10 Bandas Que Resgatam a Popularidade do Rock/metal no Brasil em Tempos de Streaming

Apesar de hoje em dia o rock não ter mais uma cena forte ou engajada como em outros tempos, o gênero que tanto amamos nunca deixou de deixar sua marca no Brasil, não importando a década. Se voltarmos no tempo, nos anos 60 teve a Jovem Guarda abrasileirando o yeah yeah yeah dos Beatles e a Tropicália e o Clube da Esquina, também inspirados pelos 4 rapazes de Liverpool, moldaram os anos 70 com um verdadeiro crossover do rock com os gêneros brasileiros. Raul Seixas, Rita Lee e Mutantes protagonizando junto a uma série de bandas ligadas ao rock progressivo nessa época lisérgica também, mas eis que nos anos 80 tivemos o boom, com a criação do Rock In Rio popularizando várias bandas e artistas do eixo Rio/São Paulo como Celso Blues Boy, Ira!, Kid Abelha, Lobão, Lulu Santos, Marina Lima, RPM, Rádio Taxi e tantos outros.

Já os anos 90 serviu para carimbar a predominância do rock na música popular e ao menos três bandas fora do eixo principal – que teve a carioca Cassia Eller como principal expoente – tiveram destaques, os mineiros do Skank, os brasilienses dos Raimundos e o revolucionário manguebeat do Nação Zumbi. Era uma variedade inesgotável de novas bandas e nada parecia vir a mudar o cenário, até que veio o surgimento do pagode, uma inclinação maior ao divertido Axé da Bahia e o sertanejo que começava a dar as caras. O rock passou a ter que dividir o espaço e até a perdê-lo tendo que se moldar junto ao pop para seguir relevante.

Nos anos 2000 o forró veio com força junto ao reggae e a cada novo cenário se formando o rock parecia ficar afastado, com muitas reclamações e pouca representação, bandas como o Rappa resolveram até boicotar a segunda edição do Rock In Rio, que dava mas valor aos artistas gringos do que os nacionais, o que não ajudou muito. Os algozes Los Hermanos e Charlie Brown.Jr viraram as maiores referências das gerações que viriam, e perto do meio da década, uma nova cena começou a se formar, e a virada de jogo veio através do “hardcore melódico” com Fresno e Nx Zero e uma verdadeira cena que perdurou durante bons 10 anos na adoração e identificação dos jovens vingou. Entretanto, passou a ser um problema no passar do tempo, pois o EMO fez com que muitos grupos surgissem e que o nível caísse.

Os anos de 2010 ainda gerou o contestável “Happy Rock” que ficou entre o fim da picada e a gota d’água para os fãs mais orgulhosos e conservadores do gênero da “cara de mal e camisa preta”. Após esse último sopro, o rock entrou em um estado de hibernação, mesmo tendo boa parte da galera de 90 e 80 ainda na ativa e outras bandas de capacidade nacional para estourar, muitos projetos foram desfeitos e outros passaram por uma nova transformação como o Barão Vermelho com a entrada do guitarrista e vocalista Suricato e a Legião Urbana, que após anos sem um frontman que conseguisse chegar perto do que foi Renato Russo, efetivou o cantor e ator André Frateschi.

Após essa leve analise sobre o rock no Brasil, vemos o retorno do Nx Zero e o Titãs com a formação Clássica quase completa, contando com a volta de Paulo Miklos, Arnaldo Antunes e Nando Reis, lotando todas as casas de show e até estádios. O significado disso é muito claro, mas a pergunta referente a se “existe uma renovação?” persiste, e com essa lista queremos mostrar que se não tem nomes tão fortes, pelo menos temos grupos com esse ímpeto e dedicação. Cada um na sua, mas com a mesma prerrogativa de viver do sonho de ganhar a vida tocando pelo Brasil inteiro e até pelo mundo. Separamos aqui 10 bandas que ao ter o nome citado conseguem ter uma ressonância maior que grupos do underground de seus determinados estados.


Canto Cego

A banda começou seu processo criativo em 2010, na favela da Maré no Rio de Janeiro, lugar que inspirou o nome e a direção social e urbana de suas canções. Ao vivo, o quarteto formado por Roberta Dittz (vocal), Ruth Rosa (bateria), Rodrigo Solidade (guitarra) e Magrão (Baixo), surpreende pela energia de sua performance e pelos múltiplos universos criados em cada música, sem perder a coesão.

Em seu currículo o grupo coleciona os prêmios de 1º lugar do Festival da Nova Música Brasileira (2012) e do Planeta Rock (2014). Já subiram aos consagrados palcos do Circo Voador, Teatro Rival e Imperator, participaram de grandes festivais como Rock in Rio, Ponto CE, Porão do Rock e até Montreux Jazz Festival (Suíça-2015) por onde fizeram uma mini turnê.

