The Dark Side Of The Moon – Especial 50 Anos

Por Luis Rios

THE DARK SIDE OF THE MOON 

O álbum da minha vida completou 50 anos neste 23 de março e segue cada vez mais lindo e inebriante com o passar de todos esses anos! Ele traz uma música que ajuda a enriquecer perspectivas e continua arrebatando corações e elevando almas pelos anos a fio. Com temas que versam sobre morte, insanidade, opulência, pobreza, guerra e paz, ele é tocado pelo menos a cada 1 minuto em algum lugar do planeta! 

Quando o Pink Floyd começou a apresentar, em janeiro de 1972, sequências que depois de retrabalhadas, viriam a ser TDSOTM, eles não faziam ideia do que estavam criando. É unânime entre seus quatro integrantes o pensamento de que os momentos que passaram compondo o álbum, foram os mais criativos e de maior integração dos quatro em toda existência da banda. As ideias iniciais surgiram na casa de Nick Mason, em Camden, após a banda ter voltado dos EUA. Roger Waters foi o principal idealizador. Quando as músicas começaram a surgir, foi como mágica, porque não havia uma intenção deliberada de criar um novo álbum,mas sim de mudar o set list dos shows, o que era algo que as bandas faziam muito na época. No entanto, músicas espetaculares foram surgindo naturalmente como nunca havia ocorrido antes com eles. 

O processo de composição aconteceu da seginte forma, depois que Syd Barret saiu de órbita” e ficou um tanto problemático. Roger aos poucos, foi tomando a frente pra se tornar o letrista principal. As letras eram normalmente calcadas no sentimento de frustração com relação a vida na estrada. Mostravam o pânico com o que viria pela frente na carreira da banda, e demonstravam o receio dele com o que o dinheiro e fama poderiam ocasionar em suas vidas. Eram preocupações naturais, emergidas do cotidiano em que estavam inseridos nos últimos anos.

Com relação a música, trechos de composições de todos eram tocados por longos períodos nos ensaios e as ideias iam se somando e crescendo. Foi assim com Time, Breath e Money. Demos caseiras iam sendo revistas e a elas, se adicionavam novos trechos. Influências de Neil Young e Miles Davis e até a modernização de um antigo Blues que levou a Money por Gilmour, foram em comuna, sendo trabalhadas e assim, as músicas iam ganhando forma. Com o passar do tempo, eles começaram a perceber que estava havendo uma ruptura artística com o passado. Essas novas composições foram se mostrando diferentes de tudo que já haviam composto. Daí, tiveram a ideia de criar letras que falassem de um tema mais ou menos que abrangesse coisas comuns, como a passagem inexorável do tempo, os problemas sociais e a morte como fim. Uma única faixa que só se “quebraria” no momento de trocar o lado do vinil, com muitas nuances, mudanças de andamento, bem como uma atmosfera.viajante, ia ganhando forma. 

O que seria chamado de Eclipse e passou a ser chamado de The Dark Side Of The Moon, é na verdade, uma peça única, direta e clara em seus sons, timbres e mensagens que trazem nas letras. O fato é que as ideias se somaram e eles, ao nos levar numa viagem para o lado escuro da lua, encontraram a luz e nós também.

Seus números impressionam, ele conseguiu a façanha de permanecer por 724 semanas consecutivas entre os 200 discos mais vendidos nos EUA (mais importante mercado do mundo). Foram ainda, 800 semanas não consecutivas. Em 2003, já tinha vendido em torno de 30 milhões de cópias. Atualmente já vendeu mais de 45 milhões. Na Inglaterra, estima-se que uma em cada cinco residências possui a obra!


A banda arrecadou ao longo destes 50 anos algo em torno de 140 milhões de dólares só com ele.

Ao longo dos seus aniversários importantes, The Dark Side Of The Moon teve lindas versões, com novas mixagens e memorabilia inédita. As edições de vinte e trinta anos, e agora, as versões de 50 anos, são coisas deslumbrantes e que fazem com que nós fãs, cada vez mais, tenhamos o prazer de degustar suas nuances sonoras e descobrir novas sensações com a música do álbum. É de fato uma viagem sensorial que evolui a cada audição!

