Review: AC/DC – PWRUP

Por Roani Rock

Muitas pessoas se confundem com o AC/DC achando que a previsibilidade os tornam datados, mas as vezes não se trata do som ou da letra cantada, as situações da vida tornam o novo álbum destes australianos necessário. PWRUP era o que estávamos precisando: eu, você, Brian Johnson, Cliff Williams, Phill Rudd, Stevie e principalmente Angus Young.

Roani Rock

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Gravadora: Columbia/Sony Music
Data de lançamento: 13/11/2020

Gênero: Rock N’ Roll/ Hard Rock
País: Austrália

Estamos perto do fim do ano mais sabático da sociedade moderna, mas para o AC/DC o terreno hostil e castigado, cercado por trevas começou em 2014, quando o baterista Phill Rudd foi condenado a pagar mais de $ 70.000 a três ex-funcionários de seu restaurante por demissão sem justa causa. Em seguida foi preso e acusado de tentativa de assassinato/ameaça de morte, além de porte de metanfetamina e de cannabis, em consequência de uma operação policial em sua casa. A banda seguiu adiante e lançou o pesado Rock Or Bust com o batera Chris Slade – que já tinha tocado com a banda anteriormente. Entretanto, o disco não pôde contar com o fundador e guitarrista base Malcolm Young devido a um quadro avançado de demência. Ele foi substituído por seu sobrinho Stevie na turnê além deste ter tido de apoiar na criação das músicas de seu tio.

Apesar de estar tudo em família e Angus passar um ar de segurança assumindo a liderança, mais problemas estavam por vir e a maré de azar estava longe de se distanciar. Chegado o ano de 2016, Brian Johnson teve que se afastar devido restrições médicas que informaram que o mesmo corria o risco de surdez total caso continuasse recebendo os efeitos dos shows. A banda sessou a turnê de forma amargurada e com plena mágoa do vocalista. Para cumprir o contrato e terminar a Rock or Bust World Tour a banda se viu tendo que buscar um novo vocalista só que tinha de ser uma substituição exclusiva para aquela situação. Com a demanda de tempo, a solução até que veio através de um ilustre fã da banda, W.Axl Rose, o vocalista do Guns N’ Roses. Ele suplicou para ser o frontman da banda e o fez de uma forma avassaladora que agradou Angus – claro, não de primeira. Os shows foram feitos e muitos acharam que Axl seria efetivado, entretanto, o próprio Axl sabia que não era pra ser, apesar de a amizade e irmandade ter ficado, ele cumpriu seu papel de apoiar seus ídolos.

Apesar de ser festejada, a presença de Axl nos vocais da banda foi mais um feito decisivo para o AC/DC só que de uma maneira negativa, porque ela trouxe desconforto para Cliff Williams que alegou estar se aposentando dos palcos. Apesar de não ter nada contra o vocalista do Guns N’ Roses, o baixista estava incomodado de ver tantas mudanças para uma banda que durante quatro décadas tinham uma formação irretocável até então. Ele pediu para sair e a banda teve que de novo se remendar, até que Angus anunciou em 2017 que fariam uma pausa sem previsão de retorno unido ao fato de seu irmão Malcolm ter falecido.

A pausa foi importante e finalmente podemos terminar esta retrospectiva de alta voltagem para falar do retorno da banda com sua formação clássica. Sim, todos resolveram suas questões particulares: apesar de uma parcela da sociedade marginalizar Phil Rudd, ele voltou pras baquetas; Brian, recuperado graças as férias forçadas, volta a grunhir e gritar nos vocais; um Cliff Williams satisfeito volta ao baixo; e tio e sobrinho Young voltam a empunhar as guitarras para acrescentar os mesmos velhos riffs em recentes canções.

