Por Roani Rock
As maiores parcerias entre artistas com bandas no Rock ‘and’ Roll podem ser chamadas de “crossover” e podemos provar com essa lista. Nas obras em quadrinhos, em animações e em filmes o termo é usado para abordar o encontro de personagens de “universos” distintos no contexto de uma única história, ao exemplo de heróis da Marvel com os heróis da DC. No mundo real, desde a década de 1980 o termo foi usado para classificar quando um subgênero do Metal vai de encontro com outra vertente, normalmente o thrash com o hardcore. Mas, sem a questão de rotular como tal, montamos esse estudo com os maiores encontros do rock e vimos que cabe a utilização do “crossover” devido a este sentido de união para contar uma nova história.
Já aconteceu de uma banda Mod ser formada com dois integrantes de Blues Rock, um cantor de Nu Metal ir para uma banda Grunge, um músico de folk rock dos 70’s com uma poderosa banda dos anos 90 e um camaleão indo de encontro ao industrial. O quão impactante elas conseguiram ser, seja para o mercado fonográfico, para os fãs dos diferentes artistas que resolveram se unir e até pelo quão enriquecedor foi para cada um é o ponto central dessa lista. Mesmo que o final não tenha sido o mais almejado e para muita gente a continuidade ser mais interessante que as bandas e projetos voltarem as origens, os artistas que estão aqui “deram liga” tocando juntos e souberam tirar pontos positivos das parcerias para suas carreiras, tanto comercial quanto musicalmente.
Crosby, Stills, Nash & Young
David Crosby, Stephen Stills e Graham Nash ao se unirem em 1969 podem ter formado o primeiro super grupo de rock da história. O primeiro disco intitulado acertadamente de Crosby, Stills and Nash já foi grandioso, o show em Woodstock que também ocorreu no mesmo ano da formação da banda, também foi avassalador. Mas a entrada de Neil Young transcendeu tudo.
Essa galera teve seu primeiro contato durante aquele longo verão californiano, se reunindo na casa de Mama Cass do The Mama and The Papas e outros points hippies além dos locais de shows dos agora normalizados festivais de música a céu aberto. David Crosby veio do Byrds e o britânico Graham Nash tinha pedido pra sair do The Hollies, já Stephen Stills desintegrou o Buffalo Springfield. Esses três passaram a se conectar com inúmeras jams e com um mostrando músicas pro outro, fazendo vocalizes e linhas vocais perfeitas viram que o projeto deu liga.
Neil Young por sua vez estava construindo seu nome com a carreira solo, já tinha lançado Everybody Knows This Is Nowhere que tinha o grande hit Down By The River, Cinnamon Girl e Cowgirl In The Sand. Ele gravou esse petardo com a banda Crazy Horse e isso já é um ponto importante, pois contratualmente, Young só aceitou agregar e transformar o trio do CSN em quarteto tendo a liberdade de seguir fazendo seu trabalho autoral solo, mesmo isso não agradando tanto os outros.
O agora Crosby, Stills Nash & Young no ano de 1970 lançou em março o inspirado álbum Déjà Vu. Se o primeiro álbum do trio teve uma onda folk com maior participação de Stephen Stills no instrumental e as vozes como ponto forte, no álbum que conta com Young temos maior presença de pianos e guitarras bem distorcidas junto aos violões e vozes celestiais. Além de nos shows ampliarem o repertório, o enriquecendo com as músicas da carreira solo do músico canadense além das faixas solos dos outros, como no caso de Triad do David Crosby, Love The One You’re With de Stephen Stills e Chicago de Graham Nash.
Músicas com temáticas bem ligadas ao conceito hippie por parte de Crosby como em Almost Cut My Hair e o cover para Woodstock, canção de Joni Mitchell. Graham Nash dá voz e melodias ao piano e violão em Teach Your Children e Our House. Young traz duas belezinhas, a balada Helpless e a poderosa Country Girl (Whiskey Boot Hill, Down Down Down, Country Girl (I Think You’re Pretty)). Já o texano ex-Buffalo Springfield compôs e trouxe aos companheiros as canções mais fortes, Carry On é um hino atemporal, 4 + 20 tem uma melodia que vai do folclore ao Blues. Ainda tem o rockão Everybody I Love You que fecha dignamente o trabalho.
