Se não for pra estar imerso em pura emoção nem venha escutar But Here We Are. O álbum que está ficando cada vez mais conhecido como o “Back In Black do Foo Fighters”, devido ao sentimento de luto e celebração ao falecido baterista Taylor Hawkins, tem uma entrega de Dave Grohl e seus camaradas que esboçam nas músicas uma forma bem pessoal de colocar pra fora tudo que está sendo vivenciado: saudade, solidão, luto, admiração. Mas não temos aqui um enterro, apesar da temática da morte de seu melhor amigo e também a de sua mãe Virginia, aqui temos uma verdadeira intenção de continuidade por parte de Grohl e devemos saudar o cara por persistir e nos entregar um discaço!
Roani Rock
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Gravadora: Roswell Records, Inc
Data de lançamento: 02/06/2023

Gênero: Rock
País: Estados Unidos
O luto no universo do rock não é reconhecível, até hoje Pete Townshend relembra de Keith Moon e mencionou que os primeiros shows do The Who sem ele foram dolorosos. Mas ele não poderia simplesmente parar de tocar. Junto a Roger Daltrey e John Entwistle continuaram a lançar músicas e explorar possibilidades, viram outra tragédia com a morte de espectadores em um show e nos anos 90 Entwistle disse adeus. Outra morte insuperável, Pete e Roger podiam ter dado um basta, mas se uniram, mesmo não sendo os melhores amigos, e estão até hoje tocando!
O Lynyrd Skynyrd perdeu seu líder no acidente de avião ocorrido em 1977, o ano em que a banda estava no auge. O voo do avião CV-240 com caminho a Luisiana levou o vocalista Ronnie Van Zant, o guitarrista e vocalista Steve Gaines, a backing vocal Cassie Gaines (irmã mais velha de Steve) e até o gerente de estrada Dean Kilpatrick. Eles estavam em turnê com o álbum Street Survivors, uma ironia do destino. Os sobreviventes tentaram continuar com o legado, Gary Rossington, Billy Powell, Leon Wilkeson e Artimus Pyle convocaram o irmão mais novo de Van Zant, Johnny, para os vocais dez anos após o acidente. Com diversas formações diferentes até aqui, a banda segue viva, mas sem nenhum membro original ou da formação clássica. Uma tragédia que desencadeou em muitas outras, como o caso de atropelamento causado por Allen Collins e sua morte traumática em 1990 após ser acometido por pneumonia em 1989. Mas teve lado bom, Artimus Pyle seguiu adiante em um projeto que diz ser o “verdadeiro tributo ao Skynyrd” e mesmo em meio a brigas judiciais e muita rusgas, até hoje os dois projetos estão tocando!
O AC/DC que tem a sua presença com muita representatividade aqui, no auge perdeu o vocalista Bon Scott. Perder o frontman, aquele ao qual a camera foca logo que se começa a cantar, é um baque. Não é qualquer um que suporta o rojão, como bem foi comentado nos outros parágrafos. Muitas vezes o sentimento de desistir surge mais latente que o de seguir tocando, mas para quem tem determinação e escolheu a música é fato que não dá pra aceitar a “derrota”, que “a guerra foi vencida”. A banda dos irmãos guitarristas Malcon e Angus Young e resolveu convocar um novo vocalista e acharam na presença de um desconhecido o poder brutal e sacana necessário para fazer Bon Scott orgulhoso. Chegou Briam Johnson e foi composto o álbum Back In Black, o álbum mais vendido no mundo ao lado de Thriller do Michael Jackson e a celebração a alma torta de Bon foi feita e eles seguiram tocando!
Dave Grohl viveu na pele o que passou todo esse pessoal de forma mais intensa, primeiramente em 1994 com o Nirvana quando Kurt Cobain, aos 27 anos, foi encontrado morto com um tiro na cabeça. A banda de Seattle era simplesmente a maior do mundo por conta do sucesso descomunal do álbum Nevermind (1991), que cravou a entrada do então baterista no grupo. Naquele ano de 1994, o Nirvana potencializou o sucesso com a gravação do Unplugged MTV , o mais memorável da história. Mas Kurt não aguentou a barra e ao que tudo indica cometeu suicídio. A banda encerrou as atividades por conta de Krist Novaselic, Dave e Pat Smear não terem visto sentido em continuar o projeto. O Nirvana parou, mas Dave seguiu tocando!
Dave Grohl se voltou a um projeto próprio um tanto diferente da proposta do Nirvana que tinha recebido elogios por parte de Kurt antes do fatídico dia. Ele criou o Foo Fighters sendo inicialmente um “One Man Band” gravando todos os instrumentos do primeiro álbum. Em seguida chamou uns caras pra somar que seguem com ele até hoje, ao exemplo do baixista Nate Mendel e Pat Smear. No fim da década de 90, por conta do incrível álbum de Alanis Morissette, Jagged Little Pill de 1995, ele conhece Taylor Hawkins, um jovem baterista que chamava a atenção nas apresentações da cantora por ter uma técnica fora de série na sentando a mão na bateria. A identificação entre os dois foi rápida e gratuita, em 1997 ele entra pra banda e o time é fechado com a saída de Franz Stahl e a chegada de Chris Shiflett nas guitarras, assegurando o melhor som possível que o ex Nirvana poderia querer. O resultado dessa formação foi encontrado na turnê bem sucedida do álbum The Colour and The Shape que possui alguns dos maiores hits da banda, e esse início foi tocando e colecionando não só prêmios mas uma verdadeira gama de fãs famosos ou não que desenvolveram muito carinho para aquela que viria a ser a maior banda de rock americana dos anos 2000/2010.
