Historicamente, é muito comum ver artistas do pop fazerem colaborações, escreverem canções em parceria para aumentar um hype ou até para fazer o artista mais antigo voltar aos holofotes. No rock isso aconteceu também e muito, fazendo de diferentes maneiras um verdadeiro burburinho na indústria.
Muitas dessas uniões foram concretizadas com a criação de um super grupo, mas o que queremos trazer aqui é um pouco mais que isso, até porque já existem muitas listas e matéria sobre supergrupos. O que trago aqui é basicamente a colaboração de duas partes conhecidas primeiramente por conta do rock, que tornaram singles verdadeiros sucessos, e como no caso de um dos selecionados, as improváveis colaborações terminarem dando caldo em seu primeiro álbum solo, demonstrando uma luz para o restante da sua carreira.
Vamos fazer de forma ranqueada do menos importante para o mais importante, então vamos a lista!
15 – David Coverdale & Jimmy Page – Take Me For A Little While
Nos anos 80, após o fim do Led Zeppelin, Jimmy Page tentou formar um surpergrupo com integrantes do Yes. O projeto não saiu do papel, mas se concretizou com o The Firm, formado com Paul Rodgers (Free e Bad Company). Já nos anos 90, o guitarrista surgiu com o álbum ao vivo “No Quarter” com Robert Plant que gerou uma turnê gigantesca e bem faturada. Em seguida um duo com David Coverdale (Deep Purple e Whitesnake) foi estruturado pelos dois nomes que já eram mais do que consagrados.
O guitarrista uniu forças com o icônico vocalista, os baixistas Jorge Casas e Ricky Phillips (esse participando apenas da faixa 7 e 10), o batera Denny Carmasi, o tecladista Lester Mendez e John Harris (gaita harmônica nas faixas 1 e 4) para fazer um álbum completo com 11 faixas capazes de trazer um pouco de tudo dos trabalhos que tornaram esses dois ícones mundialmente conhecidos, tendo a balada Take Me For A Little While como single e um dos principais deleites. O álbum foi lançado como Coverdale & Page numa divisão que o frontman colocou em recente entrevista de outubro de 2020 para a EON Music como:” “uma relação ala Lennon/McCartney só que sem o ressentimento (risos)”
O álbum foi lançado em 1993 e ficou no 4º lugar tanto na billboard quanto nas paradas britânicas, sendo defendido por fãs e por parte da mídia especializada. Mas, Infelizmente, o advogado de Page deu mais atenção as críticas negativas e achou que um segundo álbum ou a continuidade do projeto não valeria a pena. Após a separação da dupla, Coverdale terminou reformulando o Whitesnake e chegou a gravar duas músicas do projeto com Page, “Take Me Back Again” e “Woman Trouble Blues”, que foram parar no álbum de 1997 Restless Heart. Já o guitarrista uniu forças com o The Black Crowes, uma banda de southern rock que estava em ascensão, mas também não conseguiu manter a colaboração por muito tempo, e apesar de lançarem um álbum ao vivo, o Live at the Greek de 2000, onde chegou ao segundo lugar do chart de discos independentes, não conseguiram fazer um som autoral com os nomes juntos.
Coverdale mencionou que neste ano de 2023 sairá um relançamento do disco em uma edição de aniversário de 30 anos com algumas músicas que não foram lançadas na época. Há a possibilidade de ter uma mix feita por ele e outra por Page, mas nada de muito concreto foi divulgado até agora.
14 – Oasis & Johnny Depp – Fade In Out
Johnny Depp além de ator é conhecido por ser guitarrista e hoje em dia por diversas contribuições com artistas de rock famosos, seja pelo super grupo Hollywood Vampires de Alice Cooper ou mais recentemente por conta do álbum em parceria com o já saudoso guitarrista Jeff Beck. Mas ele apareceu portando uma guitarra pela primeira vez de forma inesperada, sem aviso prévio, nos anos 90 em sua participação no álbum Be Here Now do Oasis.
Como o maior grupo de rock do mundo no final dos anos 1990, parecia natural que o Oasis andasse com estrelas de cinema de Hollywood. Entre seus amigos íntimos de Hollywood estava ninguém menos que Johnny Depp . Depp passou muito tempo no Reino Unido em meados da década de 1990, pois mantinha um relacionamento com a supermodelo britânica Kate Moss. Moss e Depp se separaram em 1997, mas ele continuou amigo íntimo dos irmãos Gallagher e se juntou a eles durante as sessões de gravação de Be Here Now.
Durante uma das sessões, Noel supostamente estava bêbado demais para tocar guitarra em ‘Fade In-Out’. Como resultado, Depp deu um passo à frente e contribuiu com as brilhantes seções de slide guitar ouvidas na faixa. Ela não se tornou um grande hit, mas esta também não foi a primeira contribuição de Depp ao catálogo do Oasis; ele também participou da gravação acústica de ‘Fade Away (Warchild Version)’, que apareceu na compilação de 1995 The Help Album preparada por Paul McCartney e George Martin. Essa música também incluiu uma contribuição de pandeiro de Moss.
