Por Roani Rock
É com alguma tristeza e grande alívio que eu digo a vocês que eu deixo o Oasis essa noite. As pessoas vão dizer e escrever o que quiserem, mas eu simplesmente não poderia trabalhar com Liam por mais um dia.
Noel Gallagher em comunicado sobre sua saída do Oasis
28 de agosto de 2009 foi uma data intragável. Veio como um chute no saco ou uma cólica fora de época no caso das meninas. Sem aviso, imediato e derrubou a muitos por não ter sido algo esperado. Talvez para Noel Gallagher já tinha passado da hora e para Liam Gallagher nem nos seus piores pesadelos poderia ter considerado esse adeus definitivo como algo sério.
Dez anos se passaram aparentemente depressa, mas na verdade durou uma vida ou o suficiente para os irmão obterem novas vidas, se preferir definir dessa maneira. Foi tempo suficiente para acontecer muita coisa no âmbito profissional e pessoal dos Gallaghers, numa mescla positiva e negativa.
Noel Gallagher lançou seu primeiro álbum solo voltado para uma vertente folk com certo instrumental mais moderno, dá para considerar o melhor trabalho solo de um ex-membro do Oasis e um dos melhores discos solos de um artista do século XX. Em seguida partiu para um segundo disco mais eletrônico ainda flertando com o estilo Oasis de composição, mas menos pop que o anterior.
Pouco tempo depois, fez uma inimaginável amizade com Damon Albarn, ex-Blur e líder do Gorillaz, a quem certa vez se referiu dizendo que gostaria de ver morrer de AIDS. Águas passadas, gravaram um som juntos para o mais recente álbum do Gorillaz. Noel também foi responsável por ser a atração de abertura do U2 na turnê de comemoração do aniversário de 30 anos do álbum Joshua Three, provavelmente realizando um sonho da adolescência.
Em 2018, Noel lançou o álbum Who Built The Moon?, o terceiro disco que mudou tudo na sonoridade com a criação do que ele chamou de cosmic Pop, que não passa de uma inspiração mediante ao pós punk oitentista e a Madchester. Ele adicionou vocais femininos, metais e uma tocadora de tesouras em sua banda. Charlotte Marionneau recebeu imediata estranheza, mas ganhou apreço e carinho dos fãs se tornando até mais popular que o Noel em dados momentos dos shows.
Todos os trabalhos do Gallagher mais velho foram muito bem avaliados na mídia em geral e em vendagens. É certo que dividindo a opinião de fãs do músico e do Oasis, mas sem abalar a ida destes a seus shows. Em 2019 ele embarcou num som mais dançante em singles que remetem a fase disco de David Bowie, as acid houses e o INXS, o que deixou os fãs mais raízes extremamente descontentes, o que para o Noel parece ser uma piada.
Meu single Black Star Dancing tem mais punch e é mais pesado ao vivo porque há dois guitarristas. Cara, é uma música ótima. É engraçado quando você vê casais no show e você pode notar que a garota está realmente curtindo o som e o cara – que é um cara machão, tipo ex-Oasis casual – está de má vontade balançando a cabeça pensando: ‘Eu não gosto disso, mas eu realmente gosto disso!’
Noel em entrevista ao The Guardian
Os ex-membros do Oasis tomaram partido do Liam e criaram o Beady Eye em 2009. Com uma sonoridade mais clássica e meio desleixada, lançaram dois discos, um com sobras do Oasis e outro com maior cuidado e definição que encheu os olhos de alguns fãs, o famoso “agora vai”. Entretanto, Liam entrou em uma polêmica que trouxe uma carga muito pesada e excessos para a banda. Liam não estava bem, teve uma filha fora do casamento, separou da sua esposa, estava mais viciado do que nunca.
O guitarrista Gem Archer não estava conseguindo acompanhar o ritmo de acontecimentos e passou por problemas de saúde além de um acidente doméstico que o deixou incapacitado por meses de tocar, por fim o guitarrista Andy Bell, a outra mente criativa e quem organizava a casa, resolveu voltar para sua referente banda de Shoegaze que fez sucesso no fim dos anos 80 e início de 90, o Ride. O Beady Eye acabou em 2014 após Liam anunciar em um tweet.
