Review: Noel Gallagher’s High Flying Birds – Council Skies

Repleto de orquestrações, esse é o disco mais bem estruturado da discografia de Noel Gallagher. Com um pouco de tudo sonoramente falando que já apresentou até aqui em sua jornada musical, ele traz músicas grandiosas de conceito épico, numa mistura do seu som clássico, mais post punk e baladas bastante melancólicas e autobiográficas. Um senhor que passou por bastante mudanças na vida pessoal nos últimos tempos, conseguiu balançar suas próprias estruturas e diria até que se aventurar trazendo um trabalho do qual vai se orgulhar por muitos anos.

Roani Rock

Confira mais reviews de rock:
The Lemon Twigs – Everything harmony
Maneskin – Rush!
Electric Mob – 2 Make U Cry Dance

Cassia Eller & Victor Biglione – Cassia Eller & Victor Biglione In Blues

Gravadora: Sour Mash Records Ltd
Data de lançamento: 02/06/2023

Gênero: Rock
País: Inglaterra


2023 é um ano digno para apresentar mudanças e renovações para diversos tipos de âmbitos, seja do político até ao pessoal. Prova disso nos é apresentado por Noel Gallagher que está atualmente passando por um divórcio e prestes a começar uma turnê com o Garbage para promover seu novo lançamento, que não se parece com nenhum dos trabalhos que lançou anteriormente e ao mesmo tempo tem um pouco de cada.

O cara que segue sendo rabugento, questionador e provocador, viveu momentos contestatórios durante os últimos três anos por declarações fortes frente ao seu saudosismo há como as coisas eram feitas nos anos 90, críticas a novos artistas e a relação que segue conturbada com o irmão Liam que estilhaça nos fãs e admiradores do finado Oasis, banda que contava com sua liderança, fazendo o jargão “o bom e velho” parecer ter na verdade desgastado sua imagem. Muito dessa impressão se deve a muitos não o reconhecerem mais como o cara responsável pelas canções eternizadas nos discos What’s The Story? (Morning Glory) de 1995 ou o primeirão Definitely Maybe (1994), seja por seu ego ser mais condizente com sua posição social atual na high society, ou por conta do som que vem produzindo que é bem diferente daquele feito no início de sua caminhada na música.

Noel durante os tempos pandêmicos esteve bem ativo com o lançamento de singles que prepararam o território e deram um vislumbre do que estava por vir em Council Skies. O EP Blue Moon Rising de 2020, os singles We’re On Our Way Now e Flying On The Gorund de 2021 e mais uma coletânea de 30 músicas intitulada Back The Way We Came: Vol.1, que traz sons que ele considera importantes para a sua jornada nos mais de 10 anos de carreira solo, deixaram a todos com incógnitas na cabeça, já que eram muitas variações e camadas para destrinchar, com remixes até em formato de música eletrônica, o que fazia difícil de imaginar qual caminho ele seguiria dali em diante enquanto Liam cada vez mais cravava seus trabalhos em suas origens no brit rock fazendo sucesso e shows gigantes dentro e fora da Inglaterra.

Passado esse tbt, 2023 traz o single bem post punk Pretty Boy que manteve a pulga atrás da orelha de quem escutou. A vinda do remix feito por Robert Smith, vocalista do The Cure, pra música mudou um pouco as coisas, mas foi com a chegada do segundo single Easy Now que as pessoas começaram a criar um hype digno para o que estava por vir, afinal de contas, era a primeira música em anos que trazia sua essência e o acerto em uma balada folk pop que traz um refrão com reflexão e anseio por melhorias num positivismo exagerado… e um belo solo de guitarra!

Dead To The World, a terceira música que passamos a conhecer, que fala sobre como os fãs argentinos o impressionam  por sua efusividade cantando as letras de suas músicas de forma errada no lado de fora do hotel onde estava hospedado, evidencia, de certo modo, a saudade que Noel tinha de estar nos palcos. Foi um verdadeiro chacoalhar, trazendo lágrimas sinceras para qualquer ouvinte que acreditou que na época da pandemia teríamos o fim do mundo e que a genialidade do compositor veio em boa hora: “Gonna write you a song / Won’t take me long / You can change all the words / And still get them wrong”.

Tem essa vibe de filme noir. Não é como qualquer outra coisa que eu já fiz antes. É muito melancólica, mas eu gosto disso. Sou um geminiano, estou tão em cima quanto em baixo, e o truque é encontrar algum lugar no meio e transformar isso em música.

Noel Gallagher, BBC Radio 2, 2023

Em sequência ele lançou Council Skies, faixa título do álbum, que traz uma sonoridade diferente até da presente no contestado Who Built The Moon? onde ele definiu o som como Cosmic Pop. Aqui há um pouco de sonoridade mais indie, gosto de dizer que é a contribuição do velho para o Los Hermanos ou Banda do Mar por ter um quê de música brasileira na parte instrumental. Detestável!

O último single antes do lançamento do álbum foi a divertida Open The Door, See What You Find que nos brinda com uma orquestra fazendo um arranjo similar ao que encontramos num clássico som dos anos 80 composto por Prince – a faixa se assemelha muito com Raspberry Barret. Após isso, ao olhar o track list, duas músicas chamaram atenção: We’re Gonna Get There In The End e Trying To Find A World That’s Been And Gone: Part 1. Elas já estavam presentes no imaginário de quem acompanha o Noel em versões demo e a presença delas aqui elevou a grandiosidade do projeto, porque suas versões definitivas ficaram melhores e ao mesmo tempo sem muitas diferenças do que foi mostrado inicialmente.

Nota-se um grande cuidado em Council Skies de trazer o sentimento correto para cada faixa, ele foi gravado em metade pela banda no estúdio Lone Star Sound Records, estúdio do Noel e os arranjos de cordas vieram de Abbey Road. O que se tem de novidade vem com esse conceito épico de grandiosidade ao exemplo do que é visto na música que inicia os trabalhos, I’m Not Giving Up Tonight, que chega trazendo a energia pra cima logo de cara. Já a trinca There Show Blows!, Love Is a Rich Man e Think Of A Number chegam em formato arrasa quarteirão num som retrô similar ao feito por bandas mods como o Kinks. Há também perceptíveis referências aos Stone Roses na bateria de Love Is A Rich Mas e em Think Of A Number de cara vem a mente o arranjo de Under My Thumb dos Rolling Stones.

Vale ressaltar a versão Deluxe também disponibilizada no dia de hoje que traz remixes das canções por parte de grandes nomes como o já citado Robert Smith, o Pet Shop Boys, David Holmes e The Reflex. Tem também versões apenas instrumentais, perfeitas para prestar atenção na grande camada de sons de preenchimento que as vezes até parece que trazem gordura de mais as músicas. E há ainda um belíssimo cover para Mind Games de John Lennon e um não tão legal para You Ain’t Goin’ Nowhere de Bob Dylan.

Em analise geral, temos aqui algo muito forte e com muita veia pop. Este tem forte potencial para agradar até o mais fervoroso crítico que torce o nariz pra suas músicas e ações desde 2017. “Noel voltou a acertar” dirão alguns enquanto outros vão louvá-lo dizendo que “nunca errou”. O certo é que assim como Chasing Yesterday (2015) e o primeiro disco de 2011, Council Skies vai envelhecer bem e vai corroborar com minha visão de que já nasceu como um clássico.

Nota Final: 8,5/10

3 comentários sobre “Review: Noel Gallagher’s High Flying Birds – Council Skies

Deixe uma resposta