Adeus Gal: A Fa-Tal voz da MPB em 10 rocks

Gal Costa, uma das maiores cantoras do Brasil e do mundo, morreu aos 77 anos, nesta quarta feira 09/11. A informação foi confirmada pela assessoria da cantora. Ela vinha apresentando problemas de saúde e parou sua agenda de shows para fazer uma cirurgia para retirar um nódulo na fossa nasal direita. Entretanto, a causa de sua morte foi um infarto pegou todo mundo de surpresa.

Maria da Graça Costa Penna Burgos nasceu em 26 de setembro de 1945 em Salvador, ela foi conhecida por ter sido a menina da Tropicália e ter dado a voz para clássicos da MPB como Baby de Caetano Veloso, Pérola Negra de Luis Melodia, Chuva de Prata de Ed Wilson e Ronaldo Bastos e Vapor Barato, mostrando a força dos versos de Jards Macalé e Waly Salomão em uma forma cristalina de voz. Mas Gal, em uma versão mais inflamada, se destacou na música brasileira com suas releituras um tanto contraculturais com bastante guitarra e atitude rock nos dois primeiros álbuns solo. Sua presença de palco e ações transgressoras nos anos seguintes, como expor os seios em revistas e a capa do disco Índia (1973), que com destaque a suas partes íntimas em um biquíni com a saia de palha abaixada, deixavam o sistema conservador milico perturbado.

Ao todo, Gal produziu 31 álbuns de estúdio desde 1967, quando estreou na cena musical com o disco Domingo, ao lado de Caetano Veloso. Há quem diga que Gal foi nossa Janis Joplin, o que nos leva a pensar em homenageá-la trazendo algumas interpretações da cantora que evocam o rock em todo simbolismo dentro da sua vasta discografia. Principalmente se levar em conta as apresentações da turnê do álbum Estratosférica de 2016 e a mais recente do álbum A Pele do Futuro (2018) que começou em 2019, onde seus sucessos receberam arranjos focados no gênero rock. Sem mais delongas, trazemos aqui 10 rocks interpretados por Gal em diversas fases de sua carreira.

Caetano e Gal no programa ‘Saudade não tem idade’ nos anos 70 – fonte: acervo Globo

Vou Recomeçar

Faixa presente no seu primeiro álbum como artista solo. Uma música de Roberto e Erasmo Carlos que foi arranjada por Lanny Gordin que foi guitarrista nas primeiras turnês dos anos 60 e 70 da cantora. Temos aqui a fórmula das músicas da Jovem Guarda mas com uma pitada de funk, num baixo swingado. Provavelmente a faixa mais óbvia do disco seja Divino, Maravilhoso de Caetano e de Gil, mas o primeirão tem pedradas como Vou Recomeçar e preferi colocar essa por justamente ser um lado B e trazer essa identificação da Gal com estilos da cultura negra.


Cinema Olympia

O álbum Gal de 1969, às vezes chamado de Cinema Olympia , o título de sua primeira faixa, é considerado pelo público e pela crítica como seu álbum mais psicodélico e experimental. A revista Pitchfork o considerou como “o equivalente à gravação de Barbra Streisand com Boredoms ” e “um dos documentos mais pesados ​​de Tropicália .” E não dá pra discordar, esse álbum traz muitos instrumentos, guitarras distorcidas por Lanny e letras muito pra frente com variações nos andamentos das músicas tendo como a faixa de abertura todos esses elementos.


Vapor Barato

A música composta por Jards Macalé e Waly Salomão ganhou uma força muito grande com a voz de Gal Costa, um aspecto blues com ela fazendo scatting em um solo vocal.  Ela foi inicialmente lançada como single editado sem repercussão no primeiro semestre daquele ano de 1971, mas a coisa esquentou na versão ao vivo presente no disco Fa-Tal, A Todo Vapor (1971), mostrando a Gal no seu auge e como a única cara da tropicália ainda em âmbito nacional devido ao exílio de Caetano e Gil. Anos mais tarde, ela faria uma versão igualmente arrepiante ao lado de Zeca Balero, com uma pegada menos blues, muito mais folk, mas ao mesmo tempo, ainda tendo um momento do seu solo vocal.


Hotel das Estrelas

Provavelmente Fa-Tal, Gal A Todo Vapor é o disco com o repertório mais popular de Gal, repleta de músicas conhecidas e atemporais como Pérola Negra de Luiz Melodia, Como 2 e 2 de Caetano e muitas outra. Mas tem uma balada blues que fica um pouco esquecida, mas que também é rica principalmente na letra e a voz de Gal estando tão suave e melancólica até chegar na parte final que tem os backing vocal ganhando um poder rítmico acelerado com a voz de Gal ficando mais poderosa. A faixa também é encontrada no álbum Legal e é essa versão de estúdio que coloco aqui.


