Por Roani Rock
O Living Colour veio no dia 13 de Junho presentear a noite carioca badalada da Lapa com um “culto a personalidade”. Começar uma matéria sobre um show do Living Colour assim pode soar até clichê, mas de todo modo os caras são muita presença.
Fui ao show, por coincidência, após assistir o filme vencedor do Oscar do ano passado Green Book. Este longa trata sobre um pianista virtuoso negro americano que faz uma tour na década sessenta por 2 meses pelos Estados Unidos e no percurso conta com seu motorista branco para ajuda-lo. Nessa época os EUA eram segregacionistas, negros até podiam tocar em muitos lugares, mas eram tratados como indigentes ou lixo.
Voltando pro futuro, para a década de 80, o hard rock era dominado por brancos cabeludos boa parte deles loiros. O Living Colour apareceu em 1988 com o Vivid, álbum que abriu horizontes e mostrou que os negros não tinham voz apenas no rap e no hip-hop que vinham numa crescente. Eram outros tempos, os negros finalmente conseguiram voz e mais respeito apesar de repressões policiais ainda serem grandes nos guetos. Já o Living Colour conseguiu essa conquista pessoal de ser um dos grandes do hard rock sendo negros no meio de uma predominância branca.
Dito isso, já podemos chegar em 2019 na data do show do Circo falando um pouco da abertura do show com os dois covers Preachin’ Blues e o hit da banda em 2016 Who Shot Ya de Notorius Big. Essa última sendo dedicada a Marielle Franco. Eles mudaram toda a composição dessas músicas deixando-as mais agressivas e com carga mais pesada.
O Living Colour veio ao rio de janeiro trazendo uma tour comemorativa do conceituado álbum Vivivd de 1988 tocando ele de cabo a rabo. Não tinha uma alma viva no circo que não estivesse feliz de estar vivenciando os caras ainda no auge. tocando nota a nota perfeitamente, até as improvisações eram impecáveis mesmo capando nota.
Cult of Personality, o hit máximo dos caras e a sequência potente e divertida com I Want You Know, Middle Man e Desperate People colocaram a galera para bater cabeça e dançar. Em seguida o melhor momento do show com Open Letter (To A Landlord).
Memories Can’t Wait é um cover do Talking Heads pesadão que ganha bastante pressão ao vivo. E tem as baladas Broken Hearts e Glamour Boys que são uma delícia. O baixista Doug Wimbish e seus inúmeros pedais fazem o climax funk das canções e soar tudo bem pulsante.

O vocalista Corey Glover é a prova viva que se um vocalista se cuidar vai chegar aos 50 anos com a voz impecável. Nem parecia estarmo em 2019, parecia a década de 90 no começo do LC com ele sendo visceral e bem cuidado com os rangidos, agudos e gritos sempre bem afinados.
Vernon Reid é tmbém um daqueles guitarristas vitamínicos que prendem sua atenção a cada movimento no palco. Seja fazendo graça nos vocais ou “esmirilhando” na guitarra em solos, hora bem construídos hora bem viajados.
O baterista Will Calhoun fez um show a parte no seu solo de bateria. Pegou instrumentos percussivos interessantes ligados a pedais, fez uma pré gravação e tocou sua batera em cima do que gravou. Era difícil tirar os olhos do cara.
A pedidos do público tocaram o mega hit Love Rears Its Ugly Head, que foi um momento mega importante pro show de pura interação. Finalizaram com a Pancada Elvis Is Dead brincando bastante com a galera presente.
Foi um privilégio presenciar esse álbum ao vivo no circo. Quando voltam? Já estamos com saudades!
Set list:
- Preachin’ Blues (Robert Johnson cover)
- Who Shot Ya? (The Notorious B.I.G. cover)
- Vivid
- Cult of Personality
- I Want to Know
- Middle Man
- Desperate People
- Open Letter (To a Landlord)
- Funny Vibe
- Memories Can’t Wait (Talking Heads cover)
- Broken Hearts
- Glamour Boys
- What’s Your Favorite Color? (Theme Song)
- Which Way to America?
- Drum Solo
- Love Rears Its Ugly Head
- Elvis Is Dead (With “Hound Dog” snippet by Big Mama Thornton)