Como bem dito no primeiro parágrafo, o guitarrista passou a contribuir com diversos projetos, mas engraçado que ele não trabalhou mais com nenhum dos irmão Gallaghers depois do Be Here Now, seja através do Oasis ou na carreira solo de ambos. Noel Gallagher chegou a gravar com o Gorillaz que é a banda de Damon Albarn, um antigo rival da década de 90 quando este era o frontman do Blur e brigava pelos primeiros lugares dos charts britânicos com o compositor e líder do Oasis. Já Liam Gallagher fez um dueto com o vocalista do The Verve, Richard Ashcroft na faixa C’mon People (We’re Making It Now) e teve uma música do seu último álbum composta por Dave Grohl vocalista do Foo Fighters, Everything’s Electric que apesar de trazerem a união destes ícones de três décadas atrás não causaram o boom merecido.
13 – Santana & Steven Tyler (Aerosmith) – Just Feel Better
Em 13 de dezembro de 2005, Just Feel Better, o segundo single do álbum de Carlos Santana , All That I Am, na sequência do sucesso de I’m Feeling You, sendo o primeiro trecho do álbum. Mas a peculiaridades nessa música e na escolha de Santana pelo feat com o vocalista. O primeiro deles é que a faixa é produzida por John Shanks e escrita por Jamie Houston, Buck Johnson e Damon Johnson. Buck é tecladista do Aerosmith.
Carlos Santana amava a música e ela virou um single de sucesso internacional, mas o guitarrista chegou a cogitar usar outra voz sem ser a de Steven Tyler na poderosa balada. Um teste inicial foi feito com Wes Scantlin , vocalista da banda de rock americana Puddle of Mudd. Mas comparando as duas versões, o guitarrista não teve dúvidas em escolher a performance de Tyler porque segundo ele continha mais paixão. O single alcançou um sucesso razoável na Austrália , estreando no número 8 na parada ARIA e recebendo airplay significativo. Na Austrália, esteve várias vezes no Rage (ABC) e videohits (canal 10).
O clipe estrelado por Nikki Reed conta uma história muito interessante de uma adolescente lidando com vários problemas, incluindo um professor fazendo assédio sexual com ela e um relacionamento tenso com sua mãe. No final, ela finalmente conhece um cara legal, mas que morre repentinamente em um acidente, o que a leva a se reconciliar com a mãe e a dar mais valor aos estudos.
12 – Slash & o primeiro álbum solo
Slash foi um felizardo em seu primeiro álbum solo. Em sua autobiografia de 2007 ele falou que estava planeando o álbum que seria chamado de Slash & Friends, mas que foi depois simplificado para apenas Slash. Sendo um dos guitarristas mais aclamados e admirados da cena hard por seu início como um dos formadores do Guns N’ Roses e depois como fundador do supergrupo Velvet Revolver, o “guitarrista da cartola” tinha uma rodagem e agora se viu de frente a um novo grato desafio que era o de iniciar a carreira solo, se valendo do forte nome que conseguiu prensar na história do rock.
A questão aqui, é que o desafio ficou unicamente na parte de compor e conseguir juntar a banda. Isso porque sua seleção de vocalistas teve aceitação de bate e pronto e isso é algo que creio ter inflado o ego de Slash. Ele pôde contar tanto com a presença de ídolos como Ozzy Osbourne, vocalistas contemporâneos a sua geração, como o caso de Chris Cornell, que estava nesse tempo no Audioslave, e alguns com propenso nome a se consolidar na indústria como foi o caso do vocalista e guitarrista do Wolfmother, Andrew Stockdale.
Lançado em conjunto pela EMI, Roadrunner e Universal Music, o disco pode ser visto também como a tentativa do Slash de buscar um vocalista para as tours, não a toa foi através da repercussão frente ao hit Starlight, colaboração com Myles Kennedy, guitarrista e vocalista do Alter Bridge, que surgiu a luz no fim do túnel. Em 4 de fevereiro de 2010, dois meses antes do lançamento, Slash anunciou através de um blog que “Myles Kennedy vai ser o vocalista da banda para a próxima turnê. Algo que eu estou realmente feliz sobre. Myles cantou uma faixa matadora no álbum e eu acho que ele é, de longe, um dos melhores cantores de Rock & Roll existentes atualmente. Eu estou muito honrado e orgulhoso de estar a trabalhar com ele.”
Participaram de maneira primorosa tanto entregando a voz como ajudando na composição Lemmy Kilmister, Iggy Pop, Ian Atsbuy (The Cult), Ozzy Osbourne, Kid Rock, Dave Grohl, Rocco DeLuca seus ex-companheiros de Guns, Izzy Stradlin e Duff McKagan. Incrivelmente a cantora do grupo de hip-hop Fergie do Black Eye Peas, Adam Levine do Maroon 5 e M.Shadowns da banda Avenged Sevenfold que estavam bem estourados na época, cada um na sua vertente, fizeram um show a parte em suas participações e os já citados Andrew Stockdale, Chris Cornell e Myles Kennedy (que aparece em duas faixas) foram os grandes destaques do disco.
11 – U2 & Green Day – The Saints Are Coming
O ano era 2006, na época em que se completava um ano das tragédias causadas pelo evento do Furacão Katrina na Nova Orleans. Os americanos foram abraçados pela surpreendente parceria do Green Day e U2 com o cover de The Saints Are Coming. A faixa foi originalmente gravada pela banda escocesa Skids em 1978, sua letra bem pertinente encaixava tão bem em um momento tenso que também fez com que as duas bandas totalmente opostas sintonizassem perfeitamente seus pensamentos.
