review: NAPALM DEATH – THROES OF JOY IN THE JAWS OF DEFEATISM

Por Jhon Doliver (Debaixo Do Chão)

“Os riffs de guitarra soam mais simples, e aqueles que estavam acostumados com os riffs bem variados de Harris podem sentir uma certa saudade. Entretanto, esse álbum ganha nos ótimos momentos bangueantes de breakdowns, e se torna um disco bem interessante e diferente da banda. Não é só mais um álbum de Grind do Napalm Death, e o que eu via antes como uma perda, passei a enxergar como oportunidade da banda fazer coisas diferentes para “não imitar o Mitch”. O Napalm Death arrisca coisas que você não esperava ouvir, mas que tornam a banda diversificada.”

Jon Doliver

Confira mais metal em 2020:
Marilyn Manson – We Are Chaos
Haken – Virus
Elder – Omens
Code Orange – Underneath
Avatar – Hunther Gatherer

Gravadora: Century Media Records
Data de lançamento: 18/09/2020

Gênero: Deathgrind
País: Inglaterra

Não, você não leu a data errada e não acessou um buraco temporal (?) de um link que só existirá no futuro. O pessoal do The Rock Life teve acesso antecipado ao novo álbum dos deuses do Grindcore Napalm Death e eu, John Doliver, fã de Metal Extremo desde os 14 anos, pude ter a imensa honra de comentar sobre o que eu achei do novo disco da banda. Vale dizer que comecei a amá-la mais do que eu já gostava no passado porque acabei descobrindo outras pérolas ao analisar toda sua discografia para fazer esse texto. Não pensem que só estarei “puxando saco” e que eu não serei crítico, ainda que na primeira audição eu tenha achado o álbum apenas bom e, na segunda, o disco tenha melhorado e muito pra mim (fica a dica de que esse é um daqueles álbuns que você não pega de primeira). Então tenha noção do que aguarda você no último lançamento dos Grind Gods nessa resenha.

Pra começar, óbvio, a capa. Eu, particularmente, acho a capa foda, mas tenho problemas em ver o nome da banda escrito na mesma linha, ao invés da logo de sempre – com Napalm em cima e Death embaixo. Além disso, a capa não é um recorte de imagens com estética Punk moderna, como a banda fez desde o começo e manteve como sua marca registrada. Porém, o incômodo é porque sou um fã com uma preferência especifica – ou pode chamar de frescura. Trata-se de uma fotografia com conceito pesado tirada pelo mesmo fotógrafo que fez a capa do Apex Predator, então, se esse é o novo caminho da banda, tá ótimo. Melhor serem ótimas fotografias ao invés de artes em 3D das quais eu tenho muito ranço. Além disso, a imagem tem teor reflexivo, se liguem nesses comentários do Barney (vocalista) sobre a capa da coitada pombinha da paz:

A arte da capa especificamente usa um pombo branco como peça central, o que é claro é um símbolo comumente reconhecido de paz e cooperação. O pombo foi espancado muito violentamente por uma mão esterilizada e na morte aparenta estar particularmente quebrado e ensanguentado. No entanto, através da violência você pode ver um símbolo de igualdade em sangue no peito do pombo, o que talvez demonstre — pelo menos visualmente — que a igualdade aparece no final. Um positivo em meio a tantos negativos então, muito como o título do álbum em si é um tipo de oxímoro — a celebração da humanidade mesmo nas mandíbulas mutilantes da negatividade.”

Mark “Barney” Greenway 

A minha principal crítica ao disco é a atual liderança de Shane Embury, após a saída do guitarrista Mitch Harris. Não que Shane seja um guitarrista ruim, muito pelo contrário, o trabalho criativo de cordas que ele tomou conta nesse álbum é realmente impressionante (Selo Cliff Burton de baixista compositor). O que estou querendo dizer é que os riffs de guitarra soam mais simples, e aqueles que estavam acostumados com os riffs bem variados de Harris podem sentir uma certa saudade, mas é aquela coisa… pra fãs Grinders de Scum, From Enslavement e Utilitarian, riffs “menos complexos” serão mais atrativos, então vai de cada um. Entretanto, esse álbum ganha nos ótimos momentos bangueantes de breakdowns, e se torna um disco bem interessante e diferente da banda. Não é só mais um álbum de Grind do Napalm Death, e o que eu via antes como uma perda do até então trio, passei a enxergar como oportunidade da banda fazer coisas diferentes para “não imitar o Mitch”. O Napalm Death arrisca coisas que você não esperava ouvir, mas que tornam a banda diversificada.

O álbum abre com Fuck the Factoid, que, como o nome sugere, é uma porrada Grind na orelha. O que impressionou nesta faixa, e já me fez pensar que esse não seria mais um álbum de Deathgrind do Napalm Death, é que a partir dos 20 segundos a banda faz um som que só consigo descrever como “um riff de Black Metal Melódico” que me energizou demais. É uma ótima faixa, mas tenha noção que esse não é um álbum comum da banda (perdão o suspense, só estou guiando).

Em seguida, temos Backlash Just Because, que foi o primeiro single lançado do disco. Vocês podem ouvir o lyric video da faixa logo abaixo e ver que é uma porrada mais arrastada e com uma quase dissonância melódica que descreve mais ou menos como seria esse “Black Metal Melódico” da faixa anterior. Essa música também é foda, padrão Napalm Death de qualidade.

