revisando clássicos: 25 anos de (what’s the story) morning glory ? do oasis

por Roani Rock

De formato novo, o revisando clássicos não vai focar só em celebrar uma data festiva de um álbum memorável que marcou não só uma época, mas também a carreira de uma banda. Agora, vamos trazer também álbuns que foram divisores de águas, que marcaram fatos importantes para a durabilidade da banda e que, circunstancialmente, fizeram o disco vender bastante.

Quanto ao formato, faremos uma “Introdução ao álbum”, com o panorama geral da situação da banda na época do lançamento, um faixa-a-faixa com curiosidades e algumas opiniões das principais revistas e sites de críticas sobre rock, como a Rolling Stone, Pitchfork, Louder Classic Rock, Ultimate Classic Rock e, aqui no Brasil, a Revista Bizz e a Popload. Os jornais de destaque também aparecerão por aqui, opiniões do Jornal Globo, Folha de São Paulo, New York Times e The Guardian são garantia. E pra finalizar, uma breve opinião nossa sobre a obra.

INTRODUÇÃO AO ÁLBUM

Completando 25 anos, o (What’s The Story) Morning Glory?, segundo álbum do Oasis, mostra como uma banda que faz um primeiro trabalho arrasa quarteirão tende a passar por um desafio, e mesmo assim, em certos casos, como o desses caras de Manchester, é fichinha. Para eles, tornou-se a constatação de que a banda tinha culhões para se tornar enorme, e foi o que aconteceu. Por conta dos seus singles e também por conta de canções que não tiveram a mesma repercussão, mas que em em versões ao vivo tiveram sua apreciação em catarse pelos chamados Mad Fer It, os fiéis fãs do Oasis, isso foi possível.

(What’s The Story) Morning Glory? é uma subida de nível: segundo o site Pitchfork,“é o pináculo absoluto”. Isso não só em termos de qualidade, visto que há também questões em termos financeiros e de estrutura, o que fez com que a banda dos irmãos Gallaghers ficasse gigante. Todavia, esse texto não é para fazer um estudo clínico do álbum, penso em explorar algumas questões, como falar sobre o maior hit da banda, que é Wonderwall, a rivalidade com o Blur no single deles, Country House, vencendo o Roll With It do Oasis e, por fim, a primeira faixa reconhecidamente cantada pelo guitarrista Noel Gallagher num trabalho de estúdio lançado, sem ser através de um single ou até como um lado b. Estou falando da atemporal Don’t Look Back In Anger, que nos tempos atuais virou uma canção de viés pacifista em passeatas contra atentados terroristas que ocorreram em Manchester. Mas vou falar também de canções poderosas como Hey Now e Hello, pouco faladas e lembradas.

FAIXA-A-FAIXA

Um faixa-a-faixa se torna conveniente, mas não seguiremos a ordem numérica, e sim a de importância, não só em termos mercadológicos. mas também para a história da banda.

Wonderwall

Podemos começar por Wonderwall, uma música pop de variação simples onde o capotraste vai para a segunda casa, aumentando a tonalidade sem a necessidade de alterar os acordes. Capo (ou capotraste) é um dispositivo usado para encurtar as cordas e, assim, tornar as notas mais agudas, em um instrumento de cordas. ao exemplo da guitarra, violão, bandolim ou banjo. O aumento da tonalidade faz o som do instrumento ficar mais agudo, e foi o que fez essa canção identificável após a primeira execução do acorde Em7 com o dedo anelar e o mindinho colocados nas cordas mi e si.

A origem do título da música vem da influência beatlemaníaca de Noel Gallagher. Ele tirou a ideia fazendo referência ao álbum da carreira solo de George Harrison para a trilha sonora do filme ‘Wonderwall Music’ – OST de 1968. Sobre seu significado, Noel foi categórico: “O significado dessa canção é sobre mim, e não pra ela (Meg Matthews, ex-esposa), como todos informaram. É uma música sobre um amigo imaginário que veio me salvar de minhas agonias internas.”  A canção originalmente foi intitulada como “Wishing Stone”, escrita em uma terça-feira chuvosa (no Rockfield Studios – País de Gales).

