Review: Lô Borges – Muito Além Do Fim

por Roani Rock

Um disco bem preciso e pulsante, trazendo esclarecimento em palavras cantadas com grandeza por Lô em 10 faixas. Novas safras de canções de rock mineiro são sempre bem vindas, principalmente se chegam através dos contemporâneos, como é o caso desse álbum dos irmãos Borges

Roani Rock

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Gravadora: Deck
Data de lançamento: 05/03/2021

Gênero: Rock
País: Brasil


Em um ano em que está tão confuso quanto o anterior para os brasileiros, eis que chega a excelente notícia que uma das maiores lendas do rock mineiro vai lançar um disco completo de músicas inéditas. Como se a surpresa do lançamento já não fosse suficientemente agradável, a informação veio com um combo, se uniu a seu irmão Márcio para reatar uma parceria de sucesso começada no disco mais emblemático da carreira de ambos, O Clube da Esquina. Nele há as músicas Um Girassol da Cor de Seu Cabelo, Tudo Que Você Podia Ser, Trem de Doido e anos depois, em 2002 teve o registro composto junto, a masterpiece Quem Sabe Isso Quer Dizer Amor. Já se passaram 9 anos desde então – as últimas músicas inéditas dos irmãos parceiros, Antes do sol e Quem Me chama são do álbum Horizonte Vertical (2011) – e só de enumerar esses nomes de músicas já se garante uma excitação para escutar o novo disco.

Os irmãos Borges que hoje em dia são celebrados também por conta da citação de Alex Turner do Arctic Monkeys como uma influência, nunca esconderam a importância dos Beatles em seu trabalho e em Muito Além Do Fim esse ponto de referência segue intacto assim como uma visão de sertão/rural/cotidiano por conta de Márcio nas letras. Já por parte de Lô fica o fator do álbum todo ter uma presença forte de guitarras. “Fiz questão de dar esse grito nesse momento” como disse o músico em nota da gravadora. Todos esses fatores são perceptíveis na faixa Muito Querida, uma das melhores do álbum e em Vida Ribeirão, outro petardo em termos de melodia e letra.

Com dez canções, o disco foi gravado por Lô Borges com os músicos Henrique Matheus (guitarra), Robinson Matos (bateria) e Thiago Corrêa (contrabaixo, teclados e percussão). A propósito, Henrique Matheus e Thiago Corrêa assinam com Lô a produção musical do álbum Muito Além Do Fim. No álbum tem a contribuição de Paulinho Moska, que além de participar da faixa título com a composição e canto, ele fez também um release que inspirou muito essa crítica. No texto de celebração ao álbum, Moska fala que os irmãos “mineirogerais” são a “quina do Clube da Esquina” o que me deixou muito reflexivo analisando que eles foram os principais responsáveis por trazer o Rock britânico para a cultura musical de Milton Nascimento e outros integrantes do clube.

Na discografia de Lô Borges, o álbum Muito além do fim sucede Dínamo (2020), irregular álbum centrado na parceria do artista mineiro com o compositor e poeta piauiense Makely Ka. Diferente deste, aqui Lô parece ter se reencontrado e mais centrado até ao trazer além de seu canto suave e jovial – com a ajuda do irmão – letras pertinentes e de uma construção bem estruturada. Vide a balada Rainha que está em um compasso binário composto (6/8) em ritmo acelerado, certamente a mais trabalhosa e que necessita de maior percepção.

O disco todo cheira e soa como Minas Gerais, é um perfume que traz vida, mundo, tempo, afetos, viagem e delírios. Os irmãos Borges são tudo que poderiam ser em Canções de Primavera, uma balada Pop bem aos moldes do que já compuseram com maestria no passado. Sua letra é um alento ao coração.

Só amor eu ponho em meu canto / Não tenho bem mais precioso / Para quem quer sair da ignorância / O que eu canto é poderoso / Vou derramando versos livres / A liberdade é meu plano / Eu sigo livre e cantando”

Lô Borges, uma biografia…

O disco tem sua carga de responsabilidade política apesar de suavizada em certos cantos e bem crítica em outras. No caso de Caos, uma canção de amor a letra vislumbra esperança em versos como “Vento soprou de lá/E convidou nós dois/Para plantarmos luz/Dentro da escuridão do caos/Não quer dizer que foi determinado assim/Sempre podemos escrever um outro fim”. Já em Terra de Gado arada em 1999, mas até então nunca lançada oficialmente em um disco, há uma ambientação bem focada no presente, é ser duro sem perder a ternura, perceptível nos versos  “Que mágica tudo é gado/Terra boa de ser ninguém/Que mágica tudo é gado/Terra boa de ser/Ou vai morrer nessa praia/E achar que tá tudo bem“.

Necessário por em analise que Melhor Assim e Copo Cheio mesmo sendo as que impõem menos força, tem sua importância e é sintomático em contra partida que o disco se encerre com Piano Cigano, tema composto por Lô ao piano em 1978 e letrada por Marcio Borges em 2020, uma canção bem forte. A pandemia fez com que eles tivessem que preparar nove das dez canções a distância, mesmo assim, de certa forma, bem mais próximos em um clima nostálgico, possibilitando um tema desse, que vai numa linha mais prog completar esse momento que sem exageros pode ser considerado histórico.

nota final: 9/10

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