Analisando a Discografia do Death

Por Felipe Tusco Dantas

Anteriormente conhecidos como Mantas, nos anos de 1983 e 1984, o imenso grupo de death metal Death conseguiu catapultar todos os níveis deste sub-gênero a partir do seu legado e influências deixadas.

Infelizmente, seu destino foi selado com a morte do integrante principal, o guitarrista e vocalista Chuck Schuldiner, porém, em seus sete álbuns de estúdio, uma riqueza e variedade de sons e conceitos líricos pode ser conferida e cada vez melhor apreciada, e é isso que trazemos nos parágrafos seguintes.


SCREAM BLOODY GORE (1987)

Um disco com um som mais esboçado, onde o som da guitarra se converge com os vocais abafados. Tudo aqui é inédito para a banda Death – desde as letras profundas de Chuck Schuldiner até as contribuições artísticas de Edward J. Repka – menos a perseverança do líder do grupo, que sempre manteve tal perfil desde sua atuação no Mantas. 

Logo em seu primeiro trabalho, a banda conseguiu marcar a linha do tempo do metal com certos refrãos e riffs memoráveis, como aqueles em Zombie Ritual e Evil Dead. Além disso, aqui começa a parceria entre Death e o produtor Chris Reifert 

Se Scream Bloody Gore foi realmente o pioneiro do universo death metal, podemos ainda discutir, dado que o disco Seven Churches, da banda Possessed, é sempre colocado contra este assunto. Mas, de qualquer forma, uma coisa é inegável: Schuldiner conseguiu já definir um padrão e estilo, que viria a influenciar uma legião de outras bandas, logo com seu primeiro trabalho.


LEPROSY (1988)

Um ano após o lançamento de seu álbum de estréia, Death lança o disco Leprosy. Ainda contando com o trabalho do artista Ed Repka para a capa, o disco mantém uma proposta similar ao trabalho anterior, porém, os riffs e composições são muito mais dinâmicas e engenhosas. Certamente, a estilização da capa condiz muito com a qualidade do som.

Dentre os temas de suas letras, estão assuntos que são vistos pela sociedade civil como polêmicos, já que remetem a doenças terminais e suas sequelas para aqueles que sofrem destas, como a lepra, que consta na faixa-título, Leprosy

Left to Die, que possivelmente fala de um soldado ferido em um campo de batalha e, como diz o próprio nome, foi largado para a morte, também compõe o repertório neste trabalho. Pull The Plug, uma das canções favoritas dos fãs da banda, que menciona de forma discreta e não-discreta, ao mesmo tempo, a polêmica por volta daqueles que estão em estado de eutanásia, e que não se sabe se deveríamos ‘’puxar os cabos’’ para desligar as máquinas e acabar com todo o sofrimento de vez, engloba de maneira crua o espírito do disco. 

Outra característica marcante neste álbum está nas transições bruscas levadas por algumas canções, como Open casket, que tem seus momentos finais conduzida por uma espécie de coro internalizado pelo vocal arranhado e grosso de Schuldiner, ou Primitive Ways

Ainda na primeira canção mencionada no último parágrafo, houveram confirmações de que o evento trágico que tirou a vida do irmão de Schuldiner, Frank Schuldiner, serviram de inspiração direta para a composição deste trabalho. Isto foi relatado por Jane Schuldiner, mãe de Chuck e Frank. 

A recepção de seu segundo álbum foi, de certa forma, positiva, dado que outras bandas no mercado, como Carcass e Napalm Death, se inspiraram na proposta de Leprosy para compor seus trabalhos seguintes – tudo isto inserido num mercado que ainda estava para batizar o sub-gênero death metal ao seu redor. 


SPIRITUAL HEALING (1990)

Agora com James Murphy assumindo o posto de guitarrista, o Death lança seu terceiro disco. Certamente os temas deste os mais envolventes e controversos possíveis. Living Monstrosity, a faixa de abertura, trata-se de mulheres grávidas que usam cocaína, como fica explícito na letra, e Altering the Future traz a questão do aborto, e todas os possíveis desenrolares de tal decisão. 