O Beady Eye meio que acabou seu curso, na realidade. Liam tinha ficado na dele por um bom tempo, e depois veio nos dizer que não estava mais ligado ao projeto, tinha se cansado. Foi uma coisa que vinha acontecendo há um tempo.
Andy Bell em entrevista a NME
Liam ficou recluso por um bom tempo, mas passou a usar sua conta no Twitter de maneira mais firme e cômica entre 2014 e 2016 criando uma ligação maior com seus fãs ao se expor sobre diversos assuntos como o Manchester City, o saudosismo pelo Oasis e as várias maneiras escolhidas para zoar o irmão. “Pouting Potato LG x.” era a provocação preferida que Liam tinha para fazer ao irmão.
Liam nesse entretempo começou a aparecer em momentos esporádicos nos palcos. a mais marcante foi uma apresentação de comemoração com o The Who cantando My Generation ao lado de outro ex-Oasis, o baterista Zak Starkley. Em 2015, a pedido de Roger Daltrey, vocalista do Who, voltou a executar a canção em um programa com uma banda montada as pressas contendo outro ex-oasis, sendo esse da formação original, Paul Bonehead na guitarra. A performance serviu para mostrar o poder da voz do Gallagher mais novo como band leader além de front man.
Em 2016 o documentário Supersonic foi lançado pelo streaming Netflix e a admiração pelos Gallaghers cresceu mundialmente a partir do momento em que se viu Noel e Liam contando suas vivencias e histórias de maneira harmoniosa com a masterpiece The Masterplan fechando o filme. Deixando aquele gostinho de quero mais pros fãs antigos e para os mais recentes o filme dificilmente serviu para, ou teve um fator comercial para incentivar pessoas a conhecer a principal banda do Britpop, era um material para fãs. Visando esse não tão sucesso, ficou claro que o final empolgante do longa não faria uma reconciliação e a interpretação que fica é a de que “foi bom enquanto durou.”.
Passado 2016, Liam volta a sua vida de publicação de besteiras no twitter até que a misteriosa frase “As You Were” aparecia no fim de qualquer novo tweet. Logo o cantor anunciou que lançaria seu álbum solo e o frisson foi grande. Seja por parte da mídia, dos saudosos fãs e até virou uma nova ferramenta para Noel Gallagher poder fazer seu sarro particular.
As You Were foi lançado em 6 de outubro de 2017 e a partir daí a rivalidade entre Noel e Liam ficou acirrada. Músicas com indiretas fortes de um pro outro eram comuns já na época do Beady Eye como em Don’t Brother Me (do Liam para o Noel) ou a faixa You Know we can’t go back (do Noel para o Liam) presente no álbum Chasing Yesterday, segundo da carreira solo do Gallagher mais velho. Mas com Bold Liam mostrou raiva e amargura. Os fãs mesmo não ajudaram e começaram a comparar singles de discos que eram lançados em datas próximas.
A canção mais impactante do álbum As You Were de Liam foi certamente a balada For What it’s Worth que parecia ser sua redenção. Um pedido de desculpas para todos os males que causou as pessoas de sua jornada. Entretanto, seus tweets ácidos principalmente direcionados a cunhada amargou mais ainda o relacionamento dos Gallaghers e 2018 chegou com um Noel querendo desvincular qualquer resquício de Oasis e seu irmão de sua vida e seu som.
Em retrospecto, Noel mesmo reconheceu que tem certas canções que nunca vai poder deixar de tocar como o hit máximo Wonderwall e outras tantas como Whatever e Don’t Look Back In Anger que ele disse que é a faixa que permitirá sua entrada no paraíso após sua morte. Ele trouxe Gem e Chris Sharrock (último baterista do Oasis e do Beady Eye) para sua banda.
Ele ainda desdenhava de Liam e dos fãs de Oasis sempre que era possível trazendo a tona até a classificação Parka Monkey e a partir do momento que colocou uma mulher tocando tesouras em sua banda, para os fãs loucura, para Noel divertimento. Entretanto, este momento de sua vida firmou de forma positiva sua relação familiar, ele é o maior herói de sua filha Anais.
