década de sessenta.
Curiosamente, a forma como a música veio a existir é uma prova viva do relacionamento profissional entre os “Glimmer Twins“, que continuou a funcionar de maneiras estranhamente não ortodoxas. Apesar de terem diferentes perspectivas sobre o significado da faixa, eles juntaram seus cérebros para criar uma música eterna. Tudo começou com a frase, “cavalos selvagens não podem me arrastar para longe”, que foi escrita por Richards para o filho recém-nascido, Marlon. Era 1969 e Keith lamentava ter que deixar seu filho para sair em turnê. A partir daí, Jagger sentiu uma conexão instantânea, que o inspirou a re-imaginar a música em seu molde. Sua reescrita foi baseada em seu relacionamento com Marianne Faithfull, que estava se desintegrando.
‘Wild Horses’ quase se escreveu sozinho. Foi realmente muito a ver com, mais uma vez, brincar com as afinações. Eu encontrei esses acordes, especialmente fazendo isso em uma de doze cordas para começar, o que deu à música esse caráter e som.
Keith Richards em sua autobiografia Life (2010)
Os Stones gravaram esse som durante uma sessão de três dias no Muscle Shoals Sound Studios no Alabama de 2 a 4 de dezembro de 1969. Foi a última das três canções feitas nessas sessões, depois de Brown Sugar e You Gotta Move. O guitarrista Mick Taylor, tocou esta música no que é conhecido como “afinação de Nashville”, em que você usa todas as primeiras e segundas cordas do violão e as afina em oitavas.
Wild Horses foi lançado pela primeira vez pelo Gram Parsons’ Flying Burrito Brothers em 1970 . A versão dos Stones foi escrita em 1969, mas teve que esperar por Sticky Fingers em 1971. Parsons era um bom amigo de Keith Richards, e os músicos costumavam citar uns aos outros como influência. Disse Parsons:
Eu peguei um pouco de rock and roll de Keith Richards, e Mick Jagger sabe muito sobre música country. Eu aprendi muito sobre cantar com Mick. Wild Horses tem uma combinação lógica entre a música deles e a nossa. É algo que Mick Jagger pode aceitar, e é algo que eu posso aceitar. E minha maneira de fazer isso não é necessariamente onde está, mas é certamente a maneira que eu sinto.
Muitas músicas folk e com pegada country vieram depois, como Dead Flowers, Sweet Virginia, Lovin Cup e tantas outras. Há algumas apresentações com convidados que são de arrepiar, duas que impactam de cara são: com Eddie Vedder do Pearl Jam em 2005 e com a Florence Welch a musa do Florence + The Machine em 2018. Abaixo um vídeo deles escutando a faixa no backstage das gravações.
Happy (1972)
Esta foi a primeira música dos Stones a entrar nas paradas com Keith Richards cantando. Em show dá a oportunidade de Mick descansar a voz e a Richards a chance de estar no centro das atenções.
A música está presente no Exile on Main St., disco que representa o tempo em que a banda teve que sair da Inglaterra devido aos altos impostos que eram cobrados. Eles se refugiaram na França na casa que era praticamente um castelo de Keith Richards. Com todos acomodados com suas famílias, regado de drogas e muita música, eles ficaram por quase um ano esboçando o disco. Depois do grande sucesso do Sticky Fingers que marcava a entrada do guitarrista Mick Taylor, Exile veio para unir os músicos e intensificar o misticismo da banda.
Dizem que apenas o ato de sorrir pode fazer você se sentir melhor. Bem, cantar “Happy” também pode te fazer feliz.
Essa é uma música estranha, porque se você a toca, você realmente fica feliz, mesmo nas piores circunstâncias. Ela tem um pequeno salto mágico. Eu a escrevi uma tarde quando estávamos gravando Exile on Main St.na França e o estúdio ficava no meu porão. E Bobby Keys estava comigo e eles fizeram essa porrada. Então nós descemos e gravei apenas com guitarra e Bobby Keys no saxofone barítono. Enquanto estávamos fazendo isso, Jimmy Miller, que era nosso produtor na época, entrou. E ele era um baterista muito bom também. Então nós dissemos, bem, vamos colocar pra gravar, vamos apenas esboçá-la e tocá-la mais tarde. Mas é mais uma daquelas coisas que acabou ficando no disco. Foi apenas um daqueles momentos que você consegue que são muito felizes. E eu posso tocá-lo agora e isso lhe traz muita diversão. Não sei por que, exceto talvez pela palavra.