A faixa título levanta a problemática trazida pelos protestantes evangélicos, no sentido de que estes causam muita discordância entre aqueles dos quais tentam converter freneticamente. Tudo isso é sintetizado na arte da capa, feita mais uma vez por Ed Repka

De forma geral, a percepção do disco por parte do público e críticos foi positiva, ainda que a relação entre os integrantes da banda – especificamente Chuck e o novo guitarrista, Murphy – não estivesse indo muito bem.


HUMAN (1991)

Passando agora por uma situação pessoal mais complicada, Schuldiner viu-se encurralado no mercado musical, mas de qualquer forma prometeu aos fãs e ao serviço o lançamento de um álbum seguinte, e, mais uma vez, o músico acertou.

O disco abre com a gloriosa Flattening of Emotions, que condensa a habilidade na guitarra de Chuck, com o baixo de DiGiorgio, e a bateria de Reinart, numa melodia só. Suicide Machine que é vista por muitos como uma continuação da letra de Pull the Plug, onde a máquina mencionada refere-se aos equipamentos hospitalares que permitem aos médicos assistirem a morte de seus pacientes. Together As One traz uma interpretação duvidosa. Provavelmente, fala sobre a malformação de certos indivíduos no momento de seu nascimento. 

E ainda somos brindados com Lack of Comprehension, cuja introdução tornou-se muito famosa no universo do heavy metal, que é quebrada repentinamente pelos vocais guturais de Schuldiner e sua guitarra feroz. A letra desta canção configura uma situação muito comum no mercado fonográfico e na sociedade. A discriminação por parte de pais, políticos, professores, ou protestantes, pelo gênero. Por fim, Cosmic Sea, uma faixa instrumental, e Vacant Planets também destacam-se neste trabalho do conjunto. 

Contudo, as relações internas da banda e com as gravadoras não estava das melhores, o que fez com o líder tomasse certas providências. Tudo isso de forma que seu trabalho pudesse continuar sendo divulgado e prestigiado.


INDIVIDUAL THOUGHT PATTERNS (1993)

Agora sem a contribuição de Eric Greif, a banda teve de redobrar seus esforços para seguir com suas composições e lançamentos. 

Gene Hoglan foi um dos primeiros nomes cotados por Chuck Schuldiner para suprimir este trabalho. O baterista participou da banda Dark Angel e também contribuiu com a guitarra para o som de The Exorcist, gravado pelo Possessed. Além disso, Andy LaRocque, do King Diamond, aparece aqui, visto que seu trabalho era muito admirado pelo líder do Death. E, por fim, Steve DiGiorgio assume o baixo.

Produzido por Steve Burns, o disco foi lançado com junho de 1993, e suas faixas tratam de relações intrapessoais, muitas delas relacionadas a problemas que ocorreram na gravação do álbum, apesar de que isso tenha sido negado em algumas entrevistas. Overactive Imagination tem um riff calculado e meticuloso, característico do trabalho e pensamento de Schuldiner, e In Human Form fala do cuidado que devemos ter antes de julgarmos as pessoas pela aparência. 

Trapped In A Corner é vista também como uma das melhores composições de Schuldiner, dada a freneticidade que envolve a guitarra deste e a de LaRocque. The Philosopher praticamente condensa toda a energia que é descarregada neste disco. Uma melodia suave e impulsiva conduzem a canção, que possivelmente fala do peso das palavras dos filósofos de carteirinha na vida das pessoas, ou seja, nenhum! The Philosopher ainda recebeu um videoclipe, que foi sucessivamente transmitido pela MTV, e também no desenho Beavis and Butt-head


SYMBOLIC (1995)

Passado o período vivido em 1993, o grupo teve um tempo para respirar no ano seguinte, que seria marcado por mais problemas internos com gravadoras, e projetos paralelos ao Death, como o Voodoocult, que consistiu na junção de Mille Petrozza, do Kreator, e Dave Lombardo, que havia acabado de sair do Slayer, em 1992. 