Pós isso, entraram em turnês entre 73 e 75, lançaram mais dois álbuns de estúdio além do icônico Déjà Vu, o American Dream de 1988 e Looking Forward de 1999. Além desses tem a coletânea So Far, importante por ter os singles como Ohio e os discos ao vivo: o 4 Way Street, o box CSNY 1974 e Déjà Vu Live.
Durante os anos a banda constatou que não consegue se manter unida como um quarteto por conta de muito ego e brigas banais, principalmente entre Young e os demais. A última foi por David Crosby tecer um comentário infeliz frente ao fim do casamento do músico canadense, uma pena.
Ronnie Wood & Rod Stewart & The Small Faces
O The Small Faces estava perdido e no limbo após a saída do guitarrista Stevie Marriott que preferiu criar um novo grupo indo mais para o caminho do blues rock americano, esse grupo veio a ser o Humble Pie que contou com a presença de um jovem Peter Frampton aspirante a se tornar um grande guitarrista. A banda mod entendeu que não teria força e apelo popular suficiente só com o baixista e vocalista Ronnie Lane de band leader, visando isso, resolveram olhar o mercado para fazer a contratação certa.
Iniciou-se o projeto Quiet Melon, que também apresentava Art Wood e Kim Gardner; eles chegaram a gravar quatro canções e fizeram alguns shows em maio de 1969, durante uma pausa nos compromissos de Ronnie Wood e Rod Stewart com o Grupo de Jeff Beck, mas o projeto não andou pra frente. Entretanto, com a chama acesa, Ronnie Wood e Stewart resolveram se juntar a Lane, Ian McLagan (teclados) e Kannie Jones (bateria) em tempo integral pedindo demissão do Jeff Back group. A parte “pequena” do nome da banda original foi descartada, em parte porque os dois recém-chegados eram mais altos do que os três ex-Small Faces, o outro foi que os executivos da gravadora queriam que a banda mantivesse seu antigo nome, mas é certo que também tinha que vir no nome a mudança também, por isso The Faces.
Como Faces eles viajaram regularmente pela Grã-Bretanha, Europa e Estados Unidos com abrangência a Austrália, Nova Zelândia e Japão de 1970 a 1975 em grandiosas turnês. Lançaram apenas quatro discos: First Step, Long Player, o maravilhoso A Nod Is As Good As a Wink… to a Blind Horse e por último Ooh La La que é uma verdadeira obra prima.
Entre suas canções de maior sucesso estavam a Ooh la la, seu sucesso britânico atemporal Stay with Me, Cindy Incidentally o cover para Maybe I’m Amazing e Pool Hall Richard. Eles também foram responsáveis por servir de banda de apoio dos discos solos de Rod Stewart impulsionando hits como Maggie May, o cover de (i know) i’m losing you dos Temptations, Angel de Jimi Hendrix e i’d rather go blind de Etta James, correntemente tocadas ao vivo pelo grupo.
A banda se separou no fim dos anos 70 por razões compreensíveis. O baixista Ronnie Lane foi o primeiro a vazar, isso no meio da década, por achar que Rod Stewart tinha tomado todos os holofotes e não concordar mais com os rumos da banda, foi substituido pelo desconhecido japonês Tetsu Yamauchi. O Faces seguiu tendo sucesso mesmo sem seu líder original, mas já no fim dos 70’s o guitarrista Ronnie Wood teve que escolher entre seguir com os caras ou ir para os Rolling Stones, ele preferiu assumir o posto de Mick Taylor e fazer a parceria que segue até hoje com Jagger e Richards. O baterista Kenney Jones também aceitou um desafio, assumir o posto de Keith Moon no The Who, devido a morte deste. Em comparação ao período festivo de Wood nos Stones, Jones teve que lidar com conturbações durante os 10 anos em que esteve com Townshend, Daltrey e Entwistle.
O Faces chegou a se reunir décadas depois em 2008 para alguns ensaios visando celebrar Ronnie Lane que faleceu em 1997. Não foi pra frente o reencontro, mas uma indução ao Rock and Roll Hall Of Fame fez com que Ronnie Wood, Ian McLagan e Kenney Jones voltassem a tocar juntos com a alcunha de Faces, Rod Stewart não quis participar, então o vocalista substituto foi Mick Hucknall do Simply Red e os baixos ficaram a cargo do ex Rolling Stone Bill Wyman. Stewart só voltou a cantar com os remanescentes do Faces em um breve set no Hurtwood Polo Club em 5 de setembro de 2015 para caridade e para celebrar o tecladista McLagan que faleceu um ano antes
Pearl Jam & Neil Young
Esse grande encontro de gerações começou a ser fertilizado durante a organização do MTV Music Awards de 1993, quando a produção sugeriu que o Pearl Jam se apresentasse junto com Neil Young na execução do clássico dele, Rockin in the Free World. Foi o verdadeiro “it’s all happening” que a personagem Penny Lane do filme Almost Famous traz em seu bordão.