Não é uma música rock’n’roll. Há uma declaração bastante vulnerável a mim. Quando as pessoas vem até mim dizendo que é uma das maiores músicas já escritas, eu penso, ‘porra, você já ouviu’ Live Forever ?

Noel sobre Wonderwall

Até o momento, a música vendeu mais de 1.260 milhões cópias somente na Grã-Bretanha. Depois de seu grande sucesso inicial, subiu rapidamente para o número 2 no UK Singles Chart. Ela teve o seu clipe premiado como o melhor vídeo no Brit Awards de 1996 e foi tocada nos jogos Olímpicos de Londres em 2012 pela banda dissidente do Oasis, o Beady Eye. Wonderwall também é responsável por levar o Oasis a acusar algumas bandas de plágio, como o Travis e os americanos da banda punk Green Day. Outro fato interessante é que Noel tinha planejado cantá-la no disco, mas resolveu dá-la para o vocalista e irmão Liam, e então o guitarrista ficou com Don’t Look Back In Anger na troca.

Don’t Look Back In Anger

Em um DVD especial, chamado Lock The Box, que fazia parte de uma edição limitada do álbum Stop The Clocks, os irmãos contam o nascimento da canção. Eles estavam em um quarto de hotel em Paris um dia antes do primeiro show que fariam em uma arena. Noel estava fazendo a passagem de som e tocando os primeiros acordes de Don’t Look Back in Anger, e Liam perguntou: “Você está cantando ‘So Sally can wait’?” Noel responde que não. Liam retruca: “Pois, então, você deveria”.

Don’t Look Back In Anger, de acordo com o setlist.fm, foi tocada 552 vezes ao vivo. Tem referência direta à música Imagine, do John Lennon, com o piano tocado na introdução. Esse fato é interessante porque, assim como Imagine, Don’t Look Back In Anger recebeu uma conotação de “música para se cantar almejando a paz”. Isso começou em maio de 2017, quando a música havia sido cantada espontaneamente por uma multidão, em homenagem aos 22 mortos e 59 feridos na tragédia do atentado terrorista que fez vítimas no exterior da Manchester Arena após um show da cantora pop norte-americana Ariana Grande. Essa artista fez um mega evento que contou com a presença de Liam Gallagher e teve a música executada pelo Coldplay. Noel não participou, mas doou os direitos autorais para as famílias.

Hello

Sobre a cópia dos versos “Hello, hello, it’s good to be back!” na canção Hello (originalmente citada em Hello, Hello, I’m Back Again de Gary Glitter), Noel declara: “sempre prometi a mim mesmo que mudaria um pouco, mas não encaixaria de qualquer jeito. Então no fim falei ‘fuck it’. Deve ser parte da música pelo fato de não conseguir me livrar disso.”

Hey Now!

Um fato interessante sobre essa pedrada é que ela é a única do disco que nunca foi executada ao vivo pela banda ou por qualquer um dos irmãos em suas carreiras solo. O que é um pecado, já que ela é a faixa mais diferente do (What’s The Story) Morning Glory. Tem sua distorção e peso e é um dos desempenhos vocais do Liam que mais tiram o folego, quão impressionante é. Não chega a ser um blues, mas é bem ‘retona‘, tendo uma variação no refrão – uma típica canção dos anos 90 – e os riffs em slide são a cereja no bolo.

Some Mighty Say

Esse rock divertido foi o primeiro single do disco e a primeira música do Oasis a alcançar  #1 posição no UK Singles Chart, permanecendo 27 semanas nas paradas do Reino Unido. Se isso não for o suficiente para te fazer amá-la, sua letra desconexa é muito interessante, eles a tocavam na turnê do Definitely Maybe e, por conta disso, deve ter caído mais facilmente no gosto dos fãs. Sua demo foi gravada em junho / julho de 1994 nos estúdios Maison Rouge em Fulham e a versão do álbum foi feita em fevereiro de 1995 no Loco Studios, sul do País de Gales. Em uma entrevista para a Q Magazine em 2011, Owen Morris (produtor do álbum) lembrou que mixar a música foi ‘um pesadelo’ devido a problemas com a faixa de fundo, que ele tentou esconder acumulando atrasos e efeitos na mixagem final. 10 em cada 10 fãs do Oasis pulam ensandecidamente quando essa pérola é tocada ao vivo e ela voltou a aparecer nos setlists na carreira solo de Liam Gallagher, quando ganhou uma versão para seu acústico MTV que. mesmo ao violão, em formato mais clean, fez os fãs Irlandeses pularem.