O fato de ter feito essa matéria, é tanto para voltarmos aos idos da década de 1970, onde acompanhamos inúmeras maravilhosas bandas de rock produzindo álbuns e canções memoráveis, mas também, de forma factual mostrar o quanto o DSOTM aumentou o sarrafo. Já ouvi muita coisa (porque tudo é impossível), mas nunca consegui sentir nada parecido, comparado a esse álbum do Pink Floyd. Tudo na sua feitura beira a perfeição. Dá pra garantir que quando suas canções vem uma atrás da outra, tomam sua alma por completo!

Outro fator determinante foi buscar colocar em palavras um pouco mais de sentimento, usando conteúdo detalhado de cada canção ao invés de simplesmente contar as estórias por trás dessa obra e ir no caminho da mesmice. Os Instrumentos usados e o que sentiam Rick Wright, Nick Mason, David Gilmour e Roger Waters, ao longo do processo de composição e gravação do álbum no Estudio #2 do lendário Abbey Road, foi posto em pauta. Apesar de ser uma tarefa quase impossível, porque sentimento não se escreve, tentarei contar essa história e homenagear a minha banda predileta e se o TDSOTM se renova em mim toda vez que o ouço, gostaria de estimular outras pessoas a sentirem o mesmo.

Convido vocês então para essa viagem em direção ao lado escuro da lua.

Antes de fazer um faixa–a–faixa, vale lembrar de outro ponto curioso. Foi no início do ano de 1972, a banda passou a tocar trechos que posteriormente se transformariam no que é o álbum de fato. Com outros nomes e arranjos bem diferentes, elas foram testadas em shows e isso ajudou demais a banda a melhorá-las, retrabalhando essas “suites” o melhor possível no estúdio.


FAIXA A FAIXA:

1- Speak To Me
Nick Mason / 1:07

Rick Wright: Piano, VCS3 (simulador de efeitos como por exemplo, o som de um helicóptero ou de uma explosão) – era um equipamento recém adquirido pelo Estúdio Abbey Road 
Roger Waters: Efeitos sonoros
Nick Mason: bass/drum (bumbo)

Essa música foi dada a Nick por Roger como um presente. No futuro, em meio ao imbróglio jurídico dos anos de 1980, ele se arrependeria do gesto. Ela é o nascimento, o amanhecer. Solidão e isolamento são o caminho pra loucura. Um minuto de tensão que passa rápido, mas que não dá muita pista do que estava por vir.  Os efeitos sonoros que ouvimos aqui em primeira mão, voltam a aparecer em vários momentos do álbum. Em Eclipse e na introdução de Time, a risada em Brain Damage e na caixa registradora de Money, por exemplo.

Duas frases são ditas na faixa:

“I’ve been mad for fucking years
Absolutely years, been over the edge for years…
Been working me buns off for bands”

e

“I’ve always been mad, I know I’ve been mad
Like the most of us are
Very hard to explain why you’re mad
Even if you’re not mad”. 

Em tradução livre: “Eu estive louco por malditos anos, absolutamente anos, estou no limite há anos.Estive trabalhando duro para bandas” e “Eu sempre fui louco, eu sei que fui louco como a maioria de nós é. Muito difícil de explicar, porque você está bravo mesmo se você não estiver bravo”.

A primeira é dita pelo roadie Chris Adamson e a segunda por Gerry O’Driscoll, que era o porteiro irlandês do Estúdio Abbey Road. Este último foi remunerado tempos depois pela banda. Roger teve a ideia de criar perguntas curtas e fazê-las a várias pessoas. Uma delas foi Paul McCartney (a resposta dele foi descartada por ser muito pró forma). Foram perguntas simples como: “você sente medo da morte?” As respostas são ouvidas ao fundo e em outros momentos do álbum. 