Na época, Neil que naquela altura já era considerado o “padrinho do grunge”, dada a referência que suas músicas causavam na galera do novo estilo, sempre tentou arranjar novas formas de se expressar, reconheceu que a performance deu liga e viu a possibilidade de iniciar um projeto diferente, enquanto o grupo de Seattle estava usufruindo do sucesso de seu poderoso mais recente álbum o No Code.
Para a confecção do álbum Mirror Ball Neil contou com Stone Gossard e Mike McCready nas guitarras, Jeff Ament no baixo e Jack Irons como banda de apoio em duas sessões, no início de 1995. O vocalista Eddie Vedder pouco participou, apenas fez a segunda voz em dueto na bela Peace and Love. A produção ficou por conta de Brendan O’Brien, que também foi responsável pelos teclados e algumas guitarras. As gravações aconteceram na cidade natal do PJ a famigerada Seattle. O álbum tornou-se o maior sucesso do cantor canadense desde Harvest, lançado 23 anos antes.
Ao fazer o discurso de cerimônia para Neil Young no Rock and Roll Hall of Fame em 1995, Vedder disse sobre o seu ídolo:
Neil Young nos ensinou muito como banda sobre dignidade, compromisso e a responsabilidade dos shows. E acho que devo dizer que não sei se houve outro artista que foi eleito ao Rock and Roll Hall of Fame para comemorar uma carreira que ainda é tão vital quanto é hoje. Algumas de suas melhores canções estavam em seu último disco.
Eddie Vedder
David Bowie & Nine Inch Nails
“O show tinha que fazer sentido, e parecer tudo uma só experiência” Disse Trent Reznor à Rolling Stone EUA em 2016 para explicar a fusão da banda de rock industrial com o camaleônico David Bowie em 1995 para turnê Outside que teve uma proposta de show contínuo. “Nós estaríamos tocando, aí Bowie entraria para tocar ‘Subterraneans’ conosco, aí a banda dele entraria para tocar todo mundo junto, depois o Nine Inch Nails sairia.” Explicou Reznor.
Nine Inch Nails é o estranho caso – hoje bem comum – em que o novo inspira o ídolo. Bowie até alegou que a banda surgiu depois em se catálogo, sendo o The Young Gods da suíça a referência para o disco lançado em 95, mas tudo que veio depois tinha NIN como parceiro e, de certa forma, se não com a presença deles, com um pouco do som da banda inserido. Tanto que Reznor colaborou com Bowie remixando The Hearts Filthy Lesson e em 1997 gravaram a faixa I’m Afraid Of Americans que teve em sua versão o último hot 100 de Bowie até o lançamento do Blackstar em 2015.
um dos melhores momentos da minha vida foi dividir o palco com David Bowie e cantar junto com ele ‘Hurt’. Eu saí de mim, e pensava ‘estou ao lado de uma das pessoas mais influentes na minha vida, e ele está cantando uma música que escrevi no meu quarto.
Trent Reznor
Apesar disso, é certo que os fãs do Nine Inch Nails estranharam a presença de Bowie nos shows da banda cantando as músicas, mas Bowie em entrevista mandou um “foda-se” com a classe e elegância de sempre.
Eu pessoalmente gostei da combinação de NIN e eu, mas meus fãs não. Má sorte!! Era também um público extremamente jovem, entre os 12 e os 17 anos. Meu ponto de partida foi simplesmente: acabei de me aventurar fazendo este álbum , o que posso fazer agora para tornar os shows tão aventureiros? Olhando dessa forma, parecia lógico me confrontar com o público do NIN. Eu sabia que seria difícil cativá-los por uma música que nunca ouviram, por um artista cujo nome era a única coisa familiar.
