Review: Easy Star All-Stars – Ziggy Stardub

Sempre gostei da imprevisibilidade e o pessoal do Easy Star All-Stars pode ser tudo, menos previsível. Quando você acha que após tornar Pink Floyd, Beatles e Radiohead em reggae os caras ficariam sossegados, eis que eles ressurgem fazendo o possível para o álbum The Rise And Fall Of Ziggy Stardust And The Spiders From Mars de David Bowie soar bem em releituras com o ritmo jamaicano. Ousadia e alegria definem o sentimento que essa nova homenagem ao camaleão do rock gera.

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Gravadora: Easy Stars Records
Data de lançamento: 21/04/2023

Gênero: Reggae
País: Estados Unidos


Easy Star All-Stars é um coletivo de reggae fundado em 1997 por Michael Goldwasser, Eric Smith, Lem Oppenheimer e Remy Gerstein, da Easy Star Records, com sede em Nova York. Seu primeiro álbum, lançado em 2003, foi o Dub Side Of The Moon uma interpretação do álbum Dark Side of the Moon de 1973 do Pink Floyd e a aceitação dos públicos do reggae e do rock por mais que a princípio tenham recebido respostas de estranhamento aos poucos conquistou uma gama de fãs ávidos para ver o que mais esses caras poderiam aprontar.

O segundo da série criada pelo coletivo foi o Radiodread que fez uma homenagem a banda de rock alternativo Radiohead revisando seu aclamado OK Computer e sendo elogiado por Thom York que adorou as versõesa de sua obra. Três anos mais tarde eles trouxeram ao mundo sua própria versão do álbum mais famoso do mundo, o Sgt Peppers dos Beatles virou Easy Stars Lonely Hearts Dub Band impressionando pelos arranjos se tornando o mais escutado do Easy Stars. Três anos depois, o álbum mais vendido da música pop virou um álbum de reggae fantástico com suas estruturas totalmente modificadas, Thriller de Michael Jackson virou Thrillah nas qualificadas mãos dos nova yorkinos e 11 anos depois eles escolheram seu novo favorito pra receber suas versões.

O clássico do glam rock, vagamente baseado na narrativa de uma estrela do rock extraterrestre, andrógina e ruiva, rapidamente elevou Bowie ao status de superstar em 1972. Desde suas sombrias observações cinematográficas sobre o apocalipse na faixa de abertura Five Years até a garantia assustadora de que não estamos sozinhos na música final Rock ‘n’ Roll Suicide, faz a mítica percorrer até os dias de hoje como uma obra prima irretocável. Por isso que, após cinquenta e um anos depois do lançamento, ver Ziggy Stardust receber uma reformulação espetacular em forma de reggae em Ziggy Stardub através da produção de Michael Goldwasser com seu Easy Star All-Stars é tão animador.

Nada soa desrespeitoso aqui, a ordem das músicas segue a risca a tracklist oficial do The Rise And Fall Of Ziggy Stardust And The Spiders From Mars, e os arranjos pouco saem do original que o baixista Trevor Bolden, o guitarrista Mick Ronson e o único membro sobrevivente, baterista Michael “Woody” Woodmansey produziram para a voz de Bowie. Na real, eles investiram muito para a qualidade ser mantida, chamando nomes de peso como colaboradores, valendo a menção a Alex Lifeson, guitarrista do Rush, e Vernon Reid, guitarrista do Living Colour.

Teve muito espaço para ousar, Soul Love, por exemplo, foi uma das que melhor encaixaram no formato reggae com a voz de Mortimer. A sempre arrepiante Moonage Daydream aqui vira um dub roots cantado pela impressionante Naomi Coan ficando absurdamente linda em sua versão baseada no ritmo jamaicano com as guitarras de Lifeson. Em contrapartida, Suffragette city, Stars e Hang On To Yourself ficam quase irreconhecíveis pela mescla a estilos como dancehall, que ao meu ver, apesar de ficaram interessantes (principalmente nessa última que contou com fishbone e Reid), se descaracterizaram um tanto.

Bem como a obra original, há uma sucessão de hits. Starman que é um “jive cósmico nebuloso” vira um rockstead de respeito cheio de ginga e mais suave. It Ain’t Easy parece ter ganho sua versão definitiva e parece que ela nasceu pra ser um reggae cheio de metais. No mesmo caminho ficam Ziggy Stardust e a balada Lady Stardust que ficaram bem fiéis aos arranjos conhecidos. Essa última por exemplo teve seu piano introdutório a anunciando, mas após a bateria entrar, se transforma em um dub gostoso.

Rock ‘and’ Roll Suicide recebe uma acalmada perdendo sua dramaticidade que só é identificada pelo vocal da lendária Macy Gray. Além de outras versões Dub de Five Years, Moonage Daydream e Lady Stardust para fazer jus ao nome dub colocado no título do álbum que ficaram bem psicodélicas, teve espaço para mais um som entrar. A música escolhida para finalizar a obra foi o single All The Young Dudes que não chegou a entrar no The Rise And Fall Ziggy Stardust, mas fez parte da tour e se tornou o maior hit do Mott The Hoople. Ficou também fidedigna em seu arranjo e fechou de forma majestosa a audácia desses nova yorkinos que não tem medo de se arriscar já que a qualidade dos músicos é tremenda.

O produtor Goldwasser (que é naturalmente britânico) até falou para a Billboard que a missão deles é quebrar barreiras. E eles levam muita gente ao reggae, isso é muito importante!

Coloquei muitos detalhes interessantes para dar ao ouvinte algo diferente para focar a cada vez. Trato esses álbuns tributo com reverência e humor: a música deve ser divertida, mas tenho reverência pelo material original. (…) Antes do lançamento de Dub Side of the Moon, recebíamos ódio de pessoas do Pink Floyd e fóruns de rock clássico que diziam coisas como ‘ Dark Side of the Moon é sagrado, como eles ousam?’ Depois que o álbum foi lançado, naqueles mesmos fóruns, as pessoas diziam ‘Easy Star fez um ótimo trabalho!’ As pessoas me disseram que ouvir nossos álbuns de tributo os levou ao reggae. Isso faz parte da missão da Easy Star: quebrar barreiras. Se você pode abrir sua mente e seu coração para diferentes músicas, você pode abrir sua mente e seu coração para pessoas diferentes.

Michael Goldwasser a Billboard, 2023

Embarcar na onda do Easy Star All-Stars para quem tem mente aberta é moleza, mas mesmo sendo difícil para alguns, é apenas uma questão de tempo . O vocalista David Hinds da banda britânica de reggae Steel Pulse mencionou o quanto entrar de corpo e alma no universo do Bowie, tendo ouvido pela primeira vez a música Five Years para cantar no projeto, fez ele querer “que a justiça tenha sido feita à música”. Com toda a responsa que tenho ao dividir minham impressões com vocês, eles conseguiram de novo!

Nota Final: 9/10

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