Os grupos que não tinham um histórico de aparições juntos, tanto em turnê quanto em festivais, preparam um show em conjunto especial para a abertura do Monday Night Football em setembro de 2006, marcando a reinauguração do estádio Louisiana Superdome com partida dos (ironicamente) “Saints” de New Orleans. A apresentação contou com os vocalistas Billie Joe Armstrong e Bono Vox dando as mãos e entregando um tocante set de 4 músicas composto pelos hits “Wake Me Up When September Ends” do Green Day, “House Of The Rising Sun” uma música clássica do blues americano tendo a versão do Animal como a mais popular, “Beautiful Day” do U2 do álbum Pop de 1997 e a nova parceria, com as duas bandas completas no palco. O cover emocionou os quase 70 mil fãs que assistiam o jogo e foi lançado em sua versão de estúdio 30 dias mais tarde, arrecadando fundos para um programa que visava levar a música de volta a cidade, através de instrumentos e projetos relacionados. Caso queira saber, os Saints levaram a melhor naquela noite.
A importância desse hit se perdeu um pouco no tempo, ainda mais por se tratar de um cover, mas vez ou outra as rádios de rock o tocam mesmo quase 20 anos depois. As pessoas podem não ver a grandeza dessa união tão inesperada e impensável, mas a entrega deles foi grandiosa e ainda deram a chance dos fãs de terem acesso ao material dos Skids que é muito bom.
10 – RPM & Milton Nascimento – Feito Nós
Era 1987 o RPM estava estouradaço por conta do Rádio Pirata Ao Vivo de 1986, Milton Nascimento era um dos gigantes da MPB e nesse tempo vivia em constantes turnês internacionais, tocando em festivais como o de Montreux jazz festival na suíça e no Carnegie Hall em Nova York. Nos seus tempos de andanças com Lô Borges tinha feito um dos discos mais atemporais de todos os tempos, o maravilhoso Clube da Esquina que tem parte de suas raízes e principais influências o impacto do rock do britânico tocado pelos Beatles. Então não seria de total estranhamento ele voltar para esse caminho mais uma vez e nada melhor do que fazer isso com a banda mais popular e com alguns dos músicos mais técnicos daquela atualidade no Brasil que era o tecladista Luiz Schiavon e o maior galã, o vocalista Paulo Ricardo, para potencializar o encontro.
O início da colaboração veio por parte de um convite de Paulo Ricardo que mostrou um de seus sons ao Milton e este inspirado “trocou figurinhas” com um fazendo o instrumental ou a letra pra música do outro. Após fazerem dois clipes nesse mesmo ano, os cantores foram fortemente reprovados por suas origens.
Nós acabamos suscitando críticas tanto do rock quanto da MPB. O pessoal da MPB reclamou com o Milton sobre o que ele estaria fazendo com essa molecada. Por outro lado, o pessoal do rock dizendo: ‘Agora vocês estão bajulando os medalhões da MPB’. Mas, pra mim, que cresci ouvindo Milton, foi motivo de grande orgulho. Adoraria voltar a trabalhar com ele.
Paulo Ricardo ao GShow em 2016, quando era jurado do reality de bandas Superstar.
A música que fez certo sucesso por parte dessa união foi Feito Nós, uma música que aborda a injustiça social e que contém uma letra fortíssima e participação do Robertinho Silva nos tambores. Mas há também Homo Sapiens com letra de Milton, com uma conotação igualmente crítica a sociedade. Em 2021, mediante a comemoração de 79 anos de Milton, o marketing estratégico da Sony Music seguiu com o projeto de digitalização de seu catálogo, incluindo a restauração de tapes analógicos e projetos gráficos originais, completando a discografia do artista registrada em seus estúdios nas plataformas de streaming colocando o disco mix de duas canções feito em parceria com a banda de progressivo paulista dentro do catálogo com estes relançamentos que ainda teve o álbum Miltons (1988) e Yauaretê (1987).
09 – Stevie Nicks & Tom Petty – Stop Draggin ‘My Heart Around
Aqui o caldo engrossa um pouco e poderemos falar da parceria feita por aqueles que mais gostavam de colaborar com outros dentro do rock. Enquanto Stevie Nicks trabalhava em seu primeiro álbum solo no início da década de 1980, ela insistia em ter Tom Petty a seu lado por ser viciada em seus sons. Petty inicialmente escreveu ‘Insider’ para Nicks, mas após a conclusão da faixa, ele decidiu mantê-la para si mesmo. O produtor de Petty, Jimmy Iovine, sugeriu que Nicks usasse “Stop Draggin ‘My Heart Around”, que Petty havia escrito com o guitarrista do Heartbreakers, Mike Campbell. Nicks ficou mais do que feliz em atender e pegou para si mesma.
Mas essa história não é tão simples e é uma das que representa uma das mais gostosas amizades do rock, por motivos adversos. A amizade entre os dois começou em 1981 quando a cantora havia decidido começar a engatinhar sem a sombra do Fleetwood Mac, que a tornou a rainha bruxa do rock. Entretanto, ela gostava tanto do som do Tom Petty and The Heartbreakers que ela queria fazer parte da banda; algo inviável. Durante seu show no Covelli Center em Youngstown em 15 de setembro de 2017, ela explicitou como a criação de seu álbum solo de 1981, Bella Donna, um projeto que inquestionavelmente solidificou sua carreira teve essa desilusão como a ignição da sua independência artística. Nicks detalhou sua visita ao então presidente da Atlantic Records, Doug Morris, que pediu que ela apresentasse uma ideia: “Então, escute, o que eu realmente gostaria de fazer é estar na banda de Tom Petty and the Heartbreakers. Ele diz: ‘Não. Isso não vai acontecer'”. Nicks sorriu e retransmitiu o próximo comentário de Morris: “Você obviamente nunca ouviu o mantra de Tom Petty: ‘Meninas não são permitidas.’”