O som próprio alternativo que ia muito na onda do hardcore, indie e um pouco do grunge criado na década de 90, surtiu resultados em álbuns coesos, o There is Nothing Left to Lose (1999), One By One (2002), In Your Honor (2005) além de Echoes, Silence, Patience & Grace (2007) que os tornaram não só relevantes como determinante por moldar o som da época. Mesmo tendo passado tempos de incerteza com Grohl querendo virar o batera do Queens Of Stone Age, mas a amizade e pedido de Hawkins e demais da banda fizeram o frontman seguir tocando com os Foos como seu band leader. Dito isso, mesmo quando a banda idealizou projetos ambiciosos como o feito em Wasting Light(2011), Sonic Highways (2013) eles não se perderam e traziam sempre três ou mais músicas que potencializavam o show e aumentavam a parceria e identificação, mesmo com o incompreensivo Concrete and Gold (2017) e em seguida, Medicine at Midnight em 2019.
Essa retrospectiva do Foo’s é para mostrar que foram 20 anos de estrada com a formação definitiva da banda, mas no dia 25 de março de 2022 uma tragédia acometeu o futuro da banda e a partir desse fato muitas incertezas ficaram no ar. Taylor Hawkins morreu por overdose em Bogotá,dois dias antes do show que a banda faria no local.Um show tributo ao baterista foi anunciado de imediato para o dia 3 de setembro no estádio de Wembley, em Londres e um segundo nos EUA no dia 27 do mesmo mês. Muita gente foi, muitos ídolos e amigos de Taylor tocaram e foi a volta por exemplo do James Gang e a primeira vez que seu filho Shane subiu ao palco junto com o Foo Fighters. Um Dave Grohl abatido tocou Times Like These as lágrimas e mais umas 10 músicas com revezamento de bateristas para suprir a falta de Taylor, foram duas noites intensas de celebração a música.

Muitos julgaram como sendo um teste a parte do Foo Fighters para descobrirem o batera ideal capaz de assumir o posto de Taylor e assim fazer como o The Who e AC/DC, para seguirem tocando. Não estavam errados, a banda começou a armar território e não ficou só por ai, apesar de terem perdido um membro muito presente no imaginário, que era tão importante e popular quanto o “principal” pelo carisma e presença, até o mesmo não perdoaria os camaradas de pararem de tocar. Por isso, ficou uma icognita de como estaria o estado psicológico e emocional de Dave Grohl que também perdeu a mãe em Julho de 2022, 4 meses após a morte do melhor amigo. Mas ele tocou com amigos tipo Paul McCartney no Glastonbury e em momentos esporádicos de 2023 fez aparições em shows sorrindo, o que aliviou para os fãs que passaram a acreditar que o homem já estava pronto para seguir adiante.
No dia 19 de abril de 2023 o Foo Fighters lançou o single Rescued e agora podemos começar a falar do álbum. A faixa trouxe a tona um resgate ao som raiz da banda e a letra certamente fala sobre saudade e luto apesar da melodia bem solar. Em seguida surgiu Under You, o segundo single, no dia 17 de maio. Aqui na primeira temos um dos melhores trabalhos de batera por parte de Dave e na segunda a sonoridade similar a que encontramos no álbum In Your Honor.
Depois disso, no dia 21 de Maio, os caras transmitiram um evento ao vivo o “Foo Fighters: Preparing Music for Concerts” onde apresentaram o novo baterista do grupo, o veterano Josh Freese que tocou com muita gente do a começar pelo The Vandals e com a nata: Guns N’ Roses, Devo, Nine Inch Nails, Sting, A Perfect Circle, The Replacements e Paramore. No intimista ensaio aberto, mostraram o bom humor de sempre, a capacidade inquestionável de Josh assumindo o posto e uma música nova, Nothing At All que é uma verdadeira faixa dançante e porrada que lembra os tempos de Wasting Light.
O 3º single foi Show Me How que conta com vocais da filha de Dave, Violet Grohl, o apoiando na pesada canção que faz lamúrias e desabafos. Após esse lançamento, chegou a vez de The Teacher uma música ainda mais sofrida e que é a mais longa de toda carreira do Foo Fighters, tendo seus 10 minutos de duração. Ela não chega a ser uma música progressiva, mas tem muitas camadas, provavelmente é a música mais autobiográfica já composta por Dave e isso é sentido na alma.
But Here We Are foi lançado neste último dia 2 e as canções que ainda não tinham sido apresentadas falam bastante, são verdadeiros desabafos e uma justa tentativa de honrar todo o legado. Tem faixas mais acústicas como The Glass e Beyound Me (a que mais mexeu comigo no tracklist), muito da sonoridade dos álbuns dos anos 2000 com guitarras e bateria gravadas por Dave bem presentes nos singles e um tanto dos experimentos que vinham sendo trabalhados nos últimos trabalhos em faixas como But Here We Are, a já citada The Teacher e naquela que fecha lindamente o álbum, Rest.
O álbum é um verdadeiro afago para os coração despedaçados – esse disco não é para fracos. Tem que estar preparado para uma catarse emocional. É o melhor trabalho do Foo’s em anos, uma pena que seja devido as circunstâncias. Não vejo este com capacidade igual de apelo popular do Back In Black do AC/DC, mas as músicas pegam e há um cuidado ainda maior por conta das mensagens nas letras no “back in white” do Foo Fighters.
Nota final: 9/10
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