Review: Banda Lowd – What Lurks Inside…

Temos aqui um trabalho primoroso, um disco de estreia corajoso levando o trash metal ao extremo com bastante presença de letras reflexivas, que apesar de terem um cunho pessoal, abrangem a realidade de muitas pessoas que vivem em conflitos internos, pessoais e sociais, a maioria ligado a saúde mental.

Roani Rock

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Gravadora: Independente
Data de lançamento: 17/09/2023

Gênero: Trash Metal
País: Brasil


A depressão existe a muito tempo, o diagnóstico para quem possui essa condição não é brincadeira, e por muito tempo existiu uma resistência grande das pessoas de aceitarem o fato de que se trata de uma doença e muitos destes a consideraram vitimismo. Muitos ainda o fazem, mas isso está tendendo a mudar por uma série de fatores.

Por conta da doença ter tido um aumento gradual após a pandemia da Covid 19, e o Brasil ter assumido a ponta no ranking da ansiedade, com 18,6 milhões de pessoas com o transtorno segundo dados da OMS. Ocorreu uma percepção geral, por conta do dinamismo das redes sociais com pessoas relatando e profissionais da saúde explicando em posts de textos e vídeos, que tem se transformado em algo a se dar atenção o que tem feito com que as vítima recebam o devido apoio tanto medicinal quanto social.

A banda Lowd, cria da Lapa no Rio de Janeiro e composta desde 2016 por Raphael Matheus (guitarra e voz) e os irmãos Bruno e Victor Cabral (o baixista e baterista respectivamente), sabe bem os males da doença já que seu vocalista teve uma dura guerra contra ela e muitas das batalhas foram vencidas por ele através do seu foco na música.

Após sete anos desenvolvendo o som, unindo recursos e usando tal circunstância como foco para uma metodologia, o power trio resolveu trazer um álbum conceitual para sua estreia tendo como base não só as experiências de Raphael, mas também dos outros integrantes ao corresponder os textos com arranjos muito bem trabalhados.

Apesar de ter músicas tanto atuais quanto dos primórdios do grupo, cada faixa que compõe What Lurks Inside… recebeu uma representação individual baseada em teste de Rorschac com uma cor, que na concepção dos integrantes melhor conversava com o sentimento que retratavam, por isso podemos dizer que há um conceito.

A faixa que abre os trabalhos What You Deserve, foi a primeira que a banda escreveu junto e tem um papel de reforçar os anseios do power trio de trazer a público algo consumível e porque não comercial. As postagens nas redes sociais e inteiração com os fãs foi outro ponto que ajudou a desmistificar o que cada música queria dizer, como no caso do texto referente a faixa de trabalho What You Deserve que é a que contém mais climax e nuances contendo a maior duração do disco.

Éramos 7 anos mais novos. A banda não tinha baixista. Não tínhamos decidido quem a cantaria. Não havíamos passado por uma pandemia. Não tínhamos nem um nome. Só sabíamos que a música era boa pra gente. Agora, 7 anos depois, estamos entregando o nosso primeiro trabalho junto com o nosso maior trabalho.

Depoimento da banda em postagem no instagram

Os textos feitos, acompanhados de capas com imagens de Rorchac coloridas, fazem qualquer um viajar no som. Anger, uma das melhores do disco o trash raiz, por exemplo, recebeu o vermelho como cor e explicações sobre o que causa raiva aos integrantes, como por exemplo pessoas que desmerecem as outras e que julgam sem saber a realidade do outro.

muito do que é cantado fala sobre relacionamentos, a balada What You Give é a mais representativa e ainda possibilita o ouvinte a escutar um dueto do Raphael com a vocalista Tha Mello que trouxe uma carga sentimental a mais para essa música. Referente a saúde mental, temos três faixas diretas ao tema. Sorrow (provavelmente a melhor do álbum) que fala sobre tristeza, Anxiet que eles categorizam como a faixa que melhor conversa com a capa do disco “uma árvore que cresce pra sempre, regada pelas nossas lágrimas“, Uncertainty que fala sobre a dor e sentimento de estar sozinho unto a necessidade de buscar alguém pra te tirar do “cinza”. Todas levando o trash metal em variações do suave melancólico para o peso agonizante.

Já a faixa Hallucination é bem sofrida, seu início lembra bastante Nine Inch Nails mas logo se transforma na música que mais varia ao tradicionalismo do trash no álbum com toda podridão do riff e a forma de cantar bem aos moldes de James Hetfield. Aqui temos uma parte instrumental bem arranjada por Bruno e Victor, creio que é a que traz mais destaque aos músicos junto com Anger.

O disco todo é uma pedrada com muitas variações mas com o mesmo significado, uma crítica seria a equalização que por muitas vezes faz a voz e a guitarra sobrepor a batera e o baixo, fazendo esses instrumentos ficarem pouco claros em dados momentos. End Of The Session, que é uma faixa de transição e apenas com efeitos, mostra o caráter de “ajuda” que as músicas do álbum querem trazer, como se estivéssemos terminando uma sessão de terapia realmente após ouvirmos Raphael despejando tudo o que sentimos em momentos de dor e agonia, a sensação é que acaba tudo o que faz mal neste fim com barulho de páginas sendo viradas e que agora dá pra sair e viver.

Nota final: 8/10

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