Essa conduta de Petty que por muitos olhos pode soar machista, representa a cultura da época de clube do Bolinha do rock, mas esse ato fez ela se concentrar em outros pontos que a gravadora poderia proporcionar. Quando confrontada com a realidade de não ser capaz de se tornar um dos Heartbreakers, Nicks decidiu se contentar com a próxima melhor coisa, que era trabalhar com o produtor de Petty, Jimmy Lovine. A dupla se conectou e então começaram a namorar e morar junto, o que deu a Nicks mais uma chance de realizar seu sonho e ver de perto o mundo de Tom Petty, que, a essa altura, havia se tornado uma das maiores estrelas do rock do mundo.
Lovine ficava um pouco como espião e conciliador, fazendo o jogo de questionar de vez em quando se Petty não poderia ajudar sua amada a ter um grande hit para seu álbum. O guitarrista terminou cedendo e gravaram o dueto rocker Stop Draggin ‘My Heart Around. Anos depois e com a confirmação do sucesso junto a queda em 1994, após um processo de reabilitação, Nicks pediu para Petty a possibilidade do cantor criar mais uma música pra ela, coisa que ele se negou de prontidão a fazer. Em entrevista a Rolling Stone a cantora replicou os dizeres do compositor de Free Fallin’ e tantos outros hits:
Perguntei a Tom se ele me ajudaria a escrever uma música. E ele disse: ‘Não. Você é uma das principais compositoras de todos os tempos. Você não precisa que eu escreva uma música para você.’ Ele disse: ‘Apenas vá para o seu piano e escreva uma boa música. Você pode fazer isso.’
Stevie Nicks a Rolling Stone, 2017
O conselho um tanto cruel que Nicks recebeu resultaria em sua música de 2014 ‘Hard Advice’, que é uma nota de agradecimento ao método de amor duro de Petty, que deu a ela o impulso de confiança que ela não queria ouvir na época, mas sem dúvida precisava. Nicks também revelou: “O refrão diz, ‘Às vezes ele é meu melhor amigo.’ Foi realmente ‘Às vezes o Tom é meu melhor amigo ‘”.
Stop Draggin ‘My Heart Around atingiu o número 3 na Billboard Hot 100 e impulsionou Bella Donna ao status de disco multiplatina. Infelizmente Tom Petty veio a falecer em 2017, após sua morte, a música voltou a aparecer como um turbilhão e desde então, Stevie sempre que a toca em seus shows tem algum convidado para fazer as partes de Petty. Dentre as mais impactantes estão a de Eddie Vedder no Ohana Festival e Harry Styles que teve o privilégio de cantar com Nicks durante a introdução da cantora no Hall da Fama do Rock and Roll.
Um fato interessante é que o guitarrista Mike Campbell, do Tom Petty and The Heartbreakers, fez parte da última formação do Fleetwood Mac de Stevie Nicks.
08 – Guns N’ Roses & Shannon Hoon (Blind Melon) – Don’t Cry
Ainda tratando sobre amizades, aqui podemos falar dessa parceria que apesar de ter apenas a participação do vocalista do Blind Melon nos backing vocals de Don’t Cry, fez muito fã do Guns N’ Roses ficar chocado com a presença de um “segundo Axl Rose” no clipe da música e este ter uma banda muito competente e tão interessante quanto a irmã californiana de hard rock.
Assim como Axl Rose, Shannon Hoon era de Lafayette, Indiana, e havia deixado sua cidade natal em busca de melhores oportunidades de carreira. Os dois se conheciam desde a época da escola. Embora tenha cantado em outras músicas de “Use Your Illusion”, foi a participação de Hoon no videoclipe da baladaça que pôs seu nome — e por conseguinte o de sua banda — em evidência.
Ter participado do disco da maior banda e hard rock daquela época possibilitou a Hoon e sua banda a terem portas mais abertas; bom frisar, eles chegaram a antes disso falar com Gene Simmons do KISS sobre assessoramento da carreira, mas não rolou. A parceria com o Guns foi o ponta pé inicial e ter aberto shows para o Soundgarden durante a turnê de Badmotorfinger aproximou o Blind Melon da cena grunge, arrombando portas e se tornando realmente conhecidos devido a aceitação do público. Como resultado disso, Rick Parashar, que havia produzido Ten do Pearl Jam e o primeiro e único disco do Temple of the Dog, foi quem conduziu as gravações do álbum de estreia da banda, que possui o mega hit atemporal No Rain.
Infelizmente, após dois anos ao lançamento de Blind Melon (1992) com uma turnê grande, com direito a Hoon indo preso em 1993 por urinar em cima de um fã num show no Canadá e subindo ao palco do Woodstock ’94 chapado de LSD usando um vestido da namorada, Shannon Hun veio a falecer em decorrência de overdose aos 28 anos, dois meses após Soup (1995), o segundo álbum da banda.
Recentemente caiu nas redes um show do Guns N’ Roses na época da tour de 1991 no Ritz que provavelmente tem a melhor versão ao vivo dessa música já escutada, que nos remete a gravação original do álbum com Axl fazendo os graves e Shannon nos agudos desde o início até que os dois explodem no ápice da canção, com o vocal do Blind Melon fazendo os principais drives pro Axl provavelmente se preservar um pouco pro restante do show.