No disco de estreia da banda, intitulado Valente (2016), foram apresentadas faixas compostas em parceria com o saudoso Marcelo Yuka (Rappa), além de uma versão rock de “Zé do Caroço”, de Leci Brandão, que se tornou trilha sonora da novela Malhação. Já em seu segundo álbum, Karma (2019), o grupo incorporou elementos percussivos em canções que unem ritmos afro-brasileiros a letras sociais e existencialistas. Entre seus lançamentos mais recentes estão Vida Rendeira, com participação de LAZÚLI (Francisco El Hombre), uma releitura do samba Tô Voltando, de Paulo César Pinheiro e Maurício Tapajós, com a cantora CARU, e o single Bate Panela, com a participação do rapper Marcão Baixada.


Maglore

Provavelmente a banda com maior rodagem das que estão presentes aqui e que tem maior alcance nacional. São cinco discos de estúdio e um álbum ao vivo em onze anos de carreira. Essas são as credenciais da Maglore, banda baiana formado por Teago Oliveira, Lelo Brandão, Felipe Dieder e Lucas Gonçalves, que animam trazendo o que poder ser definido como um indie tropical.

A banda é figurinha carimbada dos principais festivais do país e tem uma carreira internacional. Eles são os caras a frente do que vem se tornando a MPB atual só que com maior audácia em seus discursos.

Em termos de Certamente eles trazem muita coisa dos pilares da tropicália, de samba rock, soul music brasileira, Motown, Beatles, Love e afins, para suas composições e isso ficou escancarado no último lançamento dos caras chamado V (2022). O maior destaque de todo seu repertório atual se encontra na faixa Eles que é como se fosse a Podres Poderes de Caetano dos tempos modernos.


Colomy

Essa aqui vai mais como uma indicação já que não vejo muita possibilidade da banda do Sebastião Reis ganhar uma notoriedade e conseguir tocar em certos lugares maiores, sem ter que se apoiar no apadrinhamento de Nando Reis, pai do vocalista e violonista. Digo isso sem a menor maldade, já que eles evocam um som folk maravilhoso ligado a psicodelia dos anos 70, usufruindo de toda estética da década, o que infelizmente pouco impressiona a juventude atual. Todavia, Sebastião, Pedro Lipatin (vocais e guitarra) e Eduardo Shuler (bateria) se apresentam como excelentes músicos e compositores.

Com apenas um álbum de estúdio lançado e diversos singles com covers e participações especiais, a banda formada em Jaú no início de 2021, amadureceu em oito faixas uma contemplação a vida com bastante poder comercial e com capacidade de fazer o nicho para o seu tipo de som se sentir representado. Os arranjos das músicas em maioria impressionam e fazem com que terem sido a banda de abertura dos shows do reencontro dos Titãs ter tido seu mérito a frente do sobrenome de qualquer um dos integrantes.


Meu Funeral

Com destaque feito pela revista Rolling Stone em seu site, “A banda de punk rock do século XXI”, formada por Luquita (voz, guitarra), Pepe (guitarra, backing vocal), Dan (baixo, backing vocal) e Tent (bateria e coreografias), o quarteto de Niterói fez sua estreia no mercado musical em 2018, com o álbum de estúdio Demo que traz com bastante bom humor muitas sátiras frente ao cotidiano em suas músicas numa pegada bem carioca.

Eles entraram no meu radar por conta de terem aberto um show para o polêmico e irreverente Rogério Skylab e o que vi foi bastante interessante, com os músicos fantasiados (já que estávamos na época do carnaval), numa onda meio Mamonas, executando uma música que falava da copa de 94, fazendo a maior parte do público presente no Circo Voador balançar a cabeça e cantar junto palavra a palavra, foi impressionante.

Eles “estão grande” agora. São realmente uma revelação que possui um contrato com a Universal desde 2021. Atualmente estão procriando feats interessantes e inimagináveis como o feito com a funkeira Tati Quebra Barraco que é uma figura mitológica dentro do Rio de Janeiro, mas que ninguém imaginaria ela cantando rock, através da faixa Dançar. O som dos caras é divertido e bem fincado no punk raiz com alguma coisa do hardcore. Temos atitude e guitarras enraivadas em sintonia com o bom humor e irreverencia do vocalista Luquita tanto no álbum Demo como no Modo FuFu de 2021 e no útimo single lançado, o excelente Tropicore Hardcal.