David Bowie
The Black Crowes & Jimmy Page
Essa parceria ocorreu de uma maneira bem fluída apesar do fim ter parecido mais um pesadelo. O Black Crowes foi uma banda escolhida a dedo para acompanhar a turnê de reunião entre Jimmy Page e Robert Plant após longos dez anos em que não tocavam. A tour ocorreu no ano de 1996 e passou pelo Brasil no festival Hollywood Rock, o primeiro e único contato dos músicos de Atlanta com os brasileiros. Pra ter uma noção, eles vinham de dois discos aclamados, o Shake Your Money Maker e o The Southern Harmony and Music Companion. E dois anos antes tinham simplesmente lançado o Amorica, que muita gente considera o melhor deles.
Page se encantou com o som e presença de palco dos caras! Já no fim de 1999 o empresário do Crowes na época, Pete Angelus, ficou sabendo do desejo do guitarrista e líder do Led Zeppelin em fazer uma jam e assegurou que o The Black Crowes seria sua nova banda de apoio. Após a aprovação do guitarrista, Angelus então comunicou a banda sobre a novidade – até então, os irmãos Robinson e sua turma não sabiam de nada. Esse foi o início do caos.
Foi agendada uma mega turnê que atravessaria os EUA, mas Page não queria que nenhum dos shows fosse gravado. Após muita inistência Pete conseguiu convencê-lo, foi montado um estúdio móvel do lado de fora do Greek Theatre, em Los Angeles, o espetáculo seria registrado com a promessa de que, caso o guitarrist não curtisse o que ouvisse, ele apagaria as fitas. Como garantia de boa fé, entregou para Page um isqueiro, que seria o que queimaria as fitas caso fossem rejeitadas.
Page no fim das contas adorou o resultado e o álbum duplo contendo 20 canções do catálogo do Zeppelin – as músicas da banda de Atlanta executadas nas apresentações, por erro contratual da gravadora, não entraram no álbum – foi lançado pelo guitarrista e pelo Black Crowes, que na época era formado pelos irmão Chris Robinson (vocal) e Rich Robinson (guitarra), Audley Freed (guitarra), Sven Pipien (baixo), Eddie Harsch (teclado) e Steve Gorman (bateria). Foram feitos 11 shows numa turnê que englobava um total de 40, mas Jimmy Page resolveu sair sorrateiramente alegando indisposição física para continuar.
Anos depois Page confessou para o baterista Steve Gorman em uma entrevista que os irmão Robinson não queriam que ele contribuísse para a composição das músicas autorais do Black Crowes. O guitarrista Rich Robinson desmentiu dizendo que seria uma loucura não aceitar a contribuição do ex-Led Zeppelin. Então, nesse disse me disse ficamos até hoje sem entender o que deu errado em algo que foi tão certeiro.
The Doors & Ian Astbury
É interessante ter essa percepção de que o fim dos anos 90 e início dos anos 2000 foram marcados por essas contribuições. Essa daqui foi se formando pelos anos, não teve um imediatismo como muitas presentes nesta lista. O The Doors sempre foi uma referência para Ian Atsbuy e a banda já estava com os radares voltados para ele a um tempo. Para se ter noção, em 1989, no auge do The Cult, o cantor foi cotado para viver Jim Morrison no filme biográfico The Doors. Mas o papel foi para Val Kilmer, que além de também ser parecido com o icônico vocalista da banda psicodélica californiana, era de fato um ator.
O tempo passou e Atsbuy estava com complicações pessoais e com a banda. Um processo por uso indevido da imagem de um índio para a capa do álbum Ceremony de 1991, seu casamento na época desmoronando, o vocalista ainda viu seu The Cult entrar em um hiato que perdurou até 2002 com o pouco falado lançamento do álbum Beyond Good and Evil, o primeiro após o auto intitulado The Cult de 1994, que foi um fiasco que levou o guitarrista Billy Duffy a largar a banda.
Ele resolveu fazer um retiro espiritual na ilha de Cuba. No ano seguinte, o envolvimento de Astbury com os membros sobreviventes do Doors começou quando ele se juntou ao guitarrista do The Doors, Robby Krieger, durante um de seus shows solo. Já em 2000 para se apresentar no programa de TV Storytellers da VH1 os remanescentes da banda californiana dos 60’s convocou Angelo Barbera e vários vocalistas convidados, incluindo Scott Weiland , Scott Stapp , Perry Farrell , Pat Monahan e Travis Meeks além do vocalista do Cult. A apresentação soou como uma seleção teste de reality show e realmente, o vocalista estava no top 3 dos que mandaram melhor tanto que dois anos depois ele já estava efetivado.
