por Roani Rock
Fazendo alusão ao refrão de ‘Future Love’, esse disco “te pega.” Dá vontade de emoldurar essa obra prima e deixar as canções soarem em um repeat infinito, é um afago ao coração
Roani Rock
Gravadora: Wichita Recordings
Data de lançamento: 16/08/2019

Reza a lenda que por conta do The Jesus and Merry Chain estarem com os olhos fixos para seus sapatos para não encararem o público por conta da timidez. Boato ou apenas atenção redobrada no manuseio dos pedais e distorções, veio daí o título para o som desconcertante proposto pelo duo: Shoegaze.
o ritmo muitas vezes taxado como introspectivo e regado de muita lisergia não teve uma vida muito longa, pelo menos em termos de projeção mundial. O Shoegaze contou com o já citado The Jesus and Mary Chains, My Bloody Valentine, Slowdive e com o Ride na metade da década de 80 até início dos anos 90.
É importante mencionar que a forma orquestral incorporada aos ruídos vem de muito antes disso. Das distorções propostas pelo The Velvet Underground na década de 1970, aos ruídos sombrios que abasteceram os primórdios do Pós-Punk, anos de experimentação levaram ao sustento do estilo, que ao fim dos anos 1980 explodiu.
Nowhere, o primeiro álbum do Ride, surgiu como um ponto de concentração para aquilo que iria ocupar a música britânica nos primeiros anos da década de 1990. Por conta desse álbum muitas bandas tiveram que adaptar seu estilo para o que o Ride fez ser tendência. Com a predileção ao Britpop o shoegaze tomou uma morfina e entrou em estado de hibernação.
Após a separação da banda em 1996, os membros passaram a vários outros projetos, principalmente Andy Bell, que se tornou o baixista do Oasis . Chegado o ano de 2017, o Ride se reuniu e o universo da música se transformou completamente, a música eletrônica virou a tendência e a nova transação das bandas de rock na tentativa de emplacar.

Os integrantes do Ride estavam atentos e em grande estilo trouxeram ao mundo o álbum Weather Diaries que trouxe o Shoegaze consigo, mostrando que o estilo ainda tinha novidades e algo interessante a apresentar para conquistar um novo público que degusta de algo com vibe parecida no Indie rock e trance.
Quase 40 anos após o lançamento de Nowhere, o Ride partiu para o segundo álbum desse retorno – 6º de estúdio – com a consciência de que a volta havia sido celebrada, seja pelos saudosistas ou por uma nova geração propensa a conhecer um estilo antigo que conversa com a atualidade. This Is Not A Safe, lançado em agosto, é o álbum que o mundo e o Rock estavam precisando.
O flerte do Shoegaze com os sons atuais faz a nova alçada de Andy Bell com seus fiéis parceiros Mark Gardener (vocal), Steve Queralt (baixo), Laurence “Loz” Colbert traz um protagonismo nunca reconhecido e talvez até não buscado pelos membros, há mais do que um exercício peculiar de íntima relação entre versos e sons explorados em meio a orquestrações ruidosas, há uma verdade.
O álbum começa com R.I.D.E, uma faixa que chega como um belo chute na porta. É uma bela onda lisérgica que poderia tocar numa have ininterruptamente.
Future Love é uma querida progressão, diferente do que se propõe as temáticas do Shoegaze, que são mais depreciativas. Essa canção de amor combina com um hit de verão é a melhor música do álbum e dentre outras definições positivas é o que definimos facilmente como um acerto.
A divertida repetition combinaria perfeitamente com um show em festival como o Lollapalooza. Bom riff e bem pop assim como é o caso de Kill Switch que é a primeira música do álbum que traz a raiz do Shoegaze, as guitarras distorcidas combinadas com suaves melodias vocais em volumes baixos, quase beirando o ruído, dando uma ambiência etérea para o som.
O Ride também tem um pouco do Dream Pop e isso fica evidente na canção Clouds of Saint Marie. Este é um gênero musical do rock alternativo e neo-psicodelia que se desenvolveu durante a década de 1980. Ele aborda uma preocupação com as atmosferas sonoras e texturas ambientais, tanto quanto à melodia doce e romântica, quem usa muito desse estilo é o Smashing Pumpkins.
As músicas mais psicodélicas do álbum Eternal Recurrence e In This Room são uma preciosidade que conseguem levar o ouvinte realmente para outra dimensão mediante a suas camadas de guitarras cheias de efeitos e vocais precisos.
Jump Jet, Dial Up, End Game são outras canções providenciais para deixar o disco redondinho. A balada Shadown Behind The Sun é o segundo grande hit do álbum, bem pop com vocais impressionantes ecoando o título da canção em um refrão como um mantra. É um dos melhores discos do ano com segurança tanto pela produção do DJ Erol Alkan quanto pela qualidade das músicas e do Ride.
Nota Final: 9/10
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