Cast No Shadown

Uma das músicas mais profundas do catálogo de Noel Gallagher. Ele escreveu a faixa inspirado no vocalista do The Verve, Richard Ashcroft . O guitarrista explicou à revista Select :

Ele sempre me pareceu não estar muito feliz com o que estava acontecendo ao seu redor, quase se esforçando demais. É por isso que diz: ‘Ele estava preso com o peso de todas as palavras que tentava dizer . ‘ Eu sempre achei que ele nasceu no lugar errado e estava sempre tentando dizer as coisas certas, mas elas saíam erradas. Toquei a música para ele e ele quase começou a chorar. Eu estava tipo, ‘Vamos, controle-se, filho! Calma agora!’ De certa forma, é sobre todos os meus amigos que estavam em grupos. Estamos presos ao peso de todas as palavras que temos a dizer. Estamos sempre procurando mais.”

Roll With It

Ai está o single que perdeu para o Blur, uma das canções mais agitadas do Oasis. Esta semana, em meio à comemoração dos 25 anos, recebeu uma remasterização do seu clipe. Não tem muito a dizer: ela tem um refrão marcante, talvez a canção que mais transmita toda a vivência adolescente de sua geração. O “B.O.” com o Blur foi por conta da mudança de data de lançamento da canção “Country House” (do álbum The Great Escape, do Blur), promovida pela gravadora Food Records, criando um conflito entre as duas bandas britânicas que veio a se chamar de “batalha do britpop” – que só existiu realmente na imprensa e que foi fomentada durante anos pelas bandas em forma de piada para gerar mídia. A “batalha” finalizou quando Damon Albarn, Graham Coxon (vocalista e guitarrista do Blur, respectivamente) e Noel se uniram pra tocar uma música em um show beneficente do Teenage Cancer Trust de curadoria do The Who em 2013. A canção escolhida foi Tender do Blur, mas, certamente, se fosse Country House ou Roll With It teria sido mais interessante.

She’s Electric

A canção ‘mais Beatle’ do Oasis“: é assim que a mídia e os fãs da banda classificam a nona composição do (What’s The Story) Morning Glory. Graças aos backing vocals bem estruturados de Noel Gallagher, essa também é considerada uma das poucas músicas que ficam bem tanto na voz de Noel como a principal, quanto na de Liam Gallagher.

Segundo o forum manicsfan, a demo de ‘She’s Electric’ foi dada a um fã que ficou cego de Omagh Bombing da Irlanda nos anos 90. Noel enviou a ela uma fita demo que havia sido gravada há cinco anos e nunca fora escutada por ninguém, exceto pela própria banda. Ele também havia escrito na capa que lamentava não poder estar lá e assinou. Noel disse que era apenas para ser dada a esse fã com a condição de que ele continuasse a aprender piano e praticasse sua música. Em seguida, presenteou-a com uma moldura, que continha o disco de ouro de Noel para as vendas de Be Here Now. Ficou pendurada apenas um dia na parede de Noel, e no dia seguinte foi enviada para a Irlanda para ser entregue ao fã. Noel também lhe disse para remover o vidro, para que “ela pudesse sentir o disco.”

Ao vivo só há registros de Noel cantando essa música. Aparentemente, Liam não se sentia confortável em cantar um som que exigisse tanto da voz durante as performances.