2- Breathe
Roger Waters/David Gilmour/Rick Wright / 2:50

David: Vocais, harmonias vocais, guitarra rítmica e pedal steel guitar
Rick: Teclados
Roger: Baixo
Nick: Bateria

A gênese desta faixa foi extraída de Music from The Body (álbum concebido por Roger Waters e Ron Geesin que compõe a trilha sonora do documentário de 1970 de Roy Battersby, The Body, sobre biologia humana, narrado por Vanessa Redgrave e Frank Finlay). Ela tem a ver com ser verdadeiro consigo mesmo e escolher bons valores. A vida é curta. Aproveite da melhor forma, sem medo… seja responsável por seus atos e não pare de continuar buscando. Não se contente em obedecer ordens…

A melodia foi inspiração clara de Down by the River de Neil Young. Rick complementa com toques de teclado que remetem ao jazz. Kind of Blue de Miles Davis foi a inspiração. A música é uma continuação natural de Speak to Me e Gilmour coloca várias camadas de guitarras. É uma faixa muito emocional e os vocais evocam isso com vozes dobradas lindas e marcantes. Os sons das guitarras e do pedal steel soam reverberando e ecoando de maneira sublime. Aqui, a “Black Strat” é a guitarra usada. Já Rick usa vários teclados. Um piano elétrico, o Fender Rhoads e o Hammond RT-3. Nick e Roger conduzem uma cozinha bem estruturada e sincopada. Estamos dentro do álbum já. Totalmente imersos no coração de TDSOTM e prontos pra mais arrebatamentos. Breathe já dava mostras de que algo diferente estava concebido.

3- On The Run
David Gilmour/Roger Waters / 3:45

David: guitarras/VCS3/EMS Synthi AKS (outro simulador de efeitos recém adquirido pelo Estúdio)
Rick: Teclados
Nick: Bateria/efeitos
Roger: EMS Synthi AKS/ VCS3/efeitos/baixo

Faixa instrumental que surgiu após muito tempo de improvisações com as novas aparelhagem que produzem efeitos sonoros. De TDSOTM em diante, encontraremos muitos efeitos na música do Pink Floyd, mais inventivos do que antes. Ela expressa a inquietude dos quatro quanto a vida frenética da qual eles tanto se incomodavam e da paranoia (Rick em especial) de voar. Não a toa o título dela era “The Travel Sequence” antes de chegarem a On The Run. O Motor de avião ligando, chamada dos falantes de um aeroporto, uma explosão simulando um acidente aéreo, bem como outros sons, são ouvidos ao longo da faixa.

Antes ainda, ela era chamada de “Eclipse Part 2” e a banda não estava satisfeita. Era como se fosse uma “jam“, meio “jazzy” com teclados e guitarras. Aos poucos, David e Roger foram explorando mais, tanto o VCS3, quanto o AKS. Aliado a isso, eles gravaram uma sequência como se fosse um “hi-hat” a 165 BPM pra manter o ritmo.  Adições de Hammond foram colocadas junto com um “overdub” do “hi-hat” de verdade de Nick e mais uma porção de efeitos, a ideia inicial de David foi melhorada por Roger e o primeiro reconhece isso. O baixista ficou facilmente familiarizado com os AKS e produziu melhores resultados. Ele sempre foi insistente.A mixagem foi difícil de concluir. Os músicos iniciaram, mas somente quando bateu nas mãos de Alan Parsons (mais a frente, falaremos um pouco mais sobre este fundamental engenheiro de som) é que a coisa andou bem. 

A música é uma viagem ao desconhecido.

4- Time
Mason/Waters/Wright/Gilmour / 6:53

David: Vocais/harmonias vocais/guitarras/EMS Hi-Fli/ VCS3
Rick: Vocais/teclados/VCS3
Roger: Baixo/VCS3
Nick: Bateria/rototoms

Todos os membros compuseram essa música, a única creditada aos quatro. A letra, por sua vez, é de Roger e constitui uma das mais profundas, líricas e filosóficas de todo o rock. Os relógios são uma metáfora. Algo está prestes a acontecer, mas de fato, o que ocorre inexoravelmente é a passagem do tempo.  Certa vez, ele confessou que sua mãe, que era obcecada pela sua educação, o fez pensar em algum momento que você estuda, se prepara, para o “início” da vida, mas a vida já começou em algum momento anterior e você não percebeu. Seu destino já está sendo traçado por você, o tempo todo. Esse pensamento o chocava. Time se encerra com a reprise de Breathe. Um recomeço metafórico. O tempo é imparável, como os constantes renascimentos ao longo da vida.Essa música foi uma influência e tanto na cena do Rock. Os músicos vindouros se embebedaram dela e os fãs do mundo todo nunca pararam de ouvir. Não tem como.

