Se já foi imaginado que nunca teríamos um trabalho tão rico quanto o do Clube da Esquina, ouça agora o seu expoente da atualidade. o guitarrista e vocalista da The Baggios, Julico, conseguiu em seu segundo álbum solo trazer grandes canções com bastante instrumentação e letras modernas com o que há de mais importante em sua vida como artista, a música. Um grande achado que compartilho com vocês.
Roani Rock
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Gravadora: Toca Discos
Data de lançamento: 20/10/2023

Gênero: Rock N’ Roll
País: Inglaterra
Nascido e criado na histórica cidade de São Cristóvão – Sergipe, Julico é um compositor, produtor musical, designer gráfico e multi-instrumentista autodidata. Conhecido por estar a frente da banda Sergipana The Baggios, onde foi indicado ao Grammy Latino pelos álbuns Brutown (2016) e Vulcão (2018), em 2020 resolveu expandir seus horizontes no álbum Ikê Maré, bem inspirado na sonoridade da música brasileira feita nos anos 70 e o soul de Curtis Mayfield.
Demorou dois anos para Julico que é o vocalista, guitarrista e compositor da The Baggios, liberar o segundo disco de sua carreira solo, Onirikum. Álbum, que chega às plataformas de streaming pelo selo Toca Discos e que é literalmente um tributo à música, ao amor e à existência. O que deixa o álbum sendo melhor formado e organizado que seu primeiro trabalho, se demonstrando assim ser algo um pouco além de uma continuidade; acho que um próximo passo se encaixa melhor.
O estranho título, Onirikum, por exemplo, é um neologismo criado por Julico para apontar algumas diretrizes das 13 faixas deste lançamento. A palavra deriva de “onírico”, que significa “relativo a sonhos” e o próprio Julico explica a sua maneira, o termo:
Representa para mim um estado de espírito onde acesso aos devaneios e sentimentos mais profundos. Os sonhos são como janelas que nosso subconsciente acessa e revela mensagens, imagens, ideias, sons e os mais variados desejos e sensações. Nesse universo me inspirei para compor esse álbum, mergulhando nas minhas memórias límpidas e turvas traduzindo através do som e da escrita meus sentimentos sobre temas que me angustiam, me deixa feliz, me alivia ou simplesmente me move.
Julico para o Tenho Mias Discos Que Amigos, 2023

Suas inspirações da música negra do ocidente e suas aspirações cheias de brasilidade nos confundem no disco que parece ser dividido em duas partes. As cinco primeiras músicas vão para um lado mais melodioso e cheio de guitarras distorcidas que de imediato nos remetem a Toninho Horta e Lô Borges. Já a segunda parte do álbum é mais soul, parece a fusão perfeita do Som Imaginário com os teclados e vocais do Zé Rodrix fazendo uma jam com a banda Vitória Régia do Tim Maia.
Segundo Julico, 80% de Onirikum foi concebido no seu home studio, em Aracaju (Sergipe), com a definição dos arranjos de guitarra, baixo, metais, percussão e parte dos teclados. O próprio músico gravou baixo, violão, teclados, guitarras e vocais, e teve na bateria seu amigo Ravy Bezerra e percussões de Betinho Caixa D’agua.
Assim como a capa criada em IA que lembra uma arte surrealista, as músicas tem uma veracidade abstrata, mas riquíssima em conteúdo. Ao exemplo da maravilhosa Mon Amour, que seja lá quem for a musa inspiradora, nunca na vida dela recebeu tamanha declaração. O instrumental, com várias quebrada de bateria, que tem um piano e teclado aliado a guitarra sessentista recebe uns vocais gloriosos.
Já a música que dá nome ao álbum é a faixa mais Novos Baianos que temos aqui devido a mescla psicodélica da bossa nova com uma letra cheia de positividade do pop rock em acordes menores. A riqueza aqui e o cuidado na melodia arrepiam. Em seguida vem Música, provavelmente a faixa mais significativa daqui que soa bem soul na onda do Curtis Mayfield e Tim Maia. Nela ele ainda cita uma das influências claras aqui, Jorge Ben Jor. Já no fim da primeira parte do álbum tem Motivo de Saudade, um samba cantado em dueto com Fernanda Broggi com umas flautas maravilhosas e piano cheio de balanço.
A segunda parte do álbum é composta basicamente por funk e soul, com Vou Ver da Qualé, Cervejoim, Quero Colo, Fazbemblues e a Bad Domenica. Músicas com suas diferenças, mas tendo em sua singularidade naipes de metal, serem músicas pra frente e com seu ar de diversão, músicas para a galera sair do chão, dançar e, por que não, bater cabeça.
Banho de Sal Grosso é um baião entrando na questão da origem nordestina do artista o que dá uma quebrada no ritmo americano que embalava as músicas anteriores, principalmente com a faixa seguinte, cujo o nome é Funkão, sendo a que tem mais referências da música negra que fez sucesso no ocidente na década de 60/70. Após muita dança, eis que chegamos ao final do álbum com um folk psicodélico, a faixa Trem Veio que faz tudo ser… surrealista. Grande álbum, um dos melhores frente a todo material da MPB moderna.
Nota Final: 9/10