Review: Lord Of Chaos

Autor: Michael Moynihan & Didrik Søderlind
Editora: ‎Estética Torta
Data de lançamento: 2019
Língua: Português (Traduzido do inglês)


Escrito por Michael Moynihan & Didrik Søderlind, Lords of Chaos nos mostra o outro lado obscurso de uma faceta da música há tempos temida. Moynihan e Søderlind dedicaram seu tempo e potencial de pesquisa, em 1998, para mostrar ao mundo uma vertente muito pouco apreciada, e pior ainda, muito pouco estudada, pelos ouvintes de música. Polêmico e perturbador em tudo aquilo que pode oferecer, o movimento black metal surgiu como forma de expressão por aqueles adoradores de ideologias extremas, e que, com este livro, tiveram uma explanação apurada sobre suas filosofias de vida, e uma tentativa de explicação nada pragmática sobre suas condutas de vida, vistas as complexidades que compõem a religião e a política em seus pensamentos. 

É preciso levantar o fato de que o livro não se preocupa exclusivamente em apontar as grosserias e absurdos contidos no universo deste estilo. Há muitas lições sobre política, religião, e História da humanidade neste. Entender como esses fatores praticados pelo homem estão fortemente inclusos na música e em outros elementos da cultura pop.  Sua estrutura narrativa é de certa forma complexa, mas muito informativa. Além de termos a chance de conferir de forma direta depoimentos de pessoas que contribuíram para a reinvenção deste mundo, como ‘’Euronymous’’ Aarseth (fundador da polêmica e temida banda Mayhem), ainda ficamos familiarizados com a ordem dos lançamentos das bandas nesta cena, que foram influenciadas e influenciam tantas outras. 

A tríade debutante, Bathory, Venom, e Mercyful Fate, recebe um bom espaço no primeiro capítulo para explanação de sua história de formação e potencial influência no meio. E, claro, os relatos de atos satanistas e ocultistas ao longo do país cometidos por aqueles que se viam corretos em sua conduta, e competentes para com seu Lorde Supremo. As histórias de assassinatos massivos, as queimas de igrejas, ou quaisquer outras instituições católicas, as publicações e declarações de morte…. Tudo são evidências de que o black metal infelizmente viria para causar muito mais do que um estranhamento musical.

Porém, mal seus representantes sabiam que uma das mentes mais centralizadas nesta linha, o próprio ocultismo, Anton LaVey e Aleister Crowley, julgavam por errado a maneira de agir destes integrantes de bandas. No capítulo 10 do livro, podemos conferir trechos de entrevistas dadas por eles, onde os dois afirmam que as pessoas agem como agem por entenderem o satanismo errado, e tais feitos são comprovação de uma alienação massiva e vergonhosa.

Ainda dentro deste assunto de feitos absurdos, o livro foge um pouco de falar sobre música em si para compartilhar certas histórias aterrorizantes. O julgamento da banda alemã de black metal Absurd sobre o desfecho terrível que deram à vida de um rapaz de 15 anos, e como a jurisprudência do país na época reagiu a isso, ou ainda o assassinato cometido por Ihsahn, guitarrista de Emperor, e sua postura em relação a isso, demonstrando completo descaso e frieza para com a vida de um inocente. 

E sem mencionar um dos mais ‘’famosos’’ de todos. O suicídio cometido por Dead, integrante do Mayhem, em abril de 1991, que teve seu retrato utilizado para confecção da capa de um disco da banda, coisa que foi obviamente censurada em diversos países, mas seu retrato está disponível no livro. Fique a seu critério ir atrás para matar esta curiosidade.    Trazendo para uma realidade mais próxima, não é nada a toa a forma como certas bandas de black metal são tratadas na atualidade. Mayhem teria seu show executado em Brasília, porém, após uma série de complicações judiciais, e decisões por parte das autoridades, a apresentação foi cancelada. 

Por fim, gostaria de trazer peças deste estilo que valem a pena serem conferidas devido a sua qualidade musical, e que são querendo ou não consideradas clássicas do gênero.

Emperor e Immortal, ainda provindas do norte da Europa, são um ótimo começo para este mundo mais perverso. Dentro de sua pequena discografia, Emperor oferece brilhantes trabalhos. Recomenda-se In the Nightside Eclipse (1994) e Anthems to The Welkin’ at Dusk (1997). Já para Immortal, o grupo conduzido por Abbath, Sons of Northern Darkness (2002) é uma prova perfeita de como um estilo tão sombrio consegue oferecer ritmo e melodias memoráveis. A faixa de abertura One By One já começa exemplificando isso. 

Além destes, recomenda-se Dark Fortress, banda originada da Alemanha, com seu disco de estreia, Tales From Eternal Dusk (2001). Trazendo algo mais recente, Spectral Wound, novamente da Noruega, brindou o sub-mundo há dois anos atrás com o genial disco A Diabolical Thirst (2021). É uma atmosfera tão perversa, e contida em algo tão possuído, que seus ouvidos irão literalmente estar mais pesados após sua conferência. 

Enslaved ainda se categoriza no gênero, apesar de trazer uma proposta mais progressiva, e é também bastante recomendável. Confiram também outras bandas lendárias, como Dark Funeral (especialmente seu disco de 2022, We are the apocalypse), Dimmu Borgir, Dissection (Storm of The Light’s Bane (1995) e Reinkaos (2006) são clássicos imperdíveis), 1349, e a épica banda da Polônia, Behemoth. Tendo seu último disco, Opvs Contra Natvram, lançado em 2022, o grupo continua mostrando muita competência no mercado musical, dado que este é o décimo segundo disco da banda, e sua turnê no mesmo ano ofereceu shows incríveis, sendo que um deles foi conferido pelo autor que vos escreve em novembro, na cidade de Brasília. 

E, por fim, você precisa respeitar a tríade inspiradora dessa enorme ‘’confusão’’ sonora – Bathory, Venom, e Mercyful Fate; especialmente em seu início de carreira. Falar sobre o black metal é um desafio contra os limites da música, e tudo aquilo que as pessoas vêem como moralmente aceito. Mas, o movimento característico da cultura nórdica nos brinda e nos proporciona discussões que vão além dos andamentos certos ou ritmos mais legais dentro de uma composição musical…. é uma forma nada usual de expressar-se na cena midiática, e que ganhou em forma literária a chance de se mostrar, de maneira crua, sua alma por completo.

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