Ela surgiu levada por Roger em versão demo e melhorada pelos quatro juntos. “Time Song“, título inicial, foi terminada e aí sim, David pôde adicionar o seu solo de guitarra, utilizando a mitológica “Black Strat“. Um solo ao mesmo tempo “Bluesy” e espacial. Há algo de Hendrixiniano nos tons da sua guitarra! A distorção e os “doublings” ficaram por conta do EMS Hi-Fli (pedal de efeitos) e duram por toda música. David usa outros pedais de efeitos no solo, que trazem aquela textura que nos delicia. São eles o “Fuzz Face” e o “Echored“.

Depois dos alarmes dos relógios no início, a “cavalgada” feita por Roger no seu Fender Precision Bass se inicia. O som se parece com um metrônomo, um pulsar que se repete ao longo de todo álbum de formas um pouco distintas. Rick harmoniza seu Wurlitzer EP-200 e seu Farfisa (órgão eletrônico feito a mão e que teve como pano de fundo a popularidade do acordeão no início do século 20 na Itália. Com os Hammond, mais modernos perderam popularidade), com os timbres de David na guitarra. A dobradinha do guitarrista e do tecladista, se tornaram algo essencial para o som do Pink Floyd e perduraram até o fim da banda e posteriormente, nas suas carreiras solo, integradas sempre.

Nick usa pela primeira vez os Rotontoms na introdução. Na música, sua levada é fascinantemente funkiada e rockeira ao mesmo tempo. Os vocais são de David que em dado momento, troca com Rick. Ambos fazem as harmonias alternando com o vocal do outro. No fim da música, a repetição de Breathe nos leva de volta ao clímax do início do álbum, porque a instrumentação é idêntica. Sendo que em Time tudo é uma música só. 

Uma das melhores músicas já compostas por uma banda de Rock, em todos os tempos.

5- The Great Gig In The Sky
Wright/Clare Torry (composição vocal) / 4:44

David: Pedal steel
Rick: Piano/órgão hammond
Roger: Baixo
Nick: Bateria
Clare Torry: Vocais

Talvez a música mais transcendental do álbum. A peça feita por órgão, chegou a Abbey Road inacabada e precisou ser melhorada. Chamava-se “Mortality Sequence“. Ela reflete o medo de Rick de voar e morrer lá em cima. Ele disse que começou a compor fazendo o de sempre. Sentou ao piano e os dois primeiros acordes surgiram. Que poder tinham e tem esses acordes!!

A faixa que é instrumental, tem duas frases. A primeira, dita novamente pelo porteiro irlandês do Estúdio (ele já havia aparecido em Speak To Me) e dizia: “And I am not frightened of dying. Any time will do, i don’t mind. Why should i be frightened of dying? There is no reason for it, you’ve gotta go sometime.” A segunda, dita pela esposa do Gerente de “tour” Peter Watts (Patrícia Watts): “I never said i was frightened of dying.” Em tradução livre, a primeira: “E eu não tenho medo de morrer. Qualquer hora serve, não me importo. Por que eu deveria ter medo de morrer? Não há razão para isso, você tem que ir algum dia.” e a segunda: “Eu nunca disse que tinha medo de morrer.”

Um dos detalhes mais importantes da canção de Rick foi a adição dos “uivos”, segundo Roger, para completar a música. Ninguém sabe ao certo quem sugeriu, mas foi o engenheiro Alan Parsons que trouxe a pessoa responsável. Clare Torry de 22 anos era uma vocalista que tinha feito um álbum de “covers”. Tinha também gravado com o ainda desconhecido Elton John. Ela só conhecia See Emily Play e ganhou um cachê de 50 dólares pra realizar o trabalho. O único que se comunicava com ela era David e ela não tinha muita noção do que eles queriam… na verdade, nem eles sabiam ao certo. O fato é que depois de algumas tentativas que não agradaram, ela se imaginou um instrumento acompanhando a melodia e fez dois “takes”. Agradeceu a chance e foi embora. Achava que eles não iam aproveitar. O resto já sabemos. 

