Review: Declan McKenna – Zeros

por Roani Rock

Se o universo Indie estava precisando de alguém criativo que beirasse uma genialidade rítmica com deslumbres de David Bowie, olha que grata surpresa! Declan McKenna veio para ocupar essa lacuna, cheio de carisma e boas canções.

Roani Rock

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Gravadora: Tomplicated Inc.
Lançamento: 4/09/2020

Gênero: Glam Rock/Indie
País: Inglaterra

Declan McKlenna é um garoto de 21 anos que sabe aproveitar a melhor fase de um músico em ascensão. Não tinha tanta pressão, mas baseado no primeiro trabalho What Do You Think About the Car?, de 2017, o novo álbum tinha que ser algo grandioso e foi uma boa surpresa. Tudo bem se o primeirão não chegou até você, vai por mim, é um álbum fraco que parece perdido até no estilo – não dá pra saber se ele queria ser indie ou se ia para o lado da eletrônica. Já no caso de Zeros, lançado em 4 de setembro, há uma evolução gradual e parece que o jovem se encontrou.

Um setlist coeso de canções com início, meio e fim bem definidos que se ligam em uma narrativa no espaço sideral. Com uma cravada bem dada no Glam Rock, Declan se apresenta falando sobre temas imprescindíveis, como políticas de preservação ambiental, capitalismo e sociedade. O disco parece uma ópera rock de ficção científica, com o personagem central sendo quase uma alusão ao Major Tom de Space Oddity de Bowie.

Esse álbum, por sinal, exala a Bowie de cabo a rabo. A faixa Beautiful Faces e a Twice Your Size, dois grandes momentos do álbum, por exemplo, tem um sintetizador que é a cara da atemporal Ashes To Ashes. Mas não é só isso, a interpretação de sociedade feita pelo rapaz, alinhada a devaneios psicodélicos nas suas metáforas, como na faixa Daniel, You’re Still A Child’, são muito Bowie, apesar de talvez esta soar como uma das melhores músicas nunca escritas por Bono Vox para o U2. Mas essas referências são até sutis, o garoto tenta ao máximo dar sua personalidade trazendo os termos para a atualidade, falando até em envios de tweets e outros meios de comunicação social.

A faixa de abertura é um excelente cartão de visitas ou introdução a obra, e por sinal foi ela que me fez conhecer o trabalho de Declan. Quando escutei a faixa, foi “amor à primeira ouvida“. Nela, ocorre a transição: enquanto o título do primeiro álbum pergunta sobre o carro, em um trecho dessa música o cantor e multi-instrumentista manda “O que você acha do foguete que eu construí?”. Algo engraçado de se reparar, mas condizente, é uma nova proposta e uma evolução que compara um carro comum contra um foguete, capaz de te levar pro espaço. A faixa tem maior pressão no refrão e é uma bela balada pop ao estilo invasão britânica dos 60’s e meio britpop anos 90, certamente um rock inglês. Com berrinhos e uivos numa letra galática, alá Marc Bolan do T- Rex.

Sagittarius A * é a canção de maior força contestadora. Ela cria uma condenação aos empresários industriais por seus delírios de escapar da emergência climática colonizando Marte: “Você acha que o seu dinheiro vai impedi-lo de se molhar?  Noah, é melhor você começar a construir. ” Existe uma sutileza ludita que se curvou às demandas políticas de Zeros , que são triplas: Desconecte seu telefone, queime seu dinheiro e comece sua caminhada para o leste em direção ao sol nascente.

O álbum não é perfeito, tem seus momentos vacilantes e estrutura um pouco nebulosa, mas, ainda assim, é uma explosão brilhante de um talento promissor. Não cheguei a falar da bonita e lenta Emily, nem sobre Rapture e a finalíssima Eventually, Darling, que são canções bem interessantes, cada uma na sua onda e trazendo basicamente a mesma ideia de incerteza. Declan está com muita moral e apresentou um excelente segundo álbum, trazendo essa evolução gradual e todas as músicas valem cada ouvida.

Nota final: 7/10

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