Keith Richards
It’s Only Rock ‘N’ Roll (But I Like It) (1973)
Uma verdadeira ode ao Rock N’ Roll que teve o guitarrista do Faces, Ron Wood, que ainda não havia se juntado aos Rolling Stones, com um grande papel na composição. Wood morava em uma propriedade em Londres chamada The Wick, que Pete Townshend comprou mais tarde. Foi lá que Wood montou a música em uma sessão com Mick Jagger nos vocais, David Bowie cantando no fundo, o músico Willie Weeks no baixo com Kenney Jones, também do Faces, na bateria. Quando Keith Richards conseguiu a gravação, ele colocou suas próprias partes de guitarra, mas deixou algumas das 12 cordas de Wood, Jones, Weeks e Bowie permaneceram no produto final.
O título tem sido muito usado pelos jornalistas, a frase se tornou uma grande coisa. Essa versão que está lá é a versão original, que foi gravada meio no porão de Ron Wood, se bem me lembro. demo. É uma música muito Chuck Berry, mas tem um sentimento diferente de uma música de Chuck Berry. Você não pode realmente fazer imitações adequadas de pessoas. Você sempre tem que começar imitando alguém. Acontece com pintores e atores até desenvolver o seu próprio estilo. E eu acho que foi o que aconteceu com essa banda e todos os músicos envolvidos. Você começa com uma coisa e depois ela se transforma em outra, mas ainda reconhece o fato de que essas influências vieram de algum lugar. Mas nem todo mundo sabe disso, você termina fazendo esse novo amálgama. E fora de tudo isso difere músicas, com todo esse blues, com toda esse country, com todo esse jazz, dance music e reggae, você sabe, você faz algo que é seu.
E ela traz algumas curiosidades interessantes também: O vídeo promocional (isso antes da MTV) mostrava os Stones vestindo roupas de marinheiro em uma tenda de circo que lentamente se enchia de bolhas. As bolhas acabaram cobrindo Charlie Watts, que era o único sentado. Isso causou certo descontentamento do baterista com vídeos; A música é considerada pelos críticos como uma tiração de sarro dos Stones com o glam rock, já que em várias partes da letra há referências a Marc Bolan e Bowie; Ela já teve versões feitas pelas Spice Girls, Emmylou Harris, Natalie Imbruglia, The Cranberries e Eurythmics (que lançaram sua versão como single em apoio a uma instituição de caridade chamada Children’s Promise).
Angie (1973)
Uma balada rara para os Stones, este foi o primeiro single lançado para o álbum Goat’s Head Soup. Não era típico do som deles, já que a maior parte do material da banda na época era duro e agressivo. Ainda assim, foi um grande sucesso, e sua única balada que atingiu o primeiro lugar nos EUA.
Keith Richards escreveu essa música na Suíça depois que o álbum Exile on Main St. foi aprovado pela gravadora, mas antes de ser lançado. Eles tentaram pela primeira vez ficar pela Jamaica no estúdio Dynamic Sounds em Kingston. Eles faziam muito pouco nessas sessões, chegando todas as noites com escolta armada e trancando as portas até que terminassem o dia. Grande parte do álbum foi feito em sessões em Los Angeles e Londres sob condições mais hospitaleiras.
O grande rumor sobre essa música é que ela foi escrita sobre a esposa de David Bowie, Angela. Ela escreveu em sua autobiografia que uma vez ela encontrou Bowie e Mick Jagger na cama juntos – uma história que Jagger nega. De acordo com o boato, o vocalista escreveu essa faixa para apaziguá-la, mas foi o colega de banda, Keith Richards, que escreveu a maior parte da música. Jagger deu a seguinte declaração:
As pessoas começaram a dizer que a música foi escrita sobre a esposa de David Bowie, mas a verdade é que Keith escreveu o título. Ele disse, ‘Angie’, e eu acho que tinha a ver com sua filha. chamado Angela. E então eu apenas escrevi o resto.
