Review definitivo: Daisy Jones & The Six

Não muito distante do que proporciona a última versão de Nasce uma Estrela do ator e diretor Bradley Cooper, a série do romance Daisy Jones & The Six da autora Taylor Jenkins Reid é uma fabula do rock que tem a responsa de contar todos os desafios e dramas do líder de uma banda e uma aspirante a cantora que unem forças para chegar ao estrelato. a forma como conhecemos os personagens centrais é estimulante e a cada episódio ficamos mais presos na história e consequentemente nas músicas originais da obra.

Roani Rock

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Ficha Técnica
Título: Daisy Jones & The Six
Direção: James Ponsoldt
Roteiro:  Scott Neustadter e Michael H. Weber
Data de lançamento: 03/03/2023
Episódios: 10 (no momento só foram lançados 3)

Aonde assistir?: Prime Video


Para quem ainda não leu o best-seller Taylor Jenkins Reid e quer se familiarizar com a história antes de adentrarmos nos fatos da adaptação, se liga nessa breve sinopse do livro abaixo: “Embalado pelo melhor do rock’n’roll, um romance inesquecível sobre uma banda dos anos 1970, sua apaixonante vocalista e o amor à música – Todo mundo conhece Daisy Jones & The Six. Nos anos setenta, dominavam as paradas de sucesso, faziam shows para plateias lotadas e conquistavam milhões de fãs. Eram a voz de uma geração, e Daisy, a inspiração de toda garota descolada. Mas no dia 12 de julho de 1979, no último show da turnê Aurora, eles se separaram. E ninguém nunca soube por quê. Até agora. Esta é a história de uma menina de Los Angeles que sonhava em ser uma estrela do rock e de uma banda que também almejava seu lugar ao sol. E de tudo o que aconteceu — o sexo, as drogas, os conflitos e os dramas — quando um produtor apostou (certo!) que juntos poderiam se tornar lendas da música. Neste romance inesquecível narrado a partir de entrevistas, Taylor Jenkins Reid reconstitui a trajetória de uma banda fictícia com a intensidade presente nos melhores backstages do rock’n’roll”

Essa é a sinopse do livro que é conduzido apenas pelas entrevistas dadas no documentário da banda. Para os moldes de série, para contar a história se fez necessário uma mescla de documentário com flashback com reconstituição dos acontecimentos para gerar a comoção e identificação com o início e a separação da banda do genial frontman Billy Dunne com a aspirante cantora de rock Daisy Jones em 10 episódios.

Comandada e dirigida por Niki Caro (live-action de Mulan) tendo Will Graham como o showrunne enquanto a autora do livro Taylor Jenkins Reid se une com Michael H. Weber e Scott Neustadter na parte dos roteiros, a mini-série da Amazon Prime Video aliada a produtora Hello Sunshine baseada no livro ao meu ver desempenhou um papel fulminante para os carentes de boas histórias com a temática do Rock ‘and’ Roll a começar pelo empenho dos atores e atrizes para entregar essa história. O elenco é repleto de figuras prestigiosas, com o principal destaque sendo Riley Keough, que além de ser neta de Elvis Presley fez parte de séries como The Good Doctor e filmes como Mad Max: A Estrada da Fúria. Além dela temos um “Jogador Voraz” como galã e protagonista, o ator Sam Claflin dá vida ao rockstar Billie Dunne. Uma curiosidade mediante a esses dois protagonistas que reforça a questão do empenho é que ambos não tinham tanta afinidade com música e terminaram por ter que colocar em cheque não só as suas aptidões frente as atuações como de fato aprenderem a tocar e cantar para fazerem seus personagens da forma mais natural possível. E Pra mim o que há de mais prestigioso na série se encontra nesse esforço dos dois para tudo funcionar.

A presença que mais me agradou de uma forma geral foi a da brasileira Nabiyah Be que interpretou Simone Jackson. Nascida em Salvador, Be também é cantora e compositora. Ela é conhecida por papéis no filme Pantera Negra e nas peças off-Broadway Hadestown e School Girls. Mas essas questões viraram só a cereja do bolo, porque sua personagem tem uma história tão protagonista alheia a do núcleo central, que acompanhar a difícil vida de Simone e a conclusão emocionante de sua história foi tão gratificante quanto assistir as primeiras cenas onde ela faz uma performance animal para A Song For You de Leon Russell, música famosa nos anos setenta pela versão dos The Carpenters. Em seus poucos momentos de cena nos primeiros episódios se fazia pensava que ela seria apenas um personagem secundário, ainda bem que é uma impressão falsa.

Temos aqui várias referências aos melhores picos do rock setentista em Los Angeles como o Whisky A Go Go! e Troubadour, a Sunset Strip e Laurel Canon representando o melhor cenário também. Acredito que a série atingiu a sua meta e confirmou que era capaz de fazer as pessoas voltarem a gostar mais de rock e terem vontade de formar uma banda, saindo daquela ideia conservadora enraizada nos últimos anos, porque a história é tão bem contada e fácil de crer que o The Six existiu.

A trilha sonora é muito especial, a começar pela escolha da música de abertura Dancing Barefoot da Patti Smith presente no álbum Wave de 1979, que acredito que vá virar a segunda música dela mais escutada nos streamings por conta da série; fato consumado. As músicas originais feitas para a série que compõem o disco Aurora também merecem um destaque, todas conseguem ter momentos excelentes para conduzir as gravações do disco e cenas de shows. Se a The Six tivesse existido realmente teria sido influente, imaginei por vários momentos dando leves risadas que existiria até uma rivalidade com as bandas que inspiraram o som das músicas.

