A noite de sexta feira estava com cheirinho de chuva, o dia da abertura do carnaval levou diversos foliões pra rua e a Lapa estava lotada, como de costume, mas com o adicional de fantasias, cerveja, maior dificuldade de locomoção na rua e alegria. Momento propício para um show louco como o do Rogério Skylab na casa de show mais agregadora do RJ.
A fanfarra começou com a banda Meu Funeral que toca um harcore/punk ala bandas dos anos 2000 com um certo grau de comédia. Formada por Lucas Araújo nos vocais, Dan Menezes no baixo e Pepe na guitarra, eles fizeram um show formidável e divertido apesar de achar o som um pouco magro e mal equalizado – as guitarras estavam muito baixas. Eles estavam vestidos a caráter e mobilizaram diversas rodinhas punks para contemplar o repertório autoral que dá pra dizer que possui já alguns hits como 94 e Acabou, você não é mais presidente.
Talvez por conta dessa banda que está bem popular entre os jovens cariocas ou por conta de Skylab ser um meme ambulante, o público surpreendentemente era basicamente de homens e mulheres de vinte e poucos anos. Falo do Skylab “ser um meme” sem querer ser pejorativo, acredito que por conta desse papel que não me parece que ele escolheu, mas sim aceitou e as vezes parece não sair do personagem, consegue alcançar uma turma com suas músicas que são obras que tem muita força e falam mais do que apenas das partes íntimas femininas ou masculinas, o que nos leva a falar do show principal da noite.
Eu confesso que não sabia o que esperar do show do Skylab, eu tinha até certo preconceito. Politicamente falando, sabia o que esperar dele, um cara que diz que “foi na casa de um amigo, sentir vontade de cagar mas sendo que lá não tinha papel higiênico e nada para usar pra se limpar, ver a bandeira do PT estirada na janela, beijar ela, erguer as calças e sair todo cagado”, não poderia ser outra coisa se não de esquerda, então não me preocupei com isso. Talvez ele seja até a maldição dos puritanos e conservadores, mas até por conta de muitas de suas músicas falarem sobre p** e boc***, me fazia pensar que seu show era uma comédia com trilha sonora. Outra preocupação que tinha era com o público, eu acreditava que poderia ter no público alguma similaridade ao que se vê nos shows do Roger Waters onde pessoas pagam o ingresso para ir vaiar seu posicionamento político, porque não entendem as mensagens das músicas, o que deixa o clima de certa forma hostil. Entretanto, fui surpreendido positivamente.
Seu show é uma experiência antropológica, tem diversos jovens atentos cantando seus sons, batendo cabeça e fazendo rodinha punk do início ao fim. Dentro do repertório de Skylab tem diversas marchinhas e músicas pesadas, em poucos minutos ele vai de um som porrada para um samba safado que fala sobre vagina. Eu já sabia dos hits, mas conheci outras músicas complexas que vão além do sexismo e imoralidade que me fizeram questionar se eu via um show do Frank Zappa. Claro, guardadas as devidas proporções, a estrutura das músicas e discurso são muito brasileiros para algo tão americanizado, mas se assemelham na questão da estranheza e na entrega da banda que o acompanha com músicos bem técnicos em seus devidos instrumentos.
Tivemos momentos de destaque no longo show de 22 músicas, pra começo de conversa, Sem Anestesia é um bom número para iniciar os trabalhos. A aparição de convidados também foram agradáveis, um deles bem conhecido, Fausto Fawcett aparece para declamar um texto durante A Árvore, Renan da Penha fez uma versão do hit A Droga É Minha e fez uma das partes finais do show também. Carrocinha de Cachorro Quente é uma boa crítica social apesar de parecer engraçada, tal como matador de passarinho. Tem cigarro aí? e uma das mais aguardadas Fátima Bernardes, fizeram as pessoas cantarem bastante o que torna a experiência melhor ainda com os gritos divertidos de “gostoso, tarado”. Dentro do repertório ainda teve duas músicas do Júpiter Maçã, A Marchinha Psicótica de Dr Soup e a minha preferida do show, Eu e Minha Ex, presente no álbum A Sétima Efervescência de 1997.
De uma forma geral, é um show válido. Quem vai consegue sair da casa de show extasiado, principalmente se você for uma das pessoas que conseguiu invadir o palco enquanto ele tocava E Você Vai Continuar Fazendo Música?, e olha que muita gente subiu no palco, um momento épico que só tinha visto com Jorge Ben. Respondendo a pergunta da canção, acho que muitos saem de um show desse querendo fazer música por sinal. Eu não teria escolhido show melhor para iniciar o carnaval, foi bem apropriado, tanto que só consegui fazer a crítica dois dias depois ainda sobre forte efeito do que presenciei.