O sexto álbum de estúdio do Death é marcado por suas transições gritantes, que surgem inesperadamente e são interrompidas pelos vocais cada vez mais furiosos de Chuck. Symbolic, a faixa-título, é marcada por sua mensagem principal, que trata da inocência vivida por todos na infância e que infelizmente é interrompida quando a fase adulta chega. Zero Tolerance, Empty Words, e Sacred Serenity, que sucedem a faixa, contém composições rebuscadas. 

1,000 Eyes faz uma simples crítica a invasão de privacidade, e Without Judgement exemplifica melhor do que tudo o aspecto da transição de tempo mencionada no parágrafo anterior. É um momento mais lento, facilmente comparável a melodia de Don’t Break The Oath, de Mercyful Fate

Chegando ao final da obra, Crystal Mountain é um ‘’soco’’ na cara de todos os religiosos fanáticos, que acabam torturando e pressionando outros indivíduos para manifestação de sua fé. É sobre isso que a canção trata enquanto é seguida por riffs meticulosos, mudanças de tempo engenhosas, e um violão flamenco que marca positivamente tudo. 

Após o lançamento de Symbolic, houve uma pequena ruptura no desenrolar do Death. O Control Denied estava apenas começando, e Chuck Schuldiner estava mais do que determinado e ambicioso em alcançar a perfeição através deste trabalho, e não haveria ninguém que  o pudesse impedir. 


THE SOUND OF PERSEVERANCE (1998)

Como o próprio título já sugere, apesar de todas as enormes dificuldades, Chuck Schuldiner colocou sua perseverança em primeiro lugar e seguiu com sua vontade de mostrar ao mundo sua criatividade musical que resultou em mais uma série de composições geniais. Tudo isso está impresso e gravado neste álbum, que viria a ser o último da banda, tendo esta um fim marcado pela morte de Schuldiner, em 2001.

Com a logo diferenciada desta vez (o esqueleto encapuzado na letra ‘’h’’ não aparece mais), o trabalho abre com a explosiva Scavenger of Human Sorrow, seguida das brilhantes e frenéticas Bite The Pain e Spirit Crusher. Como quinta faixa, somos presenteados com Flesh And The Power it Holds, a canção mais longa de Death, com oito minutos de duração, que flerta com o gênero metal progressivo, coisa que aliás configura toda a característica, sendo dificilmente categorizado como um álbum de death metal completo. A canção fala sobre os problemas do vício no amor e a destruição que pode trazer.

Após isso, temos Voice of the Soul, que é definitivamente uma das canções instrumentais mais majestosas do universo do heavy metal. Seu ritmo ascendente e a guitarra aguda provocam uma forte sensação emotiva em qualquer um que sempre a escuta. 

A Moment of Clarity mostra a competência da dupla Schuldiner e Shannon Hamm, entretidos numa mensagem que aborda o sentido da vida, questão muito refletida e apreciada pelo líder da banda. Por fim, temos uma versão de Painkiller, de Judas Priest, que foi originalmente lançada numa versão deluxe japonesa, mas logo após foi incluída na versão original do disco. Seu tom pessoal a este outro clássico do metal demonstra a versatilidade do grupo quanto a outras tendências. 


LEGADO

A mensagem e a influência deixadas por este grupo são inegáveis. Mesmo tendo seguido sua carreira com a banda Control Denied, Schuldiner sempre se reverenciou à sua época com Death, e quando era perguntado como se sentia sendo um dos maiores nomes do heavy metal, sua visão mostrava-se humilde. 
‘’Sou apenas mais uma banda dentre várias outras neste mundo do heavy metal.’’, disse o líder deste conjunto que conseguiu abrir uma nova linguagem musical em um universo cada vez mais diversificado.

7 comentários sobre “Analisando a Discografia do Death

  1. Death é uma das melhores bandas de Metal! Gosto de muitas músicas e o aforismo apresentado na contra capa de The Sound Of Perseverance sempre me influenciou.

    Assim, sabendo dessa qualidade, sempre incentivei meu sobrinho e minha sobrinha a escutá-la!

    A propósito, não conhecia esse projeto com o Petrozza e Lombardo, vou procurar escutar.

Deixe uma resposta para EduardoCancelar resposta