07 – Paul McCartney & Nirvana – Cut Me Some Slack
A diferença de gerações nunca foi um empecilho para Paul McCartney colaborar com algum artista, na verdade, o fato de sua banda ter sido percursora em tanta coisa torna muito fácil qualquer artista aceitar de imediato seu chamado para uma colab. Mas aqui temos uma outra situação que foi se consolidando durante os anos.
A primeira música da trilha sonora do Sound City Movie, filme dirigido por Dave Grohl, foi Cut Me Some Slack. A canção contou com os ex-membros do Nirvana e o ex-Beatle Paul McCartney. BOOOM! Mas como o batera da banda de Grunge conseguiu a proeza de trazer Paul McCartney para este trabalho de grande magnitude que teve ainda parcerias com Trent Reznor, Josh Homme, Corey Taylor, Rick Springfield e Stevie Nicks?
Bem, Dave Grohl foi baterista do Nirvana e gravou o primeiro disco do Foo Fighters, pós morte do seu amigo Kurt Coubain que culminou no fim da banda de grunge, tocando todos os instrumentos e cuidando da gravação sozinho. Nesses dois fatos o McCa já possui uma identificação, ele também gravou seu primeiro disco solo sozinho após o fim dos Beatles e viu seu melhor amigo e colaborador John Lennon também morrer de forma prematura por conta do disparo de uma arma.
Eles tocaram juntos em muitas oportunidades, como no no Grammy de 2012 e de 2009. Em 2010 Grohl fez um medley sensacional de canções, dentre elas Band On The Run na festa da casa branca celebrando a obra do baixista. Mas foi para a gravação do documentário Sound City que veio o chamado por parte do líder do Foo Fighters que ligou para McCartney e o ex-Beatle topou na hora.
Como nós estávamos filmando todas as performance, eu apenas fiz isso: “Ei, cara, porque você não vem aqui para tocarmos um pouco”, e ele disse: “Ok.”. Ele veio com e trouxe seu baixo, que ele tem tocado por 40 anos, e sua Les Paul, que só há quatro no mundo todo. E depois ele trouxe sua guitarra cigar box, que é chamada de cig-fiddle. E, com seu sotaque inglês, ele disse: “Oh, eu acho que eu vou tocar isso, porque você não começa a tocar bateria?”. E nós começamos a tocar e escrevemos essa música (Cut Me Some Slack) em algumas horas e gravamos. Nós entramos, nós tocamos. Ela veio do nada, as melhores músicas surgem desse jeito. Nós gravamos ao vivo e colocamos um vocal por cima e pronto. Foi em três horas e foi perfeito!
Dave Grohl, em 2013
Em entrevista para o KROQ Radio, Grohl mencionou de uma das apresentações em que foi convidado pelo mestre dos baixos dos quatro rapazes de Liverpool, e essa foi especial pq ele queria tocar o som gravado para o documentário.
Ele me ligou antes do 12-12-12 (festival beneficente televisionado que angariou fundos para as vítimas do furacão Sandy), acho que um mês antes, e disse: “Hey, nós vamos fazer esse show beneficente, você quer tocar comigo?”. E eu disse: “Sim, o Foo Fighters está em uma pausa, mas se você quiser tocar, basta me dizer”. Ele me ligou alguns dias depois e disse: “Hey, porque não tocamos aquela música que gravamos com você, Krist (Novoselic) e Pat (Smear)?”.
Dave Grohl, em 2013
A trilha sonora do documentário recebeu dois prêmios Grammy : Melhor Trilha Sonora de Compilação para Mídia Visual e Melhor Canção de Rock justamente por Cut Me Some Slack que representou a primeira reunião dos membros restantes do Nirvana em anos. Mas é importante ver o valor dessa amizade que transcende a música também. Em 2015, McCartney socorreu Grohl após o líder do Foo Fighters quebrar a perna quando caiu do palco durante uma apresentação do Foo Fighters em Gothenburg, Suécia, levando a banda a cancelar várias datas e até mesmo a apresentação como headliner do festival Glastonbury. Ele e sua família de prontidão organizaram toda a cirurgia em Londres.
Recentemente, após o baque da morte do baterista do Foo Fighters Taylor Hawkins, Paul chamou Dave para tocar em um de seus shows que contou com a presença de Bruce Springsteen. Retribuindo o favor, Grohl convidou McCa para o tributo feito em homenagem ao baterista em Wembley e no repertório, o ex-beatle tocou Oh Darling! pela primeira vez ao vivo, criando mais um momento icônico para a história do rock.
06 – Celso Blues Boy & B.B.King – Mississipi
Essa é a colaboração latino américa com os ianques. Trata-se de um dos maiores encontros do blues com o mestre da guitarra brasileiro, Celso Blues Boy, com o rei do blues americano, o magnífico B.B.King. Arrisco a dizer que é provavelmente uma das maiores parcerias entre artistas americanos e brasileiros da história.
É inevitável, quando se fala em blues no Brasil a maior referência é o guitarrista carioca Celso Blues Boy, que foi um dos primeiros a compor e cantar blues em português. Ele deve seu nome artístico àquele que era considerado seu ídolo, o guitarrista americano B.B. King. Não precisa de muito para entender a conexão, só reparar na técnica do brasileiro. Mas o primeiro encontro foi durante um show do bluesman no Brasil em 1986 no Teatro do Hotel Nacional em que Celso foi convidado a subir no palco por um dos organizadores que o reconheceu e o convidou para mostrar seus dotes ao lendário B.B.King que ficou deslumbrado. Chegaram a tocar juntos depois em Montreux, já nos anos 90, também a convite do americano e mais uma vez Blues Boy foi fervendo em seus solos.