A história original da obra foi inspirada em fatos reais que ocorreram com o Fleetwood Mac. Nos tempos em que estavam produzindo seu álbum mais popular, o premiadíssimo Rumours, que como já contamos a história por aqui no site, no nosso Revisando Clássicos, tiveram músicas baseadas nos dramas que estavam ocorrendo nos casamentos de Stevie Nicks com o guitarrista Lindsey Buckingham e o da tecladista Christine McVie com o baixista John McVie. Esse foi um dos ponta-pés iniciais, mas é interessante que apesar de apostar que para qualquer um o Fleetwood Mac vai ser a imediata referência, a autora Taylor Jenkins Reid tenha chegado a falar em entrevista ao Shelf Awareness, que a história de mais duas bandas foram importantes para o desenvolvimento de sua Daisy Jones and The Six, e a criação dos Six, além de admitir a inspiração principal.

Passei muito tempo pensando nas histórias da nossa cultura que me fascinam. São relacionamentos em que as pessoas têm uma produção criativa incrível, mas há conflitos pessoais, como a banda The Civil Wars (que se separou muito abruptamente), Fleetwood Mac, ou os Eagles. Há um documentário de três horas chamado ‘The History of the Eagles’ que fala sobre como eles criaram sua música, mas também sobre toda a turbulência entre os membros da banda. E fiquei tão empolgada com a ideia que senti que se tornou uma história que eu tinha para contar.

Taylor Jenkins Reid, 2019

Partindo desse princípio, dá pra crer que a série tentaria não ser um pastiche, ela também não segue a cartilha da recente onda hollywoodiana de filmes biográficos de bandas de rock que terminam glamourizando os personagens centrais e acredito que não tinha como fugir de algo mais profundo e romantizado no nível de Nasce uma Estrela de Bradley Cooper ou Quase Famosos de Cameron Crowe que é um filme cult e um dos pioneiros na temática tendo seu desempenho celebrado até hoje. Só que Daisy and The Six consegue ser maior, levando em conta que se trata de uma série e exigir mais desenvolvimento e interesse do público.

Dito isso, tudo na história é uma mistura de novidade na forma de contar principalmente por conta do modelo documentário ser inserido e há um “eu acho que já vi isso antes”. Então pude ser surpreendido com a boa construção dos protagonistas, uma banda se formando e uma menina rejeitada pelos pais que encontra na música uma forma de despertar seus talentos e assim achar seu lugar no mundo. Alguns personagens importantes na trama como a já citada Simone e também Camila Dunne, interpretada pela atriz e modelo argentina Camila Morrone, também foram cruciais para me deixar encantado. Por sinal, todas as personagens femininas tem algo interessante pra contar e aprofundar, foi muito bem conduzido. A tecladista Karen Sirko, interpretada pela musicista inglesa Suki Waterhouse, por exemplo, por virar um affair do guitarrista e irmão de Billy Dunne, o garoto Graham Dunne, interpretado pelo americano Will Harrison, teve questionamentos que qualquer mulher que toca rock já teve e ainda há uma outra questão que abalaria a relação dos dois, mas aqui não é lugar para spoilers.

A história da série roterizada por Scott Neustadter e Michael H. Weber, que tem algumas diferenças da obra literária que já é um best-seller, tem um bom time-skip e realmente não é corrida. Faz uns cortes interessantes nos momentos de depoimentos dos músicos para as cenas de lembranças bem vivas como as do produtor Teddy Price, interpretado pelo brilhante Tom Wright que fez Seinfield, – que por sinal é um dos melhores personagens da trama – e a chegada de Daisy Jones para gravar uma música com a banda, marcando um especial recomeço que conduz a trama do quarto a o décimo episódio. Ela parece dar uma conclusão aceitável no final que talvez não agrade alguns mesmo sendo igual ao do livro, mas ao mesmo tempo, esse fim de ciclo dá abertura para uma segunda temporada através de algumas pontas soltas, então não dá pra cravar que vai acabar na primeira temporada.

Josh Whitehouse e Sebastian Chacon, que fazem o baixista Eddie Roundtree e o baterista Warren Rhodes respectivamente, ficam com esse ar de coadjuvantes, mas em muitos momentos são determinantes, o final de Warren é simplesmente o que mais me agradou dentre a conclusão de ciclo pós término do The Six.

Falando com algumas pessoas que já leram o livro, soube que as diferenças entre as obras estão bem sutis, então pode ver sem medo. Daisy Jones & The Six te prende fácil, principalmente se você é fã do misticismo dos anos 70 e gosta de romances com bastante trilha sonora. Os episódios tem uma duração que variam entre 48 e um pouco mais de 50 minutos, então por não serem tão longos facilita de maratonar por mais de uma vez.

Recomendo ouvirem o álbum Aurora só depois de assistirem a série ou lerem o livro para pegarem o real feeling das canções. Mas em suma, as músicas são verdadeiramente bem trabalhadas, tocadas e cantadas pelos atores com muito carinho durante a série. Há vídeos nas redes sociais deles ensaiando as músicas, o que comprova a tese que em muitos filmes musicais o ator não só encena como realmente está tocando, o que me agradou. Aurora foi gravado no lendário Sound City – que gerou o filme de mesmo nome dirigido por Dave Grohl – com a produção e composição por parte de Blake Mills em companhia de nomes do cenário americano como Cass McCombs , Chris Weisman , Matt Sweeney, Elizabeth Berg e James Vallentine.

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