Ela viu o álbum numa loja e assim soube que sua voz estava numa canção do Pink Floyd.  Anos depois (2005), ela foi aos tribunais pra conseguir ser creditada como co-compositora da faixa. E conseguiu. The Great Gig In The Sky é emoção e terror puro, trazidos pela vocalização de Clare e a tristeza comovente da melodia. O instrumental da canção foi comandado pelo piano de Rick e seu Hammond como coadjuvante. Roger e Nick fizeram maravilhas na cozinha e David com seu Pedal Steel, criou uma atmosfera indescritível ao ter como companhia, os vocais de Clare, expandindo e reverberando os acordes. O piano foi gravado no Estúdio 1 de Abbey Road que era usado para gravações de orquestras e trilhas sonoras. Isso deu amplitude ao som. 

Na minha modesta opinião, esta é a obra prima de Richard Wright!


LADO B:

6- Money
Roger/ 6:23

David: Vocais/guitarras
Rick: Teclados
Roger: Baixo/efeitos sonoros
Nick: Bateria/efeitos sonoros
Dick Parry: Saxofone tenor

Viramos agora o lado do disco e a sensação de continuidade se mantém, mas com novas texturas e os temas se desenvolvendo.  Roger trouxe uma demo da canção, em que tocava violão e cantava. “Era engraçado”, disse David numa ocasião. A ironia da letra era nítida. Roger queria dizer que o dinheiro trazia poder e isso levava as pessoas a serem terríveis e injustas, seu modo de pensar marcante começava ali a se manifestar. Mas o capitalismo e o livre mercado não era o único caminho na visão do letrista. “A humanidade deve ser mais cooperativa e menos competitiva”, disse na época, um Roger Waters que realmente se politizava cada vez mais. 

O último verso da música diz: “Money, it’s a crime because it’s the root of all evil today.” Em tradução livre: “Dinheiro, é crime porque é a raiz de todos os males hoje.“O blues criado por Roger foi escolhido como single ao lado de Any Colour You Like e se transformou num sucesso estrondoso em vários países, para surpresa de todos. E também, posteriormente, se tornou uma das músicas mais tocadas e pedidas nos shows. A produção da música envolveu muito trabalho e criatividade. Foram adicionados sons de caixas registradoras, moedas sendo remexidas, trabalho feito por Roger em sua casa com um equipamento para trabalhar argila. Vários “loops” pré gravados de outros efeitos, como papel sendo rasgado e moedas sendo jogadas no chão (créditos a Nick), também aparecem. 

Atualmente, nada disso seria necessário, porque as máquinas modernas de efeitos (sintetizadores) são quem fazem esse trabalho rápido e facilmente.  Cada dia de gravação era um “loop” e no dia seguinte, novos efeitos eram somados aos anteriores. Três ou quatro foram gravados e guardados para servirem de “overdubs” em cima da gravação principal.

Num determinado dia então, os quatro rapazes gravaram juntos a música completa, para depois serem colocados aqueles “overdubs”. Roger com seu poderoso Fender Precision Bass gravou o icônico riff em tempo 7/4. Rick, pilotando seu Wurlitzer (piano eletromecânico de 64 teclas), solou várias vezes com seu wah-wah. Gilmour fez seus “tremolos” na guitarra rítmica e também gravou três solos diferentes. Cada um deles usava diferentes equipamentos. Um mais distorcidos, outro mais parecidos com os de Time (espacial) e ainda outros com muito “reverb” e “feeling“. Isso tudo, buscando atingir efeitos dramáticos. 

Gilmour admitiu que buscou inspiração pra essa mescla nos três solos em Elton John, que usava muito a ideia de alternar um som encharcado de reverberação com um som bem seco. Já Nick com seu “Kit” Premier, dá um “groove” soberbo pra canção que na observação de Roger,  “pode-se dizer que foi gravada inteiramente ao vivo como banda, porque o tempo muda muito do início pro fim. O tempo acelera fantasticamente.” Ah, os vocais de David são espetaculares e deram a ele ainda mais, a fama de ter um dos timbres de voz mais incríveis do rock.

Money é uma música única, com um tempo único e diferente de tudo que a banda já havia feito.

7- Us And Them
Roger/Rick/ 7:49

David: Vocais/harmonias vocais/guitarras
Rick: Teclados/harmonias vocais 
Roger: Baixo
Nick: Bateria
Dick: Saxofone tenor

Ainda bem que Michelangelo Antonione rejeitou a peça The Violence Sequence que Rick compôs para seu filme Zabriskie Point. Ao ser retrabalhada pela banda nas gravações de TDSOTM, ganhou uma letra de Roger que questiona se a raça humana é capaz de “ser humana” e como a difícil temática gera uma extensa discussão, a música se transformou na mais longa do álbum, principalmente se levarmos em consideração que a letra também fala sobre os horrores da guerra.