Tal conexão gerou a gravação da música Mississipi para o álbum Indiana Blues de 1996, que traz regravações do músico em um formato mais acústico e algumas novidades como essa. O toque de B.B.King em poucas notas com sustain são inconfundíveis e no clipe da música, sua preciosa guitarra Lucille aparece destacada em diversos momentos.
05 – Jon Bon Jovi & Jeff Beck – Blaze Of Glory
Aqui temos uma música de trilha sonora que trouxe o vocalista do Jon Bon Jovi em seu auge com um colaborador diferente do habitual nas guitarras. Jeff Beck que naquela altura já era uma lenda viva surgia “no lugar” de Richie Sambora. Essa parceria pegou muita gente de surpresa, não era lá muito óbvia, os anos 80 e 90 até fizeram o guitarrista amolecer mediante a convites para tocar em outras frentes que não o blues e seu bem estruturado e único fusion jazz, como ocorreu por exemplo na gravação da balada pop People Get Ready (1985) com Rod Stewart, mas mesmo assim, não era comum ver Beck se envolvendo com artistas da nova geração que tinham muito apelo midiático. Entretanto, acredito que o projeto audacioso do frontman do Bon Jovi o conquistou.
Em 1990, Jon Bon Jovi fez sua estreia no cinema no filme Young Guns II (ou “Jovens de mais Para Morrer”), sequência bem-sucedida de um filme sobre a vida do pistoleiro Billy the Kid. Ele já havia sido convidado para ver as gravações do primeiro filme e o diretor Emilio Estevez queria muito usar a faixa Wanted Dead Or Alive para a sequência por acreditar que ela traria uma aura moderna a um filme de western. Mas Bon Jovi bateu o pé e garantiu que seria capaz de compor algo com a mesma pegada e destinar ao filme. Ele após pegar um guardanapo durante uma pausa nas gravações, enquanto todos comiam seus hambúrgueres, em 20 minutos escreveu a música Blaze Of Glory. Em sequência, o frontman de uma das bandas mais populares do glam metal foi capaz de compor dez músicas para a trilha sonora – que acabaram se tornando seu primeiro disco solo Blaze of Glory – Inspired by Young Guns II.
Para tirar o álbum do papel, Jon Bon Jovi não poupou esforços e montou um super time que teve a participação de duas lendas do rock além de Beck, falo de Elton John (toca em Dyin ‘Ain’t Much of a Livin) e Little Richards (toca em You Really Got Me Now) que apesar de demonstrarem estar presentes, os dois não se destacaram tanto quanto Jeff Beck, que por sinal participou fazendo riffs e solos para esses sons também. A poderosa faixa Blaze of Glory se destaca das demais da trilha não só por ter sido a primeira, nem pela forma como foi escrita de maneira rápida por Jon Bon Jovi em resposta ao pedido de Estevez, que originalmente esperava usar o clássico de Bon Jovi Wanted Dead Or Alive para o Young Guns II. Mas sim por conta de a semelhança entre as duas músicas não ser só acidental e ter o ingrediente crucial adicionado à mistura que é o solo icônico e empolgante de Beck que faz toda a diferença na audição final.
Utilizando sua incomparável técnica de barra whammy e aumento de volume, ele abre o solo com linhas que imitam o som da guitarra slide. Mas logo fica claro que há muito mais acontecendo à medida que Beck aumenta a intensidade, levando a música a outro nível enquanto libera o tipo de pirotecnia do braço da guitarra que só ele poderia oferecer. Esta música foi indicada ao Oscar de Melhor Canção Original em 1991, mas perdeu para Sooner or Later de Madonna, presente no filme Dick Tracy . Jon Bon Jovi reuniu a banda para apresentar Blaze Of Glory na transmissão do Oscar e esse é um dos momentos mais icônicos da história do rock.
04 – R.E.M & Kate Pierson (The B-52s) – Shiny Happy People
Em contraste com as últimas músicas citadas, essa parceria estrondosa que quebrou barreiras tem um ar mais profissional do que de camaradagem. O R.E.M conseguiu com Shiny Happy People quebrar o top 10 tanto na parada britânica quanto na americana e viu a música se transformar em um dos maiores clássicos dos anos 90, muito em consideração “a vida” que a vocalista Kate Pierson entregou em sua participação na canção. Essa foi a primeira vez que a a banda formada nos anos 80 no estado da Geórgia convidou alguém diferente para cantar em um de seus discos. A presença da vocalista do B-52’s , segundo o frontman Michael Stipe, foi essencial. “Ela trouxe o vídeo e a música para um outro nível”, disse em recente entrevista.
O B-52’s, que era uma banda de pós punk oitentista divertida que adicionava sympths e efeitos eletrônicos (muito modernos na época) em seus sons, estava em ascensão, mas a vocalista Kate Pierson, começou os anos 90 com um gigantesco sucesso com a música Candy em um dueto com Iggy Pop. Candy foi um hit descomunal e deixou o R.E.M, que caminhava a passos largos de lançar seu álbum determinante, com o radar ligado. Após a convocação aceita na hora pela cantora, Shiny Happy People teve a missão de ser o segundo single do álbum Out Of Tme, que tinha já emplacado o hit daquele ano com Losing My Religion, o maior sucesso da banda que tinha uma aura mais profunda tratando sobre desilusão amorosa.