Dê Um Rolê

No disco Gal, A Todo Vapor quem aparece fazendo as guitarras no show é Pepeu Gomes, membro dos Novos Baianos, que participou de 17 músicas do repertório costurado com engenhosidade no roteiro que, no registro fonográfico, totalizou precisos coesos 67 minutos e 45 segundos. A faixa Dê um Rolê foi composta pelos camaradas de Pepeu nos Novos Bainanos, Luis Galvão e Moraes Moreira e a versão da musa da MPB cheia de presença e garganta foi o momento mais roqueiro e potencializando a música que havia acabado de ser lançada também pelo grupo baiano.

Acho que aquele psicodelismo que havia antes, nos anos 60, com Jimi Hendrix e Janis Joplin, aquilo que havia quando eu fiquei aqui no Brasil, enquanto Caetano e Gil estavam exilados, era um ‘radicalismo’, digamos assim. Gravei alguns discos em que eu usava o grito como expressão de canto. Não que eu ache que isso seja regra. A música pode ser assim ou não.

Gal em entrevista a Leonardo Rodrigues para a UOL, 2015

Vaca Profana

Mais uma música de Caetano Veloso que Gal interpretou. Essa é do impactante album dos anos 80, Profana, que vendeu 400 mil cópias em dois meses de lançamento. Vaca Profana é um dos sucessos e desde então aparece no repertório da cantora. A versão de estúdio dela não é tão rock, mas a repaginada nos arranjos ocorrida para a turnê do A Pele do Futuro ao meu entender é definitiva, enérgica e com todos elementos dos anos 60 que tornam a Gal nossa Janis.


Alcohol

 Essa está presente no disco O Sorriso do Gato de Alice de 1993. Começando com uma batucada alá Olodum, a guitarra swingada junto a um baixo pulsante, com a voz da cantora questionando o por que das coisas, da lua ser prata, chuva ser cristalina, o mar esmeralda e porque somos seres terrestres. uma fantástica música feita por Jorge Ben, justificando o porque de ser um samba rock.


Cabelo

Essa é uma que passou por uma total transformação ao passar dos anos. A versão original de 1990 presente no disco Plural é um axé safado, mas nos últimos anos, principalmente após o disco Estratosférica Ao Vivo de 2018 a música ganhou um tom rock ‘and’ roll que combinou bem mais com ela. Forte, a música fala sobre o cabelo como um ser vivo e a importância para a força de Sansão e pra realeza do Leão, além de falar das diferentes formas que ele pode ter de pessoa para pessoa. O refrão maravilhoso “Cabelo, cabeleira, cabeludo, descabelada” é um regozijo!

“Não sou uma cantora que faz a mesma coisa sempre. Acho interessante mudar e ousar. É bem saudável. Eu sou aberta e tenho um leque muito grande. Mantenho o meu estilo de cantar que é próprio, mas gosto de vários estilos de música. Estratosférica é um disco que eu queria que tivesse uma pegada roqueira, algo que eu fiz nos anos 1960, na época do Tropicalismo.”

Gal Costa a Revista Quem, 2017

Sem Medo Nem Esperança

Este é um rock genuíno feito pela Gal para o álbum Estratosférica de 2016. O álbum foi produzido pelo Moreno Veloso (filho de Caetano) e Alexandre Kassim, com composições de Marisa Monte, Marcelo Camelo, Milton Nascimento, Criolo, Arnaldo Antunes, Céu e até Mallu Magalhães. entretanto, Sem Medo de Ser Feliz, que estamos destacando aqui, foi composta por dois cascas grossa da indústria, Antônio Cícero e Arthur Nogueira. A banda contava com Guilherme Monteiro na guitarra e violão, Fábio Sá no baixo e Maurício Fleury no teclado e guitarra, além de Pupillo na bateria e direção musical.


Motor

Esse foi um dos últimos singles de Gal, para a divulgação do disco A Pele do Futuro ao vivo. A música Motor foi escrita pelo músico Teago Oliveira vocalista e guitarrista da banda Maglore que desponta como uma das mais importantes do rock nacional dos últimos anos. Um rock bem moderno que vai na vibe das canções da Gal dos anos 60, me remeteu a Força Estranha do Caetano, que ela também regravou e interpretou por várias vezes, inclusive na tour desse show. A letra é bem sentimental e a voz da cantora está impecável. Escutei bastante essa música enquanto produzia essa matéria, muito épica.

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