Cinco Músicas Que Foram Resgatadas Por Séries

A trilha sonora de uma obra audiovisual pode ser determinante para a história que está sendo contada. O roteirista que sabe utilizar uma música como elemento narrativo no contexto de uma cena, principalmente naquela que traz um grande plot pra história, tem na sincronia a função de passar a mensagem contagiando o telespectador frente a obra cinematográfica e também ser capaz de conseguir popularizar novamente uma canção. Esse efeito alavanca a carreira dos interpretes e compositores em um patamar que nem no auge conseguiram ter em termos de reconhecimento.

Os benefícios em termos de números de vendas e cliques adquiridos por Kate Bush conseguidos graças a inclusão de um de seus hits na série Stranger Things, foi o gancho para essa lista. Aqui iremos abordar músicas que voltaram a ser populares por aparecerem em séries em momentos chave das tramas. Não estamos falando aqui apenas de estatísticas de base de dados, até porque se trada de épocas e contextos diferentes. A ideia é sintetizar o quanto a união de uma boa música com a cena de um filme/série são capazes de impactar de forma genuína a obra e a vida das pessoas/artistas.


Kate Bush – Running Up That Hill (Stranger Things)

O que aconteceu para esse hit voltar aos standards e charts de vendas nunca ocorreu antes, é inédito! Principalmente se levarmos em conta que o sucesso de um músico hoje é determinado ao alcance de um clique nas plataformas digitais. A canção conquistou o primeiro lugar no iTunes Global e no Spotify Global, além de garantir o primeiro top 10 na carreira de Kate Bush. No Brasil, Running Up That Hill ficou entre as dez mais ouvidas no Spotify, tornando-se a primeira faixa do século passado a entrar no topo do ranking. Segundo a Billboard, a música teve um aumento de 8700% de reproduções globais em comparação a um dia antes da estreia da quarta temporada de Stranger Things.

Running Up The Hill (A Deal With God) é uma faixa poderosa que não chegou a ser número 1 e nem perto disso porque estava num desleal confronto com hits de Cindy Lauper, Michael Jackson, Madonna e até com Olivia Newton John e pela gravadora encrencar com a temática de fazer um “acordo com Deus”. Ela pertence ao álbum Hounds of Love de 1985 e aborda a difícil questão emocional de lidar com o sucesso que seu álbum de estreia gerou aliado as críticas.

No contexto de Stranger Things, a música é a favorita da personagem Max, interpretada por Sadie Sink, e aparece em vários momentos importantes durante a temporada.


Nick Cave & The Bad Seeds – The Red Right Hand (Peaky Blinders)

Peaky Blinders, uma série sobre uma gangue irlandesa de Birmingham, na Inglaterra, voltada ao mercado de apostas de corridas de cavalo. Uma simplificação para a trama que nos apresenta a Thomas “Tommy” Shelby, um sujeito frio e calculista que moldou uma grande safra do público que estava se sentindo órfão da temática após o fim de Sons Of Anarchy, série que também possui um contexto de gangue, mas esta é sobre um moto clube envolvido no mercado de armas.

Ambas tem uma trilha sonora sensacional, mas SOA não chegou a ter esse poder de reviver artistas, ela foi capaz de modernizar músicas tocadas no decorrer das temporadas através da banda The Forest Rangers e o White Buffalo. Já a série protagonizada pela família Shelby, por se tratar de um período pós primeira guerra no ano de 1890 a 1910, precisou que sua soundtrack fosse capaz de ambientar aquele período desolador, sombrio e ao mesmo tempo astuto/canastrão e que pudesse trazer uma sensação de movimento.

Para alcançar isso, os roteiristas chegaram ao denominador comum de que a música teria de ser o tema de abertura, sendo capaz de trazer malícia suficiente para atingir essas pretensões abordadas no outro parágrafo e qualquer outra música que viesse depois seria um plus. A faixa escolhida foi The Red Right Hand de Nick Cave, lançada originalmente em 1994. Não é que ela estivesse tão obscura assim, mas uma das principais faixa assinatura do australiano não havia tido um grande destaque e agora foi eternizada pelos Peaky Blinders.


Divinyls – I Touch Myself (Sex Education)

Essa faixa entra aqui pela piada contextual a qual foi inserida. Essa divertida canção foi gravada pela banda de rock australiana Divinyls e foi escrita pelos membros Christine Amphlett e Mark McEntee  ao lado do time de composição Tom Kelly e Billy Steinberg. foi lançada em novembro de 1990 atingindo o primeiro lugar das paradas americanas um ano depois, sendo o primeiro single do quarto álbum da banda, o diVINYLS.