A formação reunida mais Astbury se autodenominariam The Doors Of the 21st century. Entretanto, a banda teve problemas já no começo: O baterista John Densmore foi demitido e ficou sabendo através de um jornal, ele não gostou e brigou com os caras alegando que tinham de mudar o nome The Doors de alguma forma e que 21st Century não era o suficiente. Stewart Coopeland, ex- The Police, assumiu as baquetas, mas também chegou a ser demitido posteriormente e entrou com um processo. Antes dele, a família de Jim Morrison os acusou de apropriação indébita do nome da banda.
Isso tudo sugou a banda e Atsbuy resolveu reformular o The Cult em 2007 dando um basta no que de importante em termos de repercussão a The Doors 21st Century seguiu com outro nome, Riders On The Storm que tinha o vocalista Brett Scallions ex-Fuel. Não teve tanta repercussão a nova banda dos ex-doors, já o Cult por sua vez foi bem celebrado. A turnê com Astbury arrecadou US $ 8 milhões e arrecadou US $ 3,2 milhões, que foram para a nova empresa da banda chamada Doors Touring, Inc. e nenhum dos quais foi para Densmore, os pais de Jim Morrison ou sua namorada.
Rage Agains The Machine & Chris Cornell
O que se ouve aqui foi uma “banda de ponte aérea”, a base sonora do Rage Against the Machine – com os violentos fraseados de guitarra de Tom Morello, o baixo melódico de Tim Commerfrod e a bateria hipnótica de Brad Wilk – somada aos vocais gritados e melódicos de Chris Cornell. Durante os três discos tocados o som deles chega a ganhar uma cara própria de forma bem mais musical e lírica que os seus trabalhos anteriores, e a percepção disso é rápida assim como foi a formação do Audioslave.
Para responder como essa parceria foi formada dou a palavra a Tom Morello:
No momento após o fim do Rage Against The Machine em 2000, Tim Commerford, Brad Wilk e eu passamos muito tempo na casa de Rick Rubin planejando o que queríamos fazer em seguida. Ouvimos, discutimos e debatemos os méritos e talentos de dezenas de cantores e rappers ao longo de alguns meses. Nós estávamos em uma banda de impacto mundial e queríamos continuar a explodir o mundo. Não é uma tarefa fácil. E então Rick colocou pra tocar ‘Slaves and Bulldozers’, do Soundgarden. A voz de Chris Cornell era assombrosa, linda e aterrorizante. Todos nos entreolhamos e de forma unânime dissemos: ‘Esse é o cara!’. Nós éramos grandes fãs do Soundgarden e eles foram muito influentes para o RATM, mas a voz de Chris era de outro mundo.
A partir daí podemos trazer o contexto do vocalista, Chris Cornell havia lançado um trabalho solo depois que o Soundgarden encerrou as atividades, em 1997, o bom Euphoria Morning (1999). Tudo aconteceu de forma bem rápida pós primeiro ensaio e todo mundo se acertar, apesar de não parecer tanto e devido a tantos acontecimentos. O primeiro deles foi não seguir como RATM e inventar um novo nome, Civilians foi cogitado, mas já existia uma banda com esse nome, já Audioslave foi uma escolha de Cornell que a banda gostou e de prontidão foi o nome que batizou o grupo.
Em março de 2002, o Audioslave anunciou a participação no Ozzfest. Com tudo definido, datas e horários dos shows – eles seriam o headliner do seu dia -, Chris Cornell anuncia que está fora. A gravadora que foi escolhida pela banda, a Epic continuou anunciando que o disco seria lançado e em pouco tempo e a pressão fez Cornell ficar inclinado a voltar para ficar.A partir de então, o grupo passou a contar com apenas um manager, da empresa The Firm, de Los Angeles para evitar problemas já que separados cada artista tinha sua própria representante, sua própria gravadora para cuidar dos seus interesses.
