Essa é a síntese do soul e R&B dos anos 60/70 sendo modernizada por Bruno Mars e principalmente Anderson .Paak. Nos tempos atuais conferir um álbum que “deixa a porta aberta” para muitas referências e mesmo assim soar necessário e original é reconfortante. O mundo estava precisando de um álbum tão gostoso e divertido para voltar a sorrir!
Roani Rock
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Gravadora: Aftermath Entertainament & Atlantic Records Corporation
Data de lançamento: 12/11/2021

Gênero: R&B/Funk/Soul
País: USA
Desde março desse ano, quando Leave The Door Open foi lançada, houve um grande entusiasmo. O mundo pôde conferir o surgimento de uma união mágica com um som nostálgico que nos anos 60 e 70 ficou conhecido como pertencente aos artistas da Motown, uma das mais históricas gravadoras do mundo, e provavelmente, como dito no documentário da história dos instrumentistas da gravadora, The Funk Brothers, aquela que teve mais números #1 nos charts de paradas de sucesso.
O “Motown Sound” é perceptível em praticamente todas as nove músicas do disco, mas há muito do que foi construído pela gravadora “rival”, a Stax, que nos seus tempos áureos contava com Aretha Franklin, Otis Redding e Wilson Pickett em seu staff. Outra gravadora, e essa envolvida de forma direta com este álbum, que influenciou diretamente no que escutamos aqui, é a Atlantic Records que nessa época em que disputava as paradas com a Motown, tinham acordado a distribuição dos artistas da Stax. Tem também artistas que tocavam a funk music, que não tinham ligação com as gravadoras citadas mais marcam presença em termos de inspiração como no caso do Sly and The Familly Stone e Parliament/Funkadelic.
Mas pra que fazer esse resgate das grandes gravadoras clássicas e seus respectivos artistas neste review para falar da novidade que é o Silk Sonic? Bom, além da questão da sonoridade? Deixando bem claro, não fica só restrito a isso os 31 minutos de música. Acredito que tudo que promoveu os singles e a parte gráfica, incluindo a forma que o duo vem se vestindo, com os óculos grandes e brilhantes, o bigodinho safado de Mars, o conceito de big band colocado nos clipes, as danças com os backing vocals e a divisão de performance de .Paak e Mars, principalmente em Smokin’ Out The Window dirigido pelo próprio Mars e John Esparza, conta e faz os fãs entrarem na vibe e viajarem no tempo junto com a audição das músicas. Eu pelo menos não consigo desassociar as músicas dos clipes, sempre vou escutá-las por eles.

O vocalista e baterista Anderson .Paak, desconhecido para os menos atentos do que vem rolando no hip-hop e pop, pode ser taxado como o membro catalisador de todas essas referências para as canções e o fio condutor através de suas levadas na batera. Ele ter Stevie Wonder tatuado no peito não é mera coincidência, ele ter trabalhado com todos os grandes, até mesmo com Smokey Robinson, compositor e interprete lendário dos hits da Motown, além de ter o disco Ventura como o vencedor de melhor álbum r&b em 2020 pelo grammy também não se deve ao acaso e é sim um fator diferencial para essa história linda que está se formando.
Como Mars entrou nessa onda? Você me pergunta e a resposta é simples. Em 2017 durante a tour 24K Magic World Tour de Mars (2017–18) .Paak era a abertura dos shows e nos bastidores tudo começou “como uma piada que os dois amigos criaram na estrada“. A gracinha passou a ser algo sério quando o duo trabalhou juntos no Abbey Road Studios, em Londres, com Nile Rodgers (sempre ele) e Guy Lawrence para o álbum It’s About Time, do Chic. Daí meu amigo, foi só começarem a desenvolver canções que tudo virou uma questão de tempo para eles se unirem como o Silk Sonic e lançarem um trabalho.