A ironia aqui é pelo fato dela ser considerada um hino voltado ao erotismo, orgasmo e masturbação feminina e ter sido destaque na abertura do primeiro episódio da segunda temporada da série da Netflix Sex Education, em uma versão mais pra o “gospel” ao piano e o coro infantil de Scala & Kolancy Brothers representando o momento em que o personagem Otis finalmente consegue se masturbar.


Big Star – In The Street (That 70’s Show)

A música de abertura da série That 70’s Show. Por mais que tenha sido interpretada pelo Cheap Trick na segunda temporada tendo trazido o nome da banda de power pop do vocalista Robin Zender e do guitarrista Rick Nielsen de volta a tona e ter feito o nome de Todd Griffin, que interpretou a canção na primeira temporada ficar conhecido, para os mais curiosos ficou ligado o radar para descobrir que a faixa originalmente foi feita pela banda Big Star na década que a série homenageia.

Big Star é provavelmente a banda mais injustiçada da história da música por conta de má administração. O fato de In The Street ter sido lançada em 1972 como lado b do single When My Baby’s Beside Me comprova isso. O single até era bom, mas não estourou justamente porque a formula da banda já havia saturado na década passada, o que fez In Th Street não ter se destacado junto. Brigas de ego e a morte do principal compositor que dá voz a versão original de In The Street também fez tudo ruir, a música ficou um bom tempo esquecida, nem mesmo Alex Chilton, o outro cara gigante do Big Star, a interpretava, até que a série foi ao ar em 1998.

O advento das bandas britânicas estarem nessa época na crista da onda com o britpop e shoegaze, fez com que o Big Star pudesse ressurgir com Alex Chilton como band leader ao lado de Jody Stephens em 1993; eles até conseguiram fazer uma turnê internacional. O álbum de estreia 1# Record ser tão bom de cabo a rabo e o segundo álbum Radio City ter feito um singular sucesso com September Gurls, tudo isso trinta anos antes, fez com que o retorno não tivesse uma música específica para causar o impacto.

Acredito que In The Street foi escolhida pra série por ter sido uma faixa da época, mas o Big Star voltar a ativa causou certo hype, tanto que por coincidência ou não, a banda lançou sua primeira faixa inédita em meados de 90, junto a um álbum tributo com bandas atuais interpretando as canções deles, sem In The Street estar incluída. Ela parece ser o patinho feio que teve a redenção ao ficar tão bem encaixada na abertura da sitcom.


Stevie Nicks – Rhianon (American Horror Story)

Para finalizar, a contextualização mediante a inclusão de Rhianon aqui não é bem sobre esquecimento. Na verdade, é que a série American Horror Story na temporada conhecida como Coven fez um verdadeiro tributo a Stevie Nicks. Tinha uma personagem conhecida como Misty Day, interpretada pela atriz Lily Rabe, uma bruxa divertida ligada a preservação do meio ambiente que possuía o dom do ressurgimento: a habilidade mágica de trazer almas de volta dos mortos. Ela era claramente inspirada na vocalista, seja pelos cabelos loiros bagunçados, a forma de se vestir e ser uma grande fã da segunda voz feminina do Fleetwood Mac, justificando o fato da caixinha de música dela ser chamada de Stevie.

Mas o que uma série de bruxas teria a ver com Stevie Nicks? Bem, ela tinha 28 anos quando foi acusada de bruxaria pela primeira vez. No início do verão de 1976, a canção Rhiannon, composta pela cantora quando ainda era vocalista da banda Fleetwood Mac, estourava nas rádios estadunidenses. Considerada “horripilante e viciante” pela revista Billboard, a letra era inspirada na protagonista do livro Triad (1973), de Mary Leader. Stevie trazia um verdadeiro climax pras apresentações quando incorporável esse temível e encantador personagem, ao ponto do baterista Mick Fleetwood alegar que “era como presenciar um exorcismo”.

Os anos se passaram, e após 40 destes com os rumores perdendo a força, a cantora pôde se reencontrar na própria música, continuando a compor canções a respeito do sobrenatural e, até mesmo, aceitando interpretar a si mesma, sob o título de White Witch, cantando a canção para as outras bruxas na terceira temporada da série American Horror Story: Coven. Uma cena divertida e agradável que no episódio em questão contou com um clipe da cantora em uma versão repaginada da faixa Seven Wonders.

O sucesso da temporada Coven coincidiu com a reunião do Fleetwood Mac, que contou com o retorno da vocalista Christine McVie que tinha deixado Stevie e os demais companheiros em 1998. Foi uma turnê curta, mas sempre com shows lotados.

3 comentários sobre “Cinco Músicas Que Foram Resgatadas Por Séries

    1. Desconhecia essa informação, obrigado! Acredito que as músicas citadas aqui tocaram em mais de uma série, mas acho que as que coloquei marcaram mais.

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