Por Felipe Tusco Dantas
Bem vindos a mais um revisando clássicos, aqui analisamos discos atemporais que, de alguma forma, marcaram a história da música de maneira revolucionária. Hoje vamos falar sobre, de maneira mais curto, de um clássico underground do metal nacional Peixe Homem, da banda Madame Saatan.

Saindo da esfera internacional, trazemos hoje uma avaliação sobre um disco especial de uma banda de heavy metal. Diretamente de Belém, no Pará, o grupo Madame Saatan, alternando com pegadas de thrash e folk metal, brindou seus seguidores na época com o disco Peixe homem. Este é o segundo disco da banda que, em 2007, mostrou pela primeira vez suas caras na cena com um disco auto-intitulado. Em sua formação, temos Ivan Vanzar (bateria), Ícaro Suzuki (baixo), Ed Guerreiro (guitarra), e a sensual, vocalmente falando, Sammliz.
Sobre o conteúdo em si do disco, temos como faixa de abertura a explosiva Respira, com um refrão gritante e repetidamente nervoso. Logo após, Fúria apresenta quase a mesma fórmula, mas com um intervalo de bateria e guitarra acelerado. A terceira faixa, Até o Fim, parece dar um ar de respiro e descanso aos ouvintes, onde ainda conseguimos apreciar mais do baixo de Suzuki.
Sete Dias, particularmente a minha preferida, mantém-se na mesma linha de melodia, mas o diferencial está em seu texto, que traz uma metáfora mexendo com pessoas supersticiosas e até loucamente apaixonadas, capazes de fazerem tudo para estarem com sua pessoa tão desejada.
Invisível e A Foice trazem mais uma vez uma baixa na atmosfera frenética do disco, com os vocais de Sammliz conduzindo melodias suaves e com ares de baladas, mas não necessariamente com tons românticos.
Rio Vermelho soa como uma pessoa amedrontadora contando uma história folclórica mais tenebrosa ainda. Tudo isso, claro, seguido por um ritmo e acompanhamento bem casados dos outros instrumentos.
Insônia e Sonâmbula, que já engatam o desfecho do trabalho, falam dos perigos da vida na selva – selva esta que se refere na verdade à vida na cidade e à violência urbana – e como é difícil, e ao mesmo tempo importante, manter-se acordado para sobreviver. Aliás, o solo no final de Sonâmbula é o ponto mais alto de demonstração na excelência do guitarrista Ed Guerreiro.
Por fim, Sombra Em Você reúne magistralmente tudo de bem neste disco. Um refrão viciante, uma mensagem protestante, um solo de guitarra curto, mas eletrizante, e um acompanhamento da bateria e baixo esperto. É definitivamente um disco com nenhum skip track.
Em relação à qualidade de produção do disco, os vocais limpos e a capacidade de apontar separadamente os instrumentos são provas do excelente trabalho do Paulo Anhaia. Na parte da masterização, temos o incrível Alan Douches, diretamente dos Estados Unidos, este que inclusive trabalhou com outras grandes bandas como Aerosmith e Misfits.
Sobre a arte de capa, o empresário Bernie Walbenny ocupou-se do trabalho de projeto gráfico, e ainda trouxe uma boa estratégia de publicação para a promoção deste disco. Estamos falando do vídeo abaixo, onde vemos o clipe de Respira Até O Fim que, combinando dois títulos de canções do disco, apresenta uma narrativa envolvendo as temáticas de suas letras.
No clipe, podemos ver a banda representando integralmente, e ainda figurativamente, o símbolo do peixe-homem, referenciado incontáveis vezes ao longo do disco, e que serve, de forma subjetiva, como uma homenagem à cultura de seu estado de origem, Pará.
Devido a um acidente em 2012, que envolveu o atropelamento do baixista Ícaro Suzuki por um delegado dirigindo embriagado, e pela decisão da vocalista Sammliz de seguir uma carreira solo, a banda encontra-se no status de pausa.
De qualquer forma, o empresário Bernie Walbenny pretende manter o contato com o conjunto ativo, dado o potencial musical que eles guardam, e isso deve ser mais do que notado pelos ouvintes deste disco. Deve ser algo a ser sentido, explorado, e, mais importante, refletido, pois nossa música nacional atual contém diversos grupos e artistas solos com grande qualidade, mas que infelizmente não recebem a devida atenção.