Slash Faz Show Catártico no Qualistage


Poucos são aqueles artistas capazes de proporcionar um frisson ao tocar sem parecer algo roteirizado. Claro que instrumentistas virtuose fazem você sair de casa já sabendo que vai testemunhar muitos solos de guitarra ou de outros instrumento dominante.

Eu já tinha assistido a 4 shows do Guns N’ Roses em vindas ao Brasil, teve pra todos os gostos, com e sem o Slash. Mas nunca tinha visto o guitarrista em sua jornada solo com Myles Kennedy & The Conspirators. Em todas as vezes que vieram, tocaram em casas pequenas como a Fundição Progresso, mas não tinha a idolatria necessária para prestigiar. Coisa que se inverteu ontem.

Os shows começaram relativamente cedo. Ir pra Barra é um trampo, em dia de semana é mais moderado, mas nada questionável. Cheguei pra conferir a banda de abertura, coisa que não fazia, mas quero criar o hábito de prestigiar todas que puder.

Velvet Chains, um hard rock tradicional feito por uma banda competente de Las Vegas. O som da casa não estava tão alto, então não deu pra distinguir muito bem o baixo, mas a tendência é essa mesmo, shows com mais trato para deixar agradável aos ouvidos sem interferir na audição. Todavia, o vocal era bem carismático e arriscou falar em português em diversos momentos alegando gostar muito da cidade do Rio ao ponto de terem feito um clipe por aqui em outra vinda.

O show dos caras é muito interessante, mas dificilmente vão conseguir algum status superior do que de banda de abertura no Brasil. Se lá fora conseguem ser grandes, aqui seria uma surpresa vê-los em um festival. Mas isso não é demérito, os caras são bons demais.

Quando Slash aparece e já sabemos o que vamos presenciar, meu cérebro me traz um flash nostálgico do que foi ver o show do The Who no Rock In Rio em 2017. Aquela sensação de ver o artista na sua frente fazendo tudo que o fez popular além das roupas, além da cartola, além da Les Paul.

Mesmo que muitas de suas músicas sejam parecidas, com riffs moldados apenas de uma forma diferente, a partir de C’est La Vie, a 7a faixa tocada na noite, o show foi crescendo e se alastrando como fogo descontroladoem um incêndio. Always On The Run, hit atemporal que ele compôs com Lenny Kravitz, Bent To Fly, Speed Parade (de sua antiga banda Snakepit) e o lado bzão do Guns, Don’t Damn Me, fizeram as pessoas dançarem e cantarem muito.

Essas músicas tocadas por Slash que não foram lançadas em sua carreira solo mas sim em parceria com outros artistas foram cantadas pelo baixista Todd Kerns, que tem uma excelente voz. Este fez um show a parte, sendo muito visceral e menos showman que Myles Kennedy, que apesar de ser tecnicamente um dos melhores vocalistas da década passada, precisa parecer “menos profissional”. Ele parece ter tudo controlado demais, todos os gestos e ações, fora a impressão de que é incapaz de errar. Ele é uma verdadeira máquina, no melhor significado desse adjetivo, mas isso não me cativa tanto.

Como fã do Velvet Revolver e do primeiro álbum solo do Slash , ficou muita coisa boa deixada de fora. Mas acredito que com razão, para poder prestigiar o disco 4, o mais recente, que contempla a turnê e músicas dos álbuns anteriores ao lado do Myles e Conspirators, o Living The Dream (2018), o World On Fire (2014) e o Apocalyptic Love (2012). Fechar o show com um cover de Rocket Man do Elton John e depois uma das melhores composições do arsenal do guitarrista, simplesmente Anastasia, foi acertivo e catártico. Saí com a certeza que sempre que ele vier em carreira solo vou querer conferir ele esmerilhando por mais de 3 min na guitarra um solo que parece uma eternidade, mas que ao mesmo tempo você não quer que acabe.

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