Sea Smile

Apresentando um metalcore com muitas nuances modernas, os paulistanos do Sea Smile nos brindam com a mistura da velha e da nova escola. Atualmente formada por Dan nos vocais, Henrique na guitarra, Raul no baixo e Guilherme na bateria, trazem na bagagem três EPs e vários singles. Atualmente estão trabalhando no lançamento do seu primeiro álbum.

Há aqui uma tentativa de ser inclusivo e ao mesmo tempo, brincar com possibilidades em meio aos singles que a banda disponibilizou digitalmente. Tem diversos covers de músicas atípicas ao metal transformadas em versões que ficaram bastante interessantes, como por exemplo KO da Pabllo Vittar, e Raplord do grupo Haikaiss. Fazer tal releitura para músicas que ainda estão com uma presença forte no imaginário popular é de muita audácia e coragem e vale esse reconhecimento com sua presença nessa lista por tentar conciliar estilos totalmente distintos e talvez fazer com que os públicos de cada lado vejam uma possibilidade de ter uma admiração em comum seja pela música, pela banda ou pelas versões.


Menores Atos

Essa banda já é figura carimbada por aqui e indicamos no banda da semana. Menores Atos é um power trio do rock carioca. Vão um pouco além do hardcore e não pertenceram ao movimento de bandas paulistas que fez sucesso na década de 2010, dá pra dizer que são um underground alternativo que deu certo já que ganhou grande notoriedade pelo primeiro álbum que desde sua capa a seu conteúdo chamou bastante atenção. A banda é formada por Cyro Sampaio nas guitarras e excelentes vocais, Celso Lehnemann, no preciso baixo e por RicardoMello (Bola) nas duras batidas na bateria e vocais guturais.

O último trabalho deles foi o ep com cinco músicas denominado Lúmen (2022) que tem uma pegada bem forte no rock alternativo americano, flertando um pouco com o que se escuta hoje em dia do Smashing Pumpkins. Com uma experiência gigante, a banda que já passou dos dez anos de existência mostra que tem criatividade suficiente para fazer trabalhos ainda mais relevantes. Fiquem com a última produção deles que mostra o fino da qualidade de cada indivíduo em seu instrumento tanto quanto a unidade sonora preenchida proporcionada em conjunto.


Do Culto Ao Coma

Essa banda aqui também já teve nosso selo de qualidade colocado na matéria que fizemos referente ao segundo disco do grupo paulistano. Do Culto Ao Coma é uma banda de rock alternativo independente que mistura tendências do rock moderno e progressivo. Formado em 2014, o grupo atualmente é composto por Leandro TG Mendes (guitarra), Guilherme Costa (baixo e teclado), Leonardo Nascimento (bateria e teclado) e Thiago Holzmann (voz e teclado). Eles trouxeram no caótico ano de 2021 o intenso Imago.

A música O Céu Sombrio de Ontem, é um dos maiores destaques que a banda produziu até aqui. Em estúdio ela recebeu a participação do violonista Antonio Celso Monteiro da Costa e explora o lado folk do rock progressivo, com variações harmônicas que despertam contraditórias sensações, e que se resolvem na parte final. Seu panorama se completa com uma letra reflexiva sobre o peso das nossas decisões contrapondo passado e futuro. Seguimos na anciedade por novos lançamentos.


Black Pantera

Provavelmente a maior banda de metal do Brasil desde Sepultura e Angra. Com sonoridade influenciada pelo thrash metal, punk rock e hardcore, o Black Pantera lançou seu trabalho de estreia, Project Black Pantera, em novembro de 2015. Em 2018, foi a vez do segundo disco Agressão e em 2022 lançaram Ascenção , completando a discografia rica de uma conduta antirracista visando um maior diálogo com o público metaleiro que não tem muita familiaridade com a temática.

O power trio negro formado por Charles Gama (voz e guitarra), Chaene da Gama (baixo) e Rodrigo Augusto (bateria), veio de Uberaba, Minas Gerais, um estado mais lembrado por conta de Milton Nascimento e Skank do que por outros grupos e estilos, quiçá o metal. O que esses caras fazem além de ser de uma extrema qualidade, é de uma representatividade brutal. Não só pelas palavras politizadas de suas músicas que visam esclarecimento e abertura de olhos frente a opressões, mas também há o peso da guitarra, o groove do baixo e o esporro na caixa e no bumbo.

As faixas Padrão é o Caralho, Fogo nos Racistas e sua versão metal para o samba de Elza Soares, A Carne, potencializam o discurso e a importância desses três como o povo preto dentro do metal. Sua postura progressista fica presente em outros tipos de temáticas como em Dia do fogo que denuncia os abusos contra o meio ambiente que teve participação de Rodrigo Lima, vocalista do Dead Fish, banda que representou o hardcore e punk em meio soberania do EMO nos anos 2000.