Shiny, em contraste com o álbum destoa, é uma música que como diria o guitarrista Peter Buck é “implacavelmente otimista” e como bem qualificou o compositor da faixa Michael Stipe é “uma música realmente frutada, tipo chiclete”. Mas apesar de parecer uma música feliz ou bobinha, o título e o refrão de Shiny Happy People são baseados em um pôster de uma propaganda chinesafeita após o massacre da Praça da Paz Celestial. O slogan “Pessoas brilhantes e felizes de mãos dadas” é usado por Stipe de forma irônica – a música lançada em 1991,traz em discussão de forma subliminar esse fato histórico que culminou no governo chinês reprimir manifestantes estudantis, matando centenas deles e depois querer pregar harmonia e paz em propagandas falsas. Ou seja, a parte poética de Stipe imposta aqui faz o som do álbum, apesar de “esquizofrênico” como coloca o frontman, na verdade bem condizente a toda a conotação política e poética que sempre fizeram parte do discurso da banda, mesmo quando eram considerados cult.
Em 1992, ganhou 3 prêmios Grammys, sendo um na categoria de Melhor Álbum de Música Alternativa, um em Melhor Videoclipe com “Losing My Religion” e outro em Melhor Performance Pop por Duo ou Grupo Vocalpor conta de Shiny. Apesar de todos os membros da banda, menos o guitarrista Peter Buck, terem aversão a música e não a tocarem mais ao vivo de forma alguma em suas carreiras solo, ela certamente está entre as melhores colaborações de todos os tempos e por isso está aqui no nosso top 5.
03 – Nando Reis & Cassia Eller – Relicário
Poderia muito bem ter colocado All-Star aqui por ser emblemática por Nando ter feito para Cássia falando sobre a amizade dos dois e poderia falar sobre inúmeras outras músicas que o ex-Titã compôs para a interprete fazer uma versão que provavelmente se tornaria um hit, até porque ela foi a pessoa que mais gravou músicas dele, mas resolvi escolher a que eles de fato cantaram em conjunto no acústico MTV que é Relicário.
O primeiro encontro deles foi na Urca na casa da cantora Marisa Monte a primeira a gravar uma música do compositor e baixista. Cássia levou um gravador e apenas falou um oi enquanto Nando mostrava umas sete faixas de seu arsenal. Ela gravou as músicas e apenas disse “tchau”, nenhum comentário a respeito de ter achado bom ou ruim o que havia escutado. No gravador tinham cinco músicas, a primeira escolhida pela cantora a fazer parte de algum álbum seu foi ECT e daí por diante a amizade se firmou, tanto a de coração quanto a profissional, e foi acordado durante essa longa estrada que Nando produziria três álbuns dela, um deles foi Com Você… Meu Mundo Ficaria Completo de 1999 e teve o Acústico MTV de 2001. O terceiro infelizmente teve que ser de forma póstuma, o Dez de Dezembro lançado em 2002.
Uma dueto entre os dois poderia ter aparecido em 1995 no primeiro álbum solo de Nando, 12 de Janeiro. A música escolhida foi Fiz o Que Pude, mas a gravadora não permitiu achando que seria um erro colocar um artista de peso como este podendo roubar os holofotes. Mas este só pode acontecer justamente em 2001 durante o show do acústico MTV por insistência da Cássia e assim cantaram Relicário.
Relicário é o lugar onde se guarda as relíquias, sua mãe apreciava muito um bolero, “El Relicário”. A partir daí, ele sabia que esse seria o nome de sua canção. No meio do vídeo em que ele fala sobre a composição, ele menciona que pra ele as memórias afetivas que tem com a mãe são como relíquias, mas a composição retrata o romance vivido por duas pessoas genuinamente apaixonadas, mas que não puderam dar continuidade a sua história pela chegada de um terceiro integrante. Ela aparece no acústico MTV da Cássia e no álbum solo de Nando Reis, Para Quando o Arco Íris Encontrar o Pote de Ouro de 2000 gravado em Seattle pelas lendas Jack Endino e Tom Capone e que teve participação de Buck nas guitarras de algumas músicas. Relicário teve uma repercussão tão maravilhosa quanto o beijo carinhoso que Nando deu em Cássia após o fim da apresentação.
02 – Beatles & Eric Clapton – Something
“A maior canção de amor já escrita” segundo Frank Sinatra, a faixa favorita de John Lennon música em Abbey Road e aquela que fez George Harrison ser reconhecido como um grande compositor, recebeu um belo solo de Eric Clapton. A primeira contribuição do guitarrista com os quatro rapazes de Liverpool foi no álbum White Album (1968) em outra composição de Harrison, While My Guitar Gently Weeps que mostrou o porque de Eric, reconhecido naquela altura por seu trabalho com o Cream e o Blind Faith, receber pichações em muros alegando que ele seria “Deus”.
Lançada como single duplo no lado A do compacto, junto com Come Together , Something foi a única canção escrita por Harrison — entre a linha mais profunda de canções escritas por John Lennon e Paul McCartney para o grupo — que foi lançada como single pelos Beatles. Ambas as canções passaram uma semana em primeiro lugar na parada Billboard Hot 100.
Escrita e cantada por Harrison, Something foi parcialmente inspirada por sua então esposa, Pattie Boyd. Quando questionado em 1969 durante uma entrevista na BBC com David Wigg, que inspirou a clássica canção Abbey Road, Harrison disse : “Talvez Pattie, provavelmente.”. Digo parcialmente porque a primeira linha cantada pelo Beatle vem da música Something In The Way She Moves, de James Taylor, artista que tinha sido recém contratado pela Apple Records, gravadora criada pelos Beatles e Harrison também dizer tempos depois que tinha a ver com sua crença em Hare Krishna.