Mas Mars e Paak não estão a sós nessa. Domitille Degalle , conhecida por seu nome artístico DOMi , uma tecladista, compositora e produtora francesa de jazz e música eletrônica e o produtor e compositor JD Beck foram convocados para escrever o álbum junto aos grandes astros. Na execução da obra, contaram com a colaboração de D’Mile (indicado ao grammy por seu trabalho com a cantora HER) para co-produzir o álbum e tocar alguns instrumentos além de fazer backings. Além dele chegam os músicos Brody Brown baixista pertencente a banda 1500 or Nothin’, Larry Gold (arranjos), Kameron T Whalum (backingvocals) que faz parte dos “Hooligans” que apoiam Mars em turnê. Ainda na ficha técnica, dá pra adicionar como convidados especiais o icônico Bootsy Coolins e Thundercat.
O single principal do álbum, Leave The Door Open foi lançado em 5 de março, junto com a música de introdução, apresentada por ninguém mais ninguém menos que Bootsy Collins, que fez parte de uma das gerações do Parliament/Funkadelic – a de maior sucesso. A vinda dos outros singles como Skate onde Bruno Mars toca maracas e por fim a maravilhosa Smokin’ Out The Window foi o regozijo, mas por incrível que pareça faltava ouvir mais e saber mais.
Então vamos em partes, a primeira coisa que escreveram juntos começou com um deles dizendo a frase Smokin’ Out The Window. Eles criaram um divertido homem “estressado” fumando muitos cigarros enquanto tentava encontrar o seu caminho para sair de situações “ansiosas”, quando eles se reuniram no estúdio a “piada” se transformou em um gancho que trabalharam depois de .Paak sair bebaço do seu aniversário para o estúdio.
A faixa intro que tem a função de abrir os trabalhos, nos remete ao grupo sagrado de Bootsy, mas também ao grupo disco Kool & The Gang devido aos vocais bem característico. algo que ocorre também em Fly As Me que é a faixa mais “moderna” com .Paak cantando em forma de rap, ela recebe uma linha de baixo funk e guitarra com os efeitos tremelo e wah wah. A participação do renomado baixista e vocalista do Parliament/funkadelic no álbum aumentou o porquê do frisson durante todos esses meses e descobrimos que não parou por ai, já que ele também está presente em After Last Night que conta com outro monstruoso baixista, o Thundercat, que aparece aqui cantando e dedilhando seu baixo na balada que provavelmente será o novo single do álbum.
Em sequência, a amanteigada Leave The Door Open e a sexy Smoking Out The Window tanto pela sonoridade tanto pelos clipes traziam a aura dos Temptations, já Skate traz a sagacidade do Jackson 5. Fácil de prever essas configurações pela voz e forma de cantar de Anderson .Paak muito similar ao saudoso David Ruffin e pela potência de Mars que por anos comparamos a Wonder e Michael Jackson. Essas obras nos trazem a certeza de que An Evening with Silk Sonic já nasceu um clássico e só faltava conhecer o restante do álbum, que não decepcionou.
Músicas que não viraram single como a já falada After Last Night e 777 tem uma groovada ala Prince, essa última principalmente pelo instrumental que fica mexendo na memória afetiva ao falecido príncipe do pop. Put On Smile já é algo mais rebuscado, meio Stax pela sua aura blues. O fechamento do álbum, a linda Blast Off é como uma bela balada do Commodores de Lionnel Richie. É um honroso tributo proposital aos anos dourados e dançantes, o que de melhor a música negra americana propiciou nas décadas de 60/70.
Estão reunidos todos os ingredientes essenciais para aquele que será, muito provavelmente, um dos grandes álbuns deste ano de 2021 – se não for o melhor, pra mim é insuperável. Ao meu ver Mars e Anderson .Paak nunca mais poderão se ver sem essas obras, vão ter que tocar essas músicas em suas carreiras fora do Silk Sonic também, da mesma maneira que Michael Jackson fazia o “momento Jackson 5” em seus shows.
Nota Final: 10/10
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