Depois, temos That Curse Of Being In Thrall. Se eu não soubesse que o Mitch Harris saiu da banda, eu não notaria diferença, visto que ela tem mais “complexidades” no som (lembrando que estamos falando de uma banda de Grindcore). Isto faz essa faixa soar muito boa e condizente com o que a banda tem feito ultimamente, que eu acho muito foda – na minha opinião, é a melhor fase da banda. É minha faixa favorita. Contagion é uma ótima faixa de barulheira agressiva, guitarras fodas, vocais fodas, tudo é ótimo aqui. Tem umas coisinhas dissonantes que lembram o Apex Predator e a Backlash, com vocais mais graves e épicos do Barney, que sempre se mostrou ser um vocalista que faz mais do que gritar e prende atenção toda vez que faz coisas diferentes. Tem um grindzão rápido lá pros 2:25 que dá vontade da faixa inteira ser apenas isso de tão bom. É uma porrada, mas é agora que esse álbum fica interessante.

Joie De Ne Pas Vivre significa “Alegria De Não Viver” em francês e já é um ótimo nome pra uma faixa. Cara, como posso explicá-la… Imagina um Big Black, só que torcido ao extremo. É uma música sombria, com forte presença do baixo (muito foda) e vocais bem ameaçadores do Barney, que faz tudo ser ainda mais doido por, acredito eu, cantar a faixa em francês. Ela é esquisita, mas é um esquisito daora e, por mais diferentona que seja, enxergue-a como um interlúdio (mesmo não sendo a faixa 6) ou como um encerramento do lado A – vista desse modo, é uma ótima transição sombria do disco. Invigorating Clutch começa parecendo uma faixa mélodica, o que já chama atenção, mas é um Post-metal impressionante e viciante com um riffão grooveado sensacional. É uma faixa muito diferente e moderna da banda, lembra até Godflesh, ainda mais por até parecer que a guitarra é o contra-baixo bem alto. Capaz de você, fã extremo, não gostar, mas azar o seu.

Zero Gravitas Chamber volta para agressividade Death & Grind bem straight-forward, com riffs mais simples e diretos e que dão vontade de dar um soco em qualquer ignorante na rua com máscara no queixo – mas fica em casa pra aproveitar o disco. Tem um breakdown que, assim como todos no álbum que eu já comentei, faz você bater cabeça inevitavelmente. Fluxing of The Muscle poderia muito bem estar no Fear, Emptiness, Despair se fosse menos violenta. Groovera boa pra banguear por 4 minutos e com porrada Grind na orelha, óbvio! Tem um pedacinho com ritmos militares de bateria lá pro final e, resumindo, é outra ótima faixa. O segundo single, Amoral, é uma música MUITO DIFERENTE, é tipo uma das canções mais acessíveis da banda. Tanto que a primeira vez que eu ouvi esse álbum eu não curti porque esperava só ouvir Grind do começo ao fim, mas depois que eu escutei tudo novamente, tendo noção de que é um álbum mais diferente e criativo, comecei a apreciar mais o álbum (ou seja, não estou puxando o saco, eu realmente gostei do disco, apesar de que eu gostaria que ele fosse um pouquinho mais complexo nas guitarras). É uma faixa “meio post-metal” que dá vontade de cantar junto com todo mundo.

Throes Of Joy In The Jaws Of Defeatism, a faixa título do disco, começa com o Barney gritando sozinho, como se estivesse dentro de uma jaula, e então estoura uma porradaria Grindcore sinistrona que te deixa em choque, já que a música anterior era mó de boa e essa te deixa babando de raiva com as veias saltando. A sonoridade “moderna” da guitarra me lembrou Pig Destroyer, então tenha em mente que essa faixa é extrema. Acting In Gouged Faith é mais outra porrada arrastada e Grind com umas pitadas de dissonância extrema e eu não tenho o que comentar, senão repetir elogios que já passei anteriormente (que aí seria puxação de saco).

Encerrando esse álbum peculiar, uma faixa peculiar, na mesma pegada da música francesa citada, mas bem mais Industrial e Dark. A Bellyful of Salt and Spleen, que hoje, no dia que eu estou escrevendo essa resenha, foi lançada como single, então vocês podem ver o videoclipe logo abaixo e ter uma noção do tanto de coisas diferentes que a banda tá adicionando em seu som, mesmo sem seu guitarrista de longa data. É um ótimo jeito de encerrar o disco, e se no Apex Predator eu acho foda a intro, nesse álbum acho foda o encerramento.

É um disco bem diferente e quase experimental da banda (não tanto quanto o anterior, Apex Predator, e o esquisitão Words from the Exit Wound). Não é um disco totalmente agressivo, raivoso, rápido e com riffs tão trabalhados, mas é uma porradaria frenética bem diferente e interessante vinda do Napalm Death, ainda mais como um trio, que fez um ótimo trabalho.

Nota final: 9/10

6 comentários sobre “review: NAPALM DEATH – THROES OF JOY IN THE JAWS OF DEFEATISM

Deixe uma resposta