O grande destaque da gravação é o piano emocionado de Nicky Hopkins, um arranjo capaz de fazer até o homem mais machão ir às lágrimas.
Miss You (1978)
Essa aqui traz os Stones entrando na onda disco com o o som e a cara dos Stones. Miss You foi o primeiro single lançado a partir de Some Girls. Jagger teve um papel de liderança no álbum, principalmente porque Keith Richards havia sido preso por posse de drogas em Toronto no ano anterior, e não estava claro o que sua sentença seria. Diante de um máximo de prisão perpétua, Keith tinha outras coisas para se preocupar além de fazer um álbum. Após o lançamento, o juiz canadense condenado Richards para continuar o seu tratamento da dependência e desempenhar um show beneficente para cegos.
Muitas dessas músicas como ‘Miss You’ foram fortemente influenciadas por ir às discotecas. Você pode ouvi-las em muitos desses quatro ritmos no chão e na bateria estilo Filadélfia. Mick e eu usamos ir muito a discotecas… Foi um ótimo período. Lembro-me de estar em Munique e voltar de um clube com Mick cantando uma das músicas do Village People – ‘ YMCA ‘, acho que era – e Keith ficou louco, mas soou muito bem na pista de dança.
Charlie Watts
Tocaram na faixa Sugar Blue (James Whiting) na gaita, Mel Collins no sax e Ian MacLagan no piano elétrico. Collins havia tocado com King Crimson, MacLagan estava na banda Faces com o guitarrista Ron Wood que já havia se tornado membro do Stones após a saída de Mick Taylor. Sugar Blue era do Harlem, mas estava tocando no metrô de Paris (seu metrô) quando alguém da gravadora dos Stones o ouviu e o trouxe para as sessões. O icônico Billy Preston criou as linhas de baixo que Bill Wylman depois patenteou.
A letra foi aparentemente inspirada pela deterioração do relacionamento de Mick Jagger com sua esposa, Bianca. Entretanto, Jagger afirmou o contrário: “Miss You é uma emoção, não é realmente sobre uma garota. Para mim, o sentimento de saudade é o que faz a música”.
Start Me Up (1981)
Start Me Up remonta a 1977. Os Stones a gravaram pela primeira vez em Paris naquele ano para as sessões de Some Girls no mesmo dia em que gravaram Miss You. Após os dois primeiros takes, eles gravaram várias vezes com uma batida de reggae, mas não gostaram do resultado. Eles a colocaram de lado até 1981, quando precisaram de uma música para o Tattoo You . Eles voltaram para o segundo take e o retrabalharam para o álbum.
Foi provavelmente a música mais importante da banda nos 80’s, um tempo em que os discos da banda não vendiam tanto apesar das turnês continuarem gigantescas e em estádios. Nesse disco também tem a boa balada festiva Waiting on The Friend. Mas os discos dos anos 80 não são tão queridos, o clima da banda estava pesado, com série de prisões e rehabs, tanto que depois de Steel Whels de 1989 eles deram uma pausa de 5 anos em lançamentos.
Nos Estados Unidos, esta faixa ficou na posição de número 2 no Halloween de 1981, ficando atrás apenas de Arthur’s Theme (Best That You Can Do) de Christopher Cross.Keith Richards explicou como isso foi do reggae ao rock.
A história aqui é sobre o milagre de termos encontrado essa faixa. Eu estava convencido – e acho que Mick também estava – que era definitivamente uma música reggae. E nós fizemos isso em 38 takes – ‘Start me up. Yeah, cara, legal. Você sabe, você sabe, Jah Rastafari.’ E não deu certo. E em algum lugar no meio de uma pausa, só para quebrar a tensão, Charlie e eu tocamos a versão rock and roll. E logo depois voltamos direto para o reggae. E esquecemos totalmente disso, uma pequena explosão no meio, isso até cerca de cinco anos depois, quando alguém vasculhou todos esses takes de reggae. Depois de fazer cerca de 70 takes de Start Me Up, ele encontrou aquele no meio. Estava enterrado lá. De repente Eu tinha, ninguém se lembrava de ter cortado. Mas nós voamos direto sobre ele novamente. Fizemos alguns overdubs, e foi como um presente, sabe? Um dos grandes luxos dos Stones é que temos uma enorme, grande lata de coisas. Quero dizer, o que qualquer um ouve é apenas a ponta de um iceberg, você sabe. E lá embaixo há cofres de coisas. Mas você tem que ter paciência e tempo para realmente peneirar isso.