Noel Gallagher High Flying Birds Noel & Charlotte
O Gallagher mais novo passou a ter sua nova namorada Debbie Gwyther como produtora e por conta dela finalmente começou a se relacionar com a filha Molly, fruto de um affair extraconjugal com a cantora Lisa Moorish no início dos anos 2000. Gallagher sempre se manteve afastado da filha de 19 anos por conta das tensões de seu relacionamento com a mãe. Liam possui 4 filhos cujo as mães são diferentes. A já citada Molly, Lennon (fruto de seu casamento com Patsy Kensit), Gene (de sua união com Nicole Appleton) e a pequena Gemma, de seu relacionamento com a jornalista Liza Gorbani.
Agora é 2019 e Liam ficou de bem com parte de sua família podendo agora criar os filhos, mas nem tudo são flores já que foi flagrado atacando Debbie em uma discussão em um hotel. Pós esse fato que denegriu sua imagem, alguns meses depois, anunciou que lançaria um novo disco e também um documentário. O primeiro single Shockwave já mostrava que o foco das canções em suma são seu irmão Noel e todo o ressentimento de não ter mais o irmão companheiro de vida e de banda.
Um novo drama digno de trama de novela ocorreu após a Sara, esposa de Noel, zombar da apresentação de Liam no Glastonbury deste ano. Ela o chamou de gordo tetudo, ele ameaçou a cunhada através de uma mensagem para a sobrinha e o Noel não perdoou e o ameaçou de volta fazendo uma entrevista inflamada deixando mais do que claro que o irmão inconsequente passou dos limites.
Para muitos essa recapitulação repleta de tretas pode soar como marketing, assim como ocorreu por diversas vezes ao longo dos 25 anos e mais em que os Gallaghers estiveram no Oasis brigando e arranjando motivos para aparecer na mídia. Para outros tantos o tempo só mostra o distanciamento de uma volta do Oasis ou uma reconciliação familiar dos irmãos.
28 de agosto de 2019, 10 anos após o fim do Oasis, Liam lança um clipe para seu single One Of Us roteirizado por Steven Knight. renomado criador da série Peaky Blinders. O clipe saudosista trata tristemente da vontade de Liam emter o Noel de volta a sua vida. O clipe traz muitas referências não só sobre o Oasis mas também sobre a relação dos dois. Um fã ou crítico jamais captaria todas.
É impossível dizer se o Oasis voltará um dia, muitos amigos dos irmãos gostariam, como é o caso de Taylor Hawkins e Dave Grohl do Foo Fighters que em um show no Reading Festival passaram uma petição para a volta da banda que foi um marco da década de noventa que veio da cidade de Manchester. Definitivamente, talvez eles apareçam juntos para o Rock ‘and’ Roll Hall Of Fame e toquem mais uma vez, mesmo parecendo improvável manhã gloriosa.
Bem, Axl Rose reatou sua amizade com Slash e estão fazendo a “Not in This life tour” com o Guns N’ Roses, a volta deles teve um distanciamento maior que o possível dos Gallaghers, mas esses dois nunca tiveram mudanças drásticas de comportamento e estilo de vida.
Noel Gallagher que é tido como o único a não querer o retorno do Oasis, hoje não é um rockstar e procura viver de acordo com seu padrão aquisitivo, o que não é problema nenhum já que segue compondo grandes canções de qualidade inquestionável e sofisticação como no caso de If I Had A Gun, Crying Of The Lighting, The Man Who Built The Moon, Holy Mountain, Dead in the wather que o capacitam de lotar casas de show e até festivais.

Os dois irmãos são uma contradição em termos, Noel ataca os fãs do Oasis, procura não reviver o passado mas segue tocando suas canções da época de glória. Liam em movimento contrário parece viver do passado, demonstra amadurecimento em sua vida profissional e pessoal em família, mas é um crianção nas redes sociais colocando tudo a perder. Que tudo no fim das contas faça parte de um grande plano mestre para a volta ou ao menos que as algúrias parem e eles voltem a se falar e trabalhar juntos mesmo que seja para Noel compor uma canção para Liam cantar como nos bons tempos.
Liam Gallagher prepara a chegada de seu segundo álbum solo, Why Me? Why Not, para o dia 20 de setembro. Já Noel Gallagher que vem lançando uma série de Singles tem seu álbum previsto pra ser lançado em Outubro.
Aos fãs resta apenas…
2 comentários sobre “10 anos sem Oasis mas com rivalidade entre irmãos”