PWRUP, segundo os membros do AC/DC, é um álbum dedicado em homenagem a Malcom Young. As músicas foram inspiradas no eterno guitarra base e certamente eles compuseram os sons imaginando como o guitarrista tocaria. Interessante que assim como todo o trabalho da banda, o novo álbum que representa um retorno triunfal é igual, mas diferente. Esse se difere da volta da banda nos anos 80 que representa a estreia de Brian Johnson para o lugar do vocalista Bon Scott que havia morrido. Back In Black foi um disco de tributo ao vocalista original, trazendo Brian e a potência de sua voz como novidade e a banda tava no auge – então o impacto é imediato. Só que no álbum lançado hoje, o que tem de novo é a volta cambaleada dos caras só que sem o Malcon que é um dos alicerces, tendo agora Stevie no lugar – que não deve em nada para o tio em termos técnicos, mas talvez só a questão emocional de sua adição peque. Ainda colocando a questão de que não é o primeiro álbum que Stevie grava no lugar do tio, o que tira o imediatismo e a curiosidade.

PWRUP é bem único e impressiona, mas se tirasse todos os fatores que tornaram esse álbum realidade seria só mais um potente e bem direto álbum do AC/DC (ouvi um amém?) como qualquer outro pós Back In Black ou The Razors Edge que tem o hit atemporal e diferenciado Thunderstruck. As músicas são estimulante e divertidas. Não há um clima fúnebre ou de velório, eles usaram a filosofia de sempre: sexo, álcool, bar, brigas e rock ‘and’ roll. As quatro primeiras músicas Realize, Rejection, Through The Mistis Of Time e principalmente o single Shot In The Dark são pura potência e celebração transmitindo o recado que o AC/DC voltou.

Você tem uma longa noite chegando
E uma longa noite bombando
Você tem a posição certa
O calor da transmissão

Trecho de Shot In The Dark

Engraçado que o riff de Rejection é similar ao da música I Can See A Liar do Oasis, certamente algo incidental. Já Through The Mistis Of Time é a mistura das músicas Money Talks de 1991 com Anything Goes do álbum Black Ice de 2008. A música mais diferente deste novo trabalho é Kick You When You’re Down com um início esquisito para o que a banda traz de riffs ordinários. A música quando passa da introdução dá aquele impacto dançante que só o Angus e seus comparsas originais conseguem proporcionar. A batera de Phil Rudd inegavelmente é necessária, ninguém consegue trazer esse balanço além dele.

PWR é uma abreviação para “power“, e o UP… bem, nem precisa de explicações. O álbum segue a risca o que foi Rock Or Bust, um álbum que mantém uma linha sem “rocks” muito lentos e com todos os clichês que a banda moldou durante os anos. A segunda leva de canções é tão agressiva e poderosa quanto as cinco primeiras faixas. Witch Spell é aquela música mais leve que serve para preparar território para Demon Fire que é uma tempestade inspiradora de Angus – tem os melhores riffs do álbum possivelmente.

Wild Reputation e No Man’s Land dão aquela acalmada nos ânimos numa levada mais blues. Por fim, o álbum tem nas duas últimas faixas aquela calibrada da saidera misturado com o agora popular “nunca mais vou dormir“, Money Shot é aquela homenagem ao dinheiro que não pode faltar e Code Red finaliza com honra ao mérito o décimo sétimo álbum de estúdio da band. Essa última também traz um diferencial, ela traz a presença do rapper em Brian que encontramos em Back In Black, cai fácil entre as melhores e favoritas devido ao seu peso e performance do vocalista.

Hoje em dia se tem a tendência de usar a expressão “envelheceu mal” para dizer que algo se perdeu, seja pela mudança comportamental do seu público ou a renovação vinda através dos jovens que tem outras formas de interpretar o mundo. Só que se alguém usar isso com essa banda Australiana vai ter um problema enorme pra solucionar com argumentos válidos, simplesmente porque o AC/DC não envelhece e quanto mais o tempo passa, eles ficam mais preciosos e necessários. Basta ouvir a faixa Systems Down pra entender.

Nota Final: 9/10

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