Uma das curiosidades mais legais além das citadas é que, assim como ele fez com Honky Tonk Women, ele toca Start Me Up em uma afinação em sol aberto. A tablatura de guitarra contém notação apenas para as cinco cordas superiores; Além disso, é uma das músicas mais tocadas para agitar as torcidas antes de um evento esportivo.
Love Is Strong (1994)
Os anos 90 começaram para os Stones trazendo uma novidade meio triste e ao mesmo tempo receptiva. O álbum Voodo Lounge ganhou o primeiro Grammy de “Melhor Álbum de Rock”. Foi o primeiro álbum gravado pelos Stones sem Bill Wyman, um dos fundadores da banda. Foi também o primeiro lançamento dos Stones pela Virgin Records.
Esse single trazia uma remodelagem não só do som, trazendo ele para a sonoridade da época, mas também é o primeiro que o baixista Bill Wyman não toca. Darryl Jones, que havia tocado com Miles Davis e Sting, assumiu o baixo dos Stones e segue até hoje com o grupo.
O vídeo foi dirigido por David Fincher, cujos filmes incluem Se7en e The Social Network . O clipe contém efeitos visuais impressionantes, feitos no estúdio Digital Domain e supervisionados por Fred Raimondi. Feito em preto e branco, vemos a banda como gigantes pisando em Nova York como Godzilla passando por Tóquio – uma imagem que foi usada em grande parte do material promocional da turnê Voodoo Lounge .
Nos anos posteriores, o efeito da disparidade de tamanho se tornaria comum, mas não foi tarefa fácil em 1994, quando essas tentativas geralmente acabavam parecendo o clipe dos Beastie Boys para Intergalactic. Usando técnicas avançadas de composição, Fincher e Raimondi conseguiram colocar as figuras humanas no cenário com um realismo incrível, usando movimentos de câmera para mantê-lo interessante. O vídeo ganhou o prêmio da MTV de “Melhores Efeitos Especiais”.
Doom and Gloom (2012)
Doom And Gloom fecha nossa lista por ter sido um grande hit inesperado lançado em 2012. A música foi gravada em Paris e conta com produção de Don Was, que já trabalhou com os Stones em seus álbuns da década de 90 e 2000: Voodoo Lounge, Stripped, Bridges To Babylon, Live Licks e A Bigger Bang. Ela é uma das duas canções inéditas de “GRRR!”, álbum que reúne em três CDs os grandes sucessos dos Stones. A outra faixa, também genial, é Plured My Soul uma sobra do Exile Of Man St. de 1973.
O clipe foi dirigido por Jonas Akerlund e tem como estrela a atriz Noomi Rapace, que atuou na versão sueca de “Os homens que não amavam as mulheres”, de 2009, e conta com cenas de nudez, zumbis, armas, explosões e uma cena curiosa em que a Rapace exagera na comilança. A música foi usada como trilha do filme “Vingadores: Ultimato” numa cena com os personagens dos “Guardiões da Galáxia“.
Na época da turnê dos 50 anos, a banda estava sendo muito festejada e fazendo muitas entrevistas devido ao entusiasmo dos fãs que não escutavam nada novo deles desde 2005 com o Bigger Bang. Frente a esse poder de sempre retornarem em alta, Keith Richards falou certa vez a BBC: “Faz muito bem para a saúde tocar rock & roll em uma banda de vida limpa como os Rolling Stones. Vocês deveriam ver, é melhor que ir à igreja” Completando ao revelar o segredo da banda ter uma vida tão longeva: “é só a determinação de sobreviver a todos os demais“.
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Parabéns pela matéria! gosto muito dos Stones e Beatles também… Bob Dylan, Bowie, Pink Floyd, Supertramp e U2; os Beatles tem assim como os Stones verdadeiros Hinos e diante disso acho As Tears Go By um verdadeiro Hino… lindíssima canção no vocal de Jagger… uma obra prima! Parabéns Rolling Stones!