Sabemos que ao longo da vida, esse tema seria amplamente e repetidamente abordado por Roger. Ela fala também sobre a liberdade civil e racismo o que justifica ela ser tão densa. A canção, que foi escolhida como segundo single e não conseguiu atingir o sucesso de Money,já  tinha antes uma estrura de verso/refrão bem definida, mas com a contribuição dos outros, se transformou em algo sublime. 

Eclipse Part 3 como era chamada inicialmente, recebeu a abordagem do Hammond RT-3 de Rick, acompanhado do calor do som do “Leslie speaker“, um equipamento que reúne elementos de amplificador e alto-falante. Ele modifica o som através da rotação dos alto-falantes. É um item comumente associado ao órgão Hammond como combinação em estúdios de música. Contém, além do amplificador, canais de graves e agudos. Um músico pode controlar um Leslie por interruptores externos ou um pedal, que alterna entre grandes e baixas velocidades, conhecidas como “chorus” e “tremolo“. 

É notório por ter sido de extensivo uso durante as décadas de 1960 e 1970, por artistas e grupos musicais como Deep Purple, The Beatles, The Beach Boys,Eric Clapton, além do Pink Floyd. Os arpejos da “Black Strat” de David, as batidas densas de Nick e a levada hipnótica de Roger, se somam e aguardam assim, o solo de Dick Parry, com seu saxofone penetrante emulando Stan Getz e Gerry Mulligan. As vozes intensas de David e os backing-vocals de Lesley Duncan, Doris Troy e Barry St. John se harmonizam com a guitarra distorcida, o baixo encharcado de Roger e as bases de Rick. Há um angelical solo de piano e um segundo solo de saxofone, mais “bluesy” e tenso.

Us And Them é sem dúvida alguma, uma das mais marcantes e tristes melodias que a banda compôs.

8 – Any Colour You Like
David/Nick/Rick/ 3:26

David: Guitarras/scat (refere-se ao estilo de canto improvisado do jazz em que a voz é usada como instrumento)
Rick: Minimoog/VCS3/Órgão 
Roger: Baixo
Nick: Bateria

Nesta música, acontece o diálogo enternecido e sofisticado ao mesmo tempo, dos teclados de Rick, com as camadas eletrizantes de guitarra de David. Nela, sentimos um sopro mais feliz e menos melancólico, para depois adentrarmos no final épico do álbum que já se aproxima. Isso foi salientado por Nick. O título Any Colour You Like, basicamente é uma crítica ao capitalismo. Significava na cabeça dos quatro integrantes, as boas e reais oportunidades aparecendo pra poucos. É uma alusão a um modelo de carro da Ford (Model T Ford) que só saia na cor preta. Outros significados vieram a tona. Por ser a faixa mais psicodélica do álbum, seria uma homenagem a Syd Barret e poderia ser encarada como um significado do desdobramento implacável da guerra e a rejeição de qualquer pessoa que soasse diferente ou insana. 

Quanto a elaboração do arranjo em si, muitas coisas interessantes aconteceram. Rick usou pela primeira vez o Minimoog, que tomou conta totalmente da faixa. Ele utilizou efeitos extraídos do Binson Echored e também aparecem discretamente notas tocadas em seu Hammond. O Precision bass de Roger dá o groove perfeito sem interromper o ar psicodélico, acompanhado por Nick e sua batida sendo levada na caixa e nos tons alternados, com “regularidade metronômica”. Já as guitarras do inspiradissimo David Gilmour, são ao mesmo tempo levemente distorcidas e com um “feeling” arrebatador. Ele revelou mais tarde que foi muito influenciado por Badge de Eric Clapton. Na ocasião, foi usado pelo guitarrista do Cream, o leslie speaker. Daí, vem a rica e envolvente sonoridade.

Roger, como sempre polêmico, disse certa feita, mais tarde, que essa música foi quase uma colaboração dos quatro como em Time, porém ele abriu mão de ser creditado pra não ser do contra.