O primeiro álbum foi um arrasa quarteirão que só não vendeu muito porque as músicas foram parar antes na internet por um vazamento dos arquivos. Todavia, ele fez a dupla Morello e Cornell brilhar de uma forma intensa. Show Me How You Leave, I’m The Highway, Cochise… só clássico assassino. Para o álbum pós debut, eles contaram mais uma vez com a produção de Rick Rubin que trabalhou ao lado do grupo no primeirão. Out Of Exit mostra um Audioslave mais entrosado, conciso, dosando o peso e o potencial pop das músicas, e tem como principais destaques faixas como The Curse, Doesn’t Remind Me, Be Yourself e Your Time Has Come. Esse álbum foi divulgado através do mundo com uma passagem especial e política em Cuba que rendeu um álbum ao vivo.
Já em 2006, foi lançado o terceiro – e último – álbum da banda, Revelations que teve uma repercussão um tanto quanto morna. No ano seguinte, com o anúncio de uma reunião do Rage Against the Machine durante o Festival Coachella de 2007. e com Chris Cornell anunciando sua saída da banda, alegando “diferenças irreconciliáveis“, o Audioslave chegou ao seu fim. Mas, todavia, antes de vir a falecer, Cornell se reconciliou com seus camaradas e fizeram um show festivo.
Stone Temple Pilots & Chester Bennington
Essa é uma das preferidas, Chester Bennington, o versátil e carismático vocalista do Linkin Park já assumiu os vocais de outra gigante banda, o Stone Temple Pilots. Tudo bem que não chega a ser um período muito lembrado por público em geral já que foi breve, mas ainda assim, é marcante e bem festejado pelos fãs do grunge. Até mesmo para os devotos de Scott Weiland, vocal original do STP e uma das figuras mais imponentes quando se trata de falar sobre frontmans, segunda banda: “dotado além das palavras”.
As bandas chegaram a fazer turnês em conjunto, mas Bennington assumiu o papel de “seu maior ídolo” só em 22 de maio 2013 após uma tumultuada separação de Weiland com o STP – na que seria a segunda e última do vocalista, já que este veio a falecer em 2015 – da qual Bennington não quis se envolver. O substituto encarou com naturalidade o posto e os fãs conseguiram conferir isso já no primeiro show, que ocorreu no palco do Weenie Roast da KROQ. O setlist incluía canções originais do Stone Temple Pilots, bem como o primeiro single feito em conjunto chamado Out of Time que se tornou um esmagamento instantâneo nas paradas, subindo todo o caminho percorrido para o nº 1 no ranking da Billboard.
Essa formação com o vocalista do Linkin Park rendeu não só uma sobrevida ao STP mas o crescimento exponencial de sua rede de fãs. O guitarrista Dean DeLeo disse sobre a adição de Bennington ao grupo: “Isso ocorreu muito harmoniosamente. Foi uma união realmente natural”. Dean, seu irmão Robert (baixo) e o baterista Eric Kretz ao lado de Bennington fizeram o ep High Rise que teve a música Black Heart que foi outro hit além de Out Of Time, e seguiram em turnês até 2015 quando amigavelmente os quatro decidiram acabar a parceria por dificuldade de conciliar as agendas com a banda primária.
Os últimos anos foram uma experiência incrível. Criei e toquei com uma das maiores bandas de rock da nossa geração, que teve tanta influência no meu crescimento. Por cota de quantidade de tempo que o STP demanda, e estando no Linkin Park, além das necessidades da minha família, alguma dessas instâncias sempre parecem estar insuficientes. Ao entrar nisso, nós quatro… Robert, Eric, Dean e eu sabíamos o que estávamos fazendo. Decidimos devido à sinceridade aos amigos, fãs e ao legado do STP que isso precisaria de mais tempo do que eu estava tendo. E, sendo justo com meus amigos do Linkin Park, bem como a mim mesmo e à minha família, focarei unicamente no Linkin Park, para poder contribuir 100%.
Chester Bennington em 2015
Chester Bennington continuou com sucesso no legado da banda ao fazer participações esporádicas com o grupo nos anos seguintes, e continuou a compartilhar o seu amor mútuo e apreciação pela música da banda grunge. 1 mês após a sua saída do grupo o vocalista Scott Weilland foi encontrado morto por overdose acidental de álcool, pílulas e cocaína em seu ônibus de turnê em Minnesota. Dois anos depois de sua saída Chester Bennington cometeu suicídio em 20 de julho de 2017, no que seria o 53º aniversário de Chris Cornell (amigo de longa data), devido a um processo de depressão.