A presença desses caras no cenário mundial tocando em diversos festivais pelo mundo, cantando em português, já os coloca em um patamar muito acima até de bandas nacionalmente mais populares de décadas anteriores e merecem nosso reconhecimento e respeito.


Ego Kill Talent

Esses caras, apesar de cantarem em inglês, bem como ocorre nos casos de Angra e Sepultura, conseguiram um reconhecimento sem igual ao redor do mundo. Formado em 2014, o quinteto de São Paulo, une em seu som integridade da música pesada e ambição pop. Apelo deles de fato é mundial, dando um sabor sul-americano as palavras na língua do Tio Sam, com composições compactas e de franca fluidez instrumental. 

Prova do sucesso dos paulistanos está no single de estreia do Ego Kill Talent, Sublimated, que foi tocado nas rádios locais e os colocou na lista do Lollapalooza Brasil. A faixa impulsionou as plataformas de streaming em todo o mundo e ocupou um lugar no Top 5 do Viral Top 50 do Spotify no Reino Unido, França e Portugal, bem como no Brasil. Transmitido mais de 20 milhões de vezes em 2020, premiado com o cobiçado 5K! classificação por KERRANG! e escolhido a dedo para abrir o Foo Fighters, a banda alcançou um equilíbrio perfeito em seu segundo álbum completo, gravado no estúdio 606 de Dave Grohl.


Far From Alaska

O Far From Alaska foi formado em 2012 em Natal, Rio Grande do Norte.  inicialmente como um projeto de Cris e Emily para que a última cantasse, após chamarem outros três membros e consideravam a banda apenas como um projeto paralelo, viram essa interpretação cair por terra com o sucesso e reconhecimento ao redor do mundo pela irreverencia ao som único produzido por eles fazendo com que dois anos depois gravassem seu primeiro disco inteiro nos Estados Unidos sob o selo da produtora Deckdisc. Algumas mudanças de membros depois e fincando a formação ideal, o grupo virou figura carimbada nos principais festivais europeus e americanos.

Formada por  Emmily Barreto (voz), Cris Botarelli (steel guitar, sintetizador e voz), Rafael Brasil (guitarra), Edu Filgueira (baixo) e Lauro Kirsch (bateria), a banda traz um rock alternativo que flerta um tanto com o indie mas de maneira bem mais pesada o que fez as músicas cantadas em inglês receberem uma atenção fora do comum. Hoje dá pra dizer que são uma banda cult por justamente não ser tão comentada, mas com 10 anos de estrada eles já possuem dois discos de estúdio e alguns singles junto a parcerias nos streamings, incluindo uma música com o Fresno e outra com o Lenine se reaproximando das origends brasileiras, ambos lançados na nova década.

Os principais hits encontram-se no álbum de 2017 Unlikely que tem a peculiaridade dos títulos das músicas serem destinados a animais. Eles fizeram uma versão elétrica e uma versão acústica para o álbum que mostram diferentes perspectivas do que eles são capazes. A faixa Cobra e Pig são uma das coisas mais necessárias já compostas por bandas brasileiras. Acho que eles mereciam maior reconhecimento por aqui até.


Menção Honrosa:

Trio Frito

O Trio Frito é uma banda carioca crua, destinada a tocar o que o rock-blues ensinou como berço musical. Formada por Ian na batera, Chico no baixo e Roger na guitarra e voz, estavam numa ascensão, com uma pegada inspirada por Jimi Hendrix, Jeff Beck e Grand Funk Railroad em irreverencia purinha. Mas o seu guitarrista infelizmente sofreu um acidente que quase custou sua vida e até ele se recuperar a banda entrou em um hiato sem previsões de volta.

Eles tocaram em grandes palcos e em muitos locais do underground carioca, dentre estes o Circo Voador que rendeu em dois singles Salvo Pelo Frito e o blues Desencontro. Eles possuem alguns singles nos streamings e foram gravados pela lenda viva do soul brasileiro Hyldon com quem fizeram parceria em Boletos. A versão em estúdio de Desencontro, Dialética e as parcerias Me Leva Até o Topo, linda balada cantada junto a Yasmim Golevinsky e a faixa O que 6 Qué De Mim?, uma parceria com Tcer Montana fazendo aquela assertiva dobradinha da mistura do rap com rock, isso sem falar no cover blueseiro para Negro Drama I do Racionais mostram o quantosão diferenciados e criativos. Na reza pela melhora de Roger e volta por cima deles.

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