Se você quer realmente se sentir numa nave, contornando a lua, ouça essa canção de olhos cerrados. 

9 – Brain Damage
Roger/ 3:47

David: Guitarras 
Rick: Teclados
Roger: Vocais/harmonias vocais/ baixo
Nick: Bateria 

The lunatic is on the grass…” (O lunático está na grama). Essa frase é alusiva a Syd Barret, assim como o instrumental enigmático. Ela leva o fã do Pink Floyd e do próprio Syd, a sentir a presença dele, quase que física, durante toda canção. 

O interessante é que Roger compôs a letra e música de Brain Damage, enquanto a banda estava nos estágios finais de gravação do álbum Meddle. E a música tinha o título de The Dark Side Of The Moon. A música ou o que ela era na época pré TDSOTM, era tocada dentro da estrutura de trabalho do conceito: “Eclipse: A Piece Of Assorted Lunatics“. Já a grama não ficava na cabeça de Roger, mas sim na praça que existia entre o rio Cam e o Kings College Chapel. Lugar onde eles iam enquanto adolescentes em Cambridge. A canção, em seus belos versos, ainda retrata a época em que Roger, Syd, David e os outros viviam aventuras e prazeres adolescentes, inspirados pela literatura de heróis que costumavam ler. Nos versos seguintes ele cita políticos, estrelas do pop e famosos como sendo insanos.

Ao dizer: “I’ll see you on the dark side of the moon“, Roger claramente quer dizer que todos nós temos impulsos ruins e se sentir mal por conta disso, fazendo todos nós estarmos dentro do lado escuro da lua! Em relação a música em si, em sua estrutura de acordes, ela parece realmente simples e fácil de tocar… Ledo engano. Ela é complexa, mesmo sendo uma canção de basicamente dois acordes. E devemos entender que por conta dessas características, é uma canção que se torna ainda mais maravilhosa e bela na sua singeleza.

“Eclipse Parts 5 & 6” (Brain Damage e Eclipse) precisaram de 5 “takes”. Roger foi o “lead vocal” pela primeira vez e demonstrou nervosismo, segundo David. “Ele era tímido com relação a sua voz e eu o encorajei”, relembra ainda, um humilde Gilmour.  Duas partes arpegiadas e coloridas pelo Leslie Speaker são tocadas pela “Black Strat” e aparecem uma em cada canal. Os reverbs and delays são fartos. Quando Roger adiciona sua bela linha de baixo, a canção é renomeada, Lunatic Song. A partir daí, são colocados o Hammond e o Minimoog de Rick e os lindos backings das vocalistas.

O curioso e não menos enigmático detalhe da faixa, são as vozes do road manager Peter Watts (pai da atriz Naomi Watts), que adiciona falas e uma sonora gargalhada louca. As frases são: “I can’t think of anything to say, ha ha ha!” e na transição para a derradeira faixa, Eclipse, ele diz “I think it’s nice, ha ha ha!” (Não posso pensar em nada pra dizer e eu penso que isso é bom – em tradução livre)

Agora você está quase chegando lá… ou seria quase reiniciando tudo?

10 – Eclipse
Roger/ 2:13

David: Guitarras/harmonias vocais
Rick: Teclados
Roger: Vocais/harmonias vocais/baixo/efeitos sonoros
Nick: Bateria/efeitos sonoros

Eclipse foi adicionada no álbum aos “45 do segundo tempo“. Roger disse certa vez que de uma estranha maneira, essa música o reanexa a sua adolescência, como se fosse um sonho.  Ela é, na verdade, tudo o que um ser invoca e sente ao longo de sua existência.  Ela nos remete ao início, Breathe (“respire o ar, não tenha medo de se importar”). Ela é espiritual, mística. Ela te leva pra uma outra dimensão. Ela expõe o ser humano que vive sob o sol, ao “absurdo” que é passar por uma vida inteira e depois morrer. O último sopro é dado e a vida termina.

Em Breathe, o sol é perdido. Em Time, nós corremos pra tentar agarrá-lo antes que ele afunde e em Eclipse, a cortina cai e “And everything under the Sun is in tune but the sun is eclipsed by the moon” (E tudo sob o Sol está em sintonia, mas o sol é eclipsado pela lua”) A música termina com o som das batida do coração, como no início em Breathe. Isso é um alento e mostra que mesmo pra alguém bastante desesperançado como estava Roger, podemos seguir adiante, renascendo e renovando sempre.