Apesar das duras perdas a banda seguiu e após uma audição online para um novo vocalista iniciada em fevereiro de 2016 que durou mais de um ano, encontraram o elo que faltava através da voz de Jeff Gunt conhecido por ter ficado em segundo lugar no reality X Factor em novembro de 2017. Com a nova formação lançaram dois álbuns, o auto intitulado Stone Temple Pilots de 2018 e o bem sentimental chamado Perdida em 2020. Eles fizeram turnês por todo o mundo desde então com o novo vocalista sendo bem aceito pelos fãs por ter um timbre e aparência semelhante a de Weiland.
Queen + Paul Rodgers & Queen + Adam Lambert
Após a morte de Freddie Mercury no início dos anos 90 muita coisa mudou. Foi uma verdadeira porrada e se há uma banda que realmente sentiu a perda de um membro foi o Queen. Nem mesmo Led Zeppelin com Bonham causou uma comoção e efeito com circunstancial tão abalável. Em sua memória foi feito o concerto The Freddie Mercury Tribute Concert for AIDS realizado na Segunda-feira de Páscoa , 20 de abril de 1992, no Estádio de Wembley em Londres , Reino Unido, para uma audiência de 72.000 pessoas, com um programa sendo dirigido por David Mallet e transmitido ao vivo na televisão e no rádio para 76 países ao redor do mundo, com uma audiência de até um bilhão.
Neste evento foram chamados ícones da música amigos de Mercury e bandas da nova geração para executar o catálogo do Queen. Dentre os convidados estava George Michael que cantou Somebody To Love e These Are The Days Of Our Lives e que após sua excelente performance para esses sons muitos achavam que seria a escolha natural para assumir os vocais do Queen com honra ao mérito.
Entretanto, isso nunca ocorreu. Ao contrário disso, Brian May e Roger Taylor que seguiram com o legado sem John Deacon que resolveu largar a música, trouxeram Paul Rodgers (ex-Free, ex-Bad Company, ex-The Firm) uma figura mitológica do rock que nem esteve no tributo, mas que foi uma das – se não a principal – referência para Freddie Mercury como vocalista. Realmente, nos anos setenta só dava três nomes nas listas de melhores vocais, Rod Stewart, Roger Daltrey e Rodgers. Eles se uniram em 2004 após isso, o próprio May convidar Paul Rodgers para uma performance com o Queen na sua indicação ao UK Music Hall of Fame, onde eles tocaram We Will Rock You, We Are The Champions (ambas do Queen) e All Right Now (do Free). Algo forte nasceu a partir dali e logo depois, os três anunciaram a sua turnê mundial em 2005.
Desta formação que contou ainda com o baixista Danny Miranda, o guitarrista Jamie Moses e Spike Edney nos teclados shows festivos que tornaram ao mesmo tempo o Queen mais pesado indo para o caminho do Hard Rock e um Paul Rodgers mais pop por cantar faixas como Radio Gaga e I Want You Break Free. O repertório deles se conversar também foi um grande êxito dessa união de gigantes, Wishing Well, Feel Like Making Love, Can’t Get Enough e All Right Now de Rodgers encaixam perfeitamente em um set que tem 39, Fat Bottomed Girl, I Want It All, I’m in Love with My Car e Tie Your Mother Down do Queen. A parceria não ficou só nas turnês, eles lançaram o álbum Cosmos Rock que pesar de não trazer nada de muito interessante, pelo menos trouxe o hit Say It’s Not True que ficou conhecido como um hino para a prevenção contra a AIDS.
Chegado o ano de 2009 Paul Rodgers viu a oportunidade de reativar o Bad Company e amigavelmente deixou o posto de forntman do Queen. Após essa quebra na rotina, Brian e Roger não tiveram que esperar muito tempo para conseguir um substituto a altura, agora não só de Mercury mas também de Rodgers. Ainda em 2009, tentos a um certo reality show americano que estava na sua oitava temporada, se depararam com um talento estrondoso chamado Adam Lambert, com quem tiveram a sorte de tocar junto n final do programa o clássico mais icônico do Queen, We Are The Champions.
Pós esse momento antológico para carreira do cantor, o Queen conseguiu enfim alguém capaz de suprir a falta de Freddie Mercury com teatralidade e potência vocal para uma parceria que segue frme e forte até os dias atuais com turnês lotadas, com os fãs do Queen sem torcer muito o nariz para o rapaz que traz de volta a vida, com claro tesão, durante as turnês, músicas como Killer Queen, Don’t Stop Me Now, Somebody To Love, Play the game, Save Me e até Stone Cold Crazy.
