Felipe Tusco Dantas
Bem vindos a mais um revisando clássicos, aqui analisamos discos atemporais que, de alguma forma, marcaram a história da música de maneira revolucionária. Hoje vamos falar sobre, de maneira mais curta, de um clássico underground indie alemão, o terceiro álbum de estúdio da banda Auletta.

O ano era 2019, mais especificamente no mês de fevereiro. A minha relação com o idioma alemão estava apenas aumentando, e para que tivesse mais contato com esta cultura, minha procura por filmes ou artistas do país estava incessante. Foi nesse meio que me deparei com o single Winter in Berlin, que viria a compor um dos melhores discos lançados por uma banda europeia nos últimos anos.
Autointitulado pelo nome do grupo que nos entrega este trabalho, Auletta tem uma dimensão atmosférica vasta e ao mesmo tempo pequena, isto porque os músicos Alexander Zwick (guitarra e vocal), Martin Kloos (guitarra), Johannes Juschzak (bateria), e Daniel Juschzak (baixo) conseguem explorar um mundo com pitadas sombrias revestidas de letras bastante metafóricas, tanto que a dificuldade para tradução dos textos originalmente em alemão para qualquer outro idioma é considerável.
A abertura com Du bist wie Berlin (Você é como Berlim) conta com uma virada interessante dos instrumentos dos irmãos Juschzak e sua dinâmica é pegajosa. O mesmo é dito para as faixas seguintes, Sag was du willst (Diga o que você quiser) e Egal, was alle sagen (Não importa o que os outros dizem) que falam sobre a auto aceitação, numa tentativa de fugir de comentários alheios para uma construção e percepção de caráter mais digno e limpa.
Ghetto leva o humor do disco para um ambiente mais alegre, isso por conta dos vocais mais agudos de Zwick, os assobios ao longo do refrão, e a combinação dos instrumentos, que soa mais pesada, no sentido de aceleração.

E com isso, Winter in Berlin, a quinta faixa do disco e o primeiro single a ser lançado, joga seu ouvinte para baixo. Uma letra saudosista e um ritmo de bateria mais lento, justamente para realçar a mensagem de sua canção. ‘’Weil mein Kopf wieder mal zu leer ist, wie der Winter in Berlin, brauche ich dich in meiner Kiste, wie ein Boxer seinen Ring’’ (E porque minha cabeça fica de novo vazia, como o inverno em Berlim, preciso de você em minha caixa, como um boxeador de sua luva) – além do refrão, várias são as referências às épocas vividas na própria cidade de Berlim, o que exemplifica uma das característica principais do disco, que é um sentimento de saudosismo por certa época.
Treu wie Plastik (Fiél como plástico) e So wie ich (Assim como eu) abaixam a poeira no quesito de empolgação por parte do ouvinte e até de ritmo trazido pelos músicos, pois contém levadas mais simples e dificilmente memoráveis, sem contar que seu conteúdo lírico é confuso – afinal, qual o objetivo em questionar a fidelidade de um material reciclável?
De qualquer forma, Butterbrot und Peitsche (Pão com manteiga e chicote) é o ponto mais divertido, sonoramente dito, do disco. Além de um ritmo conduzido por um baixo singelo e um teclado melódico, a letra desta canção é de longe a mais provocativa do repertório, dado que esta sugere a romantização de um relacionamento abusivo e, em certa medida, agressivo, daí o uso do vocábulo ‘’chicote’’.
Ich trink auf (Eu bebo por) e Pass auf (Tome cuidado) funcionam como um interlúdio entre um ponto alto do disco para mais um que proporcionará uma atmosfera mais vibrante e escura, e estamos falando da faixa final, Hotel Paradies, que certamente fala de um canto de refúgio idealizado pelos músicos, justamente para aqueles momentos mais difíceis de suas vidas pessoais, ao mesmo em que a estrutura do local é comparada à uma pessoa real. Definitivamente, essa faixa traz a maior variedade de instrumentos, dado que é até possível ouvir um som de saxofone acompanhado de uma linha de baixo mais grave nos segundos finais de sua duração, o que encerra de forma mais que satisfatória essa obra alemã.
Batizados pelo nome de uma cidade localizada na Itália, e que era alvo constante para viagens de férias dos integrantes, a banda Auletta iniciou seus trabalhos com o lançamento do disco Pöbelei & Poesie (2009), que traz faixas divertidas como Meine Stadt (Minha cidade) e Ein Engel kein König (Um anjo nenhum rei). Depois, com Make Love Work (2011), seu segundo disco, o grupo apostou numa alternância de estilos, saindo do popular indie rock para algo mais puramente pop, o que não foi tão bem recebido em sua época de lançamento.
De qualquer forma, oito anos depois, em abril de 2019, mais especificamente, os quatro músicos alemães acertaram em cheio com seu terceiro disco auto-intitulado, que merece bastante ser conferido pelos fãs de indie rock, e obviamente pelos fãs de boa música, tudo isso ainda numa tentativa do autor deste texto de promover e comprovar a qualidade musical e comercial que existe no outro lado do globo.
Sinto uma saudosa nostalgia escutando Winter in Berlin! Muito bons comentários!