Review: John Mayer – Sob Rock

Por Roani Rock

Esse disco bate forte em uma sonoridade nostálgica, um AOR ou um soft rock, rotulações não importam aqui, John Mayer conseguiu deixar explícita sua proposta e casou com toda sua capacidade pop, sem soar ultrapassado mesmo sem inovar em nada. Ele possui esse dom de navegar contra a maré de forma calma, até mesmo em tempestades. Com toda onda hard setentista ressurgindo com as bandas mais recentes, é justo um cara como Mayer trazer um pouco de 80’s

Roani Rock

Confira mais Rock em 2021:
Social Disorder – Love 2 Be Hated
Myles Kennedy – The Ides Of March
Royal Blood – Typhoons
Dirty Honey – Dirty Honey
Greta Van Fleet – The Battle At Gardens Gate
Cheap Trick – In Another World

Gravadora: Columbia Records
Data de lançamento: 16/07/2021

Gênero: AOR/Soft Rock/Pop Rock
País: Estados Unidos


John Mayer enfim lançou seu oitavo álbum de estúdio, o intitulado Sob Rock, o primeiro em quatro anos. O álbum anterior tinha uma sonoridade bem moderna que na maior parte das canções podia ser sentida as formulas do soft rock atual com um pouco de indie dance, mas o novo trabalho vai na contramão com uma estética oitentista de saudosismo poderoso. Mas não é pra se assustar, não estamos falando de um artista aventureiro atirando para todos os lados aqui. Muito pelo contrário, o cara tem uma rodagem e uma vivencia de música que possibilita ele colocar sua marca em qualquer estilo, a timbragem da voz e da guitarra são sempre identificáveis, mesmo quando são sutis.

Aprendi com o seu álbum anterior, o The Search for Everything, que John Mayer faz em termos de conceito e exploração sonora algo mais rebuscado e profundo, bem técnico, o que termina por nunca ser por acaso, ele estuda a direção que o mundo da música toma, vê se a onda que ele quer dropar será viável em termos de mercado e entra de cabeça. Então tem certas coisas que só se capta nos por menores, então quando você se depara com um álbum como o Sob Rock, não basta só rotular ou simplificar com um “é isso ai e pronto“. Tem as variáveis, mas como é “O Cara” da música pop atual, não há danos e nem é necessária uma contenção de danos.

Para você ter uma ideia em palavras, quando perguntado sobre essa aventura de resgate ao AOR dos 80’s, o músico deu uma declaração para a Apple Music que abriu horizontes, que me induziu a uma forte reflexão, que me fez voltar a ela por diversas vezes enquanto escrevia esta crítica. Ele diz o seguinte:

A ideia de Sob Rock é implantar memórias falsas no seu cérebro, porque foi isso que ele fez por mim. É meio Black Mirror. Você não consegue encontrá-lo… É possível ter memórias de algo que não aconteceu com você?

Essa indagação que ele faz na fala me perseguiu enquanto ouvia suas majoritárias baladas presentes no álbum. Para entrar no clima, antes da minha segunda dose do álbum, assisti ao filme Top Gun, e como isso funcionou positivamente para a analise! Enquanto escrevo ao som de Shot In The Dark passa na minha mente várias obras que foram cruciais para tornar este estilo de rock popular e uma falsa vivência dessa época: Karatê Kid, Flashdance, Dirty Dancing, Footlose, Goonies, De Volta Pro Futuro, Clube dos Cinco… e até, porque não, Stranger Things.

Mas não se restringe a filmes, a estética da década considerada “perdida” (e coloca aspas nisso) por muitos estudiosos do rock hoje é mais do que celebrada, como virou uma celebração temática de festas ploc e concertos, tem a cada nova movimentação do tempo maior relevância o que rolou nessa década, vem sendo rebuscada por músicos agora com muito mais força, o movimento indie por exemplo adora os 80’s. Mayer soube usar isso a seu favor, sempre atento trouxe a estética até para os clipes.

As referências de Mayer estão escancaradas na sonoridade de várias bandas, das quais certamente pegou algo emprestado, a começar por uma bem óbvia. Devido a sua incursão na banda de Bob Weir (guitarrista), a Dead & Company, formada junto com ex companheiros de Greatful Dead, o baterista e o percussionista Mickey HartBill Kreutzmann respectivamente, Mayer pegou bastante do feeling e das nuances que estudou para tocar as partes de guitarra do lendário e saudoso Jerry Garcia. Nota-se que desde que entrou nesse projeto ele evoluiu muito como guitarrista e compositor, principalmente em faixas como I Guess I Just Feel Like, Wild Blue e principalmente em Till The Right One Comes.

A parte oitentista que configura mais expressivamente o caráter do álbum, fica exposta de forma bem explicita graças a presença dos teclados e sintetizadores, a marca registrada das principais baladas pop dessa época por sinal. Para usarmos bandas como referência, temos de bate e pronto um exemplo muito escrachado que é o Toto na faixa Last Train Running, só faltava Mayer emendar o refrão de Africa no final. A fofa New Light poderia ser tranquilamente uma faixa do A-HA, Why You Know Love Me poderia ter sido composta pelo do Eagles na fase menos country. Já Carry Me Away soa como uma música post punk, meio Men At Work com pitadas de Phil Colins.

Não é como se ele tivesse começado a explorar essa sonoridade só agora, no disco Battle Studies ele lançou a fantástica Heartbreak Warfare, arrisco a dizer que os discos até se assemelham guardadas as devidas proporções. Mas alguns dos fraseados de guitarra presentes em Sob Rock são ainda mais inspirados, me levaram por exemplo até seu xará guitarrista John Oates da dupla Hall & Oates, ao brasileiro Heitor Pereira que tocou com o Simply Red e o conceito das melodias até a Stevie Winwood que é um bom exemplo de artista que surgiu em outra década – fim dos 60 início dos 70 – e que conseguiu nos 80, em sua carreira solo, uma notoriedade e adaptação merecidamente popular. Por fim, a música All I Want is to Be With You soa com seu clima western a Chris Isaak e o hit temporal Wicked Game.

Enfim, a soma de todos esses fatores gerou um produto bem agradável que certamente fez Mayer se divertir bastante no processo. As faixas são bem fluídas e é um dos trabalhos em que o guitarrista não optou por fazer um cover, a primeira vez que não teve uma versão sua para o sucesso de outro artista foi no antecessor de 2017. Para o que é proposto o álbum funciona bem, acho que até alcança o meu top 5 de suas obras. Minha única crítica é que as músicas por terem o mesmo clima e pouca variação de andamento e batida se assemelham muito, coisa que ele nos trabalhos anteriores soube fazer melhor, faltou um som mais animado que Last Train Running também.

Nota final: 8/10

Deixe uma resposta