Os caras trouxeram de volta para seu arsenal faixas com guitarras e solos que miravam no Van Halen, mas que acertaram no Weezer que também vem buscando a sonoridade oitentista. Um disco irregular, mas que é bem diferente dos trabalhos forçados anteriores. Aqui eles estão soltos e atingiram a essência do som que fez o McFly ser mais interessante pela qualidade das músicas do que pela aparência dos integrantes – apesar das firulas.
Roani Rock
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Gravadora: BMG
Data de lançamento: 09/06/2023

Gênero: Power Pop
País: Inglaterra
McFly surgiu nos anos 2000 como uma boyband que junto a grupos pertencentes ao Emo e Pop Punk tinham mais destaque pela aparência do que propriamente o que eles tinham a oferecer em termos de música, e por isso sofreram um boicote natural da mídia e público masculino.
Eles lançaram o excelente Room On The 3rd Floor (2004) com letras inocente simulando o som dos Beatles e Beach Boys com maior distorção, desenvolvendo seu som com semelhança ao power pop dos anos 70. No álbum seguinte, o Wonderland (2005), que foi premiadíssimo, trouxe o duplo sinlge All About You/You’ve Got a Friend, que chegou ao topo nas paradas musicais do Reino Unidos e da Irlanda e a faixa I’ll Be OK que ficou em primeiro lugar nos charts britânicos também.
A guinada para o mercado americano veio em 2007, quando o McFly aparece no filme de Lindsay Lohan, Just My Luck. Eles surgem apresentando suas músicas dos álbuns anteriores para a trilha sonora e em um show feito no Hard Rock Cafe na Times Square, assim como uma nova versão de 5 Colours In The Hair e uma original com o mesmo nome do filme. Em seguida trouxeram o álbum Motion in the Ocean, amadurecendo mais o som e trazendo uma cover de respeito de Don’t Stop Me Now do Queen, o que fez muita gente prestar atenção na qualidade técnica dos garotos. Em 2008 o álbum Radio:Active fez eles ganharem o mundo com faixas como Lies, Falling Love, One For The Radio e Do Ya.
No quinto álbum eles arriscaram uma mudança total de sonoridade, em Above The Noize (2010) foram em direção ao pop, assim como fez o Fall Out Boy, banda da mesma geração que também foi muito estigmatizada em toda sua jornada. O som mudou, largaram as guitarras praticamente , e mudou tanto que desconfigurou demais a veia rock seiscentista de antes e eles foram meio esquecidos. O que fez o McFly entrar em um hiato após a Anthology tour de 2014.

Os rapazes voltaram em 2020 com o fraquíssimo Young Dumb Thrills que vai ainda mais na pegada eletrônica, mostrando eles num tom divertido, mas sem muita convicção e meio debochados. Parecendo que faziam o álbum só pra se livrar das composições que fizeram neste hiato que durou de 2017 até começarem as gravações do sexto disco.
Com a resposta irregular de Young Dumb Thrills, mas em contrapartida com shows lotados após tempos pandêmicos em todo o mundo. Tom Fletcher (vocal/guitarra), Danny Jones (vocal/guitarra), Harry Judd (bateria) e Dougie Poynter (baixo/vocal), voltaram suas atenções às origens, trazendo de volta músicas com guitarras.
Produzido pelos integrantes da banda, esse foi o primeiro disco que os caras conseguiram gravar no estúdio próprio, o que fez o processo ser fluido e sem pressões. Em contrapartida, por conta de ter essa liberdade toda, temos exageros em meio a superprodução. E aqui teve dedo do produtor Jason Perry que os incentivou a escrever tudo do que gostavam no McFly em um quadro em branco. Ao sair as palavras como “guitarras”, “diversão”, “solos de bateria”…Jason os incentivou a fazer um disco com a pegada do rock anos 80, que era dominado pelo glam rock. Essa foi a dinâmica para o álbum Power To Play, lançado na última sexta-feira.