Morning Glory

Era originalmente duas músicas, uma chamada “Blue” ou “Being A Blue“, e a outra tinha o título “The Mirror & A Razorblade “. A fonte disso é o próprio Noel. Você pode ver a letra de Mirror & Razorblade em seu caderno no canto superior esquerdo, mas terminou ficando com o título de Morning Glory mesmo – uma excelente escolha, diga-se de passagem. É uma das músicas mais eufóricas da banda e fãs vão ao delírio ao escutar o “weeel”do refrão. O clipe louco dentro de um apartamento tem aquele som de helicópteros que foram colocados em D’you Know What a Mean, que é a primeira música do álbum posterior.

Champagne Supernova

Este talvez seja o hino do rock mais nonsense da história.O próprio Noel Gallagher fala isso, ele compôs a música e não sabe o que ela quer dizer. Inspirada no pote de açúcar com o homenzinho da foto do livreto de MG, Champagne Supernova pode ter sido escrita durante uma festa de champanhe onde Bonehead estava assistindo a um programa de televisão no espaço sideral, ou enquanto assistiam a um documentário sobre champanhe e Noel ouvia o álbum Bossanova dos Pixies – muitas informações desencontradas.

Owen Morris falou para a revista Mojo, em 2005:

Lembro-me de Noel tocando as mudanças de acorde para Champagne Supernova na sessão de Some Might Say, e dizendo que Tony nunca estaria envolvido, porque ele não seria capaz de tocá-la. Eu tinha ouvido Hello seis meses antes – uma música antiga de Noel – e ela era uma das suas favoritas. Além de pedaços estranhos de Morning Glory, o resto foi uma surpresa completa.

Um fato interessante é que Paul Weller e Noel tocam dois solos diferentes na música na versão de estúdio para o álbum. Enquanto Noel toca o mais distorcido, Weller faz a métrica mais ritmada da linha de frente. Quem participa da faixa também é o Richard Ashcroft, dividindo vocais com Liam na parte dos nanana’s na hora do solo.

O QUE DISSE A MÍDIA?

A mídia da época focou seus esforços em dizer que o Oasis soava como os Beatles, praticamente plagiando, muito por conta de Don’t Look Back In Anger. George Harrison chegou a comentar que não via nada de mais na banda, que Noel era um grande compositor e que o Oasis não precisava do Liam, o que gerou muito pano pra mídia marrom. Confira abaixo algumas análises breves do álbum (não necessariamente da época, pela falta de material disponível online).

Morning Glory  é um álbum de rock n ‘roll visceral cujas melhores partes são praticamente saqueadas da história por bits acelerados num mix para efeito máximo. Devido a uma técnica de masterização conhecida como “brickwalling”, é um disco incrivelmente alto que apresenta todos os instrumentos bem à frente e atinge como um taco de críquete entre os olhos. Mesmo as baladas de sucesso “Wonderwall” e “Champagne Supernova” têm um peso que faz com que as letras duvidosas de Noel (guitarrista e compositor) pareçam quase coerentes e significativas.

Billboard 2015

O que é mais impressionante em ouvir (What’s the Story) Morning Glory? hoje é como, no auge de seus poderes, o Oasis parecia estar se preparando para sua própria queda final. O tom do álbum é decididamente mais sombrio e reflexivo do que o escapismo da classe trabalhadora de Definitely Maybe, seja pelo pressentimento “nunca mais será a mesma”, profecia de abertura da salva “Hello”, os despachos da faixa-título do circuito pós-festa ou a queda iluminada por acendedor de cigarros de “Champagne Supernova”, em que Oasis já soa nostálgico pelo idealismo de seu álbum de estreia.

pitchfork 2014

A flagrante arrogância do disco é uma parte essencial de seu apelo; os fãs sabiam que ficariam bem na companhia desse lote, e muitos deles queriam fazer parte da gangue. As vendas foram astronômicas com dois singles, Some Might Say e Don’t Look Back In Anger, atingindo o primeiro lugar, enquanto Wonderwall e Roll With It ficaram logo atrás disso. Embora não haja nada de flash sobre a música ou o âmbito de seu conteúdo lírico, sua construção sólida fornece uma familiaridade confiável. (…) Há uma linha tênue entre autoconfiança e excesso de confiança, mas dado o tamanho dos egos e emoções voláteis envolvidas em sua criação, notavelmente Morning Glory acerta todas as vezes.

BBC 2007

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