O instrumental dessa canção traz basicamente todas as características das outras músicas do álbum, mas aqui eu percebo uma integração mais do que incomum. É algo transcendental mesmo! Mexe muito com a minha emoção, sentir a simbiose com que os quatro conseguem entremear seus instrumentos, suas vozes e suas emoções na gravação.  Roger e Nick sendo precisos no ritmo, Rick fazendo seu Hammond rugir e David tocando seus arpegios angelicais na sua “Black Stratocaster”. Ainda temos os backing vocals das meninas, que fizeram um trabalho brilhante em todo álbum. Doris Troy, Lesley Duncan, Liza Strike e Barry St. John trouxeram um clímax especial a essa faixa.

Com Eclipse, o álbum finda lindamente e acendendo nos corações de todos nós, uma melancolia que pode nos deter ou pode nos emocionar e impulsionar em busca de um novo amanhecer. Só depende de cada um de nós. Não tem como não se emocionar ao ouvi-la.


MENÇÃO HONROSA:

ALAN PARSONS: Engenheiro de som. Responsável pela sonoridade que tanto queria a banda. Ele conseguiu construir um som seco, mas, ao mesmo tempo, encorpado. Fez um trabalho brilhante nesse sentido, deixando os músicos mais confiantes e seguros ao longo das sessões.  Teve papel preponderante na colocação dos efeitos criados pelos músicos, no contexto do álbum.  Foi ele também quem recrutou Clare Torry para a performance em The Great Gig In The Sky e deu a ideia a Roger de escrever os cartões com perguntas para serem feitas as pessoas que estavam por perto.

Parsons foi convidado a trabalhar em Wish You Were Here em 1975, mas nem uma boa quantidade de dinheiro o convenceu.  Hoje ele é um renomado músico de 74 anos, com inúmeras canções compostas de sucesso e também com o currículo de engenheiro de som dos Wings, Al Stewart, dentre outros.


REPERCUSSÃO DA MÍDIA:

Em sua coluna no “Sunday Times”, Derek Jewell que assistiu a um concerto no dia 17 de fevereiro de 1972 e assim, teve contato com o embrião do álbum, disse: “Se tudo isso soa como “The Inferno” reformulado, você estaria apenas parcialmente certo. A ambição da intenção artística do Floyd é agora vasta. No entanto, no centro de toda a intensidade da mídia, eles têm um sentimento estranho pela melancolia de nossos tempos… Em seus próprios termos, o Floyd é impressionantemente bem sucedido… Eles são dramaturgos supremos.”

Ele e nós estávamos prestes a receber a melhor obra já criada por uma banda de Rock em todos os tempos. Segundo David Gilmour, “… As ideias que Roger explorou aplicam-se a todas as gerações.” 

David Fricke, colunista da revista Rolling Stone, escreveu na época, “… o conceito está lá, as canções estão lá, os espaços entre as canções estão lá. Mas isso não tira nada da imaginação.” 

Por fim, Peter Jenner, produtor musical e sujeito muito próximo de Syd Barret e da banda disse, “embora fosse em grande parte sobre ele (Roger), esse foi o álbum que fez o Pink Floyd escapar de Syd”. Ao final de tudo e depois de tantos anos passados, concordo plenamente com uma das ideias de Roger para o álbum: “a vida não é um ensaio“.

Muitos anos depois da criação do álbum ele ainda é comentado, Waters também falou: “TDSOTM acabou com o Pink Floyd. Alcançar aquele tipo de sucesso é a meta de todo grupo. Uma vez que você chegou lá, está tudo acabado.
Será? Acho que não foi isso que desintegrou a banda vagarosamente ao longo dos anos e que culminou com a saída de Roger, após o lançamento de The Final Cut (1983), mas esse é um outro assunto…

O que fica, a cada audição, é um sentimento maravilhoso de contentamento, por termos uma música e uma mensagem que reverberam até hoje, nos fazendo pensar e aproveitar.

“There is no dark side of the moon, really. As a matter of fact, it’s all dark…”

De um fã pra outros fãs e para futuros fãs…

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