Com essa tomada de decisão que representou o estalo, veio a base para a criação dos arranjos, as guitarras ao estilo de Eddie Van Halen gritando e o enfoque nas músicas comerciais como as feitas por Def Leppard e Journey que ecoam até os dias de hoje com precisão. Daí que vieram os singles Where Did All The Guitars Go? e God Of Rock & Roll. Músicas com letras genéricas, com melodias “pra cima”, que são impulsionadas por solos e refrões chicletes – totalmente 80’s.
Apesar de terem sido muito cuidadosos e criteriosos para o lançamento destes dois singles que passam a ideia do processo, foi só com o lançamento do álbum junto com a última música de trabalho, Honey I’m Home, que chegou a certeza que não economizaram nos preenchimentos e na estética 80’s. Dá pra dizer que as músicas são bem gordurosas devido ao excesso de tudo: solos, vocais, sintetizadores, viradas de batera. Mas não encare essa crítica como um demérito, em retrospecto, as músicas deles realmente não dão brechas para espaços vazios e sempre trazem um algo a mais inesperado. Eles parecem ter se divertido e esse é mais um ponto que torna os exageros interessantes aqui.
Em entrevista para a Rolling Stone Brasil, Poynter e Fletcher pontuaram que as músicas tem essa aura de definição triunfante e soa como se elas estivessem sendo tocadas ao vivo no palco, algo que eles fizeram questão de honrar na hora da produção. Isso fica perceptível em Forever Not Enought, Crash, Route 55. Voltando às questões que nos levam dos anos 80 “De Volta Pro Futuro”, tem muito de Journey na forma como eles levam as músicas que tem sintetizadores, Take Back Tonight e em Forever’s Not Enought escancaram a referência. Enquanto há um pouco de Weezer em Make It Out Alive e em Crash algo bem na pegada do pop punk, fazendo referência aos artistas contemporâneos do MCFly.
Já em Land Of The Bees eles tentaram ser o Rush. Tem muito de The Spirit Of The Radio aqui, mas não chega a ser um plágio, bem longe disso. Eles conduzem tudo com a mesma cadência e deslumbre que a banda canadense trazia em seu som e isso é ótimo, evidencia o quão técnicos eles são em seus instrumentos. Essa é aquela que mais valoriza Judd e Poynter por exemplo e vai ser uma das melhores pra se presenciar ao vivo.
Danny Jones apresenta um amadurecimento muito fora da curva em seu vocal, soando um pouco como seu herói Bruce Springsteen em muitos momentos como na balada Honey I’m Home que é uma das melhores do álbum. Já Tom Fletcher sempre me pareceu ser muito mais gritado, como visto em Crash. Em suas músicas que exigem dos agudos e prolongamentos de notas, ele muitas vezes se perde. Mas, quando é para fazer os graves nos backing vocals vira algo notável. Sou mais ele tocando guitarra, mesmo que Danny faça as variações nas casas mais baixas das guitarras, o que Fletcher apronta no básico, é bem animador.
Há só dois pontos negativos no disco, a quebrada que a balada I’m Fine traz para uma sequência de quatro músicas com forte presença de guitarras é totalmente desnecessária, a música até é bonitinha, mas não faria falta se fosse tirada do álbum. Make It Or Alive, apesar de ir do meio pro fim no mesmo caminho que Crash, destoa com seu início que parece mais que vão começar a tocar uma balada do Metallica. Mas é normal em qualquer disco ter seus altos e baixos, e defini-los vai pelo gosto de cada um.
A última música, Shine On, representa uma das melhores coisas que eles já fizeram, mas não soa como McFly, bem como Honey I’M Home. Mas se prestarmos atenção, daria para acrescentar muitas dessas músicas do disco no Radio:Active ou no Motion In The Ocean. Elas possuem as mesmas audácias, só que agora eles estão músicos bem melhores e com mais repertório melódico. E aí que está a graça, eles são imprevisíveis! Mesmo usando muitos clichês deles próprios e do universo do rock, nunca que uma balada cheia de riffs sutis e uma pegada inicial mais soul como em Honey I’m Home e uma guitarra tão cheia de pentatônicas cheia de variáveis em seu ritmo como em Forever’s Not Enought apareceria no catálogo desses quatro britânicos. Então, aplausos!
Nota final: 7,5/10