Ambos os vocalistas que substituíram Freddie Mercury tiveram seu prestígio em suas passagens, mas certamente Paul Rodgers parecia mais como um convidado especial e que roubava um pouco pra si os holofotes e parte do setlist. Já Adam Lambert é respeitosamente um integrante do Queen que faz ressoar o nome da banda, mesmo que colocando uma música ou outra sua discretamente no repertório, não deixa seu estilo pop sobressair frente ao seu papel na banda. Certamente, enquanto os velhinhos aguentarem, poderão ter a segurança que o frontman escolhido é capaz de reger multidões com bastante originalidade e sem peso ou fardo com a coroação do legado. Enfim, God Save The Queen.
AC/DC & Axl Rose
Para finalizar, essa parceria aqui foi feita para o AC/DC concluir apenas uma turnê, mas foi bem marcante por trazer um aspecto importante que conduz essas uniões que é a devoção e o respeito de fã que normalmente o artista convidado tem para a banda que o convidou.
2016 foi um período Sabático com novas tragédias na história do AC/DC, o baterista Phil Rudd estava preso teve sua vaga ocupada por Chris Slade, houve uma piora na doença de Malcolm Young que o tirou da turnê sendo substituído por seu sobrinho Stevie Young e ainda teve o afastamento conturbado de Brian Johnson por este ter a possibilidade de estar desenvolvendo um processo irreversível de surdez devido aos altos decibéis que a banda produzia, isso tudo quase fez com que a banda cancelasse sua tour Rock Or Bust.
Ficando o poder da decisão para Angus Young e o baixista Cliff Willians visando que faltavam apenas 23 shows para concluir a turnê – dez nos Estados Unidos e 13 na Europa -, os músicos optaram por seguir em frente, cumprindo as datas, para evitar disputas jurídicas em torno de cancelamentos. Foi sugerido a eles convidar um vocalista para o lugar de Johnson, mas quem teria culhões para ficar de frontman do AC/DC?
Alguns nomes foram cogitados, até Lee Robinson, de uma banda-tributo chamada Thunderstruck. Mas no fim das contas, após uma insistência do próprio de que daria conta a banda efetivou e Axl Rose, a voz do Guns N’ Roses seria o substituto de Johnson para o restante da tour. Nos ensaios ele não despertou tanta segurança para Angus, mas o esforço que ele fez para que a banda fosse convencida cativaram o guitarrista da roupa de estudante.
Para o primeiro show com a nova formação feito em Lisboa, parecia que tudo daria errado, Axl havia sofrido uma lesão no pé e teria que cantar sentado, o dia estava chuvoso e cheio de percalços, mas no fim deu tudo certo assim como no restante da tour com Axl que por sinal foi responsável por uma mudança nos sets, a banda trouxe de volta a tona músicas da fase Bon Scott (a preferida de Rose), então era normal no set pintar uma Rock ‘n’ Roll Damnation, Riff Raff, Live Wire, If You Want Blood (You’ve Got It), Touch Too Much e Dog Eat Dog. Recebendo a gratidão de Angus, por fazer tudo tão divertido. Mas após a tour e um Brian Johnson 100% recuperado cada um seguiu seu caminho com suas determinadas bandas, com o guitarrista de vez em quando dando uma palhinha nos shows da banda de Rose, que contava com a volta de Slash e Duff McKagan.
À Total Guitar, Angus Young confidenciou que nunca pensou em seguir com Axl Rose no AC/DC. O motivo? Ele já tem bastante trabalho com o Guns N’ Roses.Ou seja, quem viu, viu. Esse encontro pode ter sido único, mas por mais que nem todos gostem, a maior parte dos shows seguiram lotados e foi mega válido, o showbis agradeceu.
Essa ideia nunca surgiu. Axl foi muito generoso e nos ajudou a terminar a turnê em uma posição difícil. Ele entrou em contato e disse que poderia ajudar se não interferisse nos compromissos dele. Ele quis aparecer para tentar algumas músicas que ele curtia. Sugeriu músicas que eu não tocava há um bom tempo. Sou muito grato por ele ter se oferecido e nos ajudado, mas ele tinha sua própria vida.