O irônico disso tudo e confessado por Pattie anos depois em seu livro de memórias é que a música foi feita num período em que o casamento dos dois estava desmoronando e um dos pivôs do término foi justamente Eric Clapton que se encontrava perdidamente apaixonado pela garota ao ponto de ter feito um álbum inteiro dedicado a esse amor bandido. O álbum foi o Layla and Other Assorted Love Songs, onde Clapton usou o pseudônimo de Derek e formou a banda Derek and The Dominos. Apesar dessa troca, os dois continuaram muito amigos e até com Clapton gravando em diversos álbuns de Harrison.
A canção foi regravada por centenas de artistas, inicialmente Harrison deu a faixa a Joe Cocker que só a lançou um mês depois do lançamento de Abbey Road, outros que a regravaram foram o já citado Frank Sinatra, Barbra Mandrell, Elvis Presley, Ray Charles, Willie Nelson e James Brown que para Harrison fez a melhor versão. Paul McCartney desde o concert for George a toca como uma homenagem ao amigo em seus shows.
01 – Bowie & Queen – Under Pressure
Sem sombra de dúvidas essa é a maior colaboração da história do rock e a que tem mais nuances. As partes, que, se não estavam no seu auge, já estavam tão consagrados que podiam ficar quietos só lançando discos sem muita inspiração, resolveram trazer ao mundo algo que tivesse tanto impacto que chegasse a fazer eles se desentenderem.
Lançada em 1981 como single e incluída no álbum Hot Space (1982), a música Under Pressure é um dos maiores sucessos do Queen e uma das responsáveis pelo retorno triunfal da carreira de Bowie que nos anos oitenta lançou alguns dos seus maiores hits como Modern Love e Last Dance. Dá pra dizer que a música foi o ponta pé inicial para o camaleão do rock voltar a ficar inspirado.
A história de Under Pressure começa onde todas as boas histórias deveriam começar e onde a maioria dos filmes de James Bond tende a encontrar suas origens – nas montanhas nevadas da Suíça. Na época, após fazerem sessões em Munique que não darem certo, o Queen mudou o local das gravações para o Mountain Studios em Montreux, onde Bowie estava trabalhando em suas contribuições para a trilha do filme “Cat People”. Ao saber da presença do quarteto na cidade, o cantor foi visitá-los.
O camaleão do rock ou nosso starman viu a possibilidade de contribuir com vocais para a música Cool Cat, mas ele não gostou do resultado final e apesar de estar se divertindo com a banda de hard rock épico que estava numa vibe mais dançante ao estilo eletrônico de boates gays, Bowie soltou a vontade de criar uma música com eles.
No livro de Mark Blake, Is This the Real Life?: The Untold Story of Freddie Mercury and Queen, o guitarrista Brian May lembrou com muito entusiasmo o método adotado por Bowie para confecção dos vocais da música.
“Os vocais foram construídos num jeito inovador, que veio de David, porque ele tinha experiência com esse método avant-garde de construir vocais. Ele disse: ‘todo mundo entra na cabine sem ideias, sem anotações, e canta a primeira coisa que vier à cabeça sobre a backing track’. E assim fizemos, compilando todos os pedaços – foi a partir disso que fizemos ‘Under Pressure’, todos esses pensamentos aleatórios.”
Brain May, 2010
Mas nem tudo são flores, o método usado foi inovador na visão do guitarrista, mas gerou uma certa crise na hora de fazer a mix. Bowie impôs sua vontade artística na maioria das decisões e pôs em prática seu feitiço criativo sobre os procedimentos. Um deles sendo o título da faixa. Originalmente anunciado como ‘People on the Streets’, Bowie queria que fosse alterado para ‘Under Pressure’. Ele então exigiu que estivesse presente na mixagem do disco com Mercury vindo ao estúdio para ajudar a mediar entre Bowie e o produtor Reinhold Mack. Houve até conversas sobre Bowie tentando bloquear o lançamento original da música – o Starman é um artista fiel para se trabalhar.
Com toda a animosidade, vinho, cocaína e batalhas vocais – que ajudaram a criar a música – você imaginaria que a faixa seria como um “arrasta pra cima”. Mas na verdade, o que temos aqui é uma música pop incrivelmente poderosa e comovente que provavelmente não veremos igualada em nossas vidas e que vendeu o suficiente para se tornar o primeiro lugar no UK Singles Chart, tornando-se o segundo hit número um do Queen em seu país natal e o terceiro de Bowie, e também alcançou o top 10 em mais de 10 países ao redor do mundo.
Ambos tocam a música em seus shows, com Bowie ela recebia a parte vocal de Freddie Mercury através da poderosa voz da baixista Gail Ann Dorsey. Já o Queen, independente do vocalista a frente da banda, a faixa sempre foi cantada. No tributo a Freddie Mercury em 1992 Bowie cantou a faixa com Annie Lennox, quando a banda resolveu voltar nos anos 2000 em parceria com Paul Rodgers, um herói para o Freddie, ela não chegou a receber uma versão oficial ao vivo, mas era cantada nos shows. A banda que conta atualmente com deslumbrante Adam Lambert voltou a fazer tudo de forma mais teatral e Under